21º Domingo do Tempo Comum – Ano C

É, sem dúvida, uma das frases mais duras de Jesus para os ouvidos do homem contemporâneo: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita». O que pode significar hoje esta exortação evangélica? Tem de se voltar de novo a um cristianismo tenebroso e ameaçador? Teremos de entrar outra vez pelo caminho de um moralismo estreito? 

Não é fácil captar com precisão a intenção da imagem empregue por Jesus. As interpretações dos especialistas diferem. Mas todos coincidem em afirmar que Jesus exorta ao esforço e à renúncia pessoal como uma atitude indispensável para salvar a vida. 

Não podia ser de outra forma. Ainda que a sociedade permissiva pareça esquecê-lo, o esforço e a disciplina são absolutamente necessários. Não há outra caminho. Se alguém pretende alcançar a sua realização pelo caminho do agradável e prazenteiro, em breve descobrirá que é cada vez menos dono de si mesmo. Ninguém alcança na vida uma meta realmente valiosa sem renúncia e sacrifício. 

Esta renúncia não deve ser entendida como uma forma tola de causar dano a si próprio, privando-se da dimensão agradável que envolve viver de forma saudável. Trata-se de assumir as renúncias necessárias para viver de forma digna e positiva. Assim, por exemplo, a verdadeira vida é harmonia. Coerência entre o que acredito e o que faço. Nem sempre é fácil esta harmonia pessoal. Viver de forma coerente consigo mesmo exige renunciar ao que contradiz a minha consciência. Sem esta renúncia, a pessoa não cresce. 

A vida é também verdade. Tem sentido quando a pessoa ama a verdade, a procura e caminha atrás dela. Mas isto requer esforço e disciplina; renunciar a tanta mentira e autoengano que desfigura a nossa pessoa e nos faz viver numa falsa realidade. Sem esta renúncia não há vida autêntica. 

A vida é amor. Quem vive encerrado nos seus próprios interesses, escravo das suas ambições, poderá conseguir muitas coisas, mas a sua vida é um fracasso. O amor exige renunciar a egoísmos, invejas e ressentimentos. Sem esta renúncia não há amor, e sem amor não há crescimento da pessoa. 

A vida é uma dádiva, mas é também uma tarefa. Ser humano é uma dignidade, mas também é um trabalho. Não há grandeza sem desprendimento; não há liberdade sem sacrifício; não há vida sem renúncia. Um dos erros mais graves da sociedade permissiva é confundir a «felicidade» com a «facilidade». O aviso de Jesus conserva toda a sua gravidade também nos nossos dias. Sem renúncia, não se ganha nem esta vida nem a eterna. 

José Antonio Pagola