Ano da Fé – LXVI

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Amen

Ao longo do Ano da Fé apresentamos a Palavra de luz que a Igreja recebeu do seu Senhor e que ela tem a missão de fazer irradiar sobre o mundo. De Deus, de Cristo, da Igreja, da vida eterna e dos caminhos que a ela conduzem, fala-se na Igreja dentro de um quadro bem definido, constituído por duas afirmações. A primeira é “Eu creio”. A segunda é conservada na sua forma hebraica: “Amen”.

Amen é uma espécie de assinatura do crente, a acta da sua adesão. O Amen do crente tem a simplicidade mas também a força de um Sim que compromete a vida toda. É a palavra da testemunha, em resposta a uma verdade que a arrebatou. A palavra de fé expressa no Amen não é, com efeito dada no ar. Não é uma palavra sem fundamento. Encontra-o na Palavra de revelação e de salvação que lhe transmite a Igreja.

A segurança que acompanha o Amen do crente não tem, em última análise, outro fundamento senão o próprio Deus. Ele recebe-a como uma graça do Deus vivo e verdadeiro, presente e agindo no testemunho da Igreja. Este Deus é o Deus “poderoso”, fiel e firme nas suas promessas, o Deus da Verdade, que não engana: Aquele em quem podemos repousar, em quem podemos fiar-nos.

O seu Amen, Deus pronunciou-o com toda a força e com todo o seu conteúdo em Cristo Jesus. “Cristo Jesus (…) não foi ‘sim’ e ‘não’. O que há n’Ele é um ‘sim’! É que todas as promessas de Deus encontram n’Ele um ‘sim’. Deste modo, por seu intermédio, nós dizemos ‘amen’ a Deus, a fim de lhe darmos glória” (2Cor 1, 19-20). Jesus é a “testemunha fiel e verídica, aquele que é o Amen” (Ap 3, 14). E o Amen do crente traduz o acolhimento ao testemunho desta testemunha fiel, assim como a resolução de o repercutir em palavras e actos.

O crente junta o seu Amen “à imensa multidão das testemunhas” que o precederam, “fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição” (Heb 12, 1-2). Ele junta-se ao Amen que não cessam de cantar os anjos à volta do trono de Deus e daqueles que triunfaram das provações, daqueles que “lavaram as suas vestes” e “as purificaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7, 14).

Com os que se encontram, como ele, ainda a caminho, o crente presta ouvidos ainda mais à voz “d’Aquele que dá testemunho destas coisas e diz: ‘Sim, virei em breve’”. Num desejo repleto de esperança ele repete então, por seu turno: “Amen! Vem Senhor Jesus” (Ap 22, 20).

Quem diz Amen dá a sua assinatura (Santo Agostinho).

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Ano da Fé – LXV

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Maria, mulher de fé

Amados irmãos e irmãs,

Este encontro do Ano da Fé é dedicado a Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, nossa Mãe. A sua imagem, vinda de Fátima, ajuda-nos a sentir a sua presença no meio de nós. Há uma realidade: Maria leva-nos sempre a Jesus. É uma mulher de fé, uma verdadeira crente. Podemos nos perguntar: como foi a fé de Maria?

O primeiro elemento da sua fé é este: a fé de Maria desata o nó do pecado (cf. Cons. Ecum. Vat. II, Cost. Dogm. Lumen Gentium, 56). Que significa isto? Os Padres conciliares [do Vaticano II] retomaram uma expressão de Santo Ireneu, que diz: «O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; aquilo que a virgem Eva atara com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé» (Adversus Haereses III, 22, 4).

Ei-lo, o «nó» da desobediência, o “nó” da incredulidade. Poderíamos dizer, quando uma criança desobedece à mãe ou ao pai, que se forma um pequeno «nó». Isto sucede, se a criança se dá conta do que faz, especialmente se há pelo meio uma mentira; naquele momento, não se fia da mãe e do pai. Sabeis que isto acontece tantas vezes! Então a relação com os pais precisa de ser limpa desta falta e, de facto, pede-se desculpa para que haja de novo harmonia e confiança. Algo parecido acontece no nosso relacionamento com Deus. Quando não O escutamos, não seguimos a sua vontade e realizamos acções concretas em que demonstramos falta de confiança n’Ele – isto é o pecado -, forma-se uma espécie de nó dentro de nós. E estes nós tiram-nos a paz e a serenidade. São perigosos, porque de vários nós pode resultar um emaranhado, que se vai tornando cada vez mais penoso e difícil de desatar.

Mas, para a misericórdia de Deus – sabemos bem -, nada é impossível! Mesmo os nós mais complicados desatam-se com a sua graça. E Maria, que, com o seu «sim», abriu a porta a Deus para desatar o nó da desobediência antiga, é a mãe que, com paciência e ternura, nos leva a Deus, para que Ele desate os nós da nossa alma com a sua misericórdia de Pai. Cada um possui alguns destes nós, e podemos interrogar-nos dentro do nosso coração: Quais são os nós que existem na minha vida? “Padre, os meus nós não podem ser desatados”! Não, isto está errado! Todos os nós do coração, todos os nós da consciência podem ser desatados. Para mudar, para desatar os nós, peço a Maria que me ajude a ter confiança na misericórdia de Deus? Ela, mulher de fé, certamente nos dirá: “Segue adiante, vai até ao Senhor: Ele te entende”. E Ela nos leva pela mão, Mãe, até ao abraço do Pai, do Pai da misericórdia.

Segundo elemento: a fé de Maria dá carne humana a Jesus. Diz o Concílio: «Acreditando e obedecendo, [Maria] gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai» (Cost. Dogm. Lumen Gentium, 63). Este é um ponto em que os Padres da Igreja insistiram muito: Maria primeiro concebeu Jesus na fé e, depois, na carne, quando disse «sim» ao anúncio que Deus lhe dirigiu através do Anjo. Que significa isto? Significa que Deus não quis fazer-Se homem, ignorando a nossa liberdade, mas quis passar através do livre consentimento de Maria, através do seu «sim». Deus pediu: “Estás disposta a fazer isto”? E Ela disse: “Sim”.

Entretanto aquilo que aconteceu de uma forma única na Virgem Mãe, sucede a nível espiritual também em nós, quando acolhemos a Palavra de Deus com um coração bom e sincero, e a pomos em prática. É como se Deus tomasse carne em nós: Ele vem habitar em nós, porque faz morada naqueles que O amam e observam a sua Palavra. Não é fácil entender isto, mas, sim é fácil senti-lo no coração.

Pensamos que a encarnação de Jesus é um facto apenas do passado, que não nos toca pessoalmente? Crer em Jesus significa oferecer-Lhe a nossa carne, com a humildade e a coragem de Maria, para que Ele possa continuar a habitar no meio dos homens; significa oferecer-Lhe as nossas mãos, para acariciar os pequeninos e os pobres; os nossos pés, para ir ao encontro dos irmãos; os nossos braços, para sustentar quem é fraco e trabalhar na vinha do Senhor; a nossa mente, para pensar e fazer projectos à luz do Evangelho; e sobretudo o nosso coração, para amar e tomar decisões de acordo com a vontade de Deus. Tudo isto acontece graças à acção do Espírito Santo. E assim, somos os instrumentos de Deus para que Jesus possa actuar no mundo por meio de nós.

E o último elemento é a fé de Maria como caminho: o Concílio afirma que Maria «avançou pelo caminho da fé» (ibid., 58). Por isso, Ela nos precede neste caminho, nos acompanha, nos sustenta. Em que sentido a fé de Maria foi um caminho? No sentido de que toda a sua vida foi seguir o seu Filho: Ele – Jesus – é a estrada, Ele é o caminho! Progredir na fé, avançar nesta peregrinação espiritual que é a fé, não é senão seguir a Jesus; ouvi-Lo e deixar-se guiar pelas suas palavras; ver como Ele se comporta e pôr os pés nas suas pegadas, ter os próprios sentimentos e atitudes d’Ele. E quais são os sentimentos e as atitudes de Jesus? Humildade, misericórdia, solidariedade, mas também firme repulsa da hipocrisia, do fingimento, da idolatria. O caminho de Jesus é o do amor fiel até ao fim, até ao sacrifício da vida: é o caminho da cruz. Por isso, o caminho da fé passa através da cruz, e Maria compreendeu-o desde o princípio, quando Herodes queria matar Jesus recém-nascido. Mas, depois, esta cruz tornou-se mais profunda, quando Jesus foi rejeitado: Maria estava sempre com Jesus, seguia Jesus no meio do povo, escutava as fofocas, o ódio daqueles que não queriam bem ao Senhor. E, esta Cruz, Ela a levou! Então a fé de Maria enfrentou a incompreensão e o desprezo. Quando chegou a «hora» de Jesus, ou seja, a hora da paixão, então a fé de Maria foi a chamazinha na noite: aquela chamazinha no meio da noite. Na noite de Sábado Santo, Maria esteve de vigia. A sua chamazinha, pequena mas clara, esteve acesa até ao alvorecer da Ressurreição; e quando lhe chegou a notícia de que o sepulcro estava vazio, no seu coração alastrou-se a alegria da fé, a fé cristã na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Porque a fé sempre nos traz alegria, e Ela é a Mãe da alegria: que Ela nos ensine a caminhar por esta estrada da alegria e viver esta alegria! Este é o ponto culminante – esta alegria, este encontro entre Jesus e Maria – imaginemos como foi… Este encontro é o ponto culminante do caminho da fé de Maria e de toda a Igreja. Como está a nossa fé? Temo-la, como Maria, acesa mesmo nos momentos difíceis, de escuridão? Senti a alegria da fé?

Esta noite, Mãe, nós Te agradecemos pela tua fé, de mulher forte e humilde; renovamos a nossa entrega a Ti, Mãe da nossa fé. Amém. 

Papa Francisco

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Ano da Fé – LXIV

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A vida eterna

Depois da ressurreição dos mortos, o Credo proclama a fé na vida eterna ou na vida do mundo quem há-de vir. “Nesta santa Igreja Católica, instruídos pelos ensinamentos e leis de salvação, alcançaremos o reino dos Céus e teremos como herança a vida eterna; e para a podermos alcançar do Senhor, estamos dispostos a tudo suportar neste mundo. Não é pouco o que esperamos; a finalidade da nossa luta é alcançar a vida eterna. . Por isso, na profissão de fé aprendemos que depois do artigo: (Creio) na ressurreição da carne, isto é, dos mortos, devemos acreditar também na vida eterna, que é a esperança dos cristãos em todos os combates.

Por conseguinte, a vida verdadeira e autêntica é o Pai que, como uma fonte, derrama sobre nós todos os seus dons celestes, por intermédio do Filho, no Espírito Santo. É a sua bondade infinita que comunica aos homens os bens verdadeiros da vida eterna” (São Cirilo de Jerusalém).

Esta vida eterna é a continuidade e a expansão da nossa vida de união com Cristo a partir da terra (cf. Jo 17, 3) e na sua plenitude consiste em ver a Deus “tal como Ele é” (1Jo 3, 2), na plena participação da vida trinitária. É vida intensa, tal como é intensa a vida do próprio Deus, em que “Deus será tudo em todos as coisas” (1Cor 15, 28).

Nós possuímos desde já as primícias desta vida cuja plenitude está prometida para o lado de lá da morte, como canta um dos prefácios da missa de Domingo: “Durante a nossa vida terrena, sentimos cada dia os efeitos da vossa bondade e possuímos desde já o penhor da vida futura; tendo recebido as primícias do Espírito, pelo qual ressuscitaste Jesus Cristo de entre os mortos, vivemos na esperança da Páscoa eterna”.

Esta fé e esperança não deixa de ter consequências sobre a maneira de viver e de enfrentar a morte. A liturgia exprime-se assim a este propósito: “Para os que crêem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma; e desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna” (Prefácio da Missa dos Defuntos). Morrer cristãmente, para aquele que vê vir a morte, leva-o a abandonar-se confiadamente à misericórdia de Deus. A oração da Igreja encoraja-nos a que nos preparemos para a hora da nossa morte: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte”.

No crepúsculo da nossa vida, seremos julgados pelo Amor (São João da Cruz).

 

 

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Ano da Fé – LXIII

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E espero a ressurreição dos mortos

A ressurreição dos mortos encontra o seu princípio na ressurreição de Cristo, “o primeiro de entre os mortos” (1Cor 15, 20). Foi precisa a ressurreição de Jesus para que se firmasse definitivamente a certeza da ressurreição pessoal. A ressurreição de Cristo deu testemunho da fidelidade e da força invencível do amor do Pai.

O que nós somos em Cristo ressuscitado pelo baptismo e pelo dom do Espírito Santo aguarda ainda uma transformação. O homem ressuscitará na sua própria carne, mas numa carne transfigurada, semelhante à de Cristo glorioso. São Paulo fala de um corpo “espiritual” ou “cheio de glória”. Num esboço, muito longínquo sem dúvida, do que o Espírito de Deus realizará quando tomar conta de todo o nosso corpo, desta carne que é a nossa, São Paulo sublinha sobretudo a novidade radical de um corpo espiritual: “Semeia-se na corrupção e ressuscita-se na incorrupção. Semeia-se na ignomínia e ressuscita-se na glória. Semeia-se na fraqueza, ressuscita-se na força. Semeia-se corpo natural e ressuscita-se corpo espiritual” (1Cor 15, 42-44). O como da ressurreição dos mortos é um mistério. Pode ajudar-nos a entendê-lo a seguinte metáfora: observando um bolbo de tulipa, podemos não reconhecer para quão belíssima flor ele se desenvolverá na terra escura.

Não morro; entro na vida (Santa Teresa do Menino Jesus).

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Ano da Fé – LXI

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A remissão dos pecados

Dos artigos do Símbolo Apostólico, talvez o mais inesperado seja este: creio na remissão dos pecados. Será possível que todos os pecados, por grandes e graves que forem, possam ser “remidos”, isto é, “apagados”, inteiramente perdoados? Não nos dirá Deus o que nós dizemos com frequência: “perdoo, mas não esqueço?”.

No dia do Yon Kippur (“Dia do Perdão”), os judeus vão à beira-mar e, de costas voltadas para o mar, lançam uma pedra, que se afunda na água. Quando se voltam, não vêem mais a pedra. Eles expressam assim que Deus “lançará no fundo do mar todos os nossos pecados” (Miqueias 7, 19).

Jesus ensinou-nos que Deus é como o pai do filho pródigo. A Pedro disse que devemos perdoar “setenta vezes sete vezes” (Mt 18, 21-22). Ele próprio, desde o alto da Cruz, pediu perdão para aqueles que o crucificavam, porque “não sabem o que fazem” (Lc 22,34).

Na Carta Apostólica Porta Fidei, com a qual Bento XVI anunciou o Ano da Fé, lê-se que este ano “é um convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. Act 5, 31)”.

Para São Paulo, o amor misericordioso de Deus introduz-nos numa vida nova: «Pelo Baptismo fomos sepultados com Cristo na morte, para que, assim como Ele foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, assim também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6,4). Esta vida nova transforma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. A mentalidade e o comportamento dos baptizados vão sendo pouco a pouco purificados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida. Por isso, na Igreja Católica, recorremos ao sacramento da penitência, que celebra o perdão dos pecados cometidos depois do baptismo, reconciliando-nos com Deus, com a comunidade eclesial e connosco mesmos.

A remissão dos pecados deve ser lida sobre o fundo da experiência de ingresso numa vida nova e de superação de um mundo velho. Ela é “recriação do coração”. Os seus efeitos são: a libertação de uma condição de escravidão, de dependência, de inautenticidade e, por vezes, de falsidade; a vitória sobre os medos que bloqueiam a alegria de viver, como o medo dos outros ou da morte; a iluminação do sentido verdadeiro das coisas. Neste sentido, tendo presente o «mundo velho» do mal e do pecado, o Deus revelado na Bíblia é fiel e nunca se esquecerá das suas criaturas: a sua “memória” de ternura e de perdão envolve a nossa existência, é como o seio em que o nosso coração pode repousar em paz.

Este perdão, pela vontade que Jesus manifestou em confiar a missão da reconciliação aos Apóstolos, passa através do ministério da Igreja: o pecador é alcançado na sua vida quotidiana concreta e reconciliado ao mesmo tempo com o Pai e com a comunidade. Ao confessar humildemente o seu próprio pecado e ao abrir-se na fé ao dom da reconciliação, o pecador é tornado uma nova criatura pelo Espírito Santo que lhe foi infundido e pode viver o novo início do amor, no seguimento de Jesus e do seu Evangelho. A vida ressurge da morte, o perdão recebido faz-se perdão oferecido, o amor impossível torna-se possível, apesar da fragilidade da condição humana. É o milagre da remissão dos pecados e da reconciliação!

 

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Ano da Fé – LX

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Creio na comunhão dos santos

A Igreja é comunhão dos santos na medida em que os seus membros são santificados, isto é, tornados santos no baptismo pelo dom do Espírito e pela sua incorporação, então realizada, no Corpo de Cristo; é-o também na medida em que vive destas realidades santas que são os sacramentos, designadamente a Eucaristia..

A comunhão dos santos é principalmente esta comunhão actual realizada pelo Espírito Santo entre todos os discípulos de Cristo que vivem hoje convocados na Igreja. A comunhão dos santos é uma comunhão realizada com a Santa Virgem Maria e com todos os santos do céu, em particular com aqueles que foram canonizados, isto é, aqueles cujo testemunho exemplar foi oficialmente reconhecido pela Igreja. Com efeito, os cristãos não encontram somente na vida dos santos, um modelo mas também na comunhão com eles uma família, e na sua intercessão um auxílio.

Mas a comunhão dos santos estende-se também a todos aqueles que adormeceram na paz de Cristo. É assim que a Igreja desde os primeiros tempos do cristianismo cultivou com muita piedade a memória dos defuntos.

Podemos pedir ajuda aos santos que mais nos dizem e, inclusivamente aos nossos familiares falecidos que cremos estarem já em Deus. Inversamente, podemos ajudar os nossos falecidos, ainda em processo de purificação, mediante a nossa oração de súplica. Tudo o que uma pessoa faz ou sofre em Cristo e por Cristo torna-se proveitoso para todos; infelizmente, isso também significa, contrariamente, que cada pecado danifica a comunhão.

A festa de Todos os Santos reúne na mesma acção de graças todos aqueles, conhecidos e desconhecidos, que constituem a “cidade santa, a nova Jerusalém” (Ap 21, 2), realização da humanidade segundo o desígnio de Deus.

 

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Ano da Fé – LIX

PapaFrancisco

Creio na Igreja apostólica

Jesus chamou os apóstolos como seus colaboradores mais próximos. Eles eram as suas testemunhas oculares. Após a sua ressurreição, apareceu-lhes várias vezes, deu-lhes o Espírito Santo e enviou-os ao mundo como seus mensageiros plenipotenciários. Na Igreja jovem, eram a garantia da unidade. Através da imposição das mãos, transmitiram aos seus sucessores, os bispos, o seu envio e os seus plenos poderes. E foi assim até hoje. Este processo é designado por sucessão apostólica.

A Igreja é apostólica porque procede da missão confiada por Jesus aos apóstolos e porque acolhe na obediência da fé a Revelação que os apóstolos lhe transmitiram. Ela sente-se responsável por transmitir, de geração em geração, sob a acção do Espírito Santo, esta revelação, consignada na Sagrada Escritura.

A Igreja é apostólica porque a sua fé é apostólica, isto é, recebida dos apóstolos. A fé apostólica é um bem e uma responsabilidade, partilhados pelo conjunto do povo de Deus. À Igreja como tal é prometida a fidelidade a esta fé.

A Igreja é igualmente apostólica porque convocada e ordenada pelos sucessores dos apóstolos que são os bispos. A história da Igreja atesta a sucessão ininterrupta do ministério apostólico dos bispos e, ao mesmo tempo, do cuidado permanente pela transmissão fiel da fé recebida dos apóstolos.

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Ano da Fé – LVIII

Revival

Creio na Igreja católica

O adjectivo católico evoca, em primeiro lugar, a expansão geográfica: a Igreja está destinada a estender-se a todas as nações (ela tem, neste sentido, vocação universal). Mas a palavra evoca, sobretudo, a “plenitude da graça e da verdade” que é confiada à Igreja católica, desde o dia de Pentecostes, e lhe permite evangelizar todo o homem e todos os homens. A Igreja é católica porque Cristo a chamou a confessar toda a fé, a guardar e celebrar todos os sacramentos, a anunciar a boa nova na sua totalidade e enviou-a a todos os povos. A catolicidade da Igreja manifesta-se na capacidade que ela tem de acolher na sua diversidade as aspirações e as situações dos homens, de reunir na verdade e, sem as reduzir, a infinita variedade das culturas e das realidades humanas, tanto individuais como sociais.

Este programa não está, de certo, totalmente realizado. A fé católica e a Igreja não atingiram ainda a totalidade dos homens nem a totalidade das suas vidas, quer em toda a superfície da terra quer no interior de cada diocese. Todavia, pelo poder do Espírito que lhe é dado, a Igreja é capaz de enraizar o Evangelho nas diversas culturas, de maneira a ser uma força de conversão das correntes de pensamento e dos sistemas de valores em desacordo com o pensamento de Deus. Por este mesmo Evangelho de que ela é depositária, a Igreja está em condições de fazer desabrochar nas culturas o que corresponde ao bem autêntico dos homens.

A confissão da catolicidade da Igreja é também a afirmação de uma tarefa: a tarefa de abertura, de evangelização, de alargamento da comunidade cristã.

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Ano da Fé – LVII

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Creio na Igreja santa

A santidade é um qualificativo que muitas pessoas têm dificuldade em reconhecer na Igreja. Não estará a história dela manchada por mediocridades e mesmo por crimes e violências? Serão os cristãos melhores do que os outros? A Igreja é santa não por serem santos todos os seus membros, mas porque Deus é santo e age nela. A Igreja é santa porque tem a sua fonte em Deus que é santo. É santa porque está estreitamente ligada a Cristo e porque está animada pelo Espírito que nunca dela se ausenta. É santa pelo seu Credo, pelos sacramentos e pelos ministérios que lhe permitem realizar a sua obra.

A santidade da Igreja suscita a santidade dos seus membros. A Igreja manifesta no mundo que a fé que professa é capaz de produzir autênticos frutos de santidade. Estes reconhecem-se no inumerável cortejo de santos ilustres, cujos nomes assinalam a sua história. Eles afloram também no testemunho de vidas que o contacto do Evangelho inspira e que reflectem qualquer coisa da santidade de Cristo. O santos são pessoas que amam – não porque o consigam fazer tão bem, mas porque Deus os tocou. Eles transmitem às outras pessoas o amor que, de um jeito próprio, frequentemente original, experimentaram de Deus. Contudo, a Igreja não cessa de implorar para si e para os seus membros a misericórdia e de escutar o apelo à conversão. Ela sabe que os seus membros são pecadores.

Na Igreja todos são chamados à santidade. O baptismo implica esta vocação, comum a todos os membros do povo de Deus, sejam eles leigos ou ministros ordenados, vivam no mundo ou numa comunidade religiosa, sejam casados ou solteiros. Esta santidade desdobra-se em caridade, dom de Deus que é amor. Caridade para com os irmãos, mas também para cada um dos homens, que hão-se ser amados com o amor que Deus lhes tem.

Em jeito de conclusão, chamamos a Igreja de “santa”, apesar de suas limitações e pecados. A Igreja é santa, pela sua união com Cristo, seu Esposo. Ele a escolheu, a desposou e a quer “toda bela, sem mancha nem ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito” (Ef 4,27). Quando um rei ou um príncipe casa com uma plebeia, esta passa a ser chamada de “rainha” ou “princesa”. A Igreja é chamada de “santa”, por ser a Esposa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O título de “santa”, mais do que um privilégio, é uma tremenda responsabilidade. Afinal, uma rainha não pode comportar-se como uma mulher vulgar, não é? Por isso, nós, homens e mulheres de Igreja, devemos comunicar a todos a beleza de Deus, a misericórdia de Cristo, a alegria do Espírito Santo, que recebemos no baptismo. Toda a nossa vida será, então, como uma bela celebração litúrgica.

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Ano da Fé – LVI

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Creio na Igreja una

Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica”. Estas são as “notas” da Igreja. Elas não descrevem a Igreja só do exterior; indicam a verdade profunda do seu mistério. Tal como só há um único Cristo, também só pode haver um único “corpo” de Cristo, uma única “esposa” de Cristo, isto é, uma única Igreja de Jesus Cristo. Ele é a cabeça, a Igreja é o corpo. Juntos formam o “Cristo total” (Santo Agostinho).

A unidade da Igreja é um dom do Espírito Santo. Esta unidade é visível e, segundo a promessa de Cristo (cf. Mt 16, 18), não pode ser jamais perdida. Exprime-se na profissão de uma só fé, formulada por um mesmo Credo. Está fundada no único baptismo que faz de todos os discípulos de Cristo um só povo. A Eucaristia, sacramento de unidade, fortifica, constrói e renova sem cessar esta comunhão dos crentes, guardando-os unidos pelos laços da caridade.

A unidade da Igreja não é unicamente de uma boa organização ou de uma disciplina firme: é da ordem da “comunhão”. Esta comunhão é comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo, no Espírito (cf. 1Jo 1, 3) e comunhão dos discípulos entre si na caridade. Esta unidade manifesta-se de maneira privilegiada, na comunhão dos bispos entre si e com o sucessor de Pedro (Papa), a quem é confiada a autoridade sobre a Igreja universal.

A unidade da Igreja é rica em virtude da variedade dos carismas, que corresponde à diversidade dos dons de Deus. Os carismas são, com efeito, graças particulares, “manifestações” (cf. 1Cor 12, 7) do Espírito Santo para a edificação do povo de Deus.

A história passada e presente da Igreja deixa transparecer tensões, conflitos e mesmo divisões. Estas rupturas, que contradizem a vontade formal de Cristo (cf Jo 13, 21), são para o mundo um objecto de escândalo e constituem um obstáculo à evangelização. É por isso que o Vaticano II fez da restauração da unidade entre todos os cristãos uma das suas grandes preocupações.

A maioria das pessoas não faz ideia do que Deus poderia fazer delas se somente elas se colocassem à disposição d’Ele (Santo Inácio de Loyola).

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