As sete palavras de Jesus na cruz – 4

4. Mulher, aí está o teu filho; filho, eis aí a tua mãe (Jo 19,25-27)

Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: Mulher, eis o teu filho! Depois, disse ao discípulo: Eis a tua mãe! E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a em sua casa.

Como fora a vida de Jesus assim é a sua morte. Ele não viveu voltado para si, mas para a sua missão, para realizar o projeto do Pai para a humanidade. Também agora, na hora da aflição, não fica autocentrado na sua dor, mas olha ainda à sua volta e vê a mãe e o discípulo.

São, evidentemente, duas pessoas queridas de Jesus. Mas, além disso, são representantes de duas realidades fundamentais: A mãe representa o Israel fiel, filho de Abraão, o crente, com o qual Deus se comprometeu com amor fiel. É nesse povo e no seio desta mulher – Maria – que Ele entrou na nossa humanidade. O discípulo João corporiza a comunidade nascente de Jesus, a Igreja.

A palavra de Jesus também não pretende simplesmente assegurar o cuidado da sua mãe na velhice, embora isso também esteja incluído. Trata-se de mais. Ao povo de Israel, Jesus pede que reconheça como seu filho e seu futuro o seu discípulo, representante da nova aliança no seu sangue, na sua cruz. Israel não deve renegar-se a si mesmo nem ao seu passado, mas deve abrir-se, por esta mãe nova, a ter filhos de toda a humanidade, realizando a promessa feita a Abraão de ser bênção para todas as nações.

Ao discípulo, Jesus, do alto da cruz, diz que considera Maria e o seu povo como sua mãe. O discípulo, a Igreja, nasce da descendência de Abraão e de David. A nova aliança não veio abolir a primeira. Deus continua sempre fiel à aliança, mesmo quando Israel ou os discípulos de Jesus possam não o ser.

Não pode haver rivalidade, ódio e morte quando se levanta a cruz como sinal de salvação. Exercer violência em nome da cruz, contra quem quer que seja, é a maior blasfémia contra a cruz; é negação daquele que nela foi cravado por renunciar à violência e acreditar no amor gratuito, universal e salvador de Deus. Aos pés da cruz, reconheçam-se como blasfémia todas as guerras religiosas e ódios em nome de Deus e da cruz de Jesus. Muitas vezes, neste dia de sexta-feira santa, os cristãos saíam da igreja e iam matar judeus nos seus guetos: quão distantes da verdadeira perspetiva da cruz! Qual negação daquele que implorou perdão para os seus algozes!

E esta deve ser a norma para qualquer diálogo com outras formas de acreditar e outras religiões. Nega-se a Deus quando em seu nome se destrói o homem. A cruz é o sinal da paz e de perdão, mesmo à custa da vida oferecida por amor, para que não se propague o vírus do ódio destruidor.