Estar ao serviço de Deus

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Ah, meu Deus e Senhor, quantos andam a procurar em Vós consolações e gostos, e a pedir mercês e dons! E quão poucos são os que pretendem agradar-Vos nalguma coisa à sua custa, pondo de lado os seus interesses! Sim, ó meu Deus, porque o pecado não está em querer que Vós nos concedais novas mercês, mas em não empregarmos só no vosso serviço as que recebemos, para Vos obrigar a concedê-las continuamente.

São João da Cruz

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Saborear a presença de Deus

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Devemos interromper por momentos, e o mais amiudadamente que pudermos, o nosso trabalho e outras acções, mesmo leitura e escritos ainda que espirituais, digo mais, até as nossas devoções exteriores e orações vocais, para adorar a Deus no íntimo do coração, e aí O saborear mesmo que seja só de passagem e como que furtivamente.

Frei Lourenço da Ressurreição

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8.º Domingo do Tempo Comum – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (6, 24-34)

Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» «Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas? Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos preocupeis, dizendo: ‘Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?’ Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.»

Mensagem

O “dito” do versículo 24 afirma a incompatibilidade entre o amor a Deus e o amor aos bens materiais (o termo utilizado por Mateus – “mamonas” – personifica o dinheiro como um poder que domina o mundo). Qual a razão dessa incompatibilidade?

Em primeiro lugar, Deus deve ser o centro à volta do qual o homem constrói a sua existência, o valor supremo do homem. Mas, sempre que a lógica do “ter” domina o coração, o dinheiro ocupa o lugar de Deus e passa a ser o ídolo a quem o homem tudo sacrifica. O verdadeiro Deus passa, então, a ocupar um lugar perfeitamente secundário na vida do homem; e o dinheiro – ídolo exigente, ciumento, exclusivo, que não deixa espaço para qualquer outro valor – é promovido à categoria de motor da história e de referência fundamental para o homem.

Em segundo lugar, o amor do dinheiro fecha totalmente o coração do homem num egoísmo estéril e não deixa qualquer espaço para o amor aos irmãos. O homem deixa de ter lugar, na sua vida, para aqueles que o rodeiam; e, por amor do dinheiro, torna-se injusto, prepotente, corrupto, explorador, auto-suficiente.

Na “instrução” (vers. 25-34) que se segue aos “ditos” sobre a riqueza, Mateus procura responder às seguintes questões: como deve ser ordenada a hierarquia de valores dos discípulos de Jesus? Os membros da comunidade cristã não se devem preocupar minimamente com as suas necessidades básicas? Para os discípulos de Jesus, o “Reino” deve ser o valor mais importante, a principal prioridade, a preocupação mais séria, aquilo que dia a dia “faz correr” o homem e que domina todo o seu horizonte (“procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”).

E as preocupações mais “primárias” da vida do homem: a comida, a bebida, a roupa, a segurança?São valores secundários, que não devem sobrepor-se ao “Reino”. De resto, não precisamos de viver obcecados com essas coisas, pois o próprio Deus Se encarregará de suprir as necessidades materiais dos seus filhos (“tudo o mais vos será dado por acréscimo” – ver. 33). Aliás, quem aceita o desafio do “Reino” descobre rapidamente que Deus é esse Pai bondoso que preside à história humana, que cuida dos seus filhos, que vela por eles com amor, que conhece as suas necessidades: se Deus, cada dia, veste de cores os lírios do campo e alimenta quotidianamente as aves do céu, não fará o mesmo – ou até mais – pelos homens?

O crente que escolheu o “Reino” passa, então, a viver nessa serena tranquilidade que resulta da confiança absoluta no Deus que não falha.

A proposta de Jesus será um convite a viver na alegre despreocupação, na inconsciência, na passividade, no comodismo, na indiferença? Não. As palavras de Jesus são um convite a pôr em primeiro lugar as coisas verdadeiramente importantes (o “Reino”), a relativizar as coisas secundárias (as preocupações exclusivamente materiais) e, acima de tudo, a confiar totalmente na bondade e na solicitude paternal de Deus. De resto, viver na dinâmica do “Reino” não é cruzar os braços à espera que Deus faça chover do céu aquilo de que necessitamos; mas é viver comprometido, trabalhando todos os dias, a fim de que o sonho de Deus – o mundo novo da justiça, da verdade e da paz – se concretize.

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Maria é o modelo da mais perfeita santidade

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Nossa Senhora santificou-se como virgem pura e imaculada, correspondendo às graças que Deus, nesse estado, lhe concedeu; santificou-se como esposa fiel e dedicada, no cumprimento de todos os seus deveres de estado; santificou-se como mãe amorosa que se desvela pelo Filho, que Deus lhe confiou, para O embalar em seus braços, criá-Lo e educá-Lo, para O auxiliar e seguir no desempenho da Sua missão. Com Ele percorreu o caminho estreito da vida, a estrada escabrosa do Calvário; com Ele agonizou, recebendo no seu coração as feridas dos cravos, o golpe da lança e os vitupérios da multidão amotinada; santificou-se, enfim, como mãe, mestra e guia dos Apóstolos,  aceitando ficar na terra, pelo tempo que Deus quisesse, para realizar a missão que Ele lhe havia confiado de co-redentora com Cristo da humanidade. Maria é, para todos nós, o modelo da mais perfeita santidade a que pode elevar-se uma criatura, nesta pobre terra de exílio.

Serva de Deus Irmã Lúcia de Jesus

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No Senhor me refugio

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Devemos examinar cuidadosamente quais são as virtudes que nos são mais necessárias e as que nos são mais difíceis de adquirir, os pecados em que caímos mais vezes e as ocasiões mais frequentes e inevitáveis das nossas quedas; devemos recorrer a Deus com uma inteira confiança na ocasião do combate e permanecer firme na presença de Sua divina Majestade, adorando-O humildemente, mostrando-Lhe as nossas misérias e fraquezas, pedindo-Lhe amorosamente o socorro da Sua graça, e assim n’Ele encontraremos todas as virtudes, sem nós termos nenhuma.

Frei Lourenço da Ressurreição

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7º Domingo do Tempo Comum (Ano A)

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 5, 38-48)

«Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém quiser litigar contigo para te tirar a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado.» «Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu, pois Ele faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores. Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os cobradores de impostos? E, se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.»

Neste Domingo VII do Tempo Comum, continuamos a escutar nas alturas, em alta frequência e alta-fidelidade, o que não se pode escutar cá em baixo, em onda média, no meio do barulho e do entulho. E soam hoje, aos nossos ouvidos atónitos, no nosso coração atónito, as duas últimas das “seis antíteses” proferidas por Jesus no SERMÃO DA MONTANHA e referentes à lei de talião e ao amor ao próximo (Mt 5, 38-48).

Diz a conhecida “lei de talião”, assim formulada no Livro do Êxodo: “vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão” (Ex 21, 24-25). Formulação semelhante desta lei já se encontra, de resto, nos parágrafos 196 e 197 do famoso código de Hammurabi, que remonta mais ou menos a 1700 anos antes de Cristo. E, ao contrário do que se diz habitualmente, esta lei não representa a barbaridade, mas um avanço civilizacional, pois assenta, não na multiplicação desenfreada da vingança e da violência, mas na sua contenção, pois condena o agressor a receber apenas a sanção igual àquela que ele provocou à vítima.

Bem diferente é a chamada Lei da vingança desenfreada, traduzida, por exemplo, no famoso “Cântico da espada” de Lamec, que se expressa assim no Livro do Génesis: “Eu matei um homem por uma ferida, uma criança por uma contusão. Sim, Caim é vingado sete vezes, mas Lamec setenta e sete vezes!” (Gn 4, 23-24). O que se vê aqui é que Lamec respira uma violência irracional, um ódio irracional. O que ouvimos nas alturas da Montanha é que Jesus respira e ensina um amor irracional, até ao paradoxo, ao absurdo e à estupidez, dissolvendo completamente os ódios, vinganças e violências do “Cântico de Lamec”, mas ultrapassando também a fria simetria da “lei de talião”. “Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho, dente por dente’. Porém, Eu digo-vos: ‘Não resistais ao homem mau. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda; se alguém te levar ao tribunal para ficar com a tua túnica, oferece-lhe também o manto; se alguém te forçar a acompanhá-lo durante 5 km, acompanha-o durante 10km’” (Mt 5, 38-41). Oh sublime ciência das alturas!

E Jesus continua em alta sintonia, altíssima alegria, altíssimo amor, estendendo o amor para além dos círculos restritos das nossas simpatias, até aos próprios inimigos! Amor assimétrico, que Jesus ensina agora nas alturas, mas que praticará e ensinará até à Cruz! Ele leva até ao alto do monte das Bem-Aventuranças e até ao alto do Calvário os nossos ódios desenfreados e a nossa fria justiça distributiva, e restitui-nos em troca o perdão excessivo e o amor transbordante.

Ao tempo de Jesus, o panorama do judaísmo palestiniano era dominado por duas escolas: a escola conservadora e rigorista de Shammai e a escola liberal de Hillel. Conta-se que, um dia, um homem se terá apresentado na escola de Shammai e fez ao mestre um estranho pedido: “Quero que, enquanto eu me mantiver apenas com um pé no chão, tu me expliques toda a Lei”. Diz-se que Shammai se limitou a pegar na sua vara de mestre e a correr o homem pela porta fora, pois era óbvio que o homem fazia um pedido impossível de cumprir, tal era a vastidão da Lei. Mas o homem não desanimou e dirigiu-se à escola de Hillel, a quem formulou o mesmo pedido. E Hillel terá respondido de pronto: “Nada mais fácil: ‘Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti’”.

A esta sentença de Hillel, na sua formulação negativa deu-se o nome de “regra de ouro”. Em boa verdade, ela já aparece no Livro de Tobias 4, 15. É, todavia, fácil de verificar que esta sentença é de fácil cumprimento. Dado que o seu teor é negativo, para a cumprir basta a alguém cruzar os braços e nada fazer. Procedendo assim, nada fará de inconveniente a ninguém, cumprindo assim escrupulosamente a sentença formulada.

Tentando talvez evitar a inação acoitada na formulação negativa anterior, os evangelhos apresentam desta máxima uma formulação positiva: “Faz aos outros o que queres que te façam a ti!” (Mt 7, 12; Lc 6, 31). Levando a sério esta formulação, já não é suficiente jogar à defesa e nada fazer, mas é, de facto, requerido o fazer. Seja como for, as duas formulações apresentadas, quer a negativa, quer a positiva, padecem do mesmo vício: sou eu o centro, é à minha volta que tudo roda, e o que eu faço ou deixo de fazer é com o objectivo claro de que me seja retribuído outro tanto!

O tom positivo da referida “regra de ouro” recebe ainda outra bem conhecida formulação: “Ama o teu próximo como a ti mesmo!”, que atravessa a inteira Escritura: Lv 19, 18; Mt 22, 39; Rm 13, 9; Gl 5, 14; Tg 2, 8. Mas também esta formulação é perigosa: primeiro, porque eu continuo a ser o centro, sendo eu a medida do amor devido aos outros; segundo, porque, se alguém não se ama a si mesmo (e são, infelizmente, cada vez mais os casos!), como poderá cumprir devidamente esta máxima?

É aqui que cai, como uma lâmina, a força do Evangelho que sai dos lábios de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13, 34). Aqui, a medida não sou eu. Aqui, a medida é Jesus, o das alturas, o do alto das montanhas. Aqui, a medida é sem medida! Aqui, o amor não é interesseiro. Aqui, o amor é puro, radical, incondicional, assimétrico, sem retorno. Aqui, o amor é até ao fim! Oh sublime ciência das alturas!

D. António Couto

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A palavra de Deus é fonte inesgotável

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Quem poderá compreender, Senhor, toda a riqueza de uma só das vossas palavras? Como o sedento que bebe da fonte, muito mais é o que perdemos do que o que tomamos. A palavra do Senhor apresenta aspectos muito diversos, segundo as diversas perspectivas dos que a estudam. O Senhor pintou a sua palavra com muitas cores, a fim de que cada um dos que a escutam possa descobrir nela o que mais lhe agrada. Escondeu na sua palavra muitos tesouros, para que cada um de nós se enriqueça em qualquer dos pontos que medita.

(…) Aquele que chegou a alcançar uma parte deste tesouro, não pense que nessa palavra está só o que encontrou, mas saiba que apenas viu alguma coisa entre o muito que lá está. E porque apenas chegou a entender essa pequena parte, não considere pobre e estéril esta palavra; incapaz de apreender toda a sua riqueza, dê graças pela sua imensidade inesgotável. Alegra-te pelo que alcançaste, e não te entristeças pelo que ficou por alcançar. O que tem sede alegra-se quando bebe, e não se entristece por não poder esvaziar a fonte. (…) se saciada a sede, secasse a fonte, a tua vitória seria a tua desgraça. (…)

O que não podes receber imediatamente por causa da tua fraqueza, poderás recebê-lo noutra altura, se perseverares. E não tentes avaramente tomar de um só fôlego o que não podes abarcar duma vez, nem desistas, por preguiça, do que podes ir conseguindo pouco a pouco.

Santo Efrém

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Para alcançar a paz

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À luz da eternidade é que a alma vê realmente o que são as coisas. Como tudo aquilo que não foi feito para Deus e com Deus é vazio! Marque tudo com o selo do amor! Só isso permanece. Sim, que a vida é coisa séria: cada minuto é-nos dado para nos “enraizarmos” mais em Deus, para que a semelhança com o nosso divino Modelo seja mais marcante, a união mais íntima. Mas, para que se realize este plano que é do próprio Deus, eis o segredo: esquecer-se, abandonar-se, não se ter em conta, olhar para o Mestre, nada mais atender do que a Ele, receber de igual modo como provindo directamente do Seu amor, a alegria ou a dor; é isso que estabelece a alma em tão serenas alturas!…

Santa Isabel da Trindade

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6º Domingo do Tempo Comum – Ano A

 

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 5, 17-37)

«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição. Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu.»

«Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar ‘imbecil’ será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar ‘louco’ será réu da Geena do fogo.

Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta. Com o teu adversário mostra-te conciliador, enquanto caminhardes juntos, para não acontecer que ele te entregue ao juiz e este à guarda e te mandem para a prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá até que pagues o último centavo.»

«Ouvistes o que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração. Portanto, se a tua vista direita for para ti origem de pecado, arranca-a e lança-a fora, pois é melhor perder-se um dos teus órgãos do que todo o teu corpo ser lançado à Geena. E se a tua mão direita for para ti origem de pecado, corta-a e lança-a fora, porque é melhor perder-se um só dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado à Geena.» «Também foi dito: Aquele que se divorciar da sua mulher, dê-lhe documento de divórcio. Eu, porém, digo-vos: Aquele que se divorciar da sua mulher – excepto em caso de união ilegal – expõe-na a adultério, e quem casar com a divorciada comete adultério.»

«Do mesmo modo, ouvistes o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás diante do Senhor os teus juramentos. Eu, porém, digo-vos: Não jureis de maneira nenhuma: nem pelo Céu, que é o trono de Deus, nem pela Terra, que é o estrado dos seus pés, nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Não jures pela tua cabeça, porque não tens poder de tornar um só dos teus cabelos branco ou preto. Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que for além disto procede do espírito do mal.»

Mensagem

Continuamos a escutar, neste Domingo VI do Tempo Comum, o sublime Discurso da Montanha, hoje as quatro primeiras das famosas “seis antíteses” (Mt 5, 17-48), cujos temas são: o homicídio, o adultério, o divórcio, o perjúrio, a lei de talião, o amor ao próximo. Ouviremos então, neste VI Domingo do Tempo Comum, o sublime dizer de Jesus sobre os primeiros quatro temas: homicídio, adultério, divórcio e perjúrio (Mt 5, 17-37), enquanto nos preparamos para ouvir no próximo Domingo, VII do Tempo Comum, os dois importantes temas: a lei de talião e o amor que a todos devemos (Mt 5, 38-48).

Não nos esqueçamos que continuamos na Montanha, nas alturas, pois há certas maneiras de viver e de sentir que só podem ter o seu habitat nas alturas. O Papa João Paulo II escreveu na Carta Apostólica Novo millennio ineunte (2001), nº 31, que perguntar a um catecúmeno se ele quer receber o baptismo é o mesmo que perguntar-lhe se ele quer ser santo, e fazer-lhe esta última pergunta é colocá-lo no caminho do Sermão da Montanha. E logo a seguir, na mesma Carta e no mesmo número, João Paulo II define a santidade como a “medida alta” da vida cristã ordinária. É, portanto, imperioso que o cristão aprenda a ganhar altura, não para se separar dos caminhos lamacentos do quotidiano, mas para os encher de amor maior.

Cada uma das “seis antíteses” abre com as palavras de Jesus: «Ouvistes o que foi dito»; «porém, Eu digo-vos». Com esta técnica de contraponto, Jesus não quer que se desperdice nada do Antigo Testamento; quer antes enchê-lo, levar quanto aí é dito, que é Palavra de Deus, ao seu ponto mais fundo e mais alto. Por exemplo, quando ouvimos o que foi dito: «Não matarás!», não basta determo-nos no limiar do assassínio, como manda a letra, de acordo com uma leitura literalista e legalista da Palavra de Deus. É preciso ir mais fundo e mais alto: mondar todas as raízes da ira, do ciúme, da inveja, do ódio, desprezo e desamor, e encher todos os regos e cicatrizes de mais amor, mais amor, mais amor, só amor. Não se trata apenas de travar a fundo no último momento, evitando o acidente; trata-se de viver permanentemente a nova cultura do amor. Neste sentido, escreve São João, com ponta fina de diamante, não na pedra ou no papiro, mas no nosso coração meio embotado e engessado: «Quem não ama o seu irmão, é homicida» (1Jo 3, 15).

E assim também o adultério, o divórcio, o perjúrio. Qualquer destes pontos representa o fim de um amor, que é sempre um acontecimento dramático. Veja-se atentamente, neste mundo cinzento e insonso, sem sol e sem sal, em que vivemos, o drama imenso que cada divórcio comporta. Mas para encher de sentido o «porém, Eu digo-vos» de Jesus sobre estes pontos precisos, também não basta viver uma vida cinzenta e mentirosa e evitar em cima da linha chegar ao adultério, ao divórcio ou ao perjúrio. É necessário encher a vida inteira de amor, de mais amor e só amor.

É preciso levantar a vida, o coração, até ao cimo do monte das Bem-Aventuranças. E deixar-se deslumbrar, como a multidão, com este novíssimo, em conteúdo e método, ensinamento de Jesus (Mt 7, 28-29).

D. António Couto

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Dá-me um coração vigilante

Gaivota

Dá-me, Senhor, um coração sempre vigilante que não se afaste de Ti por nenhum devaneio, um coração nobre que não diminua com exageros sem dignidade, um coração recto e honesto que não se deixe seduzir pela maldade, um coração forte que não se abata com a tristeza, um coração livre que não se deixe dominar por nenhum poder maligno. Dá-me, ó Senhor, entendimento que Te reconheça, desejo que Te procure, sabedoria que Te encontre, uma forma de vida que Te agrade, paciência que Te espere com fé, confiança que por fim Te alcance. Amen.

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