Ano da Fé – IX

Pai2

Deus Pai

Deus é, antes de mais, o Pai de Jesus, seu Filho único. É designando-O como Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo (2Cor 1, 3) que nós dizemos, o mais perfeitamente possível, o que Ele é em verdade. Jesus mantém com Ele uma relação única que se vê exprimir-se na maneira particularmente íntima e familiar com a qual ele se dirige ao Pai na oração (cf. Mc 14, 36). Mas ele é também realmente nosso Pai: «Vede, escreve São João, que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto» (1Jo 3, 1). Incluindo-nos no amor que ele tem pelo seu Filho, dá-se a nós como Pai. São Paulo designou-o como «Pai de misericórdia e Deus de toda a consolação» (2Cor 1, 3).

Pai-nosso que estais nos Céus, é a primeira expressão da oração que Jesus ensina aos discípulos. Não sabemos o que seria ver Jesus rezar!… Aquilo que os discípulos puderam testemunhar devia constituir um espectáculo extraordinário de intimidade e confiança e, compreensivelmente, pediram para ser iniciados nessa experiência.

Esta novidade sobre Deus revelada por Jesus aparece nos quatro evangelhos, que usam 170 vezes a palavra «Pai» para designar ou invocar Deus. Em Jesus Cristo, Deus revela-se como seu e nosso «Pai». Aliás, a expressão usada por Jesus é «Abbá», que quer dizer, literalmente, «Papá» ou «Paizinho». Trata-se de uma expressão carregada de intimidade e de amor. É esta a primeira pessoa de Deus: Pai, um Pai que ama os seres humanos como seus filhos.

«Pai»! Esta bela expressão usada por Jesus para designar ou invocar Deus pode, contudo, provocar equívocos. O principal é a comparação com a paternidade humana, com o nosso progenitor masculino. Em consequência, surgem antropomorfismos (imagens humanas de Deus) que deturpam a realidade divina, e dão origem a falsas imagens de Deus. Ninguém pode negar que a palavra «pai» contém uma carga emocional, positiva ou negativa, conforme a experiência concreta de cada um. Por isso, o uso do termo «Pai» em relação a Deus não pode ser senão analógico. De facto, não existe nenhuma palavra humana capaz de abarcar a totalidade do Mistério de Deus. Todas as expressões, mesmo que tenham sido pronunciadas por Jesus Cristo, só podem ser uma ajuda (e nunca um entrave) para nos aproximar do Mistério divino. Por outro lado, a utilização do termo «Pai» para designar a primeira pessoa de Deus pode levar-nos a pensar, consciente ou inconscientemente, que se trata de uma figura masculino. Ora, isto não pode corresponder à verdade. Deus não é homem nem mulher. O que na verdade Jesus Cristo nos ensina é que Deus é a origem e a fonte da vida. Como afirmou o Papa João Paulo I: «Ele é Pai, mais ainda, é Mãe». Aliás, já no Antigo Testamento, os profetas utilizam a maternidade para se aproximarem do Mistério de Deus. Não é mais fácil recorrermos à imagem materna para designarmos a misericórdia, a ternura, a bondade, o carinho, a beleza? A «ternura paternal de Deus também pode ser expressa pela imagem da maternidade, que indica de modo mais incisivo a imanência de Deus, a intimidade entre Deus e a sua criatura» (Catecismo da Igreja Católica, 239).

Chamar a Deus «Pai» é um convite ao silêncio contemplativo e ao amor. É um convite a entrar numa relação filial. Até que dentro de nós possam ecoar as palavras do nosso Pai que está no Céu: tu és o meu filho muito amado!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *