3 – Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23,39-43)
Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-o, dizendo: Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino. Ele respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.
Jesus termina a sua vida, como tinha sido anunciado pelo profeta que escutámos na primeira leitura: ”Será contado entre os malfeitores” (22-37). Para o evangelista, esta é a imagem da sua vida dedicada a redimir a humanidade pecadora, não de fora, mas a partir de dentro, do estar, sem pecado, entre os pecadores. Estes dois crucificados são os representantes de toda a humanidade merecedora de morte, aos olhos daqueles que se consideravam mais justos e excluem os outros. Mas esses são antes de mais pecadores, precisamente por isso: porque não o admitem.
Neste homem começa a revelar-se a missão de Jesus na sua plenitude. Ele vem em nome do Pai, para chamar, não os justos mas os pecadores (Lc 5,32; Lc 19,10). Por isso, convive com os pecadores e come com eles (Lc 19,7), vai à procura da ovelha perdida (Lc 15,1-7) e espera sempre o regresso do filho querido que se perdeu (Lc 15,11-32). Este homem era verdadeiramente pecador e assassino. O único mérito dele foi ter reconhecido e acolhido, naquele que foi crucificado ao seu lado, o justo de Deus, a porta para a vida. Esta é a sua profissão de fé, semelhante à do centurião, junto da cruz de Jesus já morto – um outro protagonista na execução de Jesus – que, ”vendo o que acontecera, exclamou: verdadeiramente este homem era justo” (Lc 23,47). São os primeiros frutos da redenção. Este foi verdadeiramente associado à morte de Jesus e é o primeiro (um pecador inveterado) a participar na Sua ressurreição.
A palavra do ladrão assume a súplica de toda a humanidade. É a última palavra que Jesus escuta nesta terra: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres no teu Reino” (23,42). A Sua resposta a este grito é também, no evangelho de Lucas, a sua última palavra dirigida à humanidade, pecadora mas amada: “Hoje estarás comigo no paraíso”. É o resumo de todo o Evangelho, da Boa Nova para os pobres, da missão que Jesus veio realizar, revelando e realizando o desígnio salvador do Pai, através do dom da Vida.