Creio em um só Deus
A primeira afirmação de fé, no Símbolo Niceno-Constantinopolitano, é Creio em um só Deus. Fica bem claro que acreditamos num único Deus ou num Deus uno, “um só Deus”. Mas o Deus que Jesus Cristo nos revela não é também Trindade?! Não são três as pessoas divinas?! Hoje, vamos tentar ajudar a compreender, ou melhor, vamos aprender a acolher, pela fé, esta realidade divina: um só Deus.
O Deus de que a Revelação desvela o mistério de amor é o Deus santo. Não tem comparação senão com Ele mesmo. É único. É assim que, logo no início, o proclamamos no Credo. Se houvesse dois deuses, um seria a fronteira do outro. Nenhum dos dois seria infinito; nenhum, perfeito. Portanto, nenhum seria Deus. A experiência fundamental de Deus feita por Israel está assim expressa: “Escuta, Israel! O Senhor nosso Deus é único. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5). A confissão da unicidade de Deus corresponde à declaração feita pelo próprio Deus: “Eu sou o primeiro e o último; fora de mim não há deuses” (Is 44, 6). É a mesma verdade do primeiro mandamento: “Não terás outros deuses além de Mim” (Ex 20, 3; cf. Dt 6, 3).
O monoteísmo da fé cristã é o princípio da liberdade perante todos os falsos deuses (dinheiro, poder, fama, prazeres, ideologias de qualquer espécie…), com os quais somos sempre tentados a fazer aliança. “Servir Deus é reinar” , declara uma oração da liturgia.
A afirmação da unicidade de Deus é paralela à sua santidade. Afirmar que Deus é santo é afirmar que Ele é totalmente outro; é dizer a impossibilidade para os homens de O encerrar dentro das ideias que fazem d’Ele. “Nenhuma palavra O exprime; Ele ultrapassa todas as formas de inteligência” (Gregório de Nazianzo). É evocar o mistério, que continua a envolvê-l’O, mesmo quando Ele se dá a conhecer. Hoje, a coisa mais difícil parece ser precisamente “crer em Deus”. De facto, por um lado, sentimo-nos remetidos para Deus e para o seu mistério. Mas, por outro, vivemos frequentemente “como se Deus não existisse”. Se reflectirmos bem, não é tanto Deus em si mesmo que constitui um problema para nós. É, sim, a nossa ideia acerca d’Ele – isto é, a imagem que d’Ele fazemos e que, por vezes, nos parece tão banal e infantil – e, ainda mais radicalmente, a nossa relação pessoal com Ele. Ter fé não significa ter Deus na mão e tê-lo à nossa disposição. Quando afirmamos “Creio em um só Deus” não estamos a afirmar que conhecemos tudo sobre Deus. Estamos a manifestar a nossa adesão pessoal ao Deus bíblico plenamente revelado em Jesus Cristo. Acreditar, não significa saber tudo sobre Deus. Tudo o que dissemos sobre Deus será sempre uma imagem imperfeita da perfeição divina. Por isso, mais do que elaborar tentativas para dizer quem é Deus, o crente acolhe, pela fé, a existência de Deus e aprende, como Abraão, a descobrir a presença de Deus nos acontecimentos da vida. A fé permite-nos abrir a nossa vida à presença de Deus. O crente deixa-se visitar por Deus e aceita o convite para mergulhar na profundidade do mistério divino. Ora, como diz Tertuliano: «O ser supremo tem necessariamente de ser único, isto é, sem igual. […] Se Deus não é único, não é Deus». O Catecismo da Igreja Católica apresenta as consequências da fé em Deus único: reconhecer a grandeza e a majestade de Deus; viver em acção de graças; reconhecer a dignidade de todos os seres humanos; fazer bom uso da Criação, das coisas criadas; ter confiança em Deus, em todas as circunstâncias. E conclui com a oração de Santa Teresa de Jesus: “Nada te perturbe, nada te atemorize. Tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta”.
Portanto, o cristão acredita num só Deus em três pessoas (Pai, Filho, Espírito Santo). O cristão não adora três deuses diferentes, mas um único Ser que desabrocha em três, permanecendo, contudo, um. Que Deus seja trinitário sabemo-lo por Jesus Cristo: Ele, o Filho, fala do seu Pai que está no Céu: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Ele ora ao Pai e concede-nos o Espírito Santo, que é o amor do Pai e do Filho.
O ser humano, somente através da razão, não consegue deduzir que Deus é uno e trino. Ele reconhece, todavia a razoabilidade deste mistério ao aceitar a Revelação de Deus em Jesus Cristo
Depois de ter descoberto que existe um Deus, tornou-se-me impossível não viver só para Ele (Beato Charles de Foucauld).