O meu próximo

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Ama o teu próximo como a ti mesmo”, é tomado sem reservas nem reduções. O meu próximo não é aquele que me é simpático, mas é aquele que está junto de mim, sem excepção alguma.

Santa Teresa Benedita da Cruz

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Domingo de Ramos – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 26, 14-27; 27, 1-66)

Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. E, a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus.

No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?» Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de um certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos.’» Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, sentou-se à mesa com os Doze. Enquanto comiam, disse: «Em verdade vos digo: Um de vós me há-de entregar.» Profundamente entristecidos, começaram a perguntar-lhe, cada um por sua vez: «Porventura serei eu, Senhor?» Ele respondeu: «O que mete comigo a mão no prato, esse me entregará. O Filho do Homem segue o seu caminho, como está escrito acerca dele; mas ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue. Seria melhor para esse homem não ter nascido!» Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?» «Tu o disseste» – respondeu Jesus. Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: «Tomai, comei: Isto é o meu corpo.» Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: «Bebei dele todos.

De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para o matarem. E, manietando-o, levaram-no ao governador Pilatos. Então Judas, que o entregara, vendo que Ele tinha sido condenado, foi tocado pelo remorso e devolveu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: «Pequei, entregando sangue inocente.» Eles replicaram: «Que nos importa? Isso é lá contigo.» Atirando as moedas para o santuário, ele saiu e foi enforcar-se.

Os sumos sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é lícito lançá-las no tesouro, pois são preço de sangue.» Depois de terem deliberado, compraram com elas o «Campo do Oleiro», para servir de cemitério aos estrangeiros. Por tal razão, aquele campo é chamado, até ao dia de hoje, «Campo de Sangue.» Deste modo, cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi avaliado aquele que os filhos de Israel avaliaram, e deram-nas pelo Campo do Oleiro, como o Senhor havia ordenado.»

Jesus foi conduzido à presença do governador, que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos Judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» Mas, ao ser acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada respondeu. Pilatos disse-lhe, então: «Não ouves tudo o que dizem contra ti?» Mas Ele não respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado.

Ora, por ocasião da festa, o governador costumava conceder a liberdade a um prisioneiro, à escolha do povo. Nessa altura havia um preso afamado, chamado Barrabás. Pilatos perguntou ao povo, que se encontrava reunido: «Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?» Ele sabia que o tinham entregado por inveja.

Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer: «Não te intrometas no caso desse justo, porque hoje muito sofri em sonhos por causa dele.» Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e exigir a morte de Jesus. Tomando a palavra, o governador inquiriu: «Qual dos dois quereis que vos solte?» Eles responderam: «Barrabás!» Pilatos disse-lhes: «Que hei-de fazer, então, de Jesus chamado Cristo?» Todos responderam: «Seja crucificado!» Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?» Mas eles cada vez gritavam mais: «Seja crucificado!»

Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.» E todo o povo respondeu: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!» Então, soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de o mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado. Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a corte à volta dele. Despiram-no e envolveram-no com um manto escarlate. Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante dele, escarneciam-no, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!» E, cuspindo-lhe no rosto, agarravam na cana e batiam-lhe na cabeça. Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas roupas e levaram-no para ser crucificado. À saída, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e obrigaram-no a levar a cruz de Jesus.

Quando chegaram a um lugar chamado Gólgota, isto é, «Lugar do Crânio», deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas Ele, provando-o, não quis beber. Depois de o terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte. Ficaram ali sentados a guardá-lo. Por cima da sua cabeça, colocaram um escrito, indicando a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o rei dos Judeus.» Com Ele, foram crucificados dois salteadores: um à direita e outro à esquerda.

Os que passavam injuriavam-no, meneando a cabeça e dizendo: «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!» Os sumos sacerdotes com os doutores da Lei e os anciãos também zombavam dele, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos nele. Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se o ama, pois disse: ‘Eu sou Filho de Deus!’» Até os salteadores, que estavam com Ele crucificados, o insultavam.

Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Alguns dos que ali se encontravam, ao ouvi-lo, disseram: «Está a chamar por Elias.» Um deles correu imediatamente, pegou numa esponja, embebeu-a em vinagre e, fixando-a numa cana, dava-lhe de beber. Mas os outros disseram: «Deixa; vejamos se Elias vem salvá-lo.» E Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou.

Então, o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. A terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos, que estavam mortos, ressuscitaram; e, saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. O centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram apavorados e disseram: «Este era verdadeiramente o Filho de Deus!»

Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram. Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.

Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ordenou que lho entregassem. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o num túmulo novo, que tinha mandado talhar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra contra a porta do túmulo e retirou-se. Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente do sepulcro.

No dia seguinte, que era o dia a seguir ao da Preparação, os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram-se com Pilatos e disseram-lhe: «Senhor, lembrámo-nos de que aquele impostor disse, ainda em vida: ‘Três dias depois hei-de ressuscitar.’ Por isso, ordena que o sepulcro seja guardado até ao terceiro dia, não venham os discípulos roubá-lo e dizer ao povo: ‘Ressuscitou dos mortos.’ E seria a última impostura pior do que a primeira.» Pilatos respondeu-lhes: «Tendes guardas. Ide e guardai-o como entenderdes.» E eles foram pôr o sepulcro em segurança, selando a pedra e confiando-o à vigilância dos guardas.

A morte de Jesus

Desde o meio-dia até às três da tarde a obscuridade total cobre a terra. Até a natureza sente o efeito da agonia e morte de Jesus. Pregado na cruz, privado de tudo, da sua boca sai um lamento: «Eli, Eli! Lama Sabactani!». Quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». É a primeira frase do salmo 22(21). Jesus entra na morte rezando, expressando o abandono que sente. Reza em hebraico. Os soldados que estavam perto d’Ele, e que faziam de guarda, dizem: «Está a chamar por Elias!». Os soldados eram estrangeiros, mercenários contratados pelos romanos. Não compreendiam a língua dos judeus. Pensavam que Eli queria dizer Elias. Jesus pregado na cruz encontra-se num abandono total. Mesmo que quisesse falar com alguém, não seria possível. Permaneceu completamente só: Judas atraiçoou-o, Pedro negou-o, os discípulos fugiram, as amigas estavam muito afastadas, as autoridades escarneciam-no, os que passavam insultavam-no, o próprio Deus o abandona e nenhuma língua serve para comunicar. Este foi o preço que pagou pela sua fidelidade à sua opção de seguir sempre o caminho do amor e do serviço para redimir os seus irmãos. Ele mesmo disse: «O Filho do homem não veio para ser servido mas para servir e dar a vida em resgate de muitos» (Mt 20, 28). No meio do abandono e da obscuridade, Jesus lança um forte grito e morre. Morre lançando o grito dos pobres, porque sabe que Deus escuta o clamor dos pobres (Ex 2, 24; 3, 7; 22, 22.26, etc.). Com esta fé, Jesus entra na morte, seguro de ser escutado. A Carta aos Hebreus comenta: «Ele ofereceu preces e súplicas com fortes gritos e lágrimas àquele que o podia libertar da morte e foi escutado pela sua piedade» (Heb 5, 7). Deus escutou o grito de Jesus e «exaltou-o» (Fil 2, 9). A ressurreição é a resposta de Deus à oração e ao oferecimento que Jesus faz da sua vida. Com a ressurreição de Jesus, o Pai anuncia a todo o mundo esta Boa Nova: «Quem vive a vida como Jesus servindo os irmãos, é vitorioso e viverá para sempre, ainda que morra, mesmo que o matem!». Esta é a Boa Nova do reino que nasce da Cruz.

O significado da morte de Jesus

No Calvário estamos diante de um ser humano torturado e excluído da sociedade, completamente só, condenado como herético e subversivo pelo tribunal civil, militar e religioso. Aos pés da cruz, as autoridades religiosas confirmam pela última vez que se trata verdadeiramente de um rebelde falhado e renegam-no publicamente (Mt 27, 41-43). Nesta hora de morte renasce um significado novo. A identidade de Jesus é revelada por um pagão: «Verdadeiramente este é Filho de Deus!» (Mt 27, 54). Desde agora em diante, se queres encontrar verdadeiramente o Filho de Deus não o procures no alto, nem no longínquo céu, nem no Templo cujo véu se rasgou, mas procura-o junto de ti, no ser humano excluído, desfigurado, sem beleza. Procura-o naqueles que, como Jesus, dão a vida pelos seus irmãos. É aí onde Deus se esconde e se revela, é aí onde podemos encontrá-lo. Aí encontra-se a imagem desfigurada de Deus, do Filho de Deus, dos filhos de Deus. «Não há maior prova de amor do que dar a vida pelos irmãos».

Palavra para o caminho

Celebrar a paixão e a morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil. Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites e fragilidades, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir connosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.

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Põe os olhos em Jesus

choro de mulher

Jesus é o Rei soberano que nos convida a segui-lo. Ele vai à frente e nos dá exemplo de tudo aquilo que exige de nós. Olhando para Ele tudo nos parecerá fácil.

Serva de Deus Madre Maria José de Jesus

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5.º Domingo da Quaresma – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 11, 1-45)

Estava doente um homem chamado Lázaro, de Betânia, terra de Maria e de Marta, sua irmã. Maria, cujo irmão, Lázaro, tinha caído doente, era aquela que ungiu os pés do Senhor com perfume e lhos enxugou com os seus cabelos. Então, as irmãs enviaram a Jesus este recado: «Senhor, aquele que amas está doente.» Ouvindo isto, Jesus disse: «Esta doença não é de morte, mas sim para a glória de Deus, manifestando-se por ela a glória do Filho de Deus.» Jesus era muito amigo de Marta, da sua irmã e de Lázaro.

Mas, quando recebeu a notícia de que este estava doente, ainda se demorou dois dias no lugar onde se encontrava. Só depois é que disse aos discípulos: «Vamos outra vez para a Judeia.» Disseram-lhe os discípulos: «Rabi, há pouco os judeus procuravam apedrejar-te, e Tu queres ir outra vez para lá?» Jesus respondeu: «Não tem doze horas o dia? Se alguém anda de dia, não tropeça, porque tem a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem a luz com ele.» Depois de ter pronunciado estas palavras, acrescentou: «O nosso amigo Lázaro está a dormir, mas Eu vou lá acordá-lo.» Os discípulos disseram então: «Senhor, se ele dorme, vai curar-se!» Mas Jesus tinha falado da sua morte, ao passo que eles julgavam que falava do sono natural. Então, Jesus disse-lhes claramente: «Lázaro morreu; e Eu, por amor de vós, estou contente por não ter estado lá, para assim poderdes crer. Mas vamos ter com ele.» Tomé, chamado Gémeo, disse aos companheiros: «Vamos nós também, para morrermos com Ele.»

Ao chegar, Jesus encontrou-o sepultado havia quatro dias. Betânia ficava perto de Jerusalém, a quase uma légua, e muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria para lhes darem os pêsames pelo seu irmão. Logo que Marta ouviu dizer que Jesus estava a chegar, saiu a recebê-lo, enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse, então, a Jesus: «Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido. Mas, ainda agora, eu sei que tudo o que pedires a Deus, Ele to concederá.» Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará.» Marta respondeu-lhe: «Eu sei que ele há-de ressuscitar na ressurreição do último dia.» Disse-lhe Jesus: «Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre. Crês nisto?» Ela respondeu-lhe: «Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo.»

Dito isto, voltou a casa e foi chamar sua irmã, Maria, dizendo-lhe em voz baixa: «Está cá o Mestre e chama por ti.» Assim que ela ouviu isto, levantou-se rapidamente e foi ter com Ele. Jesus ainda não tinha entrado na aldeia, mas permanecia no lugar onde Marta lhe viera ao encontro. Então, os judeus que estavam com Maria, em casa, para lhe darem os pêsames, ao verem-na levantar-se e sair à pressa, seguiram-na, pensando que se dirigia ao túmulo para aí chorar. Quando Maria chegou ao sítio onde estava Jesus, mal o viu caiu-lhe aos pés e disse-lhe: «Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido.» Ao vê-la a chorar e os judeus que a acompanhavam a chorar também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-se. Depois, perguntou: «Onde o pusestes?» Responderam-lhe: «Senhor, vem e verás.» Então Jesus começou a chorar. Diziam os judeus: «Vede como era seu amigo!» Mas alguns deles murmuravam: «Então, este que deu a vista ao cego não podia também ter feito com que Lázaro não morresse?»

Jesus, suspirando de novo intimamente, foi até ao túmulo. Era uma gruta fechada com uma pedra. Disse Jesus: «Tirai a pedra.» Marta, a irmã do defunto, disse-lhe: «Senhor, já cheira mal, pois já é o quarto dia.» Jesus replicou-lhe: «Eu não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?» Quando tiraram a pedra, Jesus, erguendo os olhos ao céu, disse: «Pai, dou-te graças por me teres atendido. Eu já sabia que sempre me atendes, mas Eu disse isto por causa da gente que me rodeia, para que venham a crer que Tu me enviaste.»

Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, vem cá para fora!» O que estava morto saiu de mãos e pés atados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. Jesus disse-lhes: «Desligai-o e deixai-o andar.» Então, muitos dos judeus que tinham vindo a casa de Maria, ao verem o que Jesus fez, creram nele.

O significado da ressurreição de Lázaro

Em Betânia. Tudo acontece em Betânia, uma povoação aos pés do Monte das Oliveiras, junto a Jerusalém. Nesta narração, a família de Lázaro, onde Jesus costumava e gostava de hospedar-se, é o espelho da comunidade do Discípulo Amado do fim do século primeiro. É também espelho das nossas comunidades. Betânia quer dizer “Casa dos Pobres”. Marta quer dizer “Senhora” (Coordenadora): uma mulher coordenava a comunidade. Lázaro significa “Deus ajuda”: a comunidade pobre que tudo esperava de Deus. Maria significa “Amada de Yahvé” imagem da comunidade. A narração da ressurreição de Lázaro quer comunicar esta certeza: Jesus leva a vida à comunidade dos pobres; Ele é a fonte da vida para os que crêem n’Ele.

Entre a vida e a morte. Lázaro morreu. Muitos judeus encontram-se na casa de Marta e de Maria para consolá-las pela morte do irmão. Os representantes da Antiga Aliança não trazem a vida nova. Apenas consolam. Jesus é o que traz a vida nova! No Evangelho de João, os judeus são também os adversários que querem matar Jesus (Jo 10, 31). De uma parte, a ameaça de morte contra Jesus e de outra, Jesus que chega para vencer a morte! É neste contexto de vida e morte que se realiza o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro, a vitória sobre a morte.

Dois modos de acreditar na ressurreição. O ponto central é o confronto entre o modo antigo de crer na ressurreição, que só terá lugar no fim dos tempos, e o modo novo trazido por Jesus que, desde agora, vence a morte. Marta, os fariseus, e a maioria do povo já acreditavam na ressurreição (Act 23, 6-10; Mc 12, 18). Acreditavam mas não a revelavam, porque era fé numa ressurreição que aconteceria somente no fim dos tempos e não na ressurreição na hora presente da história, que é agora. Aquela não renovava a vida. Faltava dar um salto. A vida nova da ressurreição aparecerá com Jesus.

A profissão de fé em Jesus é a profissão de fé na vida. Jesus desafia Marta para que faça este salto. Não basta acreditar na ressurreição que terá lugar no fim dos tempos, mas deve-se acreditar na ressurreição que está já presente no nosso hoje na pessoa de Jesus e nos que crêem n’Ele. Sobre estes a morte não tem poder algum porque Jesus é a “ressurreição e a vida”. Portanto, Marta, mesmo ainda sem ver o sinal concreto da ressurreição de Lázaro, confessa a sua fé: “Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”.

Humano, muito humano, em tudo igual a nós. Depois da profissão de fé, Marta vai chamar a sua irmã Maria. Maria vai ao encontro de Jesus. Ela repete a mesma frase de Marta: “Senhor, se estivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido” (Jo 11, 21). Maria chora como choram todos os outros. Jesus comove-se. Quando os pobres choram, Jesus comove-se e chora também. Perante o pranto de Jesus os outros dizem. “Vede como o amava!”. Esta é a característica das comunidades do Discípulo Amado: o amor mútuo entre Jesus e os membros da comunidade. Alguns, contudo, não crêem e duvidam: “Então, este que deu a vista ao cego não podia também ter feito com que Lázaro não morresse?” (Jo 11, 33.35.38). É desta forma que João acentua a humanidade de Jesus contra aqueles que, pelo fim do século primeiro, espiritualizavam a fé e negavam a humanidade de Jesus.

A nós compete-nos tirar a pedra para que Deus nos devolva a vida. Jesus manda que retirem a pedra. Marta diz: “Senhor, já cheira mal, pois já é o quarto dia”. Uma vez mais Jesus desafia-a, chamando-a de novo à fé na ressurreição, que é agora, como um sinal da glória de Deus: “Eu não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”. Retiraram a pedra. Perante o sepulcro aberto e a incredulidade das pessoas, Jesus dirige-se ao Pai. Na sua prece, diante de todos, dá graças ao Pai: “Pai, eu te dou graças porque me escutaste; eu sei que sempre me escutas”. O Pai de Jesus é o mesmo Deus que escuta sempre o grito do pobre (Ex 2, 24; 3, 7). Jesus conhece o Pai e confia n’Ele. Agora pede-lhe um sinal por causa da multidão que o rodeia, para que acredite e confie n’Ele, Jesus, o enviado do Pai. Depois grita em alta voz: “Lázaro, sai para fora!”. Um agricultor do interior do Brasil fez o seguinte comentário: “Toca-nos a nós remover a pedra! E assim Deus ressuscita a comunidade. Há gente que não quer remover a pedra e por isso na sua comunidade não há vida!”.

Palavra para o caminho

A vida é esperança. Estão vivos aqueles que esperam. Depois do momento do nosso nascimento, em que fomos criados, somos habitados pela esperança. Não cessamos de procurar, esperar, desejar. Procuramos os sinais de Deus? Esperamos a sua vinda? Desejamos a sua presença? Neste tempo da Quaresma, somos convidados à conversão. A esperança opera uma mudança nos nossos comportamentos. Não nos contentemos com esperanças que nos podem decepcionar. Nós vivemos de esperança, porque Deus não pode decepcionar-nos. Porque o nosso Deus é um Deus que fala, somos chamados por Ele. A esperança faz-nos escutar os seus apelos e responder-lhes. Sejamos vivos. Sê-lo-emos se nós esperamos.

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A humildade: o chão que atrai os dons de Deus

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O contemplativo por excelência conhece o seu próprio nada… quem se pôs em contacto com Deus experimentou no seu ser a pequenez extrema e o nada profundo da natureza humana. Este duplo conhecimento do tudo de Deus e do nada do homem é fundamental para a vida espiritual e desenvolve-se com ela. Tal conhecimento cria na alma uma humildade básica, que nenhuma coisa poderá perturbar, e coloca-a numa atitude de verdade que atrai todos os dons de Deus.

Beato Pe. Maria-Eugénio do Menino Jesus

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Um pensamento para cada dia da Quaresma – IV

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1. Queres conhecer o caminho? Ouve o que o Senhor diz em primeiro lugar: Eu sou o caminho. Caminho para onde? A verdade e a vida. Disse primeiro por onde hás-de ir, e logo a seguir indicou para onde hás-de ir. “Eu sou o caminho, Eu sou a verdade, Eu sou a vida”. Permanecendo junto do Pai é verdade  e vida. Revestindo-se da nossa carne, fez-se caminho (Santo Agostinho).

2. Mas tu que te aproximaste de Cristo, o verdadeiro sumo sacerdote que pelo seu Sangue tornou Deus propício para contigo e te reconciliou com o Pai, não fixes a tua atenção no sangue das vítimas antigas, mas aprende a conhecer o sangue do Verbo e ouve o que Ele mesmo diz: Este é o meu sangue, derramado por vós para a remissão dos pecados (Orígenes).

3. Se Deus é amor, a caridade não deve ter fronteiras porque a grandeza de Deus não tem limites. (…) Nenhuma devoção dos fiéis é mais agradável a Deus do que a dedicação pelos seus pobres, porque nesta solicitude misericordiosa Ele reconhece a imagem da sua própria bondade (S. Leão Magno)

4. Nada é tão grato a Deus e conforme ao seu amor como a conversão dos homens a Ele com sincero arrependimento. E para dar a maior prova da bondade divina, o Verbo de Deus Pai (que é o primeiro e único sinal da sua infinita bondade), num acto de humilhação que nenhuma palavra pode explicar, num acto de condescendência para com os homens, dignou-Se habitar entre nós por meio da Incarnação; e realizou, padeceu e ensinou tudo o que era necessário para que nós, seus inimigos e adversários, fôssemos reconciliados com Deus Pai e chamados de novo à felicidade eterna que tínhamos perdido (S. Máximo Confessor).

5. A nenhum pecador é negada a vitória da cruz, a nenhum homem é recusado o auxílio da oração de Cristo. Se foi frutuosa para muitos dos que o perseguiam, quanto mais o não será para os que a Ele se convertem? (…) O povo cristão é convidado a gozar as riquezas do Paraíso, e para todos os baptizados está aberta a passagem de regresso à pátria perdida, desde que não queiram fechar para si próprios aquele caminho que se abriu também à fé do ladrão arrependido (S. Leão Magno).

6. Esta festa nos sustenta no meio das aflições do mundo; por ela nos concede Deus a alegria da salvação e da fraternidade, reunindo-nos a todos espiritualmente na mesma assembleia festiva e na mesma comunidade de oração e de acção de graças. Pela admirável bondade de Deus reúnem-se para celebrar esta solenidade os que estão longe, e sentem-se unidos na mesma fé os que estão corporalmente distantes (Santo Atanásio).

7. Os dons do Espírito são diversos: enquanto chama alguns a darem claro testemunho do desejo da pátria celeste e a conservarem-no vivo no meio da humanidade, chama outros ao serviço temporal dos homens preparando com este seu ministério a matéria do reino dos Céus (Gaudium et Spes).

8. Cristo, esperança dos homens, veio ao nosso encontro, dando novo sentido às palavras do salmista: Vós sois a minha alegria: livrai-me daqueles que me rodeiam. Esta é a verdadeira alegria, esta é a verdadeira solenidade: vermo-nos livres do mal. Para o conseguir, esforce-se cada um por viver em santidade e medite interiormente na paz e no temor de Deus. (…) Se seguirmos a Cristo, poderemos sentir-nos desde já nos átrios da Jerusalém celeste e saborear de antemão as primícias daquela festa eterna (Santo Atanásio).

9. Este sacrifício (o de Cristo) é de tal modo aceite e agradável a Deus que, ao vê-lo, não pode deixar de Se compadecer de nós e derramar a sua misericórdia sobre todos os que verdadeiramente se arrependem (S. João Fisher).

10. Já outrora Ele ameaçava a nossa morte com o poder da sua morte, ao dizer pela boca do profeta Oseias: Ó morte, eu serei a tua morte; ó inferno, eu serei a tua ruína. Com efeito, Cristo ao morrer, submeteu-Se à lei do sepulcro, mas destruiu-a pela sua ressurreição; e assim aboliu a perpetuidade da morte, convertendo-a de eterna em temporal: porque, do mesmo modo que em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão restituídos à vida (S. Leão Magno).

11. Quando apresentamos as nossas súplicas a Deus, não devemos separar d’Ele o Filho; e quando reza o Corpo do Filho não deve considerar-se separado da Cabeça; e deste modo o salvador do seu Corpo, Nosso Senhor Jesus Cristo, é o mesmo que ora por nós, ora em nós e recebe a nossa oração (Santo Agostinho).

12. Deus convocou todos aqueles que olham com fé para Jesus, como autor da salvação e princípio da unidade e da paz, e com eles constituiu a Igreja, a fim de que ela seja para todos e cada um sacramento visível desta unidade salvadora (Lumen Gentium).

13. Naqueles sacrifícios (de antigamente) anunciava-se de antemão que o Filho de Deus havia de morrer pelos ímpios; neste sacrifício anuncia-se que já morreu pelos ímpios, segundo o testemunho do Apóstolo: Quando éramos ainda pecadores, no tempo determinado, Cristo morreu pelos ímpios; quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho (S. Fulgêncio de Ruspas).

14. A nossa Páscoa é sempre nova (S. Gregório da Nazianzo).

15. Éramos como escarlate por causa dos nossos pecados, mas pelo banho salutar do Baptismo tornamo-nos brancos como a lã, para oferecermos ao vencedor da morte não já ramos de palmeira mas os troféus da sua vitória (S. André de Creta).

16. Porque hesita ainda a humana fragilidade em acreditar que um dia os homens viverão com Deus? Muito mais incrível é o que já se realizou: Deus morreu pelos homens. (…) Portanto, irmãos, reconheçamos corajosamente, mais ainda, proclamemos bem alto que Cristo foi crucificado por amor de nós; digamo-lo, não com temor mas com alegria, não com vergonha mas com santo orgulho (Santo Agostinho).

17. A vinda de Cristo segundo a carne, o exemplo da sua vida evangélica, a paixão, a cruz, a sepultura e a ressurreição não tiveram outro fim senão salvar o homem, para que ele, imitando a Cristo, recuperasse a primitiva adopção filial (S. Basílio Magno).

18.Ele, ao morrer, matou em Si a morte; nós somos livres da morte pela sua morte (Santo Agostinho).

 

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4.º Domingo da Quaresma – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 9, 1-41)

Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe, então: «Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?» Jesus respondeu: «Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus. Temos de realizar as obras daquele que me enviou enquanto é dia. Vem aí a noite, em que ninguém pode actuar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.» Dito isto, cuspiu no chão, fez lama com a saliva, ungiu-lhe os olhos com a lama e disse-lhe: «Vai, lava-te na piscina de Siloé» – que quer dizer Enviado. Ele foi, lavou-se e regressou a ver. Então, os vizinhos e os que costumavam vê-lo antes a mendigar perguntavam: «Não é este o que estava por aí sentado a pedir esmola?» Uns diziam: «É ele mesmo!» Outros afirmavam: «De modo nenhum. É outro parecido com ele.» Ele, porém, respondia: «Sou eu mesmo!»

Então, perguntaram-lhe: «Como foi que os teus olhos se abriram?» Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez lama, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai à piscina de Siloé e lava-te.’ Então eu fui, lavei-me e comecei a ver!» Perguntaram-lhe: «Onde está Ele?» Respondeu: «Não sei.»

Levaram aos fariseus o que fora cego. O dia em que Jesus tinha feito lama e lhe abrira os olhos era sábado. Os fariseus perguntaram-lhe, de novo, como tinha começado a ver. Ele respondeu-lhes: «Pôs-me lama nos olhos, lavei-me e fiquei a ver.» Diziam então alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado.» Outros, porém, replicavam: «Como pode um homem pecador realizar semelhantes sinais miraculosos?» Havia, pois, divisão entre eles. Perguntaram, então, novamente ao cego: «E tu que dizes dele, por te ter aberto os olhos?» Ele respondeu: «É um profeta!»

Ora os judeus não acreditaram que aquele homem tivesse sido cego e agora visse, até que chamaram os pais dele. E perguntaram-lhes: «É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Então como é que agora vê?» Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como é que agora vê, nem quem foi que o pôs a ver. Perguntai-lhe a ele. Já tem idade para falar de si.» Os pais responderam assim por terem receio dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Messias. Por isso é que os pais disseram: ‘Já tem idade, perguntai-lhe a ele’.

Chamaram, então, novamente o que fora cego, e disseram-lhe: «Dá glória a Deus! Quanto a nós, o que sabemos é que esse homem é um pecador!» Ele, porém, respondeu: «Se é um pecador, não sei. Só sei uma coisa: que eu era cego e agora vejo.» Eles insistiram: «O que é que Ele te fez? Como é que te pôs a ver?» Respondeu-lhes: «Eu já vo-lo disse, e não me destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo outra vez? Será que também quereis fazer-vos seus discípulos?» Então, injuriaram-no dizendo-lhe: «Discípulo dele és tu! Nós somos discípulos de Moisés! Sabemos que Deus falou a Moisés; mas, quanto a esse, não sabemos donde é!» Replicou-lhes o homem: «Ora isso é que é de espantar: que vós não saibais donde Ele é, e me tenha dado a vista! Sabemos que Deus não atende os pecadores, mas se alguém honrar a Deus e cumprir a sua vontade, Ele o atende. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha dado a vista a um cego de nascença. Se este não viesse de Deus, não teria podido fazer nada.» Responderam-lhe: «Tu nasceste coberto de pecados e dás-nos lições?» E puseram-no fora.

Jesus ouviu dizer que o tinham expulsado e, quando o encontrou, disse-lhe: «Tu crês no Filho do Homem?» Ele respondeu: «E quem é, Senhor, para eu crer nele?» Disse-lhe Jesus: «Já o viste. É aquele que está a falar contigo.» Então, exclamou: «Eu creio, Senhor!» E prostrou-se diante dele.

Jesus declarou: «Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem vejam, e os que vêem fiquem cegos.» Alguns fariseus que estavam com Ele ouviram isto e perguntaram-lhe: «Porventura nós também somos cegos?» Jesus respondeu-lhes: «Se fôsseis cegos, não estaríeis em pecado; mas, como dizeis que vedes, o vosso pecado permanece.»

Chave de leitura

O texto do Evangelho deste 4º Domingo da Quaresma convida-nos a meditar a história da cura de um cego de nascença. Encontramos aqui um exemplo concreto de como o 4º Evangelho revela o sentido profundo escondido nos factos da vida de Jesus. A história da cura do cego ajuda-nos a abrir os olhos acerca da imagem que cada um tem de Jesus. Muitas vezes, nas nossas cabeças, há um Jesus que parece um rei glorioso, distante da vida do povo. Nos Evangelhos, Jesus aparece como um Servo dos pobres, amigo dos pecadores. A imagem do Messias-Rei, que os fariseus tinham na sua mente impedia-os de reconhecer Jesus como Messias-Servo.

Contexto em que foi escrito o Evangelho de João

Meditando a história do cego de nascença, faz bem recordar o contexto das comunidades cristãs da Ásia Menor nos finais do século I, para as quais João escreveu o seu Evangelho e que se identificavam com o cego e a sua cura. Elas mesmas, por causa de uma visão legalista da lei de Deus, eram cegas de nascimento. Mas, como aconteceu com o cego, também elas conseguiram ver a presença de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré e converteram-se. Foi um processo doloroso! Na descrição das etapas e dos conflitos da cura do cego, o autor do quarto Evangelho evoca o percurso espiritual das comunidades, desde a escuridão até à plena luz da fé iluminada por Cristo.

Comentário do texto

Jo 9, 1-5: A cegueira perante o mal que existe no mundo. Vendo o cego, os discípulos perguntaram:”Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?”. Naquela época um defeito físico ou uma doença eram considerados como um castigo de Deus. Associar os defeitos físicos ao pecado era um modo através do qual os sacerdotes da Antiga Aliança mantinham o seu poder sobre a consciência do povo. Jesus ajuda a corrigir esta visão: “Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus”. Obras de Deus é o mesmo que Sinais de Deus. O que era naquela época sinal da ausência de Deus, será sinal da sua presença luminosa no meio de nós. Jesus diz: “Temos de realizar as obras daquele que me enviou enquanto é dia. Vem aí a noite, em que ninguém pode actuar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. O Dia dos sinais começa a manifestar-se quando Jesus “ao terceiro dia” (Jo 2, 1) realiza “o primeiro sinal” em Caná (Jo 2, 11). Mas o Dia está por terminar. A noite está para chegar, porque estamos já no “sétimo dia”, o sábado, e a cura do cego é o sexto sinal (Jo 9, 14). A Noite é a morte de Jesus. O sétimo sinal será a vitória sobre a morte na ressurreição de Lázaro (Jo 11). No Evangelho de João há só sete sinais, milagres, que anunciam o grande sinal da Morte e Ressurreição de Jesus.

Jo 9, 6-7: O sinal de “Enviado de Deus” produz diversas reacções. Jesus cospe na terra, faz lama com a saliva, unge com lama os olhos do cego e pede-lhe que se vá lavar à piscina de Siloé. O homem vai e volta curado. Este é o sinal! João comenta dizendo que Siloé significa enviado. Jesus é o Enviado do Pai que realiza as obras de Deus, os sinais do Pai. O sinal deste “envio” é que o cego começa a ver.

Jo 9, 8-13: A reacção dos vizinhos. O cego é muito conhecido. Os vizinhos ficam na dúvida: “Não é este o que estava por aí sentado a pedir esmola? Então, perguntaram-lhe: «Como foi que os teus olhos se abriram?”. O que era cega atesta. “Esse Homem que se chama Jesus abriu-me os olhos”. O fundamento da fé em Jesus é aceitar que Ele é um ser humano como nós. Os vizinhos perguntam: “Onde está?” – “Não sei”, responde o que fora cego. Eles não ficam satisfeitos com a resposta do cego e para esclarecer o assunto levam o homem aos fariseus, as autoridades religiosas.

Jo 9, 14-17: A reacção dos fariseus. Aquela dia era um sábado, dia em que era proibido curar. Interrogado pelos fariseus, o homem volta de novo a contar tudo. Alguns fariseus, cegos pela observância da lei, comentam: “Este homem não vem de Deus porque não guarda o sábado!”. E não estavam dispostos a admitir que Jesus pudesse ser um sinal de Deus, porque tinha feito a cura do cego ao sábado. Mas outros fariseus, interpelados pelo sinal, respondem: “Como pode um pecador realizar semelhante sinal?”. E havia divisão entre eles. E perguntaram ao cego: “E tu que dizes acerca dele já que te abriu os olhos?”. E ele dá o seu testemunho: “É um Profeta!”.

Jo 9, 18-23: A reacção dos pais. Os fariseus, chamados agora judeus, não acreditavam que aquele homem tivesse sido cego. Pensavam que se tratava de um engano. Por isso mandaram chamar os pais e perguntaram-lhes: “É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Então como é que agora vê?”. Com muita cautela os pais responderam: “Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; 21mas não sabemos como é que agora vê, nem quem foi que o pôs a ver. Perguntai-lhe a ele. Já tem idade para falar de si”. A cegueira dos fariseus diante da evidência da cura produz temor nas pessoas. Quem confessasse ter fé em Cristo Messias era expulso da sinagoga. A conversa com os pais do cego revela a verdade, mas autoridades religiosas negam-se a aceitá-la. A sua cegueira é maior do que a evidência dos factos. Eles, que tanto insistiam na observância da lei, agora não querem aceitar a lei que declara válido o testemunho de duas pessoas (Jo 8, 17).

Jo 9, 24-34: A sentença final dos fariseus relativamente a Jesus. Chamam de novo o cego e dizem-lhe: “Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é um pecador”. Neste caso “dar glória a Deus” significava: Pede perdão pela mentira que há pouco disseste! O cego dissera: “É um Profeta!”. Segundo os fariseus deveria dizer: “É um pecador!”. Mas o cego é inteligente e responde: “Se é um pecador, não sei. Só sei uma coisa: que eu era cego e agora vejo”. Contra este facto não há argumentos! De novo os fariseus perguntam: “Que fez contigo? Como te abriu os olhos?”. O cego responde com ironia:”Eu já vo-lo disse, e não me destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo outra vez? Será que também quereis fazer-vos seus discípulos?” Então insultaram-no e disseram-lhe: “Discípulo dele és tu! Nós somos discípulos de Moisés! Sabemos que Deus falou a Moisés; mas, quanto a esse, não sabemos donde é!”. Com fina ironia, o cego responde de novo: “Ora isso é que é de espantar: que vós não saibais donde Ele é, e me tenha dado a vista!”. “Se não fosse de Deus não poderia fazer-me nada”. Perante a cegueira dos fariseus cresce no cego a luz da fé. Ele não aceita os raciocínios dos fariseus e confessa que Jesus vem do Pai. Esta confissão de fé resulta na sua expulsão da sinagoga. O mesmo acontecia nas comunidades cristãs dos fins do primeiro século. Quem professasse a fé em Jesus devia romper qualquer laço de união familiar e comunitário. O mesmo acontece hoje: quem decide ser fiel a Jesus corre o risco de ser excluído.

Jo 9, 35-38: A conduta de fé do cego diante de Jesus. Jesus não abandona quem é perseguido por sua causa. Quando se inteira de que o expulsaram da sinagoga, encontra-se com o homem, ajuda-o a dar outro passo, convidando-o a assumir a sua fé e pergunta-lhe: “Tu crês no Filho do Homem?”. E ele responde: “E quem é, Senhor, para que eu creia nele?”. Diz-lhe Jesus: “Já o viste. É aquele que está a falar contigo”. O cego exclama: “Creio, Senhor!”. E prostrou-se diante dele. A conduta de fé do cego diante de Jesus é de absoluta confiança e total aceitação. Aceita tudo o que vem da parte de Jesus. Esta era a fé que sustentava as comunidades cristãs da Ásia Menor nos finais do século primeiro e que nos sustém a nós ainda hoje.

Jo 9, 39-41: Uma reflexão final. O cego que não via, acaba por ver melhor do que os fariseus. As comunidades da Ásia Menor que eram cegas, descobrem a luz. Os fariseus que pensavam ver correctamente são mais cegos do que o cego de nascimento. Encerrados na velha observância, mentem ao dizerem que vêem. Não há pior cego do que o que não quer ver!

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Carta aos jovens

Young

Jovem,

A vida é um caminho. Tu estás em caminho mas não vais só: contigo caminham também muitos outros irmãos e irmãs. Uns caminham com entusiasmo, outros lamentam-se, outros buscam apoio no teu braço, para que os ajudes a subir a encosta. Lá em cima encontra-se Jesus de Nazaré que deseja manifestar-te todo o seu carinho.

Há uns oitocentos anos um grupo de pessoas iniciou um caminho, uma peregrinação em direcção à Terra Santa: deixaram as suas casas, os seus entes queridos, os seus haveres, e puseram-se a caminhar. Nos seus corações escutaram o chamamento do Senhor, e desejavam viver para sempre com Ele. Seguir Jesus era a sua maneira de responder com generosidade e alegria à sua vocação. Este grupo de peregrinos estabeleceu-se no Monte Carmelo e deu origem aos que hoje conhecemos como CARMELITAS.

No Monte Carmelo, lugar onde habitou o Profeta Elias e onde desenvolveu a sua missão profética, levavam uma vida de oração e penitência. No centro das grutas e das pequenas celas, construíram uma capela em honra da Virgem Maria, a qual, desde então, é chamada pelos Carmelitas de Mãe e Irmã. Em 1247 o Papa Inocêncio IV aprovou a norma de vida (Regra) que o Patriarca Alberto de Jerusalém lhes dera.

Talvez perguntes: qual é o “carisma” desta família religiosa, isto é, quais são as características que definem um Carmelita e que o Carmelo oferece ao nosso mundo? Fundamentalmente são três:

Experiência de Deus. O Carmelita busca Deus, quer aproximar-se d’Ele e vivê-Lo. A oração é o fundamental neste caminho de espiritualidade, alimentado pela Palavra de Deus e pela Eucaristia.

Fraternidade. A experiência da presença de Deus abre-nos e lança-nos para os irmãos. O Carmelita é chamado a viver uma intensa vida de fraternidade, compartilhando com simplicidade e austeridade o que tem e o que é.

Serviço. O lugar do Carmelita é estar no meio do povo, especialmente dos pobres e excluídos, caminhando com ele em vista da libertação integral.

A inspiração de Maria (o Escapulário expressa a nossa consagração a ela) e de Elias, fazem também parte da identidade do Carmelo.

Hoje em dia a Família Carmelita, que abarca os religiosos, religiosas e leigos de qualquer condição, está presente em todos os continentes, empenhada no campo da espiritualidade, da vida cristã, da pastoral, da educação, das missões, comprometida com a causa dos pobres, ao lado dos oprimidos e de quantos procuram a Deus de coração sincero. Nenhum espaço humano está excluído desta presença silenciosa e discreta.

Esta Família, desde o início, deu à Igreja e ao mundo grandes figuras de homens e mulheres de Deus, numerosos santos e santas. Basta recordar alguns: Santo Alberto de Trapáni, São Simão Stock, São Pedro Tomás, Santo André Corsini, Santa Maria Madalena de Pazzi, São Nuno de Santa Maria, São João da Cruz, Santa Teresa de Jesus, Santa Teresa do Menino Jesus, Beata Isabel da Trindade, Beato Tito Brandsma, mártir em Dachau em 1942, Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), mártir em Auschwitz em 1942… e muitos outros. Além dos mais conhecidos há milhares de pessoas que com a sua vida de oração e de compromisso profético, tornam presente no nosso mundo o Reino de Deus.

Também tu és chamado a ser santo! Se tens muito, dá muito; se tens pouco, dá pouco; mas dá SEMPRE!

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