2. Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23,33-35)
Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes. O povo permanecia ali, a observar; e os chefes zombavam, dizendo: Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.
O evangelista Lucas refere três palavras muito iluminadoras de Jesus na cruz: as duas primeiras referem-se sobretudo à sua missão e àquilo que revela sobre o Pai e a terceira, para confiar nas suas mãos toda a sua vida.
A primeira destas palavras encontra-se no contexto da crucifixão entre dois ladrões e a troça das autoridades religiosas, que celebram a sua vitória sobre este herético, que ousara pôr em causa as verdades e privilégios sobre os quais tinham construído o seu poder: Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.
Eles só conhecem a lógica do poder, do sucesso que exclui quem pensa diferente, ou desafia o seu poder despótico. O pior destes dirigentes é que pensam que são justos e têm o direito de condenar e de eliminar os outros, os que pensam diferente. Pior ainda é que não entendem quem é Deus, mas arrogam-se o direito de julgar em seu nome. Na realidade só conhecem a si mesmos e às suas certezas e dogmas. Se Deus intervém, com a sua misericórdia de Pai, desarranja este mundo autocêntrico. É em nome de Deus que eles julgam e condenam Deus feito homem. Este é o maior pecado, aquele que Jesus chama o “pecado contra o Espírito Santo”; aquele que não permite que Deus entre com a sua misericórdia na nossa vida, para transformá-la e salvá-la.
Jesus não veio condenar ninguém, nem mesmo esses que o condenam. Não entenderam o coração, a lógica de Deus. Mas, também para eles, como para Paulo, o perseguidor, está levantada a cruz da misericórdia e de perdão. A mão de Deus está estendida; é preciso que a outra se abra para a receber. Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.