Ano da Fé – XI

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Criador do céu e da terra (I)

Deus, Pai todo-poderoso, é o «criador do céu e da terra». Assim professamos sempre com este artigo do «Credo», afirmando que o Pai todo-poderoso está na origem do dom mais radical e fontal que é a própria existência do ser humano e de todas as coisas. A criação é o início e o fundamento de todas as obras de Deus e de toda a história da salvação. A fé na criação torna explícita a resposta à questão elementar que os seres humanos de todos os tempos têm vindo a pôr-se: «De onde vimos?», «Para onde vamos?», «Qual é a nossa origem?», «Qual é o nosso fim?». Falar de criação significa enfrentar o problema das origens do mundo e do ser humano. Neste contexto, não faz sentido contrapor criação e evolução, porque não se trata somente de saber quando e como surgiu materialmente o cosmos, nem quando é que apareceu o ser humano; mas, sobretudo, de descobrir qual o sentido de tal origem. Assim como a explicação científica do nascimento de uma criança não contradiz a afirmação de que ela é o fruto do livre dom de amor dos seus pais, assim também acontece com a criação do mundo e do ser humano. Nenhuma explicação científica séria sobre este assunto está em oposição ao dado da fé, porque confessar que Deus é «criador do céu e da terra» significa afirmar que a origem do mundo e do ser humano não é governada pelo acaso, por um destino cego, por uma necessidade anónima, mas por um Ser transcendente, inteligente e bom, que é Deus. Deste ponto de vista, é significativo que na Bíblia a criação seja revelada como um momento de aliança de Deus com o Seu povo, como o primeiro e universal testemunho do amor todo-poderoso de Deus.

A existência inicia-se como um dom. E, precisamente por isso, deve ser acolhida com um obrigado! Então, a fé no Criador prepara-nos para experimentarmos a admiração, a gratidão e alegria por este dom. Esta evocação do dom do Criador refere «o céu e a terra», isto é «a totalidade do que existe», porque «céu e terra» constituem, por assim dizer, os extremos em que está contido todo o mundo da nossa experiência. Cada criatura depende de Deus e a Ele deve a sua existência e o facto de ser, de estar e de permanecer viva. Confessar a nossa fé em Deus «criador do céu e da terra» significa olhar para toda a realidade criada com profundo respeito, afastando de nós o orgulho e a avidez que a deturpam e empenhando-nos em guardá-la e cultivá-la, usando-a com um coração humilde e agradecido, solicitamente atentos aos direitos e às necessidades de todos.

 

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Ano da Fé – X

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Todo-Poderoso

O Credo confessa Deus como “Pai todo-poderoso”. A fé católica põe a omnipotência de Deus em relação com o título de Pai. Não é dominação arbitrária, mas soberania plena de sabedoria e de bondade à qual “nada é impossível” (Lc 1, 37; cf. Gn 18, 14). É a omnipotência amorosa de um pai: do “Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo” (2Cor 1, 3) que nos comunica o seu Espírito. A omnipotência deste Pai não vem esmagar, mas, pelo contrário, suscitar a vida, fazer voltar ao bem o que se lhe opõe, levantar o que está caído e mesmo vencer a morte. Manifestada na Criação, ela afirma-se, de maneira soberana, na cruz e na ressurreição de Jesus.

A fé na paternidade omnipotente de Deus exprime-se na piedade cristã como fé na Providência. A  fé cristã sabe que a bondade do Pai celeste envolve a existência dos seus filhos: Deus “faz com que tudo concorra para o seu bem” (Rm 8, 28). Não raramente se pergunta: “Então, onde está Deus?”. Ele diz-nos através do profeta Isaías: “Os meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos são os meus” (Is 55, 8). A fé na Providência leva a uma atitude de profunda confiança e abandono e à oração, mas não justifica a nossa preguiça; pelo contrário, é fonte de generosidade, de coragem e de confiança.

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Ano da Fé – IX

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Deus Pai

Deus é, antes de mais, o Pai de Jesus, seu Filho único. É designando-O como Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo (2Cor 1, 3) que nós dizemos, o mais perfeitamente possível, o que Ele é em verdade. Jesus mantém com Ele uma relação única que se vê exprimir-se na maneira particularmente íntima e familiar com a qual ele se dirige ao Pai na oração (cf. Mc 14, 36). Mas ele é também realmente nosso Pai: «Vede, escreve São João, que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto» (1Jo 3, 1). Incluindo-nos no amor que ele tem pelo seu Filho, dá-se a nós como Pai. São Paulo designou-o como «Pai de misericórdia e Deus de toda a consolação» (2Cor 1, 3).

Pai-nosso que estais nos Céus, é a primeira expressão da oração que Jesus ensina aos discípulos. Não sabemos o que seria ver Jesus rezar!… Aquilo que os discípulos puderam testemunhar devia constituir um espectáculo extraordinário de intimidade e confiança e, compreensivelmente, pediram para ser iniciados nessa experiência.

Esta novidade sobre Deus revelada por Jesus aparece nos quatro evangelhos, que usam 170 vezes a palavra «Pai» para designar ou invocar Deus. Em Jesus Cristo, Deus revela-se como seu e nosso «Pai». Aliás, a expressão usada por Jesus é «Abbá», que quer dizer, literalmente, «Papá» ou «Paizinho». Trata-se de uma expressão carregada de intimidade e de amor. É esta a primeira pessoa de Deus: Pai, um Pai que ama os seres humanos como seus filhos.

«Pai»! Esta bela expressão usada por Jesus para designar ou invocar Deus pode, contudo, provocar equívocos. O principal é a comparação com a paternidade humana, com o nosso progenitor masculino. Em consequência, surgem antropomorfismos (imagens humanas de Deus) que deturpam a realidade divina, e dão origem a falsas imagens de Deus. Ninguém pode negar que a palavra «pai» contém uma carga emocional, positiva ou negativa, conforme a experiência concreta de cada um. Por isso, o uso do termo «Pai» em relação a Deus não pode ser senão analógico. De facto, não existe nenhuma palavra humana capaz de abarcar a totalidade do Mistério de Deus. Todas as expressões, mesmo que tenham sido pronunciadas por Jesus Cristo, só podem ser uma ajuda (e nunca um entrave) para nos aproximar do Mistério divino. Por outro lado, a utilização do termo «Pai» para designar a primeira pessoa de Deus pode levar-nos a pensar, consciente ou inconscientemente, que se trata de uma figura masculino. Ora, isto não pode corresponder à verdade. Deus não é homem nem mulher. O que na verdade Jesus Cristo nos ensina é que Deus é a origem e a fonte da vida. Como afirmou o Papa João Paulo I: «Ele é Pai, mais ainda, é Mãe». Aliás, já no Antigo Testamento, os profetas utilizam a maternidade para se aproximarem do Mistério de Deus. Não é mais fácil recorrermos à imagem materna para designarmos a misericórdia, a ternura, a bondade, o carinho, a beleza? A «ternura paternal de Deus também pode ser expressa pela imagem da maternidade, que indica de modo mais incisivo a imanência de Deus, a intimidade entre Deus e a sua criatura» (Catecismo da Igreja Católica, 239).

Chamar a Deus «Pai» é um convite ao silêncio contemplativo e ao amor. É um convite a entrar numa relação filial. Até que dentro de nós possam ecoar as palavras do nosso Pai que está no Céu: tu és o meu filho muito amado!

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Ano da Fé – VIII


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Creio em um só Deus

A primeira afirmação de fé, no Símbolo Niceno-Constantinopolitano, é Creio em um só Deus. Fica bem claro que acreditamos num único Deus ou num Deus uno, “um só Deus”. Mas o Deus que Jesus Cristo nos revela não é também Trindade?! Não são três as pessoas divinas?! Hoje, vamos tentar ajudar a compreender, ou melhor, vamos aprender a acolher, pela fé, esta realidade divina: um só Deus.

O Deus de que a Revelação desvela o mistério de amor é o Deus santo. Não tem comparação senão com Ele mesmo. É único. É assim que, logo no início, o proclamamos no Credo. Se houvesse dois deuses, um seria a fronteira do outro. Nenhum dos dois seria infinito; nenhum, perfeito. Portanto, nenhum seria Deus. A experiência fundamental de Deus feita por Israel está assim expressa: “Escuta, Israel! O Senhor nosso Deus é único. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5). A confissão da unicidade de Deus corresponde à declaração feita pelo próprio Deus: “Eu sou o primeiro e o último; fora de mim não há deuses” (Is 44, 6). É a mesma verdade do primeiro mandamento: “Não terás outros deuses além de Mim” (Ex 20, 3; cf. Dt 6, 3).

O monoteísmo da fé cristã é o princípio da liberdade perante todos os falsos deuses (dinheiro, poder, fama, prazeres, ideologias de qualquer espécie…), com os quais somos sempre tentados a fazer aliança. “Servir Deus é reinar” , declara uma oração da liturgia.

A afirmação da unicidade de Deus é paralela à sua santidade. Afirmar que Deus é santo é afirmar que Ele é totalmente outro; é dizer a impossibilidade para os homens de O encerrar dentro das ideias que fazem d’Ele. “Nenhuma palavra O exprime; Ele ultrapassa todas as formas de inteligência” (Gregório de Nazianzo). É evocar o mistério, que continua a envolvê-l’O, mesmo quando Ele se dá a conhecer. Hoje, a coisa mais difícil parece ser precisamente “crer em Deus”. De facto, por um lado, sentimo-nos remetidos para Deus e para o seu mistério. Mas, por outro, vivemos frequentemente “como se Deus não existisse”. Se reflectirmos bem, não é tanto Deus em si mesmo que constitui um problema para nós. É, sim, a nossa ideia acerca d’Ele – isto é, a imagem que d’Ele fazemos e que, por vezes, nos parece tão banal e infantil – e, ainda mais radicalmente, a nossa relação pessoal com Ele. Ter fé não significa ter Deus na mão e tê-lo à nossa disposição. Quando afirmamos “Creio em um só Deus” não estamos a afirmar que conhecemos tudo sobre Deus. Estamos a manifestar a nossa adesão pessoal ao Deus bíblico plenamente revelado em Jesus Cristo. Acreditar, não significa saber tudo sobre Deus. Tudo o que dissemos sobre Deus será sempre uma imagem imperfeita da perfeição divina. Por isso, mais do que elaborar tentativas para dizer quem é Deus, o crente acolhe, pela fé, a existência de Deus e aprende, como Abraão, a descobrir a presença de Deus nos acontecimentos da vida. A fé permite-nos abrir a nossa vida à presença de Deus. O crente deixa-se visitar por Deus e aceita o convite para mergulhar na profundidade do mistério divino. Ora, como diz Tertuliano: «O ser supremo tem necessariamente de ser único, isto é, sem igual. […] Se Deus não é único, não é Deus». O Catecismo da Igreja Católica apresenta as consequências da fé em Deus único: reconhecer a grandeza e a majestade de Deus; viver em acção de graças; reconhecer a dignidade de todos os seres humanos; fazer bom uso da Criação, das coisas criadas; ter confiança em Deus, em todas as circunstâncias. E conclui com a oração de Santa Teresa de Jesus: “Nada te perturbe, nada te atemorize. Tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta”.

Portanto, o cristão acredita num só Deus em três pessoas (Pai, Filho, Espírito Santo). O cristão não adora três deuses diferentes, mas um único Ser que desabrocha em três, permanecendo, contudo, um. Que Deus seja trinitário sabemo-lo por Jesus Cristo: Ele, o Filho, fala do seu Pai que está no Céu: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Ele ora ao Pai e concede-nos o Espírito Santo, que é o amor do Pai e do Filho.

O ser humano, somente através da razão, não consegue deduzir que Deus é uno e trino. Ele reconhece, todavia a razoabilidade deste mistério ao aceitar a Revelação de Deus em Jesus Cristo

Depois de ter descoberto que existe um Deus, tornou-se-me impossível não viver só para Ele (Beato Charles de Foucauld).

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Ano da Fé – VII

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Existe contradição entre fé e ciência natural?

Nenhuma verdade de fé faz concorrência com as verdades da ciência. Só existe uma Verdade, à qual dizem respeito tanto a fé como a razão científica. Deus quis tanto a razão, com que podemos descobrir as estruturas racionais do mundo, como a fé. Por isso, a fé cristã exige e apoia a ciência natural. A fé existe para conhecermos as coisas que, embora não possam ser abarcadas pela razão, existem todavia para além da razão e são reais. A fé lembra à ciência natural que esta não se deve colocar no lugar de Deus, mas servir a Criação. A ciência natural tem de respeitar a dignidade humana, em vez de atentar contra ela.

Entre Deus e a ciência natural não encontramos qualquer contradição. Eles não se excluem, como hoje alguns crêem e temem; eles completam-se e implicam-se mutuamente (Max Planck).

 

 

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Ano da Fé – VI

O-HOMEM-QUE-ORA-DEUS-RESPONDE-COM-CERTESA

O ser humano responde a Deus

Quem deseja crer precisa de um “coração que escuta” (1Rs 3, 9). Deus procura o contacto connosco de múltiplas formas. Em cada encontro humano, em cada experiência da Natureza que nos toca, em cada aparente acaso, em cada desafio, em cada sofrimento… Deus deixa-nos uma mensagem escondida. Ele fala-nos ainda mais claramente quando se dirige a nós pela sua Palavra ou pela voz da consciência. Ele trata-nos como amigos. Por isso, também nós, como amigos devemos corresponder-lhe, crendo e confiando totalmente n’Ele, aprendendo a conhecê-lo cada vez melhor e a aceitar sem reservas a sua vontade.

Quando a fé nasce, ocorre com frequência uma perturbação ou um desassossego. O ser humano apercebe-se de que o mundo visível e o decurso normal das coisas não correspondem a tudo o que existe. Sente-se tocado por um mistério. Persegue as pistas que o remetem para a existência de Deus e encontra-se cada vez mais confiante em abordar Deus, e, por fim, liga-se a Ele livremente. Diz-se no Evangelho segundo São João: “A Deus nunca ninguém o viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que o deu a conhecer” (Jo 1, 18). Portanto, temos de crer em Jesus, o Filho de Deus, se queremos saber o que Deus nos quer comunicar. Assim, crer significa aderir a Jesus e entregar a nossa vida inteira nas suas mãos.

Fé é conhecimento e confiança. Ela apresenta sete características: 1)- A fé é uma pura dádiva de Deus, que nós obtemos se intensamente a pedirmos. 2)- A fé é a força sobrenatural de que necessariamente precisamos para alcançar a salvação. 3)- A fé requer a vontade livre e a lucidez do ser humano quando ele se abandona ao convite divino. 4)- A fé é absolutamente segura porque Jesus a garante. 5)- A fé é incompleta enquanto não se tornar operante no amor. 6)- A fé cresce na medida em que escutamos cada vez melhor a Palavra de Deus e permanecemos com Ele, na oração, em vivo intercâmbio. 7)- A fé permite-nos já a experiência do alegre antegozo do Céu.

É importante aquilo em que cremos, mas mais importante ainda é Aquele em quem cremos (Bento XVI).

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Ano da Fé – V

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O livro da revelação divina: a Bíblia (II)

A Bíblia não caiu do céu feita, nem Deus a ditou a autómatos, isto é, escritores inconscientes. Antes, «para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-Se de pessoas na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria» (Dei Verbum, 11). Para que determinados textos fossem reconhecidos como Escritura Sagrada, tiveram de ser aceites pela Igreja universal. Teve de existir, portanto, um consenso nas comunidades: «Sim, é o próprio Deus que nos fala por este texto, isto é mesmo inspirado pelo Espírito Santo».

Como pode a Sagrada Escritura ser “Verdade”, se nem tudo o que nela se encontra está correcto? A Bíblia não transmite precisão histórica nem conhecimentos científico-naturais. Também os autores eram filhos do seu tempo. Eles partilhavam as concepções culturais do seu ambiente, em cujos erros, por vezes, estavam presos. Não obstante, tudo o que o ser humano precisa de saber sobre Deus e sobre o caminho da sua redenção encontra-se com infalível segurança na Sagrada Escritura. A Bíblia é como uma longa carta de Deus dirigida a cada um de nós. Por isso, temos de acolher as Sagradas Escrituras com grande amor e respeito. Primeiro, devemos realmente ler a carta de Deus, isto é, não isolar pormenores sem atender ao todo. Depois, devemos orientar esse todo para o seu coração e mistério, ou seja, para Jesus Cristo, de quem fala toda a Bíblia, mesmo o Antigo Testamento. Portanto, devemos ler as Sagradas Escrituras na mesma fé viva da Igreja em que elas surgiram.

A Bíblia divide-se em duas grandes partes: Antigo Testamento, composto de 46 livros, e Novo Testamento composto de 27 livros.

A Bíblia é a carta do amor de Deus dirigida a nós (Sören Kierkegaard).

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Ano da Fé – IV

 

O livro da revelação divina: a Bíblia (I)

No coração do Povo de Deus está a Bíblia, um livro onde ele reconhece a assinatura do seu Deus. A Bíblia transmite-nos a Revelação de Deus e o seu projecto de amor, desde a Criação, através de um povo por Ele escolhido (Israel), até ao ponto da plenitude desta história: a vida, a morte e a ressurreição de Jesus, a efusão do Espírito Santo. Deste dom do Espírito nasce a Igreja, o novo Povo de Deus, enxertado no antigo e chamado a encontrar a sua consumação na glória celeste. O Antigo e o Novo Testamento constituem a Escritura Sagrada. Esta, “consignada sob a inspiração do Espírito Santo”, é verdadeiramente Palavra de Deus. Se os escritos que compõem a Bíblia trazem a marca de mãos humanas, eles não deixam de ter Deus por autor e ensinam “firme, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que aí ficasse consignada” (Dei Verbum, 11). No conjunto da Sagrada Escritura, e mesmo no Novo Testamento, os evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) ocupam um lugar privilegiado. Estes quatro livros, com efeito, conservam vivas a figura e a palavra de Jesus “em que toda a revelação de Deus omnipotente se consuma” (Dei Verbum, 7).

Desconhecer a Escritura é desconhecer Cristo (S. Jerónimo).

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Ano da Fé – III

Deus vem ao nosso encontro: a revelação

Só Deus tem poder para nos dizer realmente quem é. O homem procura-o às “apalpadelas” mas “só Deus fala bem de Deus”. A fé cristã, que renova a vida do crente e a sua inteligência das coisas, responde à iniciativa de Deus que vem ao encontro do homem, revelando-se: “Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade, segundo o qual a humanidade, por meio de Cristo, Verbo encarnado, tem acesso ao Pai no Espírito Santo e se torna participante da natureza divina” (Dei Verbum, nº 2).

A revelação tem lugar na história concreta dos homens. Deus revela-se primeiro na história de Israel, que conserva um lugar inalienável na fé cristã. No seio da história, o próprio Deus age e fala. Foi Ele que escolheu o seu povo, para lhe confiar uma missão no meio das nações. Deus que é sempre o primeiro a amar, ama sempre sem reservas. Ele não espera, para amar os homens, a resposta que eles poderão dar a este amor.

A história de Israel tecida de alegrias e provações, representa de algum modo a da humanidade nas suas diferentes situações ou experiências: em vida nómada, em escravatura, em libertação, em marcha no deserto, em conquista, em vida sedentária, em exílio, em regresso do exílio… Esta história é anúncio e preparação do que, finalmente, irá realmente acontecer. A vinda de Jesus Cristo, a sua vida, a sua morte e ressurreição marcam efectivamente o cumprimento da história de Israel Entre a Páscoa de Jesus e a sua última vinda na glória, desenrola-se o tempo da Igreja. É o tempo da vida nova fundada sobre a obra de Cristo, o tempo da missão, destinada a levar a luz e os frutos desta obra a toda a humanidade.

Em resumo: O ser humano pode descobrir pela razão que Deus existe, mas não como Deus é realmente. Portanto, como Deus gosta de ser conhecido revelou-se a nós. Ele fê-lo por amor. Desde a Criação, passando pelos Patriarcas (Abraão, Isaac, Jacob) e pelos profetas, até à definitiva revelação no seu Filho Jesus Cristo, Deus comunicou continuamente com a humanidade. Em Jesus, ele verteu-nos o coração e tornou-nos mais claro o seu ser mais íntimo e o seu desígnio: fazer participar, pela graça do Espírito Santo, todos os homens na vida divina, como seus filhos adoptivos no seu único Filho. Através de Jesus Cristo, torna-se visível o Deus invisível: “A partir do momento em que nos deu o seu Filho, que é a sua única e definitiva Palavra, Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo e duma só vez e nada mais tem a acrescentar” (S. João da Cruz). Ele torna-se como nós. Isto mostra-nos até que ponto vai o amor de Deus: Ele carrega todo o nosso peso. Deus percorre connosco todos os caminhos. Ele vive a nossa solidão, o nosso sofrimento, o nosso medo da morte. Ele apresenta-se onde não podemos avançar, para nos abrir a porta para a Vida.

A felicidade que procurais, a felicidade que tendes direito (…) tem um nome, um rosto: é Jesus de Nazaré (Bento XVI).

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Ano da Fé – II

 

O Homem é «capaz» de Deus

Ao criar o homem à sua imagem, o próprio Deus inscreveu no coração humano o desejo de O ver. Mesmo que, muitas vezes, tal desejo seja ignorado, Deus não cessa de atrair o homem a Si, para que viva e encontre n’Ele aquela plenitude de verdade e de felicidade, que ele procura sem descanso. Por natureza e vocação, o homem é um ser religioso, capaz de entrar em comunhão com Deus. O homem pode, pela razão e a partir da criação, isto é, do mundo e da pessoa humana, conhecer a Deus com certeza como origem e fim do universo e como sumo bem, verdade e beleza infinita. Contudo, experimenta muitas dificuldades e não pode entrar pelas suas próprias forças na intimidade do mistério divino. Muitos, perante isto, recuam de medo. Alguns também não querem descobrir Deus porque, então, teriam de mudar de vida. Por isso é que Deus o quis iluminar com a sua Revelação. Fê-lo por amor. Tal como, no amor humano, só se pode conhecer algo de uma pessoa amada quando ela nos abre o coração, também só conhecemos os mais íntimos pensamentos de Deus porque Ele, eterno e misterioso, se abriu a nós por amor.

A mais nobre força do ser humano é a razão. A mais alta meta da razão é o conhecimento de Deus (Santo Alberto Magno).

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