1º – Novena de Nossa Senhora do Carmo

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O escapulário

No século XII, época da origem da Família Carmelita, havia muitos escapulários. Um deles era o escapulário do Carmo. O escapulário era uma espécie de manto ou avental, sinal de serviço. Era usado pelos camponeses de um determinado lugar ou fazenda, para expressar a sua pertença à família do dono daquele lugar. A veste do escapulário era um sinal visível da família, a que eles estavam ligados ou agregados. Conferia identidade às pessoas e integrava-as num determinado grupo social ou comunidade.

O escapulário era expressão da garantia de protecção que os camponeses recebiam do dono do lugar (feudo ou fazenda) e da sua esposa, chamada a “Senhora do Lugar”. Era expressão também do obséquio ou serviço que eles deviam prestar ao fazendeiro e à “Senhora do Lugar”.

Os primeiros Carmelitas, porém, abandonaram o seu feudo na Europa e foram para a Terra de Jesus, para o Monte Carmelo. Queriam viver em obséquio de outro dono, Jesus; e de outra Senhora do Lugar, Maria, a Mãe de Jesus. O escapulário do Carmo é a expressão visível deste novo modo de viver o Evangelho. Manto de protecção e de compromisso.

O símbolo do escapulário acentua os dois aspectos fundamentais da vida Carmelita: a nossa devoção para com Maria, a Mãe de Jesus, e a protecção da parte dela para connosco.

Situando o primeiro dia no conjunto da novena

Neste primeiro dia da novena a ênfase cai no acompanhamento que Nossa Senhora nos vai dar. Ela é a irmã e a educadora que nos acompanhará nesta novena, desde o primeiro dia até o fim, para que possamos chegar à maturidade da fé (Ef 4,13). Maria soube escutar e cultivar a vontade de Deus (Lc 11,27-28; Lc 1,38; Mc 3,31-35; Jo 2,5; 19,25-27) e fazer da sua vida um serviço a Deus e aos irmãos e irmãs. Desde este primeiro dia, assumimos o mesmo compromisso que Maria assumiu de escutar e de cultivar sempre em nós a vontade de Deus: “Eis aqui a Serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra!”.

O que Nossa Senhora nos tem a dizer é, sobretudo, aquilo que o próprio Jesus disse a respeito dela: “Feliz de quem ouve a palavra de Deus e a põe em prática” (Lc 11,27-28): ouvir a Palavra de Deus e colocá-la em prática!

O objectivo a ser alcançado no primeiro dia da novena

– Viver a protecção de Maria para connosco e levar a sério o nosso compromisso com Maria, a Mãe de Jesus.

– Criar em nós o firme propósito de escutar sempre o que Deus nos tem a dizer e de cultivar em tudo a sua vontade.

Atitude orante a ser cultivada no primeiro dia da novena

Começar e permanecer, desde agora, uns cinco a sete minutos em silêncio total diante de Deus, sem fazer nada, sem dizer nada, dizendo apenas: “Senhor, estou aqui às tuas ordens, ao teu serviço!”.

Padroeiro: Beato Isidoro Bakanja, o mártir do escapulário

Isidoro Bakanja nasceu em torno de 1885, no antigo Congo Belga, África. Converteu-se ao Cristianismo em 1906. No dia 6 de Maio de 1906, aos 21 anos de idade, foi baptizado, sendo o primeiro cristão da sua região. No baptismo, recebeu de presente um Rosário e o escapulário de Nossa Senhora do Carmo, que nunca mais deixou de usar. Chamavam-no de o “leigo do escapulário”.

Isidoro trabalhava na plantação de um colonizador belga, ateu, que não gostava de africanos convertidos. Dizia que rezavam demais e que perdiam tempo. A raiva do patrão foi crescendo e mandou que Isidoro lançasse fora o escapulário. Isidoro recusou. Por isso foi chicoteado até ao ponto de as suas costas se transformarem numa chaga viva. A ferida infeccionou e, ao longo de seis meses, Isidoro viveu um verdadeiro calvário de sofrimentos. Morreu com o Rosário nas mãos e o escapulário de Nossa Senhora do Carmo no seu pescoço, dia 15 de Agosto de 1909. Perdoou ao seu algoz e prometeu rezar por ele quando ingressasse no céu. O Papa João Paulo II beatificou-o em 1994 e chamou-o de “mártir do escapulário”.

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14º Domingo do Tempo Comum – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 11, 25-30)

Naquela ocasião, Jesus tomou a palavra e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.» «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.»

Comentário às palavras de Jesus

Mateus 11, 25-26: Só os pequenos podem entender e aceitar a Boa Nova do Reino. Perante o acolhimento da mensagem do Reino por parte dos pequenos, Jesus tem uma grande alegria e espontâneamente transforma a sua alegria em oração ao Pai: “Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado”. Os sábios, os doutores daquele tempo, criaram uma série de leis à volta da pureza legal, que depois as impunham ao povo em nome de Deus (Mt 15, 1-9). Eles pensavam que Deus exigia todas estas observâncias para que o povo pudesse ter paz. Mas a lei do amor, revelada por Jesus, afirmava o contrário. De facto, o que conta, não é o que fazemos por Deus, mas antes, o que Deus, na sua grande misericórdia, faz por nós! Os pequenos ouviam esta boa notícia e alegravam-se. Os sábios e doutores não conseguiam entender tal ensinamento. Hoje, como naquele tempo, Jesus continua a ensinar muitas coisas aos pobres e aos pequenos. Os sábios e inteligentes farão bem em converterem-se em discípulos dos pequenos.

Jesus rezava muito! Orava com os discípulos, orava com o povo, orava sozinho. Passava noites inteiras em oração. Chegou a resumir toda a sua mensagem numa oração de sete pedidos, que é o Pai Nosso. Às vezes, como neste caso, os Evangelhos informam-nos acerca da oração de Jesus (Mt 11, 25-26; 26, 39; Jo 11, 41-42; 17, 1-26). Outra vezes dão-nos a conhecer que Jesus rezava os Salmos (Mt 26, 30; 27, 46). Na maior parte dos casos dizem simplesmente que Jesus rezava. Hoje por todas as partes os grupos de oração multiplicam-se.

No Evangelho de Mateus o termo pequenos às vezes indica as crianças e outras sectores excluídos da sociedade. Não é fácil fazer a distinção. Às vezes o que é chamado pequeno num Evangelho, é chamada criança noutro. Além disso, nem sempre é fácil fazer a distinção entre o que pertence à época de Jesus e o que é do tempo das comunidades para quem foram escritos os Evangelhos. Seja como for, o que é claro é o contexto de exclusão que reinava naquela época, e a imagem de pessoa acolhedora que os pequenos das comunidades cristãs primitivas tinham de Jesus.

Mateus 11, 27: A origem da nova lei: o Filho conhece o Pai. Jesus sendo o Filho, conhece o Pai e sabe o que o Pai queria, quando no passado, chamou Abraão e Sara para formar um povo e quando deu a Lei a Moisés para reforçar a aliança. A experiência de Deus como Pai ajudava Jesus a entender de uma maneira nova o que Deus dissera no passado. Ajudava-o a reconhecer erros e limites, dentro dos quais a Boa Nova de Deus ficara prisioneira da ideologia dominante A intimidade com o Pai dava-lhe um critério novo que o colocava em contacto directo com o autor da Bíblia. Jesus não ia da letra para a raiz mas da raiz para a letra. Ele procurava o sentido na fonte. Para compreender o sentido de uma carta é importante estudar as palavras que ela contém. Mas a amizade com o autor da carta pode ajudar a descobrir uma dimensão mais profunda nessas palavras, que só o estudo não pode revelar.

Mateus 11, 28-30: Jesus convida todos os que estão cansados e promete-lhes o descanso. O povo daquele tempo vivia cansado sob o duplo peso dos impostos e das observâncias exigidas pelas leis da pureza. Jesus diz: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Através do profeta Jeremias Deus convidou o povo a investigar o passado para conhecer qual o caminho bom que poderia dar descanso às almas (Jer 6, 16). Este caminho bom aparece agora em Cristo. Jesus oferece descanso às almas. Ele é o caminho (Jo 14, 6).

Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. Como Moisés, Jesus era manso e humilde (Num 12, 3). Muitas vezes esta frase foi manipulada para pedir ao povo submissão, mansidão e passividade. O que Jesus quer dizer é totalmente o contrário. Ele pede ao povo, para poder entender as coisas do Reino, que não dê tanta importância “aos sábios e doutores”, isto é, aos professores oficiais da religião do tempo, e que confie mais nos pequenos. Os oprimidos devem começar a aprender de Jesus o que é ser “manso e humilde de coração”.

Muitas vezes na Bíblia humilde é sinónimo de humilhado. Jesus não fazia como os escribas que se envaideciam da sua ciência, mas era como o povo humilde e humilhado. Ele, o Mestre, sabia por experiência o que se passava no coração do povo e quanto o povo sofria na vida de cada dia.

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Deus não se cansa de perdoar

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Quando reconheço ter caído nalguma falta, concordo que fiz mal e digo: “é o meu natural, só isto é que sei fazer”; se não faltei em nada, dou graças a Deus e confesso que foi porque Ele me ajudou.

Frei Lourenço da Ressurreição

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Solenidade de São Pedro e São Paulo – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 16, 13-19)

Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.»

Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» Depois, ordenou aos discípulos que a ninguém dissessem que Ele era o Messias.

A partir desse momento, Jesus Cristo começou a fazer ver aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito, da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos doutores da Lei, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar. Tomando-o de parte, Pedro começou a repreendê-lo, dizendo: «Deus te livre, Senhor! Isso nunca te há-de acontecer!» Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!»

Comentário do texto

Mateus 16, 13-16: As opiniões do povo e dos discípulos acerca de Jesus. Jesus quer saber a opinião do povo acerca da sua pessoa. As respostas são muito variadas: João Baptista, Elias, Jeremias, um dos profetas. Quando Jesus pede a opinião dos próprios discípulos, Pedro em nome de todos diz: “Tu és o Cristo o Filho de Deus vivo!”. Esta resposta de Pedro não é nova. Anteriormente, depois de caminhar sobre as águas, já os próprios discípulos tinham feito uma profissão de fé semelhante: “Verdadeiramente tu és o Filho de Deus! (Mt 14, 33). É o reconhecimento de que em Jesus se realizam as profecias do Antigo Testamento. No Evangelho de João a mesma profissão de fé é feita por Marta: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir a este mundo!” (Jo 11, 27).

Mateus 16, 17: A resposta de Jesus a Pedro: “És feliz, Simão”. Jesus diz que Pedro é “feliz”, porque recebeu uma revelação do Pai. Tampouco aqui a resposta de Jesus é nova. Já antes Jesus tinha feito uma declaração de felicidade aos discípulos porque viam e ouviam coisas que ninguém antes tinha conhecido (Mt 13, 16), e havia louvado o Pai por ter revelado o Filho aos pequeninos e não aos sábios (Mt 11, 25). Pedro é um dos pequeninos a quem o Pai se revela. A percepção da presença de Deus em Jesus não provém “nem da carne nem do sangue”, ou seja, não é o resultado de estudo, nem é mérito de nenhum esforço humano, mas é dom de Deus que o concede a quem quer.

16, 18-20: As qualificações de Pedro: ser pedra de fundamento e receber em posse as chaves do Reino.

Ser pedra: Pedro deve ser a pedra, a saber, deve ser o fundamento firme para a Igreja, de modo que possa resistir contra os assaltos das portas do inferno. Com estas palavras de Jesus dirigidas a Pedro, Mateus animava as comunidades da Síria e da Palestina que sofriam e eram perseguidas e que viam em Pedro o chefe que as selara desde o princípio. Apesar de serem débeis e perseguidas, elas tinham um fundamento sólido, garantido pela palavra de Jesus. Naquele tempo as comunidades cultivavam uma estreita e muito forte relação afectivacom os chefes que estiveram na sua origem. Assim as comunidades da Síria e da Palestina cultivavam a sua relação com a pessoa de Pedro. As da Grécia com a pessoa de Paulo. Algumas comunidades da Ásia com a pessoa do Discípulo Amado e outras com a pessoa de João do Apocalipse. Uma identificação com estes chefes que as originaram ajudavam-nas a cultivar melhor a própria identidade e espiritualidade. Mas também podia ser motivo de conflito, como no caso da comunidade de Corinto (1Cor 1, 11-12). Ser pedra como fundamento da fé evoca a Palavra de Deus dirigida ao povo no desterro da Babilónia: “Escutai-me, vós, os que seguis a justiça, os que procurais Yahvé. Considerai a rocha de que fostes talhados e a a pedreira de onde fostes tirados. Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz. Ele era um só, quando o chamei, mas abençoei-o e multipliquei-o” (Is 51, 1-2). Aplicada a Pedro esta qualidade de pedra-fundamento, indica um novo começo do povo de Deus.

As chaves do Reino: Pedro recebe as chaves do Reino para atar e desatar, ou seja, para reconciliar as pessoas com Deus. O mesmo poder de atar e desatar foi dado às comunidades (Mt 18, 8) e aos discípulos (Jo 20, 23). Um dos pontos em que o Evangelho de Mateus mais insiste é o da reconciliação e do perdão (Mt 5, 7.23-24.38-42.44-48; 18, 15-35). Nos anos 80 e 90 na Síria existiam muitas tensões nas comunidades e divisões nas famílias por causa da fé em Jesus. Alguns aceitavam-no como Messias e outros não. Isto era fonte de muitos conflitos e desavenças. Mateus insiste sobre a reconciliação. A reconciliação era e continua a ser um dos mais importantes deveres dos coordenadores das comunidades. Imitando Pedro, devem atar e desatar, isto é, trabalhar para que haja reconciliação, aceitação mútua, construção da verdadeira fraternidade.

A Igreja: A palavra Igreja, em grego ekklesia, aparece 105 vezes no Novo Testamento, quase exclusivamente nos Actos dos Apóstolos e nas Cartas. Somente três vezes nos Evangelhos, e só em Mateus. A palavra significa “assembleia convocada” ou “assembleia escolhida”. Esta indica o povo que se reúne convocado pela Palavra de Deus e procura viver a mensagem do Reino que Jesus trouxe. A Igreja ou a comunidade não é esse Reino mas um instrumento e um sinal do Reino. O Reino é maior. Na Igreja, na comunidade, deve ou deveria aparecer aos olhos de todos o que acontece quando um grupo humano deixa Deus reinar e tomar posse da sua vida.

Mateus 16, 21-22: Jesus completa o que falta na resposta de Pedro e este reage e não aceita. Pedro confessara: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!”. Conforme a ideologia dominante do tempo, Pedro imaginava um Messias glorioso. Jesus corrige-o: ”É necessário que o Messias sofra e seja morto em Jerusalém”. Dizendo “é necessário”, Jesus indica que o sofrimento já estava previsto nas profecias (Is 53, 2-8). Se os discípulos aceitam Jesus como Messias e Filho de Deus, devem aceitá-lo também como Messias servo que vai morrer. Não só o triunfo da glória, mas também o caminho da cruz! Mas Pedro não aceita a correcção de Jesus e procura dissuadi-lo.

Mateus 16, 23: A resposta de Jesus a Pedro: pedra de escândalo. A resposta de Jesus é surpreendente: “Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!”. Satanás é o que nos afasta do caminho que Deus nos traçou. Literalmente Jesus diz: “Coloca-te atrás de mim!”. Pedro queria tomar o comando e indicar a direcção do caminho. Jesus diz: “Atrás de mim!”. Quem assinala a direcção e o ritmo não é Pedro mas é Jesus. O discípulo deve seguir o mestre. Deve viver em conversão permanente. A palavra de Jesus era também uma mensagem para todos os que conduziam as comunidades. Eles devem “seguir” Jesus e não podem colocar-se à frente como Pedro queria fazer. Não são eles que podem indicar a direcção ou o estilo. Pelo contrário, como Pedro, em vez de pedra de apoio, podem converter-se em pedra de escândalo. Assim eram alguns chefes das comunidades nos tempos de Mateus. Havia ambiguidade. O mesmo pode acontecer hoje connosco!

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Mesmo miseráveis, somos sempre acolhidos por Jesus

Sacred-Heart

Não é para o primeiro lugar, mas para o último que eu corro. Em vez de avançar como o fariseu, repito, cheia de confiança, a oração do publicano. Imito, sobretudo, a conduta da Madalena; a sua surpreendente, ou melhor, a sua amorosa audácia, que encanta o Coração de Jesus, seduz o meu. Sim, estou certa de que mesmo que tivesse na minha consciência todos os pecados que se possam cometer, eu iria com o coração despedaçado de arrependimento lançar-me nos braços de Jesus, pois sei quanto ama o filho pródigo que para Ele volta.

Santa Teresinha do Menino Jesus

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Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 6, 51-58)

«Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, pela vida do mundo.» Então, os judeus, exaltados, puseram-se a discutir entre si, dizendo: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?!» Disse-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os antepassados comeram, pois eles morreram; quem come mesmo deste pão viverá eternamente.»

Pensamentos sobre a Eucaristia

– Santo Agostinho ajuda-nos a compreender a dinâmica da comunhão eucarística, quando faz referência a uma espécie de visão que teve, na qual Jesus lhe disse: «Eu sou o alimento dos fortes. Cresce e receber-me-ás. Tu não me transformarás em ti, como o alimento do corpo, mas és tu que serás transformado em mim» (Confissões VII, 10, 18). Portanto, enquanto o alimento corporal é assimilado pelo nosso organismo e contribui para o seu sustento, no caso da Eucaristia trata-se de um Pão diferente: não somos nós que o assimilamos, mas é ele que nos assimila a si, de tal modo que nos tornamos conformes com Jesus Cristo, membros do seu corpo, um só com Ele. Esta passagem é decisiva. Com efeito, precisamente porque é Cristo que, na comunhão eucarística, nos transforma em si, neste encontro a nossa individualidade é aberta, libertada do seu egocentrismo e inserida na Pessoa de Jesus, que por sua vez está imersa na comunhão trinitária. Assim a Eucaristia, enquanto nos une a Cristo, abre-nos também aos outros, tornando-nos membros uns dos outros: já não estamos divididos, mas somos um só nele. A comunhão eucarística une-me à pessoa que está ao meu lado e com a qual, talvez, eu nem sequer tenho um bom relacionamento, mas também aos irmãos distantes, em todas as regiões do mundo (Bento XVI).

– Eucaristia, amor dos amores (São Bernardo).

– A Eucaristia não é só garantia do amor de Jesus Cristo, mas é também garantia do paraíso que Ele nos quer dar (Santo Afonso de Ligório).

– Jesus Cristo quer de tal modo unir-se connosco, pelo amor ardente que nos tem, que nos tornemos uma só coisa com Ele na Eucaristia (São João Crisóstomo).

– O dar-se Jesus Cristo a nós como alimento foi o último grau de amor. Deu-se a nós para unir-se totalmente connosco como se une o alimento diário com quem o toma (São Bernardino de Sena).

– Remédio pelo qual somos livres das falhas quotidianas e preservados dos pecados mortais (Concílio de Trento).

– Por meio deste sacramento, o homem é estimulado a fazer actos de amor e por eles se apagam os pecados veniais. Somos preservados dos pecados mortais, porque a comunhão confere o aumento da graça que nos preserva das culpas graves (São Tomás de Aquino).

Jesus Cristo com sua Paixão nos livrou do poder do pecado, mas com a Eucaristia nos livra do poder de pecar (Inocêncio III).

– Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos, para se conservarem na perfeição, e os imperfeitos, para chegarem à perfeição (São Francisco de Sales).

– Depois de morrer consumido de dores sobre um madeiro destinado aos maiores criminosos, Vos colocastes sob as aparências do pão, para Vos fazerdes nosso alimento e assim, unir-vos todo a cada um de nós. Dizei-me: que mais podíeis inventar para Vos fazer amar? (Santo Afonso de Ligório).

– Neste dom da Eucaristia, Cristo quis derramar todas as riquezas do amor que reservava para os homens (Concílio de Trento).

– A Eucaristia não é coisa que se possa descobrir com os sentidos, mas só com a fé, baseada na autoridade de Deus (São Tomás de Aquino).

– Não ponhas em dúvida se é ou não verdade, mas aceita com fé as palavras do Salvador; sendo Ele a Verdade, não mente (São Cirilo).

– Vós, Jesus, partindo deste mundo, o que nos deixastes em memória de vosso amor? Não uma veste, um anel, mas o vosso corpo, o vosso sangue, a vossa alma, a vossa divindade, vós mesmo, todo, sem reservas (Santo Afonso de Ligório).

– Este pão é Jesus. Alimentar-nos dele significa receber a própria vida de Deus, abrindo-nos à lógica do amor e da partilha (São João Paulo II).

– A Eucaristia é o nosso tesouro mais precioso. Ela é o sacramento por excelência; introduz-nos antecipadamente na vida eterna; contém em si todo o mistério da nossa salvação; é a fonte e o ápice da acção e da vida da Igreja (Bento XVI).

– Esse mesmo pão eucarístico, oferecido um dia por nós, é entregue sem interrupção para que os homens, separados uns dos outros outrora mas chamados de novo muitas vezes à unidade, em si descubram novo amor para com Deus e entre si novo vínculo de fraternal amizade (São João Paulo II).

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Estás na presença de Deus

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[Devemos procurar] fazer a nossa oração com fé e atenção, evitando, quanto nos seja possível, as distracções; com respeito, dando-nos conta de que estamos a falar com Deus; fazê-la com confiança e amor, porque estamos a tratar com Aquele que sabemos que nos ama e quer ajudar a nossa fraqueza, como um pai que dá a mão ao filho pequenino, para o ajudar a caminhar.

Serva de Deus Irmã Lúcia de Jesus

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Domingo da Santíssima Trindade – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 3, 16-18)

Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus.

Uma chave de leitura

Nicodemos era um doutor que pretendia conhecer as coisas de Deus. Observava Jesus com o livro da Lei de Moisés na mão, para ver se a novidade anunciada por Jesus concordava com ele. No diálogo, Jesus faz compreender a Nicodemos (e a todos nós) que a única maneira de entender as coisas de Deus é nascer de novo! Hoje acontece o mesmo. Muitas vezes somos como Nicodemos: aceitamos só o que está de acordo com as nossas ideias. O restante é rejeitado e é considerado contrário à tradição. Mas nem todos são assim. Há muitas pessoas que se deixam surpreender pelos factos e não têm medo de dizer: “Nasce de novo!”.

Quando o evangelista recolhe estas palavras de Jesus, tem diante dos olhos a situação das comunidades dos finais do século primeiro e é para elas que escreve. As dúvidas de Nicodemos eram também as dúvidas das comunidades. E do mesmo modo, a resposta de Jesus é também uma resposta para as comunidades.

Comentário do texto

João 3, 16: Amar é dar-se por amor. A palavra amor indica antes de tudo, uma experiência profunda de relação entre diversas pessoas. Reúne um conjunto de sentimentos e valores como a alegria, a tristeza, o sofrimento, o crescimento, a renúncia, o dom de si mesmo, a realização, a doação, o compromisso, a vida, a morte, etc. No Antigo Testamento este conjunto de valores e sentimentos expressava-se pela palavra hesed que, nas nossas Bíblias, geralmente, é traduzida por caridade, misericórdia, fidelidade e amor.

No Novo Testamento, Jesus revelou este amor de Deus no seu encontro com as outras pessoas. Revelou-o com sentimentos de amizade, de ternura, como, por exemplo, na sua relação com a família de Marta em Betânia: “Jesus amava Marta, a sua irmã e Lázaro”. Chora diante do túmulo de Lázaro (Jo 11, 5, 33-36). Jesus assume a sua missão como uma manifestação de amor: “depois de ter amado os seus… amou-os até ao fim” (Jo 13, 1). Neste amor, Jesus manifesta a sua profunda identidade com o Pai: “Como o Pai me amou, também eu vos amei” (Jo 15, 9). Ele nos diz:“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12). João define deste modo o amor: “por isto conhecemos o amor: Ele deu a vida por nós e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo 2, 6). Quem vive o amor e o manifesta nas palavras e na sua conduta converte-se em Discípulo(a) Amado(a).

João 3, 17: Amou o mundo e ofereceu-se a si mesmo para salvar o mundo. A palavra “mundo” encontra-se 78 vezes no Evangelho de João e com diversas significações. Em primeiro lugar, “mundo” pode significar a terra, o espaço habitado pelos seres humanos (Jo 11, 9; 21, 25) ou a Criação (Jo 17, 5.24). Aqui, no nosso texto, “mundo” significa as pessoas que habitam nesta terra, toda a humanidade, amada por Deus, que por ela dá o seu Filho Unigénito (cf Jo 1, 9; 4, 42; 6, 14; 8, 12). Pode também significar um grupo numeroso de pessoas no sentido de “todo o mundo” (Jo 12, 19; 14, 27). Mas no Evangelho de João, “mundo” significa sobretudo, aquela parte da humanidade que se opõe a Jesus e se converte em seu “adversário” ou “opositor” (Jo 7, 4.7; 8, 23.26; 9, 39; 12, 25). Este “mundo” contrário à prática libertadora de Jesus, é dominado pelo Adversário, Satanás, chamado também “príncipe do mundo” (Jo 14, 30; 16, 11), que persegue e mata a comunidade dos fiéis (Jo 16, 33), criando uma situação de injustiça, de opressão, mantida pelos que estão no poder, pelos dirigentes, tanto do império como da sinagoga. Eles praticam a injustiça usando para este fim o próprio nome de Deus (Jo 16, 2). A esperança que o Evangelho de João comunica à comunidade é que Jesus vencerá o príncipe deste mundo (Jo 12, 31). Ele é mais forte do que o “mundo”. “Vós tereis tribulações no mundo mas tende confiança, eu venci o mundo” (Jo 16, 33).

João 3, 18: O Filho Unigénito de Deus dá-se por nós. Um dos títulos mais antigos e mais belos que os primeiros cristãos escolheram para descrever a missão de Jesus é o de Defensor. Na língua hebraica diz-se Goêl. Este termo indicava o parente mais próximo, o irmão mais velho, que devia resgatar os seus irmãos, ameaçados de perder os seus bens (cf. Lv 25, 23-55). Quando na época da deportação para a Babilónia, todo o povo, inclusivamente o parente mais próximo, perdeu tudo, o próprio Deus converteu-se no Goêl do seu povo. Resgatou-o da escravidão. No Novo Testamento, é Jesus o Filho Unigénito, o Primogénito, o parente mais próximo, o que se converte em nosso Goêl. Este termo ou título tem traduções diversas: salvador, redentor, libertador, advogado, irmão mais velho, consolador e muitos mais (cf Lc 2, 11; Jo 4, 42; Act 5, 31, etc.). Jesus toma a defesa e o resgate da sua família, do seu povo. Deu-se totalmente, completamente, a fim de que nós seus irmãos e irmãs pudéssemos novamente viver em fraternidade. Este foi o serviço que nos deu a todos. Foi assim que se cumpriu a profecia de Isaías que anunciava a vinda do Messias servo. Jesus disse: “O Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar a própria vida em resgate (goêl) por muitos” (Mc 10, 45). Paulo expressa esta descoberta com a seguinte frase: “Ele me amou e se entregou por mim” (Gal 2, 20).

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Domingo de Pentecostes – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 20, 19-23)

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.» Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.»

Mensagem

João começa por pôr em relevo a situação da comunidade. O “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo”, são o quadro que reproduz a situação de uma comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil e, portanto, desorientada e insegura. É uma comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar. Entretanto, Jesus aparece “no meio deles”. João indica desta forma que os discípulos, fazendo a experiência do encontro com Jesus ressuscitado, redescobriram o seu centro, o seu ponto de referência, a coordenada fundamental à volta do qual a comunidade se constrói e toma consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe de forma consistente se está centrada em Jesus ressuscitado.

Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes “a paz” (“shalom”, em hebraico). A “paz” é um dom messiânico; mas, neste contexto, significa, sobretudo, a transmissão da serenidade, da tranquilidade, da confiança que permitirão aos discípulos superar o medo e a insegurança: a partir de agora, nem o sofrimento, nem a morte, nem a hostilidade do mundo poderão derrotar os discípulos, porque Jesus ressuscitado está “no meio deles”.

Em seguida, Jesus “mostrou-lhes as mãos e o lado”. São os “sinais” que evocam a entrega de Jesus, o amor total expresso na cruz. É nesses “sinais” (na entrega da vida, no amor oferecido até à última gota de sangue) que os discípulos reconhecem Jesus. O facto de esses “sinais” permanecerem no ressuscitado, indica que Jesus será, de forma permanente, o Messias cujo amor se derramará sobre os discípulos e cuja entrega alimentará a comunidade.

Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila (João utiliza, aqui, precisamente o mesmo verbo do texto grego de Gn 2,7). Com o “sopro” de Deus de Gn 2,7, o homem tornou-se um “ser vivente”; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova e faz nascer o Homem Novo. Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados – como Jesus – para fazerem da sua vida um dom de amor aos homens. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar – com gestos e com palavras – o amor de Jesus.

Finalmente, Jesus explicita qual a missão dos discípulos: a eliminação do pecado. As palavras de Jesus não significam que os discípulos possam ou não – conforme os seus interesses ou a sua disposição – perdoar os pecados. Significam, apenas, que os discípulos são chamados a testemunhar no mundo essa vida que o Pai quer oferecer a todos os homens. Quem aceitar essa proposta será integrado na comunidade de Jesus; quem não a aceitar, continuará a percorrer caminhos de egoísmo e de morte (isto é, de pecado). A comunidade, animada pelo Espírito, será a mediadora desta oferta de salvação.

Oração

Vinde, ó Santo Espírito, / vinde, amor ardente, / acendei na terra / vossa luz fulgente. / Vinde, Pai, dos pobres, / na dor e aflições, / vinde encher de gozo / nossos corações. / Benfeitor supremo / em todo o momento, / habitando em nós / sois o nosso alento. / Descanso na luta / e na paz encanto, / no calor sois brisa, / conforto no pranto. / Luz de santidade, / que no Céu ardeis, / abrasai as almas / dos vossos fiéis. / Sem a vossa força / e favor clemente, / nada há no homem / que seja inocente. / Lavai nossas manchas, / a aridez regai, / sarai os enfermos / e a todos salvai. / Abrandai durezas / para os caminhantes, / animai os tristes, / guiai os errantes. / Vossos sete dons / concedei à alma / do que em Vós confia. / Virtude na vida, / amparo na morte, / no Céu alegria.

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