São Tito Brandsma. A força dos pequenos e dos que sabem amar

Tito brilhou como um autêntico servidor da reconciliação. O perdão verdadeiro é uma decisão sobrenatural que tem a sua raiz no próprio Deus, não nas forças do homem. Não era fácil viver esse espírito de reconciliação na Europa febril e convulsa em que viveu. O cristão – segundo Brandsma – não pode submeter-se ao fatalismo de excluir o perdão da vida política e das relações internacionais marginalizando-o para a esfera privada. Tito insistirá na força transformadora do perdão. “Vivemos num mundo que condena o amor como uma fraqueza que deve ser superada. Não é o amor – dizem alguns – que se deve cultivar, mas as próprias forças: que cada um seja o mais forte possível, e que os débeis pereçam… Vêm-nos com esta doutrina, e não faltam incautos que a aceitam de bom grado”.

Tito não só pregou o perdão, como ele próprio, com a sua morte, foi, no fim dos seus dias, um “sacramento do perdão”. O frade carmelita era consciente de que o ódio não é uma força criativa: só o é o amor. A vida de Tito Brandsma é um grito da reconciliação. Já na prisão, no fim dos seus dias, e com letra trémula, deixou escrita uma mensagem emocionante e conciliadora: “Deus salve a Holanda! Deus salve a Alemanha! Oxalá Deus conceda a estes dois povos caminhar de novo em paz e liberdade e reconhecer a sua Glória para o bem destas duas nações tão próximas”.

Fr. Míċeál O’Neill, Excerto resumido da Carta “A cruz é a minha alegria”

Abrir

Santa Maria de Jesus Crucificado, OCD – 25 de Agosto

O vídeo que acompanha este breve texto, da autoria do Pe. Eduardo Sanz de Miguel, OCD, em língua espanhola, conta-nos a mensagem da Irmã Miriam Bawardi (Santa Maria de Jesus Crucificado), cuja festa ocorre no Carmelo no dia 25 de Agosto. A sua vida é uma colecção de prodígios extradordinários. A sua espiritualidade assenta na simplicidade e na humildade.  

Santa Maria de Jesus Crucificado (Maria Baouardy) nasceu a 5 de Janeiro de 1846, em Ibillin, pequena aldeia da Galileia, entre Nazaré e Haifa. O seus pais perdem, um após outro, os doze filhos em tenra idade. Com profunda dor mas com uma grande confiança em Deus, decidiram fazer uma peregrinação a Belém para rezar na Gruta da Natividade e pedir a graça de uma filha. É assim que Maria Baouardy veio ao mundo. 

Aos vinte e um anos de idade ingressou no mosteiro das Carmelitas Descalças de Pau (França). Fundou mosteiros da Ordem na Terra Santa. Brilhou pelos dons sobrenaturais, principalmente pela humildade: “No inferno encontram-se todas as virtudes menos a humildade, no paraíso encontram-se todos os defeitos menos o orgulho”. 

Sobressaiu também pela sua ardente devoção ao Espírito Santo: “Ó meu divino Espírito Santo, animai-me! Amor divino consumi-me! Conduzi-me no caminho da verdade. Maria, minha Mãe, olhai por mim! Com o vosso Jesus, abençoai-me! De todo o engano e perigo, guardai-me! De qualquer mal, preservai-me! Amen”. Dedicou profundo amor à Igreja e ao Romano Pontífice. Morreu em Belém no dia 26 de Agosto de 1878.  

Maria Baouardy, conhecida como a “Pequena Árabe”, recebeu, como religiosa, o nome de Irmã Maria de Jesus Crucificado. Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, a 13 de Novembro de 1983 e foi canonizada no dia 17 de Maio de 2015, pelo Papa Francisco.  

 

Abrir

A espiritualidade da “porta estreita” no quotidiano

Pensemos, para sermos concretos, nos gestos diários de amor que realizamos com esforço: pensemos nos pais que se dedicam aos filhos fazendo sacrifícios e renunciando ao tempo para si mesmos; naqueles que cuidam dos outros e não apenas dos próprios interesses: quantas pessoas são assim, boas; pensemos em quantos se dedicam ao serviço dos idosos, dos mais pobres e mais frágeis; pensemos naquelas que continuam a trabalhar com empenho, suportando dificuldades e talvez incompreensões; pensemos em quantos sofrem por causa da fé, mas continuam a rezar e a amar; pensemos naqueles que, em vez de seguirem os próprios instintos, respondem ao mal com o bem, encontram a força para perdoar e a coragem para recomeçar. Estes são apenas alguns exemplos de pessoas que não escolhem a porta larga do próprio conforto, mas a porta estreita de Jesus, de uma vida vivida no amor. Estes, diz o Senhor hoje, serão reconhecidos pelo Pai muito mais do que aqueles que se consideram já salvos e, na realidade, na vida são «iníquos» (Lc 13, 27). 

Papa Francisco, Angelus, 21 de Agosto, 2022 

Abrir

“Senhor, são poucos os que se salvam?”

 

“Senhor, são poucos os que se salvam?”. E Jesus responde: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque muitos, digo-vo-lo Eu, tentarão entrar sem o conseguir” (Lc 13, 23-24). 

A salvação, que Jesus realizou com a sua morte e ressurreição, é universal. Ele é o único Redentor e convida todos para o banquete da vida imortal. Mas há uma só e igual condição: a de se esforçar por segui-l’O e imitá-l’O, assumindo sobre si, como Ele fez, a própria cruz e dedicando a vida ao serviço dos irmãos. Portanto, esta condição para entrar na vida celeste é única e universal. No último dia recorda ainda Jesus no Evangelho não seremos julgados com base em privilégios presumíveis, mas segundo as nossas obras. Os “operadores de iniquidade” serão excluídos, e serão acolhidos os que tiverem realizado o bem e procurado a justiça, à custa de sacrifícios. Portanto, não será suficiente declarar-se “amigos” de Cristo vangloriando-se de falsos méritos: “Comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças” (Lc 13, 26). A verdadeira amizade com Jesus expressa-se no modo de viver: expressa-se com a bondade do coração, com a humildade, com a mansidão e a misericórdia, o amor pela justiça e a verdade, o compromisso sincero e honesto pela paz e pela reconciliação. Poderíamos dizer que é este o “bilhete de identidade” que nos qualifica como seus autênticos “amigos”; é este o “passaporte” que nos permitirá entrar na vida eterna. 

Queridos irmãos e irmãs, se quisermos também nós entrar pela porta estreita, devemos empenhar-nos a ser pequenos, isto é, humildes de coração como Jesus. Como Maria, sua e nossa Mãe.  

 Papa Bento XVI, Angelus, 26 de Agosto, 2007 

Abrir

21º Domingo do Tempo Comum – Ano C

É, sem dúvida, uma das frases mais duras de Jesus para os ouvidos do homem contemporâneo: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita». O que pode significar hoje esta exortação evangélica? Tem de se voltar de novo a um cristianismo tenebroso e ameaçador? Teremos de entrar outra vez pelo caminho de um moralismo estreito? 

Não é fácil captar com precisão a intenção da imagem empregue por Jesus. As interpretações dos especialistas diferem. Mas todos coincidem em afirmar que Jesus exorta ao esforço e à renúncia pessoal como uma atitude indispensável para salvar a vida. 

Não podia ser de outra forma. Ainda que a sociedade permissiva pareça esquecê-lo, o esforço e a disciplina são absolutamente necessários. Não há outra caminho. Se alguém pretende alcançar a sua realização pelo caminho do agradável e prazenteiro, em breve descobrirá que é cada vez menos dono de si mesmo. Ninguém alcança na vida uma meta realmente valiosa sem renúncia e sacrifício. 

Esta renúncia não deve ser entendida como uma forma tola de causar dano a si próprio, privando-se da dimensão agradável que envolve viver de forma saudável. Trata-se de assumir as renúncias necessárias para viver de forma digna e positiva. Assim, por exemplo, a verdadeira vida é harmonia. Coerência entre o que acredito e o que faço. Nem sempre é fácil esta harmonia pessoal. Viver de forma coerente consigo mesmo exige renunciar ao que contradiz a minha consciência. Sem esta renúncia, a pessoa não cresce. 

A vida é também verdade. Tem sentido quando a pessoa ama a verdade, a procura e caminha atrás dela. Mas isto requer esforço e disciplina; renunciar a tanta mentira e autoengano que desfigura a nossa pessoa e nos faz viver numa falsa realidade. Sem esta renúncia não há vida autêntica. 

A vida é amor. Quem vive encerrado nos seus próprios interesses, escravo das suas ambições, poderá conseguir muitas coisas, mas a sua vida é um fracasso. O amor exige renunciar a egoísmos, invejas e ressentimentos. Sem esta renúncia não há amor, e sem amor não há crescimento da pessoa. 

A vida é uma dádiva, mas é também uma tarefa. Ser humano é uma dignidade, mas também é um trabalho. Não há grandeza sem desprendimento; não há liberdade sem sacrifício; não há vida sem renúncia. Um dos erros mais graves da sociedade permissiva é confundir a «felicidade» com a «facilidade». O aviso de Jesus conserva toda a sua gravidade também nos nossos dias. Sem renúncia, não se ganha nem esta vida nem a eterna. 

José Antonio Pagola 
 

 

Abrir

Não amaciemos nem anestesiemos o Evangelho

Não amaciemos e anestesiemos nós o Evangelho, não lhe retiremos o vigor, a alma, o lume e o gume, até o pormos a concordar com tudo e com todos, até o tornarmos inútil como o sal que perde o sabor! As pessoas não precisam de entretenimentos, mas de Jesus Cristo!

António Couto

Abrir

Assunção da Virgem Santa Maria – 15 de Agosto

“A Imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assumida (assumpta est), de corpo e alma, na glória celeste”. Assim o afirmou o Papa Pio XII, a 1 de novembro de 1950, na constituição apostólica Munificentissimus Deus, pela qual proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora.

Uns anos mais tarde, a 21 de novembro de 1964, o Concílio Vaticano II corroborou o dogma, afirmando que “a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao Céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores (cfr. Ap 19, 16) e vencedor do pecado e da morte” (Lumen Gentium, 59).

Sobre o assunto se pronunciou também o Papa Paulo VI, no dia 2 de fevereiro de 1974: “A solenidade de 15 de agosto celebra a Assunção de Maria ao Céu, festa de seu destino de plenitude e de bem-aventurança, glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal, de sua perfeita configuração com Cristo ressuscitado” (Exortação Apostólica Marialis Cultus, n. 6).

Para afirmar o dogma da Assunção de Maria, o Pio XII apoiou-se em Gn 3, 15 (“Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar”) e em 1 Cor 15, 54 (“Quando este corpo corruptível se tiver revestido de incorruptibilidade e este corpo mortal se tiver revestido de imortalidade, então cumprir-se-á a palavra da Escritura: A morte foi tragada pela vitória”). Além disso, a tradição da Igreja já tinha visto na mulher de Ap 12 a figura de Maria, razão pela qual a Primeira Leitura da Missa do Dia desta Solenidade é um excerto deste capítulo. (…)

A liturgia diz o dogma com estas palavras: “Hoje, a Virgem Mãe de Deus foi elevada (assumpta est) à glória do Céu” (Prefácio da Solenidade da Assunção). E, no mesmo texto, justifica-o deste modo: “Vós não quisestes que sofresse a corrupção do túmulo aquela que gerou e deu à luz o Autor da vida, vosso filho feito homem”. Afirma ainda que Maria “é a aurora e a imagem da Igreja triunfante”, assim como “sinal de consolação e esperança” para a Igreja peregrinante.

Pe. João Alberto Correia

 

Abrir

Eu vim trazer o fogo à terra (Lc 12, 49)

Como sabemos, Jesus veio trazer o Evangelho ao mundo, ou seja, a boa notícia do amor de Deus por cada um de nós. Por isso, ele nos diz que o Evangelho é como um fogo, porque é uma mensagem que, quando irrompe na história, queima os antigos equilíbrios no nosso modo de viver, desafia a sair do individualismo, a superar o egoísmo, a passar da escravidão do pecado e da morte para a vida nova do Ressuscitado, de Jesus ressuscitado. Ou seja, o Evangelho não deixa as coisas como estão; quando o Evangelho passa, é ouvido e recebido, as coisas não ficam como estão. O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão. Não concede uma falsa paz intimista, mas acende uma inquietação que nos põe em caminho, impele-nos a abrir-nos a Deus e aos irmãos. É como o fogo: enquanto nos aquece com o amor de Deus, quer queimar os nosso egoísmo, iluminar os lados obscuros da vida – todos nós os temos! -, consumir os falsos ídolos que nos escravizam.

Então, o que significa para nós essa palavra de Jesus sobre o fogo? Convida-nos a avivar a chama da fé, para que ela não se torne uma realidade secundária, ou um meio de bem-estar individual, que nos leva a evitar os desafios da vida e do compromisso na Igreja e na sociedade… A verdadeira fé é um fogo, um fogo aceso para nos manter acordados e activos mesmo na noite!

Papa Francisco, Angelus, 14 de Agosto, 2022

Abrir

20º Domingo do Tempo Comum – Ano C

A que se refere o Senhor quando diz que veio trazer segundo a redacção de São Lucas a “divisão”, ou segundo a de São Mateus a “espada” (Mt 10,34)?

Esta expressão de Cristo significa que a paz que Ele veio trazer não é sinónimo de simples ausência de conflitos. Ao contrário, a paz de Jesus é fruto de uma luta constante contra o mal. O confronto que Jesus está decidido a enfrentar não é contra homens ou poderes humanos, mas contra o inimigo de Deus e do homem, satanás. Quem quer resistir a este inimigo permanecendo fiel a Deus e ao bem deve necessariamente enfrentar incompreensões e às vezes verdadeiras perseguições.

Por isso, quem deseja seguir Jesus e comprometer-se sem hesitações pela verdade deve saber que encontrará oposições e se tornará, infelizmente, sinal de divisão entre as pessoas, até no interior das suas próprias famílias. (Papa Bento XVI, Angelus, 19 de Agosto de 2007).

«Eu vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu, senão que ele já se tenha ateado?» (v. 49). O fogo de que Jesus fala é a chama do Espírito Santo, presença viva e concreta em nós, a partir do dia do nosso Baptismo. Ele — o fogo — é uma força criadora que purifica e renova, queima toda a miséria humana, todo o egoísmo e todo o pecado, transforma-nos a partir de dentro, regenera-nos e torna-nos capazes de amar. Jesus deseja que o Espírito Santo se propague como fogo no nosso coração, porque só começando a partir do coração o incêndio do amor divino poderá difundir-se e fazer progredir o Reino de Deus. Não começa na cabeça, mas no coração. E por isso, Jesus quer que o fogo entre no nosso coração. Se nos abrirmos completamente à ação deste fogo, que é o Espírito Santo, Ele infundir-nos-á a audácia e o fervor para anunciar a todos Jesus e a sua consoladora mensagem de misericórdia e de salvação, navegando em alto mar, sem receio. (Papa Francisco, Angelus, 14 de Agosto, 2016).

 

Abrir

Beato Isidoro Bakanja – 12 de Agosto

Isidoro Bakanja nasceu por volta de 1885, no antigo Congo Belga, África. Converteu-se ao Cristianismo em 1906. No dia 6 de Maio de 1906, aos 21 anos de idade, foi baptizado, sendo o primeiro cristão da sua região. No baptismo, recebeu de presente um Rosário e o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, que nunca mais deixou de usar. Chamavam-no de o “leigo do Escapulário”.

Isidoro trabalhava na plantação de um colonizador belga, ateu, que não gostava de africanos convertidos. Dizia que rezavam demais e que perdiam tempo. A raiva do patrão foi crescendo e mandou que Isidoro lançasse fora o Escapulário. Isidoro recusou. Por isso foi chicoteado até ao ponto de as suas costas se transformarem numa chaga viva. A ferida infeccionou e, ao longo de seis meses, Isidoro viveu um verdadeiro calvário de sofrimentos. Morreu com o Rosário nas mãos e o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo no seu pescoço, no dia 15 de Agosto de 1909. Perdoou ao seu algoz e prometeu rezar por ele quando ingressasse no céu. O Papa João Paulo II beatificou-o em 24 de Abril de 1994 e chamou-o de “mártir do Escapulário”.

Na homilia da cerimónia de beatificação, São João Paulo II disse: “Foste um homem de fé heróica, Isidoro Bakanja, jovem leigo do Zaire. Como baptizado, chamado a difundir a Boa Nova, compartilhaste a tua fé e testemunhaste Cristo com tanta convicção que, aos teus companheiros, te mostraste como um daqueles valorosos fiéis leigos que são os catequistas…

Porque querias permanecer fiel, custasse o que custasse, à fé do teu baptismo, sofreste a flagelação como o teu Mestre. Perdoaste aos teus perseguidores, como o teu Mestre na Cruz, e demonstraste ser artífice de paz e de reconciliação…

Tu nos convidas a acolher, segundo o teu exemplo, o dom que, na Cruz, Jesus nos fez da própria Mãe (cf. Jo 19,27). Revestido com o «escapulário de Maria» continuaste, como Maria e com Ela, a tua peregrinação de fé; como Jesus, o Bom Pastor, chegaste a dar a tua vida pelas ovelhas. Ajuda-nos, a nós que devemos percorrer o mesmo caminho, a dirigir os nossos olhos para Maria e a tomá-la como guia”.

 

 

Abrir