Ano da Fé – LXV

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Maria, mulher de fé

Amados irmãos e irmãs,

Este encontro do Ano da Fé é dedicado a Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, nossa Mãe. A sua imagem, vinda de Fátima, ajuda-nos a sentir a sua presença no meio de nós. Há uma realidade: Maria leva-nos sempre a Jesus. É uma mulher de fé, uma verdadeira crente. Podemos nos perguntar: como foi a fé de Maria?

O primeiro elemento da sua fé é este: a fé de Maria desata o nó do pecado (cf. Cons. Ecum. Vat. II, Cost. Dogm. Lumen Gentium, 56). Que significa isto? Os Padres conciliares [do Vaticano II] retomaram uma expressão de Santo Ireneu, que diz: «O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; aquilo que a virgem Eva atara com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé» (Adversus Haereses III, 22, 4).

Ei-lo, o «nó» da desobediência, o “nó” da incredulidade. Poderíamos dizer, quando uma criança desobedece à mãe ou ao pai, que se forma um pequeno «nó». Isto sucede, se a criança se dá conta do que faz, especialmente se há pelo meio uma mentira; naquele momento, não se fia da mãe e do pai. Sabeis que isto acontece tantas vezes! Então a relação com os pais precisa de ser limpa desta falta e, de facto, pede-se desculpa para que haja de novo harmonia e confiança. Algo parecido acontece no nosso relacionamento com Deus. Quando não O escutamos, não seguimos a sua vontade e realizamos acções concretas em que demonstramos falta de confiança n’Ele – isto é o pecado -, forma-se uma espécie de nó dentro de nós. E estes nós tiram-nos a paz e a serenidade. São perigosos, porque de vários nós pode resultar um emaranhado, que se vai tornando cada vez mais penoso e difícil de desatar.

Mas, para a misericórdia de Deus – sabemos bem -, nada é impossível! Mesmo os nós mais complicados desatam-se com a sua graça. E Maria, que, com o seu «sim», abriu a porta a Deus para desatar o nó da desobediência antiga, é a mãe que, com paciência e ternura, nos leva a Deus, para que Ele desate os nós da nossa alma com a sua misericórdia de Pai. Cada um possui alguns destes nós, e podemos interrogar-nos dentro do nosso coração: Quais são os nós que existem na minha vida? “Padre, os meus nós não podem ser desatados”! Não, isto está errado! Todos os nós do coração, todos os nós da consciência podem ser desatados. Para mudar, para desatar os nós, peço a Maria que me ajude a ter confiança na misericórdia de Deus? Ela, mulher de fé, certamente nos dirá: “Segue adiante, vai até ao Senhor: Ele te entende”. E Ela nos leva pela mão, Mãe, até ao abraço do Pai, do Pai da misericórdia.

Segundo elemento: a fé de Maria dá carne humana a Jesus. Diz o Concílio: «Acreditando e obedecendo, [Maria] gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai» (Cost. Dogm. Lumen Gentium, 63). Este é um ponto em que os Padres da Igreja insistiram muito: Maria primeiro concebeu Jesus na fé e, depois, na carne, quando disse «sim» ao anúncio que Deus lhe dirigiu através do Anjo. Que significa isto? Significa que Deus não quis fazer-Se homem, ignorando a nossa liberdade, mas quis passar através do livre consentimento de Maria, através do seu «sim». Deus pediu: “Estás disposta a fazer isto”? E Ela disse: “Sim”.

Entretanto aquilo que aconteceu de uma forma única na Virgem Mãe, sucede a nível espiritual também em nós, quando acolhemos a Palavra de Deus com um coração bom e sincero, e a pomos em prática. É como se Deus tomasse carne em nós: Ele vem habitar em nós, porque faz morada naqueles que O amam e observam a sua Palavra. Não é fácil entender isto, mas, sim é fácil senti-lo no coração.

Pensamos que a encarnação de Jesus é um facto apenas do passado, que não nos toca pessoalmente? Crer em Jesus significa oferecer-Lhe a nossa carne, com a humildade e a coragem de Maria, para que Ele possa continuar a habitar no meio dos homens; significa oferecer-Lhe as nossas mãos, para acariciar os pequeninos e os pobres; os nossos pés, para ir ao encontro dos irmãos; os nossos braços, para sustentar quem é fraco e trabalhar na vinha do Senhor; a nossa mente, para pensar e fazer projectos à luz do Evangelho; e sobretudo o nosso coração, para amar e tomar decisões de acordo com a vontade de Deus. Tudo isto acontece graças à acção do Espírito Santo. E assim, somos os instrumentos de Deus para que Jesus possa actuar no mundo por meio de nós.

E o último elemento é a fé de Maria como caminho: o Concílio afirma que Maria «avançou pelo caminho da fé» (ibid., 58). Por isso, Ela nos precede neste caminho, nos acompanha, nos sustenta. Em que sentido a fé de Maria foi um caminho? No sentido de que toda a sua vida foi seguir o seu Filho: Ele – Jesus – é a estrada, Ele é o caminho! Progredir na fé, avançar nesta peregrinação espiritual que é a fé, não é senão seguir a Jesus; ouvi-Lo e deixar-se guiar pelas suas palavras; ver como Ele se comporta e pôr os pés nas suas pegadas, ter os próprios sentimentos e atitudes d’Ele. E quais são os sentimentos e as atitudes de Jesus? Humildade, misericórdia, solidariedade, mas também firme repulsa da hipocrisia, do fingimento, da idolatria. O caminho de Jesus é o do amor fiel até ao fim, até ao sacrifício da vida: é o caminho da cruz. Por isso, o caminho da fé passa através da cruz, e Maria compreendeu-o desde o princípio, quando Herodes queria matar Jesus recém-nascido. Mas, depois, esta cruz tornou-se mais profunda, quando Jesus foi rejeitado: Maria estava sempre com Jesus, seguia Jesus no meio do povo, escutava as fofocas, o ódio daqueles que não queriam bem ao Senhor. E, esta Cruz, Ela a levou! Então a fé de Maria enfrentou a incompreensão e o desprezo. Quando chegou a «hora» de Jesus, ou seja, a hora da paixão, então a fé de Maria foi a chamazinha na noite: aquela chamazinha no meio da noite. Na noite de Sábado Santo, Maria esteve de vigia. A sua chamazinha, pequena mas clara, esteve acesa até ao alvorecer da Ressurreição; e quando lhe chegou a notícia de que o sepulcro estava vazio, no seu coração alastrou-se a alegria da fé, a fé cristã na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Porque a fé sempre nos traz alegria, e Ela é a Mãe da alegria: que Ela nos ensine a caminhar por esta estrada da alegria e viver esta alegria! Este é o ponto culminante – esta alegria, este encontro entre Jesus e Maria – imaginemos como foi… Este encontro é o ponto culminante do caminho da fé de Maria e de toda a Igreja. Como está a nossa fé? Temo-la, como Maria, acesa mesmo nos momentos difíceis, de escuridão? Senti a alegria da fé?

Esta noite, Mãe, nós Te agradecemos pela tua fé, de mulher forte e humilde; renovamos a nossa entrega a Ti, Mãe da nossa fé. Amém. 

Papa Francisco

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