Ano da Fé – LVI

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Creio na Igreja una

Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica”. Estas são as “notas” da Igreja. Elas não descrevem a Igreja só do exterior; indicam a verdade profunda do seu mistério. Tal como só há um único Cristo, também só pode haver um único “corpo” de Cristo, uma única “esposa” de Cristo, isto é, uma única Igreja de Jesus Cristo. Ele é a cabeça, a Igreja é o corpo. Juntos formam o “Cristo total” (Santo Agostinho).

A unidade da Igreja é um dom do Espírito Santo. Esta unidade é visível e, segundo a promessa de Cristo (cf. Mt 16, 18), não pode ser jamais perdida. Exprime-se na profissão de uma só fé, formulada por um mesmo Credo. Está fundada no único baptismo que faz de todos os discípulos de Cristo um só povo. A Eucaristia, sacramento de unidade, fortifica, constrói e renova sem cessar esta comunhão dos crentes, guardando-os unidos pelos laços da caridade.

A unidade da Igreja não é unicamente de uma boa organização ou de uma disciplina firme: é da ordem da “comunhão”. Esta comunhão é comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo, no Espírito (cf. 1Jo 1, 3) e comunhão dos discípulos entre si na caridade. Esta unidade manifesta-se de maneira privilegiada, na comunhão dos bispos entre si e com o sucessor de Pedro (Papa), a quem é confiada a autoridade sobre a Igreja universal.

A unidade da Igreja é rica em virtude da variedade dos carismas, que corresponde à diversidade dos dons de Deus. Os carismas são, com efeito, graças particulares, “manifestações” (cf. 1Cor 12, 7) do Espírito Santo para a edificação do povo de Deus.

A história passada e presente da Igreja deixa transparecer tensões, conflitos e mesmo divisões. Estas rupturas, que contradizem a vontade formal de Cristo (cf Jo 13, 21), são para o mundo um objecto de escândalo e constituem um obstáculo à evangelização. É por isso que o Vaticano II fez da restauração da unidade entre todos os cristãos uma das suas grandes preocupações.

A maioria das pessoas não faz ideia do que Deus poderia fazer delas se somente elas se colocassem à disposição d’Ele (Santo Inácio de Loyola).

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Subir à montanha do Calvário

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Comamos com amor este pão da vontade de Deus. Se, por vezes, esses desígnios são demasiado crucificantes, podemos dizer como o nosso adorado Mestre: “Pai, se é possível afasta de mim este cálice”, mas logo acrescentaremos: “Não seja como eu quero, mas como Vós quereis”; e, na calma e na força, como o divino Crucificado, subiremos também o nosso calvário, fazendo subir ao Pai um hino de acção de graças, pois os que caminham nesta via dolorosa são aqueles “que Ele conheceu e predestinou para serem conformes à imagem de Seu divino Filho”, o Crucificado por amor!  

Santa Isabel da Trindade

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Ano da Fé – LV

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A Igreja, Corpo de Cristo

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje medito sobre uma outra expressão com que o Concílio Vaticano II indica a natureza da Igreja: a do corpo; o Concilio afirma que a Igreja é o Corpo de Cristo (cf. Lumen gentium, 7).

Gostaria de começar a partir de um texto dos Actos dos Apóstolos, que nós conhecemos bem: a conversão de Saulo, que depois se chamará Paulo, um dos maiores evangelizadores (cf. At 9, 4-5). Saulo é um perseguidor dos cristãos, mas enquanto percorre o caminho que leva à cidade de Damasco, é repentinamente envolvido por uma luz, cai no chão e ouve uma voz que lhe diz: «Saulo, Saulo, por que me persegues?». Ele pergunta: «Quem és, ó Senhor?», e aquela voz responde: «Sou Jesus, a quem tu persegues» (vv. 3-5). Esta experiência de São Paulo revela-nos como é profunda a união entre nós, cristãos, e o próprio Cristo. Quando Jesus subiu ao céu, não nos deixou órfãos, mas com o dom do Espírito Santo a união com Ele tornou-se ainda mais intensa. O Concílio Vaticano II afirma que, «comunicando o seu Espírito, [Jesus] fez misteriosamente de todos os seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o seu próprio Corpo» (Const. Dogm. Lumen gentium, 7).

A imagem do corpo ajuda-nos a compreender este profundo vínculo Igreja-Cristo, que são Paulo desenvolveu de modo particular na Primeira Carta aos Coríntios (cf. cap. 12). Antes de tudo, o corpo chama-nos a uma realidade viva. A Igreja não é uma associação assistencial, cultural ou política, mas sim um corpo vivo, que caminha e age na história. E este corpo tem uma cabeça que o guia, alimenta e sustém. Este é um ponto que eu gostaria de frisar: se separarmos a cabeça do resto do corpo, a pessoa inteira não consegue sobreviver. Assim é na Igreja: devemos permanecer ligados de modo cada vez mais intenso a Jesus. Mas não só: como num corpo é importante que passe a linfa vital porque está viva, assim também devemos permitir que Jesus aja em nós, que a sua Palavra nos oriente, que a sua presença eucarística nos alimente e nos anime, que o seu amor infunda força no nosso amor ao próximo. E isto sempre! Sempre, sempre! Estimados irmãos e irmãs, permaneçamos unidos a Jesus, confiemos nele, orientemos a nossa vida segundo o seu Evangelho, alimentemo-nos com a oração quotidiana, com a escuta da Palavra de Deus e com a participação nos Sacramentos.

E chegamos assim a um segundo aspecto da Igreja como Corpo de Cristo. São Paulo afirma que, assim como os membros do corpo humano, embora sejam diferentes e numerosos, formam um único corpo, do mesmo modo todos nós fomos baptizados mediante um só Espírito, num único corpo (cf. 1 Cor 12, 12-13). Portanto, na Igreja existe uma variedade, uma diversidade de tarefas e de funções; não há uma uniformidade plana, mas a riqueza dos dons distribuídos pelo Espírito Santo. Há comunhão e unidade: todos estão em relação uns com os outros, e todos concorrem para formar um único corpo vital, profundamente ligado a Cristo. Recordemo-lo bem: fazer parte da Igreja quer dizer estar unido a Cristo e receber dele a vida divina que nos faz viver como cristãos, significa permanecer unido ao Papa e aos Bispos, que são instrumentos de unidade e de comunhão, e quer dizer também aprender a superar personalismos e divisões, a entender-se em maior medida uns aos outros, a harmonizar as variedades e as riquezas de cada um; em síntese, a amar mais Deus e as pessoas que estão ao nosso redor, em família, na paróquia e nas associações. Para viver, corpo e membros devem estar unidos! A unidade é superior aos conflitos, sempre! Se não se resolvem bem, os conflitos separam-nos uns dos outros, afastam-nos de Deus. O conflito pode ajudar-nos a crescer, mas também pode dividir-nos. Não percorramos o caminho das divisões, das lutas entre nós!

Todos unidos, todos unidos com as nossas diferenças, mas sempre unidos: este é o caminho de Jesus. A unidade é superior aos conflitos. A unidade é uma graça que devemos pedir ao Senhor, a fim de que nos liberte das tentações da divisão, das lutas entre nós, dos egoísmos e dos mexericos. Quanto mal fazem as bisbilhotices! Nunca murmuremos dos outros, jamais! Quanto dano causam à Igreja as divisões entre os cristãos, o partidarismo, os interesses mesquinhos!

As divisões entre nós, mas também entre as comunidades: cristãos evangélicos, cristãos ortodoxos e cristãos católicos, mas por que motivo divididos? Devemos procurar promover a unidade. Digo-vos uma coisa: hoje, antes de sair de casa, passei mais ou menos quarenta minutos, ou meia hora, com um Pastor evangélico e pudemos rezar juntos, procurando a unidade. Mas devemos rezar entre nós, católicos, e também com os outros cristãos; orar para que o Senhor nos conceda a unidade, a unidade entre nós. Mas como teremos a unidade entre os cristãos, se não somos capazes de a ter entre nós, católicos? De a ter em família? Quantas famílias lutam e se dividem! Procurai a unidade, a unidade que faz a Igreja. A unidade vem de Jesus Cristo. Ele envia-nos o Espírito Santo para realizar a unidade.

Estimados irmãos e irmãs, peçamos a Deus: ajudai-nos a ser membros do Corpo da Igreja, sempre profundamente unidos a Cristo; ajudai-nos a não fazer com com que o Corpo da Igreja sofra devido aos nossos conflitos, às nossas divisões e aos nossos egoísmos; ajudai-nos a ser membros vivos, ligados uns aos outros por uma única força, a do amor, que o Espírito Santo derrama nos nossos corações (cf. Rm 5, 5).

Papa Francisco

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Maria, modelo de santidade

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Nossa Senhora santificou-se como virgem pura e imaculada, correspondendo às graças que Deus, nesse estado, lhe concedeu; santificou-se como esposa fiel e dedicada, no cumprimento de todos os seus deveres de estado; santificou-se como mãe amorosa que se desvela pelo Filho, que Deus lhe confiou, para O embalar em seus braços, criá-Lo e educá-Lo, para O auxiliar e seguir no desempenho da Sua missão…. Com Ele percorreu o caminho estreito da vida, a estrada escabrosa do Calvário; com Ele agonizou, recebendo no seu coração as feridas dos cravos, o golpe da lança e os vitupérios da multidão amotinada; santificou-se, enfim, como mãe, mestra e guia dos Apóstolos, aceitando ficar na terra, pelo tempo que Deus quisesse, para realizar a missão que Ele lhe havia confiado de co-redentora com Cristo da humanidade. Maria é, para todos nós, o modelo da mais perfeita santidade a que pode elevar-se uma criatura, nesta pobre terra de exílio.

Irmã Lúcia

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Ano da Fé – LIV

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A Igreja, povo de Deus

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de meditar brevemente sobre outra expressão com a qual o Concílio Vaticano II definiu a Igreja: «Povo de Deus» (cf. Constituição dogmática Lumen Gentium 9; Catecismo da Igreja Católica, nº 782). E faço-o mediante algumas perguntas, acerca das quais cada um poderá reflectir.

O que quer dizer ser «Povo de Deus»? Antes de tudo, significa que Deus não pertence de modo próprio a qualquer povo, pois é Ele que nos chama, que nos convoca, que nos convida a fazer parte do seu povo, e este convite é dirigido a todos, sem distinção, porque a misericórdia de Deus «deseja que todos os homens se salvem» (1 Tm 2, 4). Jesus não diz aos Apóstolos e a nós que formemos um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e ensinai todas as nações (cf. Mt 28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, «Já não há judeu nem grego… pois todos vós sois um só em Cristo Jesus» (Gl 3, 28). Gostaria de dizer inclusive àqueles que se sentem distantes de Deus e da Igreja, a quem é medroso ou indiferente, a quantos pensam que já não podem mudar: o Senhor chama-te, também a ti, a fazer parte do seu povo, e fá-lo com grande respeito e amor! Ele convida-nos a fazer parte deste povo, do povo de Deus.

Como nos tornamos membros deste povo? Não é através do nascimento físico, mas mediante um novo nascimento. No Evangelho, Jesus diz a Nicodemos que é preciso nascer do alto, da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus (cf. Jo 3, 3-5). É através do Baptismo que nós somos introduzidos neste povo, mediante a fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e desenvolver-se em toda a nossa vida. Perguntemo-nos: como faço crescer a fé que recebi no meu Baptismo? Como faço crescer esta fé que recebi e que o povo de Deus possui?

Outra pergunta. Qual é a lei do Povo de Deus? É a lei do amor, amor a Deus e amor ao próximo, segundo o mandamento novo que o Senhor nos deixou (cf. Jo 13, 34). Mas trata-se de um amor que não é sentimentalismo estéril, nem algo de vago, mas sim o reconhecimento de Deus como único Senhor da vida e, ao mesmo tempo, o acolhimento do outro como verdadeiro irmão, superando divisões, rivalidades, incompreensões e egoísmos; são dois elementos que caminham juntos. Quanto caminho ainda temos que percorrer, para viver concretamente esta nova lei, a do Espírito Santo que age em nós, a da caridade, do amor! Lemos nos jornais ou vemos na televisão que há muitas guerras entre cristãos; como pode acontecer isto? Quantas guerras no seio do povo de Deus! Nos bairros, nos lugares de trabalho, quantas guerras por inveja, ciúmes! Até na mesma família, quantas guerras internas! Devemos pedir ao Senhor que nos faça compreender bem esta lei do amor. Como é bom amar-nos uns aos outros, como verdadeiros irmãos. Como é bom! Hoje façamos algo. Talvez todos nós tenhamos simpatias e antipatias; talvez muitos de nós tenhamos um pouco de raiva a alguém; então, digamos ao Senhor: Senhor, estou enraivecido com ele ou com ela; rezo a Ti por ele e por ela. Orar por aqueles com os quais estamos irados é um bom passo em frente nesta lei do amor. Façamo-lo? Façamo-lo, hoje mesmo!

Que missão tem este povo? A missão de levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama todos à amizade com Ele; ser fermento que faz levedar toda a massa, sal que dá sabor e que preserva da corrupção, ser luz que ilumina. Ao nosso redor, é suficiente ler um jornal — como eu disse — para ver que a presença do mal existe, que o Diabo age. Mas gostaria de dizer em voz alta: Deus é mais forte! Vós acreditais nisto, que Deus é mais forte? Então digamo-lo juntos, digamo-lo todos juntos: Deus é mais forte! E sabeis por que motivo é mais forte? Porque Ele é o Senhor, o único Senhor! E gostaria de acrescentar também que a realidade às vezes obscura, marcada pelo mal, pode mudar, se formos os primeiros a transmitir a luz do Evangelho, principalmente através da nossa própria vida. Se num estádio, pensemos aqui em Roma no Olímpico, ou naquele de São Lourenço em Buenos Aires, numa noite escura, uma pessoa acende uma luz, mal se entrevê; mas se os mais de setenta mil espectadores acendem a própria luz, o estádio ilumina-se. Façamos com que a nossa vida seja uma luz de Cristo; juntos, levaremos a luz do Evangelho a toda a realidade.

Qual é a finalidade deste povo? A finalidade é o Reino de Deus, encetado na terra pelo próprio Deus e que deve ser ampliado até ao seu cumprimento, quando voltar Cristo, nossa vida (cf. Lumen gentium, 9). Então, a finalidade é a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o Senhor, entrar na sua própria vida divina, onde viveremos a alegria do seu amor incomensurável, uma alegria plena.

Estimados irmãos e irmãs, ser Igreja, ser Povo de Deus, segundo o grande desígnio de amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, significa anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de respostas que animem, que infundam esperança e que dêem um vigor renovado ao caminho. A Igreja seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada qual possa sentir-se acolhido, amado, perdoado e encorajado a viver em conformidade com a vida boa do Evangelho. E para fazer com que o outro se sinta acolhido, amado, perdoado e encorajado, a Igreja deve manter as suas portas abertas, a fim de que todos possam entrar. E nós temos que sair através de tais portas e anunciar o Evangelho.

 

Papa Francisco

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Solenidade de Nossa Senhora do Carmo

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E, já que não posso deixar de ser a que tenho sido, não tenho outro remédio, senão acolher-me a Nossa Senhora e confiar nos méritos de Seu Filho e da Virgem, Sua Mãe, cujo hábito indignamente trago, e vós trazeis também. Louvai-O, minhas filhas, pois verdadeiramente o sois desta Senhora; e assim não tendes de vos afrontar que eu seja ruim, pois tendes tão boa Mãe. (…) Imitai-A e considerai qual deve ser a grandeza desta Senhora, e o bem de A ter por Padroeira, pois não bastaram meus pecados e ser a que sou, para em nada deslustrar esta sagrada Ordem.

Santa Teresa de Jesus

Oração a Nossa Senhora do Carmo

Ó Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo, tu estiveste unida de modo admirável ao mistério da Redenção; tu acolheste e conservaste no coração a Palavra de Deus e perseveraste com os Apóstolos em oração esperando a vinda do Espírito Santo. Em ti, como numa imagem perfeita, vemos realizado o que desejamos e esperamos ser na Igreja. Ó Virgem Maria, Estrela mística do Monte Carmelo, ilumina-nos e guia-nos no caminho da perfeita caridade e atrai-nos para a contemplação do rosto do Senhor. Cuida de nós com amor, e reveste os teus filhos com o teu santo Escapulário, sinal da tua protecção, e que a tua presença ilumine os nossos caminhos e nos faça chegar ao monte da salvação, que é Cristo Jesus, teu Filho e Senhor nosso. Amen.

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Ano da Fé – LIII

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A Igreja, família de Deus

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Na quarta-feira passada sublinhei o vínculo profundo entre o Espírito Santo e a Igreja. Hoje, gostaria de encetar algumas catequeses sobre o mistério da Igreja, mistério que todos nós vivemos e do qual fazemos parte. Gostaria de o fazer com expressões bem presentes nos textos do Concílio Vaticano II. Hoje, a primeira: a Igreja como família de Deus.

Durante estes meses, referi-me várias vezes à parábola do filho pródigo, ou melhor, do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32). O filho mais jovem deixa a casa do pai, esbanja tudo e decide voltar para casa, porque se dá conta de ter errado, mas não se considera digno de ser filho, e pensa que pode ser acolhido de novo, mas como servo. O pai, ao contrário, corre ao seu encontro, abraça-o, restitui-lhe a dignidade de filho e faz festa. Esta parábola, como outras no Evangelho, indica bem o desígnio de Deus sobre a humanidade.

Em que consiste este desígnio de Deus? Em fazer de todos nós uma única família dos seus filhos, na qual cada um o sinta próximo e amado por Ele, como na parábola evangélica, sentindo o entusiasmo de ser família de Deus. É neste grande desígnio que a Igreja encontra a sua raiz, a qual não é uma organização derivada de um acordo entre algumas pessoas, mas — como nos recordou tantas vezes o Papa Bento XVI — é obra de Deus, nasce precisamente deste desígnio de amor que se realiza progressivamente na história. A Igreja nasce do desejo de Deus de chamar todos os homens à comunhão com Ele, à sua amizade, aliás, como seus filhos, a participar na sua vida divina. A própria palavra «Igreja», do grego ekklesia, significa «convocação»: Deus convoca-nos, impele-nos a sair do individualismo, da tendência de nos fecharmos em nós mesmos, e chama-nos a fazer parte da sua família. E este chamamento encontra a sua origem na própria criação. Deus criou-nos para que vivamos numa relação de profunda amizade com Ele, e até quando o pecado interrompeu esta relação com Ele, com os outros e com a criação, Deus não nos abandonou. Toda a história da salvação é a história de Deus que se põe em busca do homem, que lhe oferece o seu amor e o acolhe. Chamou Abraão para ser pai de uma multidão; escolheu o povo de Israel para estabelecer uma aliança que abranja todos os povos e, na plenitude dos tempos, enviou o seu Filho para que o seu desígnio de amor e de salvação se realize numa aliança nova e eterna com a humanidade inteira. Quando lemos os Evangelhos, vemos que Jesus reúne ao seu redor uma pequena comunidade que acolhe a sua palavra, que a segue, compartilha o seu caminho tornando-se a sua família e, com esta comunidade, prepara e constrói a sua Igreja.

Então, de onde nasce a Igreja? Nasce do gesto supremo de amor da Cruz, do lado aberto de Jesus, de onde jorram sangue e água, símbolo dos Sacramentos da Eucaristia e do Baptismo. Na família de Deus, na Igreja, a linfa vital é o amor de Deus que se concretiza no amor a Ele e ao próximo, a todos, sem distinções nem medida. A Igreja é família na qual amamos e somos amados.

Quando se manifesta a Igreja? Pudemos celebrá-la há dois domingos; ela manifesta-se quando o dom do Espírito Santo enche o coração dos Apóstolos, impelindo-os a sair e a começar a percorrer o caminho para anunciar o Evangelho, para difundir o amor de Deus.

Ainda hoje alguns dizem: «Cristo sim, a Igreja não». Como aqueles que dizem: «Creio em Deus, mas não nos sacerdotes». Mas é precisamente a Igreja que nos traz Cristo e que nos leva a Deus; a Igreja é a grande família dos filhos de Deus. Sem dúvida, ela também tem aspectos humanos; naqueles que a compõem, Pastores e fiéis, existem defeitos, imperfeições e pecados; até o Papa os tem, e tem tantos, mas é bom saber que quando nos damos conta que somos pecadores, encontramos a misericórdia de Deus, que perdoa sempre. Não o esqueçais: Deus perdoa sempre e recebe-nos no seu amor de perdão e de misericórdia. Alguns dizem que o pecado é uma ofensa a Deus, mas é também uma oportunidade de humilhação, para nos darmos conta de que existe algo melhor: a misericórdia de Deus. Pensemos nisto.

Interroguemo-nos hoje: quanto amo a Igreja? Rezo por ela? Sinto-me parte da família da Igreja? O que faço para que ela seja uma comunidade na qual cada um se sinta acolhido e compreendido, sinta a misericórdia e o amor de Deus que renova a vida? A fé é um dom e um acto que nos diz respeito pessoalmente, mas Deus chama-nos a viver juntos a nossa fé, como família, como Igreja.

Peçamos ao Senhor, de modo totalmente especial neste Ano da Fé que as nossas comunidades, a Igreja inteira, sejam famílias cada vez mais autênticas, que vivem e transmitem o entusiasmo de Deus.

Papa Francisco

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Ano da Fé – LII

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Nomes dados à Igreja

O mistério da Igreja não se deixa encerrar nos termos de uma definição. As imagens e os nomes que, na Bíblia, servem para a evocar e que o Vaticano II lembra são um bom guia para aprender a sua riqueza. Estas imagens são múltiplas. Nenhuma tem a pretensão de exprimir a totalidade do mistério. Cada uma delas sublinha um aspecto. O que importa é combiná-las umas com as outras, sem se limitar a uma só.

Algumas destas imagens têm origem na vida pastoril: a Igreja é então o aprisco cuja porta é Cristo, ou ainda o rebanho, do qual Cristo é o verdadeiro pastor. Esta imagem permite a Jesus falar de outras ovelhas que lhe pertencem mas que não são deste redil: é preciso que ele as traga também (cf. Jo 10, 1-16). Outras imagens são tiradas da vida do campo. A Igreja é então o terreno no qual é espalhada a semente, o campo cultivado de Deus (cf. 1Cor 3, 9) ou ainda a vinha que ele plantou (cf. Mt 21, 33-43).

Várias imagens andam à volta da ideia de construção ou de habitação. A Igreja é chamada edifício de Deus (cf. 1Cor 3, 9), a casa de Deus (cf 1Tm 3, 15) ou o templo santo (cf Ef 2, 21). Deste edifício Cristo é a pedra angular; os crentes tornados templos do Espírito, são integrados nele como pedras vivas.

A Igreja pode também ser chamada a família de Deus (cf. Ef 2, 19). Ela chama-se também “a Jerusalém do alto” e “nossa mãe” (Gal 4, 26; cf. Ap 12, 17); e é descrita como a esposa imaculada a quem Cristo amou e por ela se entregou para a santificar (cf. Ap 21, 2; Ef 5, 26).

Achas, portanto, que as fraquezas da Igreja fariam com que Cristo a abandonasse? Abandonar a Igreja seria o mesmo que abandonar o Seu próprio corpo (D. Hélder Câmara).

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Ano da Fé – LI

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A comunidade cristã

O Espírito Santo reúne os crentes na Igreja. O amor do Pai, revelado pelo Filho, morto e ressuscitado, é comunicado aos discípulos, que se tornam a família de Deus, enviada a todo o mundo como sinal palpável da Sua proximidade. No próprio dia do Pentecostes forma-se a primeira comunidade cristã, a de Jerusalém, mãe e modelo de todas as que lhe seguiram. Os crentes são “assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações” (Act 2, 42). Escutam e meditam a palavra de Deus. Louvam e agradecem continuamente ao Senhor, suplicam a Sua ajuda nas dificuldades. Celebram, na Eucaristia, o mistério da morte e da ressurreição de Cristo, realizando o gesto por Ele realizado na Última Ceia. Sentem-se bem em estar juntos; encarregam-se dos serviços necessários; partilham os bens materiais, com liberdade e generosidade, continuando a experiência já feita por alguns com Jesus. Levam para toda a parte o seu testemunho corajoso, provocando a simpatia do povo, apesar da hostilidade da classe dirigente. Trata-se de uma experiência histórica irrepetível em que se delineia a figura essencial de toda a verdadeira comunidade cristã: comunidade concreta de crentes em Cristo, homens e mulheres de carne e osso, santos e pecadores, reunidos sob a orientação dos pastores, na partilha dos bens materiais e espirituais, onde o mistério pascal do Senhor é proclamado pela pregação, concretizado na Eucaristia e vivido na caridade..

Para ser reconhecível como sinal diante do mundo, a Igreja deve possuir uma identidade visível bem determinada; deve configurar-se como comunidade de fé, de culto e, sobretudo, de relações fraternas: “É por isso que todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35).

A Igreja é uma mulher de idade muito avançada, com muitas rugas. Mas é a minha mãe. E numa mãe não se bate (Karl Rahner).

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Ano da Fé – L

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Orações ao Espírito Santo

– Ó Espírito Santo, alma de minha alma, eu vos adoro, esclarecei-me, guiai-me, fortificai-me, consolai-me, aconselhai-me, ensinai-me o que devo fazer, dai-me as vossas ordens, eu prometo submeter-me a tudo o que desejardes de mim e a aceitar tudo o que permitirdes que me aconteça, fazei-me conhecer somente a vossa vontade!

Divino Espírito Santo, força da nossa fraqueza, auxílio do nosso nada, sabedoria da nossa ignorância, tende compaixão de nós. Sede a minha luz, sede a minha força, sede o meu amor. Vinde, vivei em mim e transformai-me.

– Ó Espírito Santo, amor do Pai e do Filho, inspirai-me sempre: o que devo pensar, o que devo dizer, o que devo calar, o que devo escrever, como devo agir, aquilo que devo fazer, para alcançar a Vossa glória, a salvação das almas e minha própria santificação. Amen.

Espírito Santo, Deus de Amor, concede-me: uma inteligência que Te conheça; uma angústia que Te procure; uma sabedoria que Te encontre; uma perseverança que, enfim, Te possua. Amen.

– Espírito Santo de Deus, consagro-Te hoje todo o meu ser, vontade, inteligência, memória, imaginação e afectividade. Conduz-me pelos Teus caminhos, guia-me com a Tua sabedoria para a vida plena de Jesus. Cria em mim um coração puro e humilde, mas que tenha a ousadia e o ardor dos mártires. Enche-me com os Teus dons, santifica-me com os Teus frutos. Restaura todo o meu viver, para que eu seja um canal do Teu amor. Amen.

Vem, Espírito Santo, e renova em mim a chama do Teu amor. Enche-me da fé, e revela com a Tua luz todos os meus pecados e traumas. Liberta-me, Espírito Santo, e faz de mim uma nova criatura. Santifica o meu espírito e alma, renovando também todo o meu ser, emoções, mente, ouvidos, olhos, lábios e actos. Capacita-me a viver a Palavra de Jesus Cristo em toda a sua profundidade. E agora, Espírito Santo, dá-me os Teus dons para que eu possa servir melhor o Reino de Deus, amando, indistintamente, todos os meus irmãos. Mas, acima de tudo, derrama o dom do louvor, para que, em tudo e por tudo, eu glorifique o Senhor Nosso Deus. Amen.

 

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