Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 9, 10-17)
Ao regressarem, os Apóstolos contaram-lhe tudo o que tinham feito. Tomando-os consigo, Jesus retirou-se para um lugar afastado, na direcção de uma cidade chamada Betsaida. Mas as multidões, que tal souberam, seguiram-no. Jesus acolheu-as e pôs-se a falar-lhes do Reino de Deus, curando os que necessitavam. Ora, o dia começava a declinar. Os Doze aproximaram-se e disseram-lhe: «Despede a multidão, para que, indo pelas aldeias e campos em redor, encontre alimento e onde pernoitar, pois aqui estamos num lugar deserto.» Disse-lhes Ele: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Retorquiram: «Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!» Eram cerca de cinco mil homens. Jesus disse aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta.» Assim procederam e mandaram-nos sentar a todos. Tomando, então, os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem à multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e, do que lhes tinha sobrado, ainda recolheram doze cestos cheios.
Fazer memória de Jesus
Ao narrar a última Ceia de Jesus com os Seus discípulos, as primeiras gerações cristãs recordavam o desejo expresso de forma solene pelo Seu Mestre: «Fazei isto em memória de mim». Assim o recolhem os evangelistas Lucas e Paulo, o evangelizador dos gentios. Desde a sua origem, a Ceia do Senhor foi celebrada pelos cristãos para fazer memória de Jesus, actualizar a Sua presença viva no meio de nós e alimentar a nossa fé Nele, na Sua mensagem e na Sua vida entregue por nós até à morte. Recordemos quatro momentos significativos na estrutura actual da missa. Temos de os viver desde dentro e em comunidade.
A escuta do Evangelho. Fazemos memória de Jesus quando escutamos nos evangelhos o relato da Sua vida e da Sua mensagem. Os evangelhos foram escritos, precisamente, para guardar a recordação de Jesus alimentando assim a fé e o acompanhamento dos Seus discípulos. Do relato evangélico não aprendemos doutrina mas, sobre tudo, a forma de ser e de actuar de Jesus, que há-de inspirar e modelar a nossa vida. Por isso, temos de o escutar em atitude de discípulos que querem aprender a pensar, sentir, amar e viver como Ele.
A memória da Ceia. Fazemos memória da acção salvadora de Jesus escutando com fé as Suas palavras: «Este é o Meu corpo. Vede-me nestes troços de pão entregando-me por vós até à morte… Este é o cálice do Meu sangue. Derramado para o perdão dos pecados. Assim me recordareis sempre. Amei-vos até ao extremo». Neste momento confessamos a nossa fé em Jesus Cristo fazendo uma síntese do mistério da nossa salvação: “Anunciamos a Tua morte, proclamamos a Tua ressurreição. Vem, Senhor Jesus”. Sentimo-nos salvos por Cristo nosso Senhor.
A oração de Jesus. Antes de comungar, pronunciamos a oração que nos ensinou Jesus. Primeiro, identificamo-nos com os três grandes desejos que levava no Seu coração: o respeito absoluto a Deus, a vinda do Seu reino de justiça e o cumprimento da Sua vontade de Pai. Logo, com as Suas quatro petições ao Pai: pão para todos, perdão e misericórdia, superação das tentações e libertação de todo o mal.
A comunhão com Jesus. Aproximamo-nos como pobres, com a mão estendida; tomamos o Pão da vida; comungamos fazendo um acto de fé; acolhemos em silêncio a Jesus no nosso coração e na nossa vida: «Senhor, quero comungar contigo, seguir os Teus passos, viver animado com a Teu espírito e colaborar no Teu projecto de fazer um mundo mais humano». (J. A. Pagola)
Palavra para o caminho
Para Jesus não é compreensível que uns tenham mais, outros menos e outros nada, e que esta situação se possa amenizar pontualmente. Dar tudo é a medida de Deus e a lógica do Evangelho. «Tomai, isto é o meu corpo» (Marcos 14,22); «Este é o meu sangue, o sangue da Aliança, por todos derramado» (Marcos 14,24). «Fazei isto em memória de mim» (Lucas 22,19). Vida partida e dada por amor. Eis o inteiro programa de Jesus. Eis tudo o que devemos fazer, imitando-o.