A oração gera fraternidade

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Para a santa reformadora o caminho da oração transcorre na via da fraternidade no seio da Igreja mãe. Esta foi a sua resposta providencial, nascida da inspiração divina e da sua intuição feminina, aos problemas da Igreja e da sociedade do seu tempo: fundar pequenas comunidades de mulheres que, à imitação do “colégio apostólico”, seguiram Cristo vivendo simplesmente o Evangelho e sustendo toda a Igreja com uma vida feita oração. «Para isto vos juntou Ele aqui, irmãs» (Caminho 2,5) e tal foi a promessa: «que Cristo andaria connosco» (Vida 32,11). Que linda definição da fraternidade na Igreja: andar juntos com Cristo como irmãos! Para isso não recomenda Teresa de Jesus muitas coisas, simplesmente três: amar-se muito uns aos outros, desprender-se de tudo e verdadeira humildade, que «ainda que a digo por último é a base principal e as abraça todas» (Caminho 4,4). Como desejaria, nestes tempos, umas comunidades cristãs mais fraternas onde se faça este caminho: andar na verdade da humildade que nos liberta de nós mesmos para amar mais e melhor aos demais, especialmente aos mais pobres! Nada há mais belo do que viver e morrer como filhos desta Igreja mãe! (Excerto da Carta do Papa Francisco por ocasião da abertura do V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus).

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Santa Teresa e o caminho da oração

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A Santa transitou também o caminho da oração, que definiu de forma bela como um «tratar de amizade estando muitas vezes a sós com quem sabemos que nos ama» (Vida 8,5). Quando os tempos são “difíceis”, são necessários «amigos fortes de Deus» para dar sustento aos fracos (Vida 15,5). Rezar não é uma forma de fugir, também não é evadir-se, nem isolar-se, mas sim avançar numa amizade que tanto mais cresce quanto mais se trata com o Senhor, «amigo verdadeiro» e «companheiro» fiel de viagem, com quem «tudo se pode sofrer», pois sempre «ajuda, dá esforço e nunca falta» (Vida 22,6). Para orar «não está a coisa em pensar muito mas sim em amar muito» (Moradas IV,1,7), em voltar os olhos para olhar aquele que não deixa de olhar-nos amorosamente e sofrer por nós pacientemente (cf. Caminho 26,3-4). Por muitos caminhos pode Deus conduzir as almas para si, mas a oração é o «caminho seguro» (Vida 213). Deixá-la é perder-se (cf. Vida 19,6). Estes conselhos da Santa têm uma actualidade perene. Sigam, pois, pelo caminho da oração, com determinação, sem deter-se, até ao fim! Isto vale particularmente para todos os membros da vida consagrada. Numa cultura do provisório, viva a fidelidade do «para sempre, sempre, sempre» (Vida 1,5); num mundo sem esperança, mostrem a fecundidade de um «coração enamorado» (Poesia 5); e numa sociedade com tantos ídolos, sejam testemunhas de que «só Deus basta» (Poesia 9) (Excerto da Carta do Papa Francisco por ocasião da abertura do V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus).

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30º Domingo do Tempo Comum – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 22, 34-40)

Constando-lhes que Jesus reduzira os saduceus ao silêncio, os fariseus reuniram-se em grupo. E um deles, que era legista, perguntou-lhe para o embaraçar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» Jesus disse-lhe: ‘Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.»

Mensagem

Os judeus chegaram a contar até seiscentos e treze mandamentos que deviam ser observados para cumprir integralmente a Lei. Não era, por isso, estranho, fazer-se perguntas como a que colocaram a Jesus, na tentativa de encontrar o essencial: qual é, de todos, o primeiro mandamento?

Jesus responde de forma clara e precisa: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente”. O segundo é este: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há mandamento maior do que estes”.

Há algo que nos é revelado com toda a clareza: O amor é tudo. O que se nos pede na vida é amar. Aí está a chave. Podemos depois retirar todas as consequências e derivações, mas o essencial é viver diante de Deus e diante dos outros numa atitude de amor. Se pudéssemos agir sempre assim, tudo estaria a salvo. Não há nada mais importante do que isto.

Esta centralidade do amor enraíza, segundo a fé cristã, numa realidade: Deus, a origem da vida, ele próprio é amor. Essa é a definição ousada e insuperável da fé-cristã: “Deus é amor”. Podemos duvidar de tudo, mas nunca podemos duvidar do seu amor.

Precisamente por isto, amar a Deus é encontrar o seu próprio bem. O que verdadeiramente dá glória a Deus não é o nosso mal, mas a nossa vida e plenitude. Quem ama a Deus e se sabe amado por ele com amor infinito aprende a olhar-se, estimar-se e cuidar-se com verdadeiro amor.

Por outro lado, é então que se entende na sua verdadeira profundidade o segundo mandamento: “Amarás ao próximo como a ti mesmo”. Quem ama a Deus sabe que não pode viver numa atitude de indiferença, despreocupação ou esquecimento dos outros. A única postura humana diante de qualquer pessoa que encontremos na vida é amá-la.

Isto não significa que se tenha que viver, da mesma forma, a intimidade com a esposa, a relação com o cliente ou o encontro fortuito com alguém na rua. O que se nos pede é agir, em cada caso, procurando positivamente para eles o bem que queremos para nós. Em tempos em que tudo parece estar em questão, é bom recordar que há algo inquestionável: o homem é humano quando sabe viver amando a Deus e ao próximo.

Palavra para o caminho

Que é amar a Deus? Ao falar do amor de Deus os hebreus não pensavam nos sentimentos que podem nascer no nosso coração. A fé em Deus não consiste num “estado de alma”. Amar a Deus é simplesmente centrar a vida nele para viver em tudo a sua vontade. Amar a Deus é centrar a minha vida em Deus: no que pensa Deus, no que diz Deus, no que Deus quer… E eu, a mesma coisa: o que é que Deus me está a pedir, e não o que está a pedir para o vizinho!… Agora: sem dar voltas ao assunto! Já: sem me fingir surdo! E… obras, que nisso mesmo consiste o amor.

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Santa Teresa de Jesus chama-nos à alegria

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Teresa de Jesus convida as suas monjas a «andar alegres servindo» (Caminho 18,5). A verdadeira santidade é alegria, porque “um santo triste é um triste santo”. Os santos, mais do que esforçados heróis são fruto da graça de Deus aos homens. Cada santo manifesta-nos um traço do multiforme rosto de Deus. Em santa Teresa contemplamos o Deus que, sendo «soberana Majestade, eterna Sabedoria» (Poesia 2), revela-se próximo e companheiro, tem as suas delícias em conversar com os homens: Deus alegra-se connosco. E, por sentir o seu amor, experimentava uma alegria contagiosa que não podia dissimular e que transmitia à sua volta. Esta alegria é um caminho que temos de andar durante toda a vida. Não é instantânea, superficial, barulhenta. É preciso procurá-la já «nos princípios» (Vida 13,l). Expressa o gozo interior da alma, é humilde e «modesta» (cf. Fundações 12,l). Não se alcança pelo atalho fácil que evita a renúncia, o sofrimento ou a cruz, mas que se encontra padecendo trabalhos e dores (cf. Vida 6,2; 30,8), olhando para o Crucificado e procurando o Ressuscitado (cf. Caminho 26,4). Daí que a alegria de santa Teresa não seja egoísta nem auto-referencial. Como a do céu, consiste em «alegrar-se que se alegrem todos» (Caminho 30,5), pondo-se ao serviço dos demais com amor desinteressado. Da mesma forma que disse a um dos seus mosteiros em dificuldades, a Santa diz-nos também hoje a nós, especialmente aos jovens: «Não deixem de andar alegres!» (Carta 284,4). O Evangelho não é uma bolsa de chumbo que se arrasta pesadamente, mas sim uma fonte de gozo que enche de Deus o coração e o leva a servir os irmãos! (Excerto da Carta do Papa Francisco por ocasião da abertura do V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus).

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29º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Mc 12, 13-17

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 22, 15-21)

Então, os fariseus reuniram-se para combinar como o haviam de surpreender nas suas próprias palavras. Enviaram-lhe os seus discípulos, acompanhados dos partidários de Herodes, a dizer-lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não olhas à condição das pessoas. Diz-nos, portanto, o teu parecer: É lícito ou não pagar o imposto a César?»

Mas Jesus, conhecendo-lhes a malícia, retorquiu: «Porque me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do imposto.» Eles apresentaram-lhe um denário. Perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?» «De César» – responderam. Disse-lhes então: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.» Quando isto ouviram, ficaram maravilhados e, deixando-o, retiraram-se.

Chave de leitura

Jesus chega a Jerusalém vindo da Galileia para a festa anual da Páscoa. Quando entra na cidade é aclamado pelo povo (Mt 21, 1-11). Em seguida, entra no Templo de onde expulsa os vendedores (Mt 21, 12-16). Residindo em Jerusalém, contudo, passa as noites fora da cidade e retorna logo pela manhã (Mt 21, 17). A situação é muito tensa. Em Jerusalém, discutindo com as autoridades (chefes dos sacerdotes, anciãos e fariseus), Jesus expõe o seu pensamento através de parábolas (Mt 21, 23-22,14). Querem prendê-lo mas têm medo (Mt 21, 45-46). O Evangelho deste Domingo sobre o tributo a César (Mt 22, 15-21) está inserido neste conjunto de conflitos entre Jesus e as autoridades.

Comentário do texto

Mateus 22, 15-17: Uma pergunta feita pelos fariseus e herodianos. Os fariseus e herodianos eram líderes locais não apoiados pelo povo da Galileia. Tinham já desde há muito decidido matar Jesus (Mt 12, 14; Mc 3, 6). Agora, por ordem dos sacerdotes e anciãos, querem saber de Jesus se está a favor ou contra o pagamento do tributo a Roma. Pergunta cheia de malícia. Sob a aparência da fidelidade à lei de Deus, procuram motivos para o acusar. Se Jesus tivesse dito: “Deve-se pagar!”, podiam acusá-lo diante do povo de ser amigo dos romanos. Se respondesse: “Não se deve pagar!”, podiam também acusá-lo perante as autoridades romanas de ser um subversivo. Um beco sem saída!

Mateus 22, 18-21a: A resposta de Jesus. Jesus deu-se conta da hipocrisia. Na resposta que dá não perde tempo com discussões inúteis e vai directamente ao núcleo da questão: “De quem é esta imagem e esta inscrição?”. Eles respondem: “De César!”.

Mateus, 22, 21b: Conclusão de Jesus. Jesus leva-os à conclusão: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Na verdade, eles reconheciam já a autoridade de César. Já estavam a dar a César o que era de César, porque usavam as suas moedas para comprar ou vender e até para pagar o tributo ao Templo. Por conseguinte, a pergunta não fazia sentido. Porquê perguntar por algo cuja resposta é já evidente na prática? Eles que pela pergunta fingiam ser servos de Deus, esqueciam o mais importante: esqueciam-se de dar a Deus o que é de Deus! A Jesus interessa que “dêem a Deus o que é de Deus”, ou seja, que recuperem o povo que pela culpa deles se tinha afastado de Deus. Com o seu ensino fechavam ao povo a entrada no Reino (Mt 23, 13). Outros dizem: “Dai a Deus o que é de Deus”, ou seja, praticai a justiça e a honestidade segundo as exigências da lei de Deus, porque por causa da vossa hipocrisia negais a Deus o que lhe é devido. Os discípulos devem dar-se conta disto! Era precisamente a hipocrisia dos fariseus e herodianos que cegava os seus olhos (Mc 8, 15).

Palavra para o caminho

A imagem da moeda pertence a César, mas os homens não devem esquecer que têm em si mesmos a imagem de Deus, e que portanto só a ele pertencem. Assim o afirmava a tradição bíblica. É então que podemos captar o pensamento de Jesus: “Dai a César o que é de César, mas não esqueçais que vós pertenceis a Deus”.

Para Jesus, César e Deus não são duas autoridades de grau semelhante que entre si devem repartir a submissão dos homens. Deus está acima de qualquer César, e este nunca pode exigir o que pertence a Deus.

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V centenário do nascimento de Santa Teresa de Jesus (1515-2015)

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A Igreja e as diferentes Ordens e Congregações de espiritualidade carmelita e teresiana celebram de 15 de Outubro de 2014 até 15 de Outubro de 2015 o V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus. Apresentamos, em traços muito breves, o «bilhete de identidade» desta Santa Carmelita.

Teresa de Ahumada e Cepeda nasceu em Ávila, Espanha, a 28 de Março de 1515. Era a filha mais nova de 9 irmãos e 3 irmãs. Foram seus pais Alonso de Cepeda, descendente de judeus conversos, e Beatriz de Ahumada, de família nobre, ambos «pais virtuosos e tementes a Deus» (Vida 1,1), que a educaram na piedade e nos afazeres da casa. Aos 14 anos, Teresa perde a sua mãe. A experiência prematura de orfandade levou-a até aos pés da Virgem Maria, e pede-lhe que seja sua Mãe (Vida 1,7).

Aos 16 anos, após um período de vaidade e instabilidade, próprios da fase juvenil, é internada por seu pai durante um ano e meio no convento das Irmãs Agostinhas de Nossa Senhora das Graças, na cidade de Ávila. A amizade com uma santa religiosa infundiu-lhe o desejo de abraçar a Vida Consagrada. Aos 20 anos, contra a vontade de seu pai, ingressa no Carmelo da Encarnação. Fez a sua profissão a 3 de Novembro de 1537.

Pouco tempo depois, devido a uma doença misteriosa, vê-se obrigada a abandonar o Convento. Neste período de repouso, em casa de uns familiares, entra em contacto com os livros espirituais da sua época. Deixa-se cativar pelo Terceiro Abecedário de Francisco de Osuna que a inicia na prática da oração mental (Vida 4,6). Durante o Verão de 1539, a doença agrava-se e, durante três dias, fica como morta. Só a tenacidade de seu pai impede que a enterrem (Vida 5,9). Recuperou mas esta crise deixou marcas. Regressou, meia paralisada, ao seu Convento de Ávila (Vida 6,1-2). Atribuiu o seu completo restabelecimento a uma intervenção especial de São José (Vida 6,6-8), de quem se tornou muito devota. No entanto, a falta de saúde marcará toda a sua vida.

Reformadora do Carmelo

Deus, querendo unir Teresa mais a Si como sua esposa, purificou-a durante 18 anos com toda a espécie de provas: doenças, securas, dúvidas de fé… Um dia, quando decorria o ano de 1554, com 39 anos, diante de uma imagem de Cristo muito chagado e atado à coluna, o coração grande e terno de Teresa perturbou-se e, desfeita em lágrimas, entregou-se verdadeira e incondicionalmente à vontade de Deus. Comprometeu-se a fazer sempre o mais perfeito, rompendo com todos os laços que a prendiam às criaturas. A partir deste momento, como que morre Teresa de Cepeda e nasce Teresa de Jesus; é «outra vida» a que agora inicia. Ao ler, por esta altura, as Confissões de Santo Agostinho sente-se confirmada na mudança de rumo (Vida 9,8-9). Como fruto de uma intensa evolução espiritual, Teresa, com um punhado de amigas íntimas, decide-se a abraçar uma vida carmelita mais perfeita (Vida 32,9-10), voltando à observância da Regra Primitiva da Ordem. Funda, a 24 de Agosto de 1562, o Convento de S. José, em Ávila, enfrentando muitas oposições, chegando mesmo a pensar que tudo estava perdido (Vida 36). Mas depois de meses de luta, Teresa prossegue com a reforma da sua Ordem.

Poucos anos depois, o Senhor revela-lhe outra missão: fundar mais conventos segundo um novo estilo de vida: um pequeno grupo de Irmãs, não mais que 21, que recordasse o grupo dos apóstolos, onde a relação com Jesus pela oração fosse um exercício contínuo, onde se cultivasse a amizade entre as Irmãs e que todas colocassem as grandes preocupações da Igreja e do Mundo nas suas preces e orações. Mas Teresa ainda deseja ir mais longe e estende a Reforma das Irmãs também aos Frades, tal como veio a acontecer, depois de conhecer S. João da Cruz, em 1567, em Medina del Campo, cativando-o para a sua obra. O primeiro Convento de Frades Descalços é fundado em Duruelo, a 28 de Novembro de 1568, marcado por uma vida orante, fraterna e apostólica.

Amiga de Cristo, mulher de oração e escritora

A relação mais viva com Cristo deu-se através da leitura e meditação do Evangelho e das Vidas de Cristo. O Evangelho era o seu livro preferido. Teresa, depois de 1554, centrou-se sempre mais em Cristo, cultivando as virtudes humanas e cristãs, tais como a verdade, a humildade, o amor, a afabilidade, a determinação, os grandes desejos, como condição fundamental para crescer na oração e contemplação. À medida que o tempo passa, Teresa sente-se mais submergida em Cristo, ao ponto de exclamar como São Paulo: «Já não sou eu que vivo, mas sois Vós, Criador meu, que viveis em mim» (Vida 6,9).

Professou sempre uma terna devoção a Jesus Menino. A Paixão e Morte do Senhor foram sempre a sua meditação favorita. Teresa contemplava todo o mistério de Cristo à luz da Ressurreição, sobre a qual tem uma rica e abundante doutrina. Juntamente com o seu vivo amor a Jesus, a Santíssima Virgem e São José foram os modelos e intercessores mais marcantes na sua vida.

A oração, concebida «como trato de amizade com Quem sabemos que nos ama» (Vida 8,5), ocupa um lugar central na sua experiência espiritual e na sua doutrina. Teresa legou à Igreja, com os seus escritos, um método completo de oração mental e vocal, estudando todas as etapas que deve percorrer a pessoa para chegar à contemplação, isto é, aos últimos graus da oração, à união de amor com Deus, que ela também chama de matrimónio espiritual.

Teresa de Ávila escreveu muito, não por vontade própria mas por ordem dos seus confessores e superiores. Os seus escritos têm como tema central a sua experiência de Deus. Deixou-nos uma ampla doutrina e conselhos para a vida espiritual. As principais obras, carregadas de humanismo e vivacidade, são: Livro da Vida, Caminho de Perfeição, Castelo Interior ou As Moradas, Fundações, Cartas, Poesias e outros escritos menores.

Morreu a 4 de Outubro de 1582, num dos seus carmelos, em Alba de Tormes, a caminho de Ávila, deixando fundados, à sua morte, 17 carmelos por toda a Espanha. Contava a idade de 67 anos, 6 meses e 7 dias. Teresa de Jesus amou tanto a Igreja, ao ponto de se dispor a morrer por ela. As suas últimas palavras, no seu leito de morte, foram exactamente: «Morro filha da Igreja» e «Chegou a hora, Esposo meu, de nos encontrarmos». Paulo VI, a 27 de Setembro de 1970, proclamou-a Doutora da Igreja Universal.

«Santa Teresa de Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Na nossa sociedade, muitas vezes desprovida de valores espirituais, Santa Teresa ensina-nos a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua acção; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe no nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente» (Bento XVI).

Possam estas breves notas sobre a vida de Santa Teresa de Jesus estimular a descoberta do legado desta mulher extraordinária, «Mestra dos Espirituais», cuja principal herança são os seus escritos e a grande família que gerou na Igreja.

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28º Domingo do Tempo Comum – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 22, 1-14)

Tendo Jesus recomeçado a falar em parábolas, disse-lhes: «O Reino do Céu é comparável a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram comparecer. De novo mandou outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: O meu banquete está pronto; abateram-se os meus bois e as minhas reses gordas; tudo está preparado. Vinde às bodas.’ Mas eles, sem se importarem, foram um para o seu campo, outro para o seu negócio. Os restantes, apoderando-se dos servos, maltrataram-nos e mataram-nos. O rei ficou irado e enviou as suas tropas, que exterminaram aqueles assassinos e incendiaram a sua cidade. Disse, depois, aos servos: ‘O banquete das núpcias está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes.’ Os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos aqueles que encontraram, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se de convidados.

Quando o rei entrou para ver os convidados, viu um homem que não trazia o traje nupcial. E disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’ Mas ele emudeceu. O rei disse, então, aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’ Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.»

Mensagem

Segundo parece, a parábola do banquete foi muito popular entre as primeiras gerações cristãs e está também recolhida em Lucas e Mateus. Ela diz que Deus está a preparar uma festa final para os seus filhos, pois quer vê-los todos sentados junto dele, à volta da mesma mesa, desfrutando para sempre uma vida plena. Esta foi certamente uma das imagens mais queridas de Jesus para «sugerir» o final último da história humana. Não se contentava só com o dizê-lo com palavras. Sentava-se à mesa com todos, e comia até com pescadores e inconvenientes, pois queria que todos pudessem ver plasticamente algo do que Deus desejava levar a cabo. Por isso, Jesus entendeu a sua vida como um grande convite em nome de Deus. Não impunha nada, não pressionava ninguém. Anunciava a Boa Nova de Deus, despertava a confiança no Pai, removia medos, acendia a alegria e o desejo de Deus. A todos devia chegar o seu convite, sobretudo aos mais necessitados de esperança.

Jesus era realista. Sabia que o convite podia ser rejeitado. Na versão de Mateus, descrevem-se diversas reacções. Uns rejeitam-no de maneira consciente: «não quiseram comparecer». Outros respondem com indiferença: «sem se importarem, foram um para o seu campo, outro para o seu negócio». São mais importantes as suas terras e negócios. Houve quem reagisse de forma hostil para com os criados.

Na parábola de Mateus, quando os que têm terras e negócios rejeitam o convite, o rei diz aos seus criados: «O banquete das núpcias está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes». A ordem é inaudita, mas reflecte o que Jesus pensa. Apesar de tanta rejeição e desprezo, haverá festa. Deus não mudou. Tem que se continuar a convidar. Mas agora o melhor é ir «às saídas dos caminhos» por onde passam tantas gentes errantes, sem terras nem negócios, e a quem nunca ninguém convidou para uma festa. Eles podem entender, melhor do que ninguém, o convite. Eles podem recordar-nos a necessidade última que temos de Deus. Podem ensinar-nos a esperança.

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Oração do estudante

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Meu Deus, Tu que és a fonte verdadeira da luz e da ciência, derrama sobre as trevas da minha inteligência um raio da tua claridade. Dá-me inteligência para compreender, memória para reter, facilidade para aprender, subtileza para interpretar, e graça abundante para falar.

Orienta, meu Deus, a minha vida, concede-me saber o que tu me pedes e ajuda-me a realizá-lo, para o meu próprio bem e de todos os meus irmãos.

Adaptação de uma oração de São Tomás de Aquino

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Lembra-te do que Jesus fez por ti

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Se a minha humanidade se encontra menos forte e resoluta para realizar qualquer coisa de difícil ou de árduo, costumo incitar-me a fazê-lo com este pensamento: “O meu Jesus não o fez também por mim?”.

Santa Teresa Margarida de Redi

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27º Domingo do Tempo Comum – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 21, 33-43)

«Escutai outra parábola: Um chefe de família plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, construiu uma torre, arrendou-a a uns vinhateiros e ausentou-se para longe. Quando chegou a época das vindimas, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os frutos que lhe pertenciam. Os vinhateiros, porém, apoderaram-se dos servos, bateram num, mataram outro e apedrejaram o terceiro. Tornou a mandar outros servos, mais numerosos do que os primeiros, e trataram-nos da mesma forma. Finalmente, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Hão-de respeitar o meu filho.’ Mas os vinhateiros, vendo o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Matemo-lo e ficaremos com a sua herança.’ E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Ora bem, quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?» Eles responderam-lhe: «Dará morte afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos na altura devida.» Jesus disse-lhes: «Nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular? Isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos?’ Por isso vos digo: O Reino de Deus ser-vos-á tirado e será confiado a um povo que produzirá os seus frutos.»

Chave de leitura

O evangelho de hoje (Mt 21,33-43), Domingo XXVII do Tempo Comum, começa por descrever os gestos de amor embevecido de Deus pela sua vinha, seguindo de perto o cântico da vinha, de Is 5,1-7. Mas depois continua de forma incisiva, introduzindo novas personagens: os VINHATEIROS violentos e assassinos são os chefes religiosos e civis (chefes dos sacerdotes e anciãos do povo, ou chefes dos sacerdotes e fariseus), dado que estas parábolas são dirigidas a eles (Mt 21,23), e são eles que, no final, reagem (Mt 21,45). Os SERVOS sucessivamente enviados por Deus e maltratados pelos homens são os profetas, todos assassinados, segundo o módulo narrativo mais breve de toda a Escritura (Lc 11,50-51); cf. Mt 23,34-35). O filho que é o último enviado, e que é igualmente morto pelos VINHATEIROS, salta à vista que é Jesus, antecipação do que está para acontecer.

Os VINHATEIROS são, neste ponto da parábola, apanhados na pergunta sem saída de Jesus: «Quando vier o dono da vinha, que fará com esses VINHATEIROS?» (Mt 21,40). Eles respondem fácil e direito, ao jeito de David, quando ouve a história da ovelhinha do pobre comida à mesa do rico (2Sm 12, 5-6): «Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a OUTROS VINHATEIROS, que lhes entreguem os frutos a seu tempo» (Mt 21,41).

E Jesus remata com uma citação do Sl 118,22: «A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular» (Mt 21,42). E ainda: «O Reino de Deus ser-vos-á tirado, e confiado a UM POVO que produza os seus frutos» (Mt 21,43). Nesta altura, diz-nos o narrador, que « os chefes dos sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas parábolas, perceberam que Jesus se referia a eles, e procuravam prendê-lo …» (Mt 21,45-46).

Claramente, os chefes dos sacerdotes e os fariseus são alinhados ao lado dos VINHATEIROS violentos e assassinos, mas já surge no horizonte OUTRO POVO e OUTROS VINHTEIROS, à imagem do último Profeta e d´Ele verdadeira transparência. Não nos esqueçamos de que é este o nosso retrato. Saibamos fazê-lo frutificar.

Esta parábola faz passar diante de nós a inteira história da salvação, mostra-nos o amor permanente e persistente de Deus, e faz-nos ver também a qualidade do amor da resposta que somos hoje chamados a dar.

Actualização

O problema fundamental posto por este texto é o da coerência com que vivemos o nosso compromisso com Deus e com o Reino. Deus não obriga ninguém a aceitar a sua proposta de salvação e a envolver-se com o Reino; mas uma vez que aceitamos trabalhar na sua “vinha”, temos de produzir frutos de amor, de serviço, de doação, de justiça, de paz, de tolerância, de partilha… O nosso Deus não está disposto a pactuar com situações dúbias, descaracterizadas, amorfas, incoerentes, mentirosas; mas exige coerência, verdade e compromisso. A parábola convida-nos, antes de mais, a não nos deixarmos cair em esquemas de comodismo, de instalação, de facilidade, de “deixa andar”, mas a levarmos a sério o nosso compromisso com Deus e com o Reino e a darmos frutos consequentes. O meu compromisso com o Reino é sincero e empenhado? Quais são os frutos que eu produzo? Quando se trata de fazer opções, ganha o meu comodismo e instalação, ou a minha vontade de servir a construção do Reino?

Palavra para o caminho

Às vezes, pensamos que esta parábola tão ameaçadora vale para o povo do Antigo Testamento, mas não para nós, que somos o povo da Nova Aliança, e que temos já a garantia de que Cristo estará sempre connosco.

É um erro. A parábola está, também, a falar de nós. Deus não tem que abençoar um cristianismo estéril, do qual não recebe os frutos que espera. Não tem que identificar-se com as nossas incoerências, desvios e pouca fidelidade. Também, agora, Deus quer que os trabalhadores indignos da sua vinha sejam substituídos por um povo que produza frutos dignos do Reino de Deus.

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