“Eis o Cordeiro de Deus”

João Baptista aponta Jesus como o Cordeiro de Deus… Riquíssima apresentação de Jesus. Na verdade, Cordeiro diz-se na língua aramaica, língua comum então falada, talya’. Mas talya’ significa, não só «cordeiro», mas também «servo», «filho» e «pão». Aí está traçada, com uma pincelada de mestre, a identidade de Jesus: Cordeiro, Servo, Filho e Pão de Deus.

António Couto

Abrir

Não temas

Não temas, quanto mais pobre fores, mais Jesus te amará. Ele irá longe, bem longe para te procurar…

 Santa Teresa do Menino Jesus

Oração

Jesus, quanto mais aceitar tranquila e docemente a minha condição de pobre, perdoado e muito amado, mais estarei nas condições de me deixar invadir pelo Teu Espírito e ser um instrumento eficaz nas Tuas mãos. Ensina-me a ser humilde e pequeno, capaz de ver a minha verdade sem medo de que me recuses. Não, Tu amas-me sempre, mesmo quando não “mereço”. Na verdade, eu nada mereço, mas tudo mereço, porque Tu és bom. Fica comigo, Senhor. Assim seja.

Abrir

A oração com as Sagradas Escrituras 

Debruçamo-nos hoje sobre a oração feita a partir da Sagrada Escritura. Na verdade, as palavras desta não foram escritas para ficar presas ao papel, mas para ser acolhidas por uma pessoa que reza, fazendo-as germinar no próprio coração. Do coração aberto a Deus, da nossa oração depende a possibilidade dum texto bíblico se tornar para nós Palavra viva de Deus. E a Palavra de Deus, impregnada de Espírito Santo, quando é acolhida com um coração aberto, não deixa as coisas como estavam antes. Inspira bons propósitos e apoia a acção, dando-nos força e serenidade; e, mesmo quando nos põe em crise, dá-nos paz. Mas como fazer? É conhecido o método da lectio divina. Primeiro, lê-se o texto bíblico com atenção – diria, com «obediência ao texto» – para entender o que significa em si mesmo. Depois meditamo-lo entrando em diálogo com ele: permanecendo aderente ao texto, começo a interrogar-me sobre o que me diz a mim. Trata-se duma passagem delicada: é preciso não se deixar levar para interpretações subjectivas, mas inserir-se no sulco vivo da Tradição que une cada um de nós à Sagrada Escritura. E o último passo é a contemplação: aqui as palavras e os pensamentos cedem lugar ao amor, como entre namorados a quem por vezes basta olharem-se em silêncio. Naturalmente o texto bíblico continua ali, mas como um espelho, um ícone a contemplar. Deste modo a Palavra de Deus faz-se carne nas pessoas que a acolhem na oração. Acontece uma nova encarnação. E nós somos os «sacrários» com pernas, onde as palavras de Deus querem ser guardadas para poderem visitar o mundo. (Resumo da Audiência Geral do Papa Francisco, 27 de Janeiro, 2021).

Audiência Geral, 27 de Janeiro, 2021:

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20210127_udienza-generale.html

 

Abrir

Os três “C” da vida cristã

Os três “C” da vida cristã: coragem, contemplação, comunidade. Coragem contra o medo para ser capaz de viver os nossos valores quando todos os atacam e deitam abaixo; contemplação para ver as coisas por dentro e não ficar na superficialidade; comunidade para vencer o individualismo feroz, com sentido de corpo e responsabilidade. Mas vemos todos os dias no pedestal o violento, o superficial, o individualista!…

Vasco P. Magalhães, sj

Abrir

3º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Cumpriu-se o tempo e o reino de Deus está próximo (Mc 1, 15)

O crente quando reza o “Pai Nosso” manifesta o desejo de que venha depressa o Reino de Deus: “Venha a nós o vosso Reino”. Este desejo brotou, por assim dizer, também do próprio coração de Cristo, que no início da sua pregação na Galileia proclamou: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 15). Estas palavras não são minimamente uma ameaça, ao contrário, são um feliz anúncio, uma mensagem de alegria. Jesus anuncia esta maravilha, esta graça: Deus, o Pai, ama-nos, está próximo de nós e ensina-nos a andar pelo caminho da santidade. Cada um é convidado a acreditar nesta feliz notícia.

Os sinais da vinda deste Reino são numerosos e todos positivos. Jesus começa o seu ministério cuidando dos doentes, quer no corpo quer no espírito, de quantos viviam uma exclusão social — por exemplo os leprosos — dos pecadores desprezados por todos, até por aqueles que eram mais pecadores do que eles mas se fingiam justos. O próprio Jesus indica estes sinais, os sinais do Reino de Deus: “Os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa Nova é anunciada aos pobres” (Mt 11, 5).

Jesus veio; mas o mundo ainda está marcado pelo pecado, povoado por tantas pessoas que sofrem, por pessoas que não se reconciliam nem perdoam, por guerras e muitas formas de exploração. Todas estas realidades são a prova de que a vitória de Cristo ainda não se concretizou totalmente: muitos homens e mulheres ainda vivem com o coração fechado. É sobretudo nestas situações que aos lábios do cristão aflora a segunda invocação do “Pai-Nosso”: “venha a nós o vosso Reino!”.

Por vezes perguntamo-nos: porque é que este Reino se realiza tão lentamente? Jesus gosta de falar da sua vitória com a linguagem das parábolas. Por exemplo, diz que o Reino de Deus é semelhante a um campo no qual crescem juntos o trigo e o joio: o pior erro seria querer intervir imediatamente extirpando do mundo aquelas ervas daninhas. Deus não é como nós, Deus tem paciência. Não é com a violência que se instaura o Reino no mundo: o seu estilo de propagação é a mansidão.

O Reino de Deus é certamente uma grande força, a maior que existe, mas não segundo os critérios do mundo; por isso parece nunca ter a maioria absoluta. É como o fermento que se mistura com a farinha: aparentemente desaparece, mas é precisamente isso que faz fermentar a massa. Ou então, é como um grão de mostarda, que é tão pequenino, quase invisível, mas tem em si a impetuosa força da natureza, e quando cresce torna-se a maior planta do horto. Neste “destino” do Reino de Deus pode-se intuir a trama da vida de Jesus: também ele foi para os seus contemporâneos um sinal frágil, um evento quase desconhecido pelos historiadores da época. Um “grão de trigo”, assim ele mesmo se definiu, que morre na terra mas só assim pode dar “muito fruto”.

“Venha a nós o vosso Reino” é como dizer “Vinde, Senhor Jesus”. E Jesus responde: “Virei depressa”. E Jesus vem, à sua maneira, mas todos os dias. Tenhamos confiança nisto. (Catequese resumida e adaptada do Papa Francisco sobre o Pai Nosso, nº 9, 6 de Março, 2019).

 

Abrir

Semana de oração pela unidade dos cristãos 2021

Audiência Geral: “A oração pela unidade dos cristãos”

Como tema da catequese de hoje, abordamos a oração pela unidade dos cristãos, nesta semana especialmente dedicada a pedir a Deus este dom, a fim de superar o escândalo das divisões entre os que crêem em Jesus. Ele rezou ao Pai por nós, para que fossemos um só. A cura das divisões começa pela oração a Deus pedindo a paz, a reconciliação, a unidade. Neste ponto podemos perguntar-nos se rezamos pela unidade, conscientes de que dela depende a fé no mundo. Com efeito, o Senhor pediu-nos a unidade para que o mundo creia e isto verifica-se quando testemunhamos o amor que nos une. Rezar pela unidade significa lutar por ela. Sim, lutar, porque o nosso inimigo, o diabo – como o próprio vocábulo nos diz -, é “aquele que divide”. Ele instiga a divisão por toda parte e em diversos modos, ao passo que o Espírito Santo faz sempre convergir na unidade. Para que cresça a unidade entre nós, lutemos com os instrumentos que Deus nos deu: a oração e o amor. Quando superamos os preconceitos e vemos no outro um irmão e uma irmã a quem devemos amar, descobrimos que os cristãos de outras confissões são dons de Deus. Comecemos a rezar por eles e, quando possível, com eles, aprendendo assim a amá-los. Que esta nossa oração seja o ponto de partida para ajudar Jesus a realizar o Seu sonho de que todos sejam um.

Papa Francisco, Resumo da Audiência Geral, 20 de Janeiro, 2021

Audiência Geral:

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20210120_udienza-generale.html

 

Abrir

Quem é o meu próximo?

Quem é o meu próximo? Será esta criança aflita, aquele mendigo da rua, ou o familiar desorientado… Todos estes podem ser próximos fisicamente, mas ser próximo é outra coisa: é ser capaz de se aproximar do outro. O meu próximo é aquele de quem me aproximo! E eu faço-me próximo dele compreendendo-o e podendo, assim, ajudá-lo. Se não me aproximo, não há próximo.

Vasco P. Magalhães, sj

Abrir

2º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Vinde ver

O Evangelho deste segundo Domingo do Tempo Comum (cf. Jo 1, 35-42) apresenta o encontro de Jesus com os seus primeiros discípulos. A cena tem lugar no rio Jordão, um dia depois do baptismo de Jesus. É o próprio João Baptista que indica o Messias a dois deles com estas palavras: «Eis o Cordeiro de Deus!». E aqueles dois, confiando no testemunho do Baptista, seguem Jesus. Vendo que o seguiam, perguntou-lhes: «Que procurais?» e eles disseram-lhe: «Mestre, onde moras?». Jesus responde: «Vinde ver». Não é difícil imaginá-los sentados a fazer-Lhe perguntas e sobretudo a ouvi-Lo, sentindo o seu coração enternecer à medida que o Mestre fala. Nos seus corações, irrompe a luz que só Deus pode dar. Depois, quando se despedem e regressam para junto dos seus irmãos, esta alegria, esta luz transborda dos seus corações como um rio. Um dos dois, André, diz ao seu irmão Simão – a quem Jesus chamará Pedro quando o encontrar – «Encontrámos o Messias». Saíram com a certeza de que Jesus era o Messias.

Cada chamamento de Deus é uma iniciativa do Seu amor. O primeiro chamamento de Deus é para a vida, com a qual Ele nos constitui como pessoas. Depois, Deus chama à fé e a fazer parte da sua família, como filhos de Deus. Por fim, Deus chama-nos a um estado particular de vida, para nos doarmos no caminho do matrimónio, no caminho do sacerdócio ou da vida consagrada. Estas são formas diferentes de cumprir o projecto de Deus, o projecto que Deus tem para cada um de nós, que é sempre um desígnio de amor. A maior alegria para cada crente é responder a este chamamento, oferecer todo o seu ser ao serviço de Deus e dos seus irmãos.

Devemos procurar encontrar o amor que está por trás de cada chamamento feito por Deus e responder só com amor. No início há um encontro, ou melhor, há o encontro com Jesus, que nos fala do Pai, dá-nos a conhecer o seu amor. E então surge espontaneamente em nós também o desejo de comunicar isto às pessoas que amamos: “Encontrei o Amor”, “Encontrei o Messias”, “Encontrei Deus”, “Encontrei Jesus”, “Encontrei o sentido da minha vida”. Numa palavra: “encontrei Deus”.

Lembremo-nos disto: para cada um de nós, na vida, houve um momento em que Deus se fez presente com mais força, com um chamamento. Recordemo-lo. Voltemos àquele momento, para que a memória daquele momento nos renove sempre no encontro com Jesus.

Papa Francisco, Resumo do Angelus, 17 de Janeiro, 2021

Abrir

Alarmismos

Alarmismos! Uma prova de maturidade, e de ter aprendido a ver a vida e a entendê-la, é não ir atrás de entusiasmos fáceis e de receitas simplistas. Nem perder a cabeça e a paz porque “está tudo mal e só vêm aí catástrofes”. O cristão e o adulto conhecem as alternâncias dos tempos e com todas as ocasiões crescem e renovam-se.

Vasco P. Magalhães, sj

 

Abrir

A oração de louvor

Uma dimensão importante da oração é o louvor. Os Santos mostram-nos que se pode louvar sempre a Deus, tanto nas horas felizes da vida como nas adversidades. No “Cântico das Criaturas”, São Francisco de Assis começa dizendo «Louvado sejais, meu Senhor, pelo irmão Sol…», e continua louvando a Deus por todos os dons da criação, para terminar bendizendo-O por aquela a que chama «irmã morte». Poder-nos-ia vir a vontade de exclamar: «Era um poeta; faz poesia…» Não é verdade! Não faz poesia; era a realidade! Naquele período, Francisco já está cego, doente e sem forças; sente que a morte lhe ronda por perto. E louva a Deus até pela morte, a quem corajosamente chama «irmã». Nisto, o «pobrezinho de Assis» imita Jesus, a Quem vê louvar o Pai do Céu precisamente num momento crítico da sua vida pública, quando constata a incompreensão de sábios e entendidos e a murmuração seguida de abandono de grande parte dos discípulos. Então, Jesus não eleva um lamento nem um pedido de explicações, mas um hino de louvor: «Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, (…) porque isso foi do teu agrado» (Mt 11, 25.26). Jesus exulta, porque sabe e sente que o Senhor de tudo o que existe é Pai, é o «meu Pai». E esta sua visão leva-nos também a julgar de maneira diferente as nossas derrotas pessoais, as situações em que não vemos clara a presença e a ação de Deus, quando parece que o mal prevalece e não há modo de o deter. Esta é a hora do louvor, que é «a oração – como diz o “Catecismo” – que mais imediatamente reconhece que Deus é Deus! Canta-O por Si próprio, glorifica-O não tanto pelo que Ele faz, ma sobretudo porque ELE É» (nº 2639). É o amigo fiel; eterno é o seu amor (Papa Francisco, Resumo da Audiência Geral, 13 de Janeiro, 2021).

Audiência Geral:

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20210113_udienza-generale.html

Abrir