O Tríduo Pascal

De amanhã até Domingo viveremos os dias centrais do Ano Litúrgico, celebrando o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Na tarde da Quinta-feira Santa reviveremos os acontecimentos da Última Ceia, quando Cristo deixou-nos o testamento do Seu amor na Eucaristia, não como uma recordação, mas como memorial, como Sua presença perene. A Sexta-feira Santa é dia de penitência, jejum e oração. Na intensidade da ação litúrgica deste dia ser-nos à apresentado o Crucifixo e, diante da Sua imagem, rezaremos pelos muitos crucificados de hoje, que somente de Jesus podem receber o conforto e o sentido do seu próprio sofrimento. Graças a Ele, abandonado na cruz, ninguém mais está sozinho na escuridão da morte. O Sábado Santo é dia de silêncio, vivido no pranto e na desolação dos primeiros discípulos, abalados pela morte ignominiosa de Jesus. Também Maria vive o pranto deste dia, mas o seu coração é pleno de fé, de esperança e de amor. Deste modo, na hora mais escura do mundo, Ela torna-se Mãe dos que crêem, Mãe da Igreja e sinal de esperança. Em meio às trevas da noite do Sábado Santo irromperão a luz e a alegria com os ritos da Vigília Pascal e o canto festivo do Aleluia. Aquele que foi crucificado ressuscitou! Todas as perguntas e incertezas, as hesitações e temores são dissipados por esta revelação. O Ressuscitado nos dá a certeza de que o bem sempre triunfa sobre o mal, a vida sempre vence a morte. Ao vivermos as celebrações pascais ainda no contexto da pandemia, a Cruz de Cristo é sinal da esperança que não decepciona.

Resumo da catequese do Papa Francisco, 31 de Março, 2021

 CATEQUESE COMPLETA:

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20210331_udienza-generale.html

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As sete palavras de Jesus na cruz – 4

4. Mulher, aí está o teu filho; filho, eis aí a tua mãe (Jo 19,25-27)

Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: Mulher, eis o teu filho! Depois, disse ao discípulo: Eis a tua mãe! E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a em sua casa.

Como fora a vida de Jesus assim é a sua morte. Ele não viveu voltado para si, mas para a sua missão, para realizar o projeto do Pai para a humanidade. Também agora, na hora da aflição, não fica autocentrado na sua dor, mas olha ainda à sua volta e vê a mãe e o discípulo.

São, evidentemente, duas pessoas queridas de Jesus. Mas, além disso, são representantes de duas realidades fundamentais: A mãe representa o Israel fiel, filho de Abraão, o crente, com o qual Deus se comprometeu com amor fiel. É nesse povo e no seio desta mulher – Maria – que Ele entrou na nossa humanidade. O discípulo João corporiza a comunidade nascente de Jesus, a Igreja.

A palavra de Jesus também não pretende simplesmente assegurar o cuidado da sua mãe na velhice, embora isso também esteja incluído. Trata-se de mais. Ao povo de Israel, Jesus pede que reconheça como seu filho e seu futuro o seu discípulo, representante da nova aliança no seu sangue, na sua cruz. Israel não deve renegar-se a si mesmo nem ao seu passado, mas deve abrir-se, por esta mãe nova, a ter filhos de toda a humanidade, realizando a promessa feita a Abraão de ser bênção para todas as nações.

Ao discípulo, Jesus, do alto da cruz, diz que considera Maria e o seu povo como sua mãe. O discípulo, a Igreja, nasce da descendência de Abraão e de David. A nova aliança não veio abolir a primeira. Deus continua sempre fiel à aliança, mesmo quando Israel ou os discípulos de Jesus possam não o ser.

Não pode haver rivalidade, ódio e morte quando se levanta a cruz como sinal de salvação. Exercer violência em nome da cruz, contra quem quer que seja, é a maior blasfémia contra a cruz; é negação daquele que nela foi cravado por renunciar à violência e acreditar no amor gratuito, universal e salvador de Deus. Aos pés da cruz, reconheçam-se como blasfémia todas as guerras religiosas e ódios em nome de Deus e da cruz de Jesus. Muitas vezes, neste dia de sexta-feira santa, os cristãos saíam da igreja e iam matar judeus nos seus guetos: quão distantes da verdadeira perspetiva da cruz! Qual negação daquele que implorou perdão para os seus algozes!

E esta deve ser a norma para qualquer diálogo com outras formas de acreditar e outras religiões. Nega-se a Deus quando em seu nome se destrói o homem. A cruz é o sinal da paz e de perdão, mesmo à custa da vida oferecida por amor, para que não se propague o vírus do ódio destruidor.

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As sete palavras de Jesus na cruz – 3

3 – Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23,39-43)

Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-o, dizendo: Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino. Ele respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.

Jesus termina a sua vida, como tinha sido anunciado pelo profeta que escutámos na primeira leitura: ”Será contado entre os malfeitores” (22-37). Para o evangelista, esta é a imagem da sua vida dedicada a redimir a humanidade pecadora, não de fora, mas a partir de dentro, do estar, sem pecado, entre os pecadores. Estes dois crucificados são os representantes de toda a humanidade merecedora de morte, aos olhos daqueles que se consideravam mais justos e excluem os outros. Mas esses são antes de mais pecadores, precisamente por isso: porque não o admitem.

Neste homem começa a revelar-se a missão de Jesus na sua plenitude. Ele vem em nome do Pai, para chamar, não os justos mas os pecadores (Lc 5,32; Lc 19,10). Por isso, convive com os pecadores e come com eles (Lc 19,7), vai à procura da ovelha perdida (Lc 15,1-7) e espera sempre o regresso do filho querido que se perdeu (Lc 15,11-32). Este homem era verdadeiramente pecador e assassino. O único mérito dele foi ter reconhecido e acolhido, naquele que foi crucificado ao seu lado, o justo de Deus, a porta para a vida. Esta é a sua profissão de fé, semelhante à do centurião, junto da cruz de Jesus já morto – um outro protagonista na execução de Jesus – que, ”vendo o que acontecera, exclamou: verdadeiramente este homem era justo” (Lc 23,47). São os primeiros frutos da redenção. Este foi verdadeiramente associado à morte de Jesus e é o primeiro (um pecador inveterado) a participar na Sua ressurreição.

A palavra do ladrão assume a súplica de toda a humanidade. É a última palavra que Jesus escuta nesta terra: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres no teu Reino” (23,42). A Sua resposta a este grito é também, no evangelho de Lucas, a sua última palavra dirigida à humanidade, pecadora mas amada: “Hoje estarás comigo no paraíso”. É o resumo de todo o Evangelho, da Boa Nova para os pobres, da missão que Jesus veio realizar, revelando e realizando o desígnio salvador do Pai, através do dom da Vida.

 

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As sete palavras de Jesus na cruz – 2

2. Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23,33-35)

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes. O povo permanecia ali, a observar; e os chefes zombavam, dizendo: Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.

O evangelista Lucas refere três palavras muito iluminadoras de Jesus na cruz: as duas primeiras referem-se sobretudo à sua missão e àquilo que revela sobre o Pai e a terceira, para confiar nas suas mãos toda a sua vida.

A primeira destas palavras encontra-se no contexto da crucifixão entre dois ladrões e a troça das autoridades religiosas, que celebram a sua vitória sobre este herético, que ousara pôr em causa as verdades e privilégios sobre os quais tinham construído o seu poder: Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.

Eles só conhecem a lógica do poder, do sucesso que exclui quem pensa diferente, ou desafia o seu poder despótico. O pior destes dirigentes é que pensam que são justos e têm o direito de condenar e de eliminar os outros, os que pensam diferente. Pior ainda é que não entendem quem é Deus, mas arrogam-se o direito de julgar em seu nome. Na realidade só conhecem a si mesmos e às suas certezas e dogmas. Se Deus intervém, com a sua misericórdia de Pai, desarranja este mundo autocêntrico. É em nome de Deus que eles julgam e condenam Deus feito homem. Este é o maior pecado, aquele que Jesus chama o “pecado contra o Espírito Santo”; aquele que não permite que Deus entre com a sua misericórdia na nossa vida, para transformá-la e salvá-la.

Jesus não veio condenar ninguém, nem mesmo esses que o condenam. Não entenderam o coração, a lógica de Deus. Mas, também para eles, como para Paulo, o perseguidor, está levantada a cruz da misericórdia e de perdão. A mão de Deus está estendida; é preciso que a outra se abra para a receber. Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.

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As sete palavras de Jesus na cruz – 1

1. Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? (Mc 15,33-36)

Ao chegar o meio-dia, fez-se trevas por toda a terra, até às três da tarde. E às três da tarde, Jesus exclamou em alta voz: «Eloí, Eloí, lemá sabachtáni?», que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Ao ouvi-lo, alguns que estavam ali disseram: «Está a chamar por Elias!» Um deles correu a embeber uma esponja em vinagre, pô-la numa cana e deu-lhe de beber, dizendo: «Esperemos, a ver se Elias vem tirá-lo dali.»

Esta exclamação de Jesus crucificado mostra, antes de mais, como Ele desceu realmente à condição humana, em todas as suas potencialidades e capacidades, mas igualmente à sua dramaticidade, dor e limitação. Confrontado com a oposição, a violência, a injustiça, a dor e a perspetiva da morte, Ele permanece fiel ao projeto do Pai do céu e do seu desígnio de criação de um mundo mais humano e aberto à plenitude da vida.

Na hora da crise, da violência, da morte, Jesus sente a angústia de qualquer ser humano, não só perante a morte física, mas igualmente perante o aparente desmoronar dos seus projetos. Ele sente a experiência do “abandono de Deus”, que contradiz a própria relação com Ele.

Mas não vive esta hora em oposição com Deus, mas rezando. As suas palavras são o início de um salmo – oração dos aflitos (Sl 22) – que começa com um doloroso lamento perante o que aparece como o abandono de Deus e termina com louvor perante a salvação que Ele concede aos que nele confiam.

Esta atitude orante – isto é, de ligação e comunhão com Deus – não aparece apenas aqui. Esteve presente ao longo da sua vida: no início da sua missão, no deserto, nas noites e manhãs em que se retirava, quando tinha de tomar decisões, no Jardim das Oliveiras, na horas das crises. Jesus viveu sempre em comunhão com o Pai e, nesta hora solene e dramática, essa relação faz-se mais forte.

Mas a oração de Jesus na cruz significa mais do que isso. Ele reza a oração do seu povo, com o seu povo, com toda a humanidade e pela humanidade à qual se tinha unido. O seu grito ao Pai é o grito da humanidade inteira. Ele sente bem a angústia dos homens: a fome das multidões, a sede de vida dos enfermos, dos pobres e injustiçados, a exclusão dos pecadores e dos que pensam diferente, as vítimas das opressões e os frustrados das revoltas violentas… Tudo isso se encontra neste grito de Jesus, na cruz de Jesus.

Este é também o grito da humanidade crente, o grito de nós todos, também nesta pandemia que atinge a humanidade: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” Não é um grito contra Deus, mas dirigido a Deus na dor e, por vezes, na difícil compreensão dos seus caminhos. No fundo um grito de sede e de confiança, para entender e aceitar o porquê de tudo isto e a meta aonde o caminho da vida nos leva.

A dor pode ter este efeito: reconhecer a própria limitação e levantar os olhos ao céu à procura de luz, de força, de caminho.

 

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Quaresma com Santa Teresa de Jesus – 8

 ORAR EM CADA DIA DA SEMANA SANTA DA QUARESMA 2021

 Segunda-feira Santa, 29 de Março: Com Maria Madalena

Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragância do perfume. (Jo 12, 3).

Conheço uma pessoa (…) que se considerava aos pés do Senhor e chorava com a Madalena, nem mais nem menos do que se O vira com olhos corporais em casa do fariseu; pois, embora não sentisse devoção, a fé lhe dizia que Ele estava ali realmente. (Caminho de Perfeição 34,7).

Com Maria Madalena, eu Te ofereço a minha vida e Te adoro.

Terça-feira Santa, 30 de Março: Seja fiel a Ele

[Judas], tendo tomado o bocado de pão, saiu logo. Fazia-se noite. (Jo 13,30).

(…) grande misericórdia nos fez Deus; mas, quando vejo – como já disse – que estava Judas em companhia dos Apóstolos, e tratando sempre com o mesmo Deus, e ouvindo Suas palavras, entendo que nisto não há segurança. (5 Moradas 4, 7.)

Guarda-me fiel ao teu amor!

Quarta-feira Santa, 31 de Março: Prepare a sua pousada interior

O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos. (Mt 26,18).

Vós, Senhor, vindo a uma pousada tão ruim como a minha. Bendito sejais para sempre. (Livro da Vida, 22, 17).

Preparo a minha pousada interior para nela acolher o Senhor.

Quinta-feira Santa, 1º de Abril: Rezo pela Igreja e pelo mundo inteiro

Na verdade, dei-vos o exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também. (Jo 13, 15).

Ponhamos os olhos em Cristo, nosso Bem, e ali aprenderemos a verdadeira humildade (1 Moradas 2, 11).

No seu Corpo entregue, Cristo reconcilia-nos com Deus e manifesta-nos o seu amor. Oremos pela Igreja e pelo mundo inteiro.

Sexta-feira Santa, 2 de Abril: Carregando a Cruz

Crucificaram-n’O, e com Ele outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio. (Jo 19, 18).

Não nos há-de faltar cruz nesta vida, por mais que façamos, uma vez que somos do bando do Crucificado. (Carta 194).

Concede-me, concede-nos comungar deste mistério de amor!

Sábado Santo, 3 de Abril: Vigiar com Maria

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã. (Jo 20,1).

Se estais alegres, vede-O ressuscitado; que só o imaginar como saiu do sepulcro, vos alegrará. Com quanta claridade e com que formosura! que majestade! Quão vitorioso e alegre! (Caminho de Perfeição 26,4).

O silêncio deste dia prepara-nos para acolher a Boa-Nova: Cristo está vivo, Aleluia!

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Audiência Geral – 24 de Março, 2021

Rezar em comunhão com Maria

Na oração do cristão, a Virgem Maria ocupa um lugar privilegiado, porque é a Mãe de Jesus. Sabemos que a estrada-mestra da oração cristã é a humanidade de Jesus: por esta sua humanidade, o Espírito Santo introduz-nos na relação filial de Jesus com o Pai celeste e daí nascem a intimidade e a confidência típicas da oração cristã: «Abbá, Papá!» Cristo é o único Mediador, a ponte que atravessamos para chegar ao Pai. Desta mediação única de Cristo, recebem sentido e valor todos os outros intermediários a quem recorremos na nossa devoção, a começar pela Virgem Maria. Na iconografia das nossas igrejas, Ela está sempre presente, e por vezes até com grande realce, mas sempre associada ao Filho, sempre em função d’Ele. Nas suas mãos, nos seus olhos, na sua atitude geral, temos um «catecismo» vivo: sempre indicam o ponto cardeal, ou seja, Jesus. Este é o papel que Maria ocupou durante a sua vida terrena e mantém para sempre: ser a serva humilde do Senhor. Mas, pouco antes de morrer na cruz, Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando Lhe confiou o discípulo amado. Colocados assim sob o seu manto protetor, começamos a rezar-Lhe usando algumas expressões presentes nos Evangelhos, como «cheia de graça» e «bendita entre as mulheres». E, na Ave Maria, depressa entra o título de «Mãe de Deus» consagrado no Concílio de Éfeso. Como sucede no Pai Nosso, depois do louvor vem a súplica: pedimos à Virgem Mãe que reze «por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte». Sabemos que Maria esteve e está presente, nestes dias de pandemia, junto das pessoas que concluíram o seu caminho terreno numa condição de isolamento, sem o conforto dos seus entes queridos. Com a sua ternura materna, estava lá Maria.

Resumo da catequese do Papa Francisco, 24 de Março, 2021

 TEXTO COMPLETO DA CATEQUESE:

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Domingos de Ramos e a narrativa da Paixão do evangelista Marcos

Termos da Paixão, em Marcos

Nas celebrações do próximo Domingo (Domingo de Ramos), vai ser lida a narrativa da Paixão do evangelista Marcos (14, 1 – 15, 47). Porque usa termos cuja compreensão requer alguma explicitação, propomo-nos apresentar o seu significado, de forma sumária.

Começa por, em 14, 1, falar da Festa da Páscoa e dos Ázimos. O termo “Páscoa” indica, no Antigo Testamento, a ceia do cordeiro (comer a Páscoa [v. 12] significa, por isso, “comer o cordeiro pascal”), comemorativa da libertação do Egito (êxodo). Acontecia no dia 14 do mês de Nisan, após o equinócio da Primavera. Na pastorícia, era a festa que assinalava a passagem dos rebanhos das pastagens de inverno para as de verão (transumância). A Festa dos Ázimos (de origem grega, o termo “ázimo” significa “sem fermento”) começava no dia a seguir à Páscoa (15 de Nisan). Durante sete dias, comia-se o pão não fermentado, como memorial da saída do Egito (cf. Ex 12, 15-20). Na agricultura, era a festa que assinalava a novidade das colheitas. Em época incerta, esta festa foi associada à Páscoa, de tal modo que se tornaram, na prática, uma festa única (cf. Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, XVII, 93).

Um pouco mais adiante, em 14, 32, a narrativa fala-nos do Getsémani (o termo significa “lagar de azeite”), nome de uma propriedade situada no Monte das Oliveiras, a leste de Jerusalém, ainda que de localização incerta.

Depois de, em 14, 33, ter falado de “sumo sacerdotes, doutores da Lei e anciãos”, no v. 35, refere o nome da instituição por eles formada, o Sinédrio, uma espécie de tribunal judaico, chamado a intervir nas questões religiosas, mas sem poder para condenar, pois só os romanos o podiam fazer.

Estando Jesus perante o tribunal romano e sendo costume Pilatos soltar-lhes um preso por altura da festa, a decisão da multidão recai sobre Barrabás (15, 7.11), um nome aramaico que significa “filho (bar) do pai (abbá)”. A ironia é forte: Pilatos solta Barrabás, que fora “preso com os insurretos que tinham cometido um assassínio durante a revolta” (v. 7), e condena Jesus, o verdadeiro filho do Pai. Tal diz bem da falsidade e dos equívocos que presidiram ao processo que dita a condenação de Jesus.

A cena agora referida ocorreu no Pretório (15, 16), palavra de origem latina que significa, no âmbito militar, a sede do pretor e, aqui, o lugar onde Pilatos ordenou a condenação de Jesus. Apesar da incerteza, a sua localização oscila entre a Torre Antónia e o palácio de Herodes, ambos em Jerusalém.

Depois de Pilatos ter decidido crucificar Jesus (15, 15), a narrativa fala da cruz (v. 21). Era usada em muitas culturas antigas como ornamento, mas os egípcios viam-na como símbolo da vida. Por influência persa, os romanos adotaram-na para instrumento de suplício.

O caminho da Paixão termina no Gólgota (15, 22), termo que, em latim, se diz calvarium e significa “caveira/crânio”. Trata-se de uma pequena elevação de terreno rochoso fora das muralhas de Jerusalém, mas a poucos metros da cidade. O nome pode advir-lhe da sua configuração (em forma de crânio) ou do facto de aí haver muitos túmulos.

O vinagre dado a Jesus, numa esponja (15, 36), será um vinho acidulado ou uma mistura de água e vinagre, o refrigerante dos soldados. Tendo em conta que a Paixão de Jesus é relida em chave vetero-testamentária, Marcos evoca Sl 69, 22: “Deram-me fel, em vez de comida, e vinagre, quando tive sede”.

Quase a terminar, a narrativa fala da Preparação e esclarece que se tratava da “véspera do sábado” (15, 42). Assim se designava o início da tarde de sexta, em que se preparava a celebração do sábado e, neste caso, da própria Páscoa (cf. Jo 19, 31.42).

Para concluir, a narrativa refere a presença de um centurião (15, 44.45). Trata-se do chefe romano de um conjunto de cem soldados (centurium, em latim).

Partindo do pressuposto de que conhecer mais ajuda a viver melhor, esperamos, deste modo, contribuir para uma melhor vivência do Domingo de Ramos e da Semana da Paixão.

Pe. João Alberto Correia

 

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5º Domingo da Quaresma – Ano B

“Queremos ver Jesus”

Neste quinto Domingo da Quaresma, a liturgia proclama o Evangelho no qual São João relata um episódio que teve lugar nos últimos dias da vida de Cristo, pouco antes da Paixão, em que alguns gregos expressaram o desejo de ver Jesus: «Queremos ver Jesus». No pedido daqueles gregos podemos entrever o pedido que muitos homens e mulheres, de todos os lugares e épocas, dirigem à Igreja e também a cada um de nós: “Queremos ver Jesus”.

Como resposta Jesus diz: «É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado […] Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, permanece sozinho; mas se morrer, produz muito fruto». Jesus revela que Ele, para cada homem que O quiser procurar, é a semente escondida pronta para morrer a fim de dar muito fruto. Como se pretendesse dizer: se me quiserdes conhecer, e se me quiserdes compreender, olhai para o grão de trigo que morre na terra, ou seja, olhai para a cruz

Ainda hoje muitas pessoas, frequentemente sem o dizer, de uma forma implícita, gostariam de “ver Jesus”, de o encontrar, de o conhecer. A partir disto compreendemos a grande responsabilidade de nós cristãos e das nossas comunidades. Também nós devemos responder com o testemunho de uma vida que se dá em serviço, uma vida que assume sobre si o estilo de Deus – proximidade, compaixão e ternura – e se doa no serviço. Trata-se de lançar sementes de amor não com palavras que voam para longe, mas com exemplos concretos, simples e corajosos, não com condenações teóricas, mas com gestos de amor. Então o Senhor, com a sua graça, faz-nos dar fruto, mesmo quando o terreno é árido devido a desentendimentos, dificuldades ou perseguições, ou pretensões de legalismos ou moralismos clericais. Então precisamente, na prova e na solidão, quando a semente morre, é o momento em que a vida brota, para produzir frutos maduros no seu tempo. É neste entrelaçamento de morte e vida que podemos experimentar a alegria e a verdadeira fecundidade do amor, que acontece sempre, repito, no estilo de Deus: proximidade, compaixão, ternura.

Papa Francisco, Angelus (resumo), 21 de Março, 2021

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Quaresma com Santa Teresa de Jesus – 7

ORAR EM CADA DIA DA 5ª SEMANA DA QUARESMA 2021

Segunda-feira, 22 de Março: Dê as boas-vindas ao Seu amor

Eu sou a luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8, 12).

Porque isto tem o verdadeiro servo de Deus, a quem Sua Majestade esclareceu acerca do verdadeiro caminho, que com estes temores lhe cresce o desejo de não parar (Caminho de Perfeição, Cód. Escorial 36,5).

Jesus Cristo, luz da minha alma, dissipa as trevas que me querem falar, concede-me o dom de acolher o teu amor!

Terça-feira, 23 de Março: O mistério da Paixão

Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou o que sou (Jo 8, 28).

Ponhamo-nos a pensar num passo da Paixão… Anda o entendimento rebuscando o que ali há a considerar: as grandes dores e pena que Sua Majestade teria naquela soledade, e outras muitas coisas… (Livro da Vida 13, 12).

Contemplo Cristo na cruz e acolho o seu amor.

Quarta-feira, 24 de Março: uma liberdade profunda

Pois bem, se o Filho vos libertar, sereis realmente livres (Jo 8,36).

Logo que Deus vos traga, irmãs, a beber desta água, e as que agora dela bebeis, experimentareis isto e entendereis como o verdadeiro amor de Deus – se ele está em toda a sua força, já de todo livre de coisas da terra e paira sobre elas – é senhor de todos os elementos e do mundo (Caminho de Perfeição, Cód. Escorial 31, 2).

Que o teu amor me liberte de todos os laços que me prendem!

Quinta-feira, 25 de Março: Solenidade da Anunciação do Senhor

Maria disse então «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38).

Não há dama que assim O force a render-se como a humildade. Esta trouxe-o do céu no seio da Virgem e também por ela O traremos preso por um fio de cabelo às nossas almas (Caminho de Perfeição, Cód. Escorial 24,2).

A Virgem Maria mostra-nos o caminho do «Sim»!

Sexta-feira, 26 de Março: Louvado seja o Senhor!

Cantai ao Senhor, glorificai ao Senhor, porque salvou a vida do pobre da mão dos malvados (Jr 20, 13).

Bendito e louvado seja Ele para sempre… A misericórdia de Deus me dê segurança. Se Ele me livrou de tantos pecados, não me quererá largar da Sua mão, para que me perca (Livro da Vida 38,7).

Cantemos as maravilhas de Deus na história dos Homens.

Sábado, 27 de Março: Ele habita em nós

A minha morada será no meio deles. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo (Ez 37, 27).

Façamos, pois, de conta que dentro de nós há um palácio de enormíssima riqueza, todo feito de ouro e pedras preciosas … e neste palácio está o grande Rei, que houve por bem ser vosso Pai, e está em trono de grandíssimo preço, que é o vosso coração (Caminho de Perfeição 28,9).

Venho até Ti que habitas o meu coração e apresento-Te todos os meus irmãos.

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