João Paulo II, Bento XVI, Papa Francisco e a oração do Terço

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O Terço é a minha oração predilecta. A todos, exorto, cordialmente, que o rezem. São João Paulo II.

É a mensagem que a Virgem deixou em suas diferentes aparições. Penso, em particular, nas de Fátima, ocorridas há 90 anos, aos três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco, nas quais se apresentou como ‘a Virgem do Rosário’, recomendou com insistência a oração do Rosário todos os dias, para alcançar o fim da guerra. Bento XVI.

O Terço é a oração que sempre acompanha a minha vida; é também a oração dos simples e dos santos… é a oração do meu coração. Papa Francisco.

 

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Pensamentos sobre os dons e carismas do Espírito Santo – 3

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* O dom da piedade suscita em nós, antes de tudo, a gratidão e o louvor. Com efeito, este é o motivo e o sentido mais autêntico do nosso culto e da nossa adoração (Papa Francisco).

* O temor de Deus é o dom do Espírito que nos recorda como somos pequenos diante de Deus e do seu amor, e que o nosso bem está no nosso abandono com humildade, respeito e confiança em suas mãos (Papa Francisco).

* Vinde, Espírito Santo, vinde e renovai a face da terra! Vinde com os vossos sete dons! Vinde Espírito de vida, Espírito de verdade, Espírito de comunhão e de amor! A Igreja e o mundo têm necessidade de Vós. Vinde, Espírito Santo, e tornai sempre mais fecundos os carismas que concedeis (São João Paulo II).

* O que aprendemos do Novo Testamento sobre os carismas, que surgiram como sinais visíveis da vinda do Espírito Santo, não é um acontecimento histórico do passado, mas realidade sempre viva: é o mesmo Espírito divino, alma da Igreja, que age nela em cada época, e estas suas intervenções misteriosas e eficazes manifestam-se neste nosso tempo de modo providencial (Bento XVI).

* O ensinamento do Espírito Santo é o mesmo que Jesus fez e que recebeu do Pai, mas vem depois do de Jesus (João 14,26), e processa-se, ao contrário do de Jesus, não com palavras sensíveis que tocam os órgãos da audição de um público determinado, mas na interioridade da inteligência e do coração de cada ser humano. (…) Ensinamento novo. Não exterior, com sons e palavras, mas que atinge diretamente as pregas da inteligência e do coração. É assim que a linguagem nova do Espírito afeta ao mesmo tempo o português e o chinês, o inglês e o russo, o católico, o muçulmano e o hebreu. É como quando, em vez de se porem a falar cada um a sua língua incompreensível para o outro, o português e o chinês entregassem uma flor um ao outro! É assim que fala o Espírito, é assim que age o Espírito, Pessoa-Dom, fonte de dons (1 Coríntios 12,3-13) (António Couto).

* Somos convidados a abrir-nos ao Espírito. Isto é, a receber a força espiritual de Deus que se quer comunicar, mas que não pode se nós não lhe abrirmos o coração e o entendimento. E todos, sem excepção, precisamos muito de fortaleza e de sabedoria. O que seria de um mundo completamente frágil e insensato?… Sabedoria e fortaleza são os dois pés do cristão (Vasco P. Magalhães, sj).

 

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10º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 7, 11-17)

Naquele tempo, dirigia-se Jesus para uma cidade chamada Naim, indo com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe. O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» E a fama deste milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região.

Comentário

Novamente nos deparamos com um dos temas centrais de Lucas: a compaixão de Jesus, ou melhor, a compaixão de Deus manifestada em Jesus.

Detenhamo-nos no relato do Evangelho. Eis-nos de imediato perante uma pobre mãe, viúva, que acompanha, chorando, o seu filho único ao cemitério. Acompanha-a uma grande multidão, mas aquela pobre mãe, atravessada pela dor mais profunda, atravessa também a mais cruel solidão. É o cortejo da morte. Vem ao seu encontro, em contraponto, o cortejo da vida: Jesus, acompanhado pelos seus discípulos e também por uma grande multidão. Ao ver a pobre viúva que chorava, Jesus COMOVEU-SE, e ordenou à mulher: «Não chores!». Depois, tocou o esquife aberto, como é usual no oriente, e ordenou: «Jovem, eu te digo, LEVANTA-te!» O jovem SENTOU-se, sinal narrativo de que o esquife ia, de facto, aberto, e começou a FALAR, e Jesus DEU-o à sua mãe. E só agora reage a multidão, que ficou tomada de temor e glorificava a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!».

Notas a considerar: 1) Jesus comove-se comoção entranhada, maternal, divina; 2) Jesus intervém por pura graça: não responde a nenhum queixume nem a nenhum pedido; 3) Jesus ordena àquela mãe que não chore: como Deus que enxuga as lágrimas dos nossos olhos (cf. Isaías 25,8; Apocalipse 17,7; 21,4); 4) Jesus ordena, em primeira pessoa, ao jovem que se levante da morte (não invoca Deus para que dê a vida ao jovem, como faz Elias no relato da viúva de Sarepta); 5) Jesus dá o filho àquela mãe: importante lição para nós que pensamos que os filhos são nossos, e não dados! 6) a multidão reage no final: “O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!”.

Palavra para o caminho

Tudo parece simples. O relato feito pelo evangelista Lucas não insiste no aspecto prodigioso do que Jesus acabara de fazer, mas, sobretudo, convida os seus leitores a verem em Jesus a revelação de Deus como Mistério de compaixão e Força de vida, capaz de salvar, inclusive, da morte. É a compaixão de Deus que faz Jesus tão sensível ao sofrimento das pessoas.

Na Igreja devemos recuperar, o quanto antes, a compaixão como estilo de vida próprio dos seguidores de Jesus. Temos de resgatá-la de uma concepção sentimental e moralizante que a desprestigiou. A compaixão que exige justiça é o grande mandamento de Jesus: “Sede misericordiosos como o vosso Pai  é misericordioso” (Lc 6,36).

O sofrimento dos inocentes tem de ser tomado a sério; não pode ser aceite socialmente como algo normal pois é inaceitável para Deus. Ele não quer ver ninguém a chorar.

De todos me deverei sentir responsável, ainda que seja unicamente para “dar de beber um copo de água”. O individualismo contemporâneo não será humano enquanto não ouvir a pergunta de Deus: “Homem moderno e progressista, que fizeste do teu irmão?”.

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Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

Sagrado Coração de Jesus, fazei o nosso coração semelhante ao vosso, neste dia belo e luminoso em que consagramos ao vosso Coração para sempre aberto a Igreja inteira e o mundo inteiro, sobretudo os que se afastaram de Ti, os doentes e desanimados, as famílias desavindas, as crianças abandonadas, os marginalizados e descartados, os que fogem de situações de guerra ou de miséria, e os que andam à procura de um abrigo, de uma mão carinhosa e de um coração aberto e acolhedor. Deixou escrito o beato Charles de Foucaul: «Perdei-vos no coração de Cristo: ele é o nosso refúgio, o nosso asilo, a casa do pássaro, o ninho da pomba, a barca de Pedro para atravessar o mar tempestuoso».

Pode dizer-se que a Solenidade de hoje tem as suas raízes, nos tempos modernos, em Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), que, em tempos duros marcados pelo jansenismo, que apresentava um Deus frio e distante, que infundia temor, ousou proclamar a misericórdia do Coração de Jesus, onde os pecadores podiam encontrar o seu abrigo seguro. Foi-lhe confiada por Jesus a mensagem sobre a devoção das primeiras sextas-feiras.

António Couto

 

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No termo do mês de Maio

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* Jesus é o caminho que podemos seguir, aberto para todos. É o caminho da paz. A Virgem Mãe nos indica, nos mostra o caminho: sigamo-la! E Vós, Santa Mãe de Deus, acompanhai-nos com a vossa protecção (Papa Bento XVI).

* Nossa Senhora, a Mãe de Deus e nossa Mãe espiritual… a criatura na qual a imagem de Deus se reflecte com nitidez absoluta, sem perturbação alguma, como acontece ao contrário com cada criatura humana (São Paulo VI).

* Salve, ó vós que não cessareis jamais de ser a nossa alegria, Santa Mãe de Deus (São Metódio).

* É lícito a um pecador desesperar da sua salvação quando a própria Mãe do Juiz se lhe ofereceu por Mãe e advogada? (Santo Afonso Maria de Ligório).

* A suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem de maneira irresistível os ânimos para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais fiel imagem (São Paulo VI).

* «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós…». Com Isabel, também nós ficamos maravilhados: «E de onde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?» (Lc 1, 43). Porque nos dá Jesus, seu Filho, Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe; podemos confiar-lhe todas as nossas preocupações e pedidos (Catecismo, 2677).

* Na Anunciação, Maria dá no seu seio a natureza humana ao Filho de Deus; aos pés da Cruz, em João, recebe no seu coração toda a humanidade. Mãe de Deus desde o primeiro instante da Encarnação, Ela torna-se Mãe dos homens nos últimos momentos da vida do Filho Jesus (São João Paulo II).

* Maria é Mãe de Deus, resplandecente de tanta pureza, e radiante de tanta beleza, que, abaixo de Deus, é impossível imaginar maior, na terra ou no céu (Santo André).

* Desde os tempos mais remotos, a Bem-Aventurada Virgem é honrada com o título de Mãe de Deus, a cujo amparo os fiéis acodem com as suas súplicas em todos os seus perigos e necessidades (Constituição Dogmática Lumen Gentium, 66).

* O anjo disse-lhe: «Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande  e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai David ; e reinará eternamente na casa de Jacob» (Lc  1, 30-32).

 

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Pensamentos sobre os dons e carismas do Espírito Santo – 2

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* A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, por esse mesmo Espírito; a outro, a fé, pelo mesmo Espírito; a outro, a graça de curar as doenças, no mesmo Espírito; a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas (1 Cor 12, 8-10).

* O dom do discernimento é distinguir de forma precisa de onde brota a inspiração: de Deus, do homem ou do demónio (Márcio Mendes).

* O Espírito Santo, já operante na criação do mundo e na Antiga Aliança, revela-Se na Encarnação e na Páscoa do Filho de Deus, e como que «explode» no Pentecostes para prolongar, no tempo e no espaço, a missão de Cristo Senhor (São João Paulo II).

* Quer extraordinários quer simples e humildes, os carismas são graças do Espírito Santo que, directa ou indirectamente, têm uma utilidade eclesial, pois são ordenados à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo (O Catecismo, §799).

* Em todos os dias da vida quotidiana devemos ser fortes, precisamos desta fortaleza (dom do Espírito), para fazer avançar a nossa vida, a nossa família, a nossa fé (Papa Francisco).

* No dom da profecia é Deus que fala para iluminar, para arrancar as dúvidas e as preocupações, para ensinar, aconselhar, advertir, animar, dar alegria e esperança aos seus filhos, a fim de que saibam que Ele cuida deles (Márcio Mendes).

* O dom da ciência que deriva do Espírito Santo não se limita ao conhecimento humano: trata-se de um dom especial, que nos leva a entender, através da criação, a grandeza e o amor de Deus e a sua profunda relação com cada criatura (Papa Francisco).

 

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9º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 7, 1-10)

Naquele tempo quando acabou de dizer todas as suas palavras ao povo, Jesus entrou em Cafarnaúm. Ora um centurião tinha um servo a quem dedicava muita afeição e que estava doente, quase a morrer. Ouvindo falar de Jesus, enviou-lhe alguns judeus de relevo para lhe pedir que viesse salvar-lhe o servo.

Chegados junto de Jesus, suplicaram-lhe insistentemente: «Ele merece que lhe faças isso, pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga.»

Jesus acompanhou-os. Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque também eu tenho os meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» Ouvindo estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e disse à multidão que o seguia: «Digo-vos: nem em Israel encontrei tão grande fé.» E, de regresso a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.

Eu vos digo que nem em Israel encontrei uma fé assim”

O Evangelho deste Domingo IX do Tempo Comum (Lucas 7,1-10) começa com uma notícia tirada do quotidiano, informando-nos de que o criado de um centurião (chefe de cem soldados) estava gravemente doente, à beira da morte (v. 2a). O narrador lança logo um primeiro raio de luz sobre o centurião, dizendo que nutria por aquele criado um grande apreço, e informa-nos que ele sabia da presença de Jesus e também do seu fazer criador. Por isso, enviou alguns anciãos judeus para que intercedessem perante Jesus para que fosse salvar o seu criado (v. 3). E os anciãos vão mesmo ter com Jesus e pedem-lhe com insistência para atender o pedido do centurião, e acrescentam que se trata de um estrangeiro que ama o nosso povo (Israel), até ao ponto de ter edificado para o povo judaico a sinagoga de Cafarnaum (vv. 4-5). Belo este intercâmbio salutar entre este centurião romano e os judeus, e entre os judeus e este centurião romano.

Jesus aceitou o pedido e foi com eles (v. 6a). Já Jesus estava perto da casa do centurião, e eis que este envia agora os seus amigos para dizer a Jesus que não se incomodasse mais, pois não se sentia digno de que Jesus entrasse na sua casa (v. 6b), palavras que nós ainda hoje repetimos antes de receber a Eucaristia. E acrescenta que foi por isso, por não se sentir digno, que também não foi ele próprio ter com Jesus (v. 7a). E o discurso do centurião, pela boca dos seus amigos, vai ainda mais longe, pedindo a Jesus que diga apenas uma palavra e o seu servo ficará curado (v. 7b). E o centurião parte da sua situação concreta, dizendo que também ele está estabelecido em autoridade, e tem soldados às suas ordens. E diz a um: «Vai!», e ele vai, e a outro: «Vem!», e ele vem, e ao seu criado: «Faz isto!», e ele faz (v. 8).

E tendo ouvido estas coisas, Jesus ficou maravilhado com o dizer do centurião, e tendo-se voltado para a multidão que o seguia, disse: «Eu vos digo que nem em Israel encontrei uma fé assim» (v. 9). Sim. O discurso do centurião é sublime. Um Jesus maravilhado com alguém pela positiva, por uma fé invulgar encontrada em alguém, só se verifica aqui em todos os Evangelhos. Um Jesus maravilhado, mas pela negativa, pela incredulidade encontrada entre os seus conterrâneos de Nazaré, pode ver-se em Marcos 6,6. Na postura do centurião romano e na reacção dos conterrâneos de Jesus fica bem patente um intenso contraponto, e já se antevê a extraordinária abertura para a missão. Os estrangeiros vêem na Palavra de Jesus a Palavra criadora e salvadora, e mostram uma fé sublime. Os conterrâneos de Jesus só vêem o chão e o sangue, e não o céu.

Palavra para o caminho

A misericórdia de Deus não funciona por “merecimento”, mas por gratuidade. É um grande desafio para a Igreja e para todos nós libertar-nos da mentalidade no fundo quase que “comercial” e entrar na lógica de misericórdia e compaixão, como o Pai e também Jesus, nas suas relações com a realidade dos homens e mulheres nas diversas situações de fraqueza. Esta é a grande intuição do Papa Francisco, pois é o fundamento da “Boa Nova”, o Evangelho.

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Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

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«Fazei isto em memória de Mim» (1 Cor 11, 24.25). Esta ordem de Cristo é referida duas vezes pelo apóstolo Paulo, quando narra à comunidade de Corinto a instituição da Eucaristia. É o testemunho mais antigo que temos das palavras de Cristo na Última Ceia.

«Fazei isto» ou seja, tomai o pão, dai graças e parti-o; tomai o cálice, dai graças e distribuí-o. Jesus ordena que se repita o gesto com que instituiu o memorial da sua Páscoa, pelo qual nos deu o seu Corpo e o seu Sangue. E este gesto chegou até nós: é o«fazer» a Eucaristia, que tem sempre Jesus como sujeito, mas actua-se através das nossas pobres mãos ungidas de Espírito Santo.

«Fazei isto». Já antes Jesus pedira aos seus discípulos para «fazerem» algo que Ele, em obediência à vontade do Pai, tinha já decidido no seu íntimo realizar; acabamos de o ouvir no Evangelho. À vista das multidões cansadas e famintas, Jesus diz aos discípulos: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Lc 9, 13). Na realidade, é Jesus que abençoa e parte os pães até saciar toda aquela multidão, mas os cinco pães e os dois peixes são oferecidos pelos discípulos, e era isto o que Jesus queria: que eles, em vez de mandar embora a multidão, pusessem à disposição o pouco que tinham. E, depois, há outro gesto: os pedaços de pão, partidos pelas mãos santas e veneráveis do Senhor, passam para as pobres mãos dos discípulos, que os distribuem às pessoas. Também isto é «fazer» com Jesus, é «dar de comer» juntamente com Ele. Evidentemente este milagre não pretende apenas saciar a fome de um dia, mas é sinal daquilo que Cristo tem em mente realizar pela salvação de toda a humanidade, dando a sua carne e o seu sangue (cf. Jo 6, 48-58). E, no entanto, é preciso passar sempre através destes dois pequenos gestos: oferecer os poucos pães e peixes que temos; receber o pão partido das mãos de Jesus e distribuí-lo a todos.

«Partir»: esta é a outra palavra que explica o significado da frase «fazei isto em memória de Mim». O próprio Jesus Se repartiu, e reparte, por nós. E pede que façamos dom de nós mesmos, que nos repartamos pelos outros. Foi precisamente este «partir o pão» que se tornou ícone, sinal de reconhecimento de Cristo e dos cristãos. Lembremo-nos de Emaús: reconheceram-No «ao partir o pão» (Lc 24, 35). Recordemos a primeira comunidade de Jerusalém: «Eram assíduos (…) à fracção do pão» (At 2, 42). É a Eucaristia que se torna, desde o início, o centro e a forma da vida da Igreja. Mas pensemos também em todos os santos e santas – famosos ou anónimos – que se «repartiram» a si mesmos, a própria vida, para «dar de comer» aos irmãos. Quantas mães, quantos pais, juntamente com o pão quotidiano cortado sobre a mesa de casa, repartiram o seu coração para fazer crescer os filhos, e fazê-los crescer bem! Quantos cristãos, como cidadãos responsáveis, repartiram a própria vida para defender a dignidade de todos, especialmente dos mais pobres, marginalizados e discriminados! Onde encontram eles a força para fazer tudo isto? Precisamente na Eucaristia: na força do amor do Senhor ressuscitado, que também hoje parte o pão para nós e repete: «Fazei isto em memória de Mim».

Possa o gesto da procissão eucarística, que em breve realizaremos, ser também resposta a esta ordem de Jesus Um gesto para fazer memória d’Ele; um gesto para dar de comer à multidão de hoje; um gesto para repartir a nossa fé e a nossa vida como sinal do amor de Cristo por esta cidade e pelo mundo inteiro.

Quinta-feira, 26 de Maio de 2016

Papa Francisco

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Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 9, 10-17) 

Ao regressarem, os Apóstolos contaram-lhe tudo o que tinham feito. Tomando-os consigo, Jesus retirou-se para um lugar afastado, na direcção de uma cidade chamada Betsaida. Mas as multidões, que tal souberam, seguiram-no. Jesus acolheu-as e pôs-se a falar-lhes do Reino de Deus, curando os que necessitavam. Ora, o dia começava a declinar. Os Doze aproximaram-se e disseram-lhe: «Despede a multidão, para que, indo pelas aldeias e campos em redor, encontre alimento e onde pernoitar, pois aqui estamos num lugar deserto.» Disse-lhes Ele: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Retorquiram: «Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!» Eram cerca de cinco mil homens. Jesus disse aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta.» Assim procederam e mandaram-nos sentar a todos. Tomando, então, os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem à multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e, do que lhes tinha sobrado, ainda recolheram doze cestos cheios.

Fazer memória de Jesus

Ao narrar a última Ceia de Jesus com os Seus discípulos, as primeiras gerações cristãs recordavam o desejo expresso de forma solene pelo Seu Mestre: «Fazei isto em memória de mim». Assim o recolhem os evangelistas Lucas e Paulo, o evangelizador dos gentios. Desde a sua origem, a Ceia do Senhor foi celebrada pelos cristãos para fazer memória de Jesus, actualizar a Sua presença viva no meio de nós e alimentar a nossa fé Nele, na Sua mensagem e na Sua vida entregue por nós até à morte. Recordemos quatro momentos significativos na estrutura actual da missa. Temos de os viver desde dentro e em comunidade.

A escuta do Evangelho. Fazemos memória de Jesus quando escutamos nos evangelhos o relato da Sua vida e da Sua mensagem. Os evangelhos foram escritos, precisamente, para guardar a recordação de Jesus alimentando assim a fé e o acompanhamento dos Seus discípulos. Do relato evangélico não aprendemos doutrina mas, sobre tudo, a forma de ser e de actuar de Jesus, que há-de inspirar e modelar a nossa vida. Por isso, temos de o escutar em atitude de discípulos que querem aprender a pensar, sentir, amar e viver como Ele.

A memória da Ceia. Fazemos memória da acção salvadora de Jesus escutando com fé as Suas palavras: «Este é o Meu corpo. Vede-me nestes troços de pão entregando-me por vós até à morte… Este é o cálice do Meu sangue. Derramado para o perdão dos pecados. Assim me recordareis sempre. Amei-vos até ao extremo». Neste momento confessamos a nossa fé em Jesus Cristo fazendo uma síntese do mistério da nossa salvação: “Anunciamos a Tua morte, proclamamos a Tua ressurreição. Vem, Senhor Jesus”. Sentimo-nos salvos por Cristo nosso Senhor.

A oração de Jesus. Antes de comungar, pronunciamos a oração que nos ensinou Jesus. Primeiro, identificamo-nos com os três grandes desejos que levava no Seu coração: o respeito absoluto a Deus, a vinda do Seu reino de justiça e o cumprimento da Sua vontade de Pai. Logo, com as Suas quatro petições ao Pai: pão para todos, perdão e misericórdia, superação das tentações e libertação de todo o mal.

A comunhão com Jesus. Aproximamo-nos como pobres, com a mão estendida; tomamos o Pão da vida; comungamos fazendo um acto de fé; acolhemos em silêncio a Jesus no nosso coração e na nossa vida: «Senhor, quero comungar contigo, seguir os Teus passos, viver animado com a Teu espírito e colaborar no Teu projecto de fazer um mundo mais humano». (J. A. Pagola)

Palavra para o caminho

Para Jesus não é compreensível que uns tenham mais, outros menos e outros nada, e que esta situação se possa amenizar pontualmente. Dar tudo é a medida de Deus e a lógica do Evangelho. «Tomai, isto é o meu corpo» (Marcos 14,22); «Este é o meu sangue, o sangue da Aliança, por todos derramado» (Marcos 14,24). «Fazei isto em memória de mim» (Lucas 22,19). Vida partida e dada por amor. Eis o inteiro programa de Jesus. Eis tudo o que devemos fazer, imitando-o.

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Frases sobre a Eucaristia

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* Com efeito, precisamente porque é Cristo que, na comunhão eucarística, nos transforma em si, neste encontro a nossa individualidade é aberta, libertada do seu egocentrismo e inserida na Pessoa de Jesus, que por sua vez está imersa na comunhão trinitária. Assim a Eucaristia, enquanto nos une a Cristo, abre-nos também aos outros, tornando-nos membros uns dos outros: já não estamos divididos, mas somos um só nele. A comunhão eucarística une-me à pessoa que está ao meu lado e com a qual, talvez, eu nem sequer tenho um bom relacionamento, mas também aos irmãos distantes, em todas as regiões do mundo (Bento XVI).

* Eucaristia, sacramento de amor, prova de amor (São Tomás de Aquino).

Eucaristia, amor dos amores (São Bernardo).

* Jesus Cristo quer de tal modo unir-se connosco, pelo amor ardente que nos tem, que nos tornemos uma só coisa com Ele na Eucaristia (São João Crisóstomo).

* Remédio pelo qual somos livres das falhas quotidianas e preservados dos pecados mortais (Concílio de Trento).

* Jesus Cristo com sua Paixão livrou-nos do poder do pecado, mas com a Eucaristia livra-nos do poder de pecar (Inocêncio III).

* Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos, para se conservarem na perfeição, e os imperfeitos, para chegarem à perfeição (São Francisco de Sales).

* Depois de morrer consumido de dores sobre um madeiro destinado aos maiores criminosos,  colocastes-Vos sob as aparências do pão, para Vos fazerdes nosso alimento e assim, unir-Vos todo a cada um de nós. Dizei-me: que mais podíeis inventar para Vos fazer amar? (Santo Afonso de Ligório).

* A Eucaristia não é coisa que se possa descobrir com os sentidos, mas só com a fé, baseada na autoridade de Deus (São Tomás de Aquino).

* Não ponhas em dúvida se é ou não verdade, mas aceita com fé as palavras do Salvador; sendo Ele a Verdade, não mente (São Cirilo).

* O Senhor imola-se de modo incruento no Sacrifício da Missa, que representa o Sacrifício da Cruz e lhe aplica a eficácia salutar, no momento em que, pelas palavras da consagração, começa a estar sacramentalmente presente, como alimento espiritual dos fiéis, sob as espécies de pão e de vinho (Papa Paulo VI).

* Vós, Jesus, partindo deste mundo, o que nos deixastes em memória do vosso amor? Não uma veste, um anel, mas o vosso corpo, o vosso sangue, a vossa alma, a vossa divindade, vós mesmo, todo, sem reservas (Santo Afonso Maria de Ligório).

* Jesus deu-se todo não reservando nada para si (São João Crisóstomo).

* Este pão é Jesus. Alimentar-nos dele significa receber a própria vida de Deus, abrindo-nos à lógica do amor e da partilha (São João Paulo II).

* A Eucaristia é o nosso tesouro mais precioso. Ela é o sacramento por excelência; introduz-nos antecipadamente na vida eterna; contém em si todo o mistério da nossa salvação; é a fonte e o ápice da acção e da vida da Igreja (Papa Bento XVI).

* A Eucaristia é o próprio Jesus que se entrega inteiramente por nós. Alimentar-nos dele e permanecermos nele mediante a Comunhão eucarística, se o fizermos com fé, transforma a nossa vida, transforma-a num dom a Deus e aos irmãos. Alimentar-nos daquele «Pão da vida» significa entrar em sintonia com o Coração de Cristo, assimilar as suas escolhas, os seus pensamentos e os seus comportamentos. Significa entrar num dinamismo de amor oblativo, tornando-nos pessoas de paz, pessoas de perdão, de reconciliação e de partilha solidária. Aquilo que Jesus fez (Papa Francisco).

 

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