Carta do Papa Francisco ao Povo de Deus

CARTA DO PAPA FRANCISCO AO POVO DE DEUS

«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele» (1 Co 12, 26). Estas palavras de São Paulo ressoam com força no meu coração ao constatar mais uma vez o sofrimento vivido por muitos menores por causa de abusos sexuais, de poder e de consciência cometidos por um número notável de clérigos e pessoas consagradas. Um crime que gera profundas feridas de dor e impotência, em primeiro lugar nas vítimas, mas também em suas famílias e na inteira comunidade, tanto entre os crentes como entre os não-crentes. Olhando para o passado, nunca será suficiente o que se faça para pedir perdão e procurar reparar o dano causado. Olhando para o futuro, nunca será pouco tudo o que for feito para gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas. A dor das vítimas e das suas famílias é também a nossa dor, por isso é preciso reafirmar mais uma vez o nosso compromisso em garantir a protecção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade.

1. Um membro sofre?

Nestes últimos dias, um relatório foi divulgado detalhando aquilo que vivenciaram pelo menos 1.000 sobreviventes, vítimas de abuso sexual, de poder e de consciência, nas mãos de sacerdotes por aproximadamente setenta anos. Embora seja possível dizer que a maioria dos casos corresponde ao passado, contudo, ao longo do tempo, conhecemos a dor de muitas das vítimas e constamos que as feridas nunca desaparecem e nos obrigam a condenar veementemente essas atrocidades, bem como unir esforços para erradicar essa cultura da morte; as feridas “nunca prescrevem”. A dor dessas vítimas é um gemido que clama ao céu, que alcança a alma e que, por muito tempo, foi ignorado, emudecido ou silenciado. Mas seu grito foi mais forte do que todas as medidas que tentaram silenciá-lo ou, inclusive, que procuraram resolvê-lo com decisões que aumentaram a gravidade caindo na cumplicidade. Clamor que o Senhor ouviu, demonstrando, mais uma vez, de que lado Ele quer estar. O cântico de Maria não se equivoca e continua a se sussurrar ao longo da história, porque o Senhor se lembra da promessa que fez a nossos pais: «dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 51-53), e sentimos vergonha quando percebemos que o nosso estilo de vida contradisse e contradiz aquilo que proclamamos com a nossa voz.

Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós negligenciamos e abandonamos os pequenos. Faço minhas as palavras do então Cardeal Ratzinger quando, na Via Sacra escrita para a Sexta-feira Santa de 2005, uniu-se ao grito de dor de tantas vítimas, afirmando com força: «Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência!… A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)» (Nona Estação).

2. Todos os outros membros sofrem com ele.

A dimensão e a gravidade dos acontecimentos obrigam a assumir esse facto de maneira global e comunitária. Embora seja importante e necessário em qualquer caminho de conversão tomar conhecimento do que aconteceu, isso, em si, não basta. Hoje, como Povo de Deus, somos desafiados a assumir a dor de nossos irmãos feridos na sua carne e no seu espírito. Se no passado a omissão pôde tornar-se uma forma de resposta, hoje queremos que seja a solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, a tornar-se o nosso modo de fazer a história do presente e do futuro, num âmbito onde os conflitos, tensões e, especialmente, as vítimas de todo o tipo de abuso possam encontrar uma mão estendida que as proteja e resgate da sua dor (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 228). Essa solidariedade exige que, por nossa vez, denunciemos tudo o que possa comprometer a integridade de qualquer pessoa. Uma solidariedade que exige a luta contra todas as formas de corrupção, especialmente a espiritual «porque trata-se duma cegueira cómoda e autossuficiente, em que tudo acaba por parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas subtis de autorreferencialidade, já que “também Satanás se disfarça em anjo de luz” (2 Cor 11, 14)» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 165). O chamado de Paulo para sofrer com quem sofre é o melhor antídoto contra qualquer tentativa de continuar reproduzindo entre nós as palavras de Caim: «Sou, porventura, o guardião do meu irmão?» (Gn 4, 9).

Reconheço o esforço e o trabalho que são feitos em diferentes partes do mundo para garantir e gerar as mediações necessárias que proporcionem segurança e protejam à integridade de crianças e de adultos em situação de vulnerabilidade, bem como a implementação da “tolerância zero” e de modos de prestar contas por parte de todos aqueles que realizem ou acobertem esses crimes. Tardamos em aplicar essas medidas e sanções tão necessárias, mas confio que elas ajudarão a garantir uma maior cultura do cuidado no presente e no futuro.

Juntamente com esses esforços, é necessário que cada baptizado se sinta envolvido na transformação eclesial e social de que tanto necessitamos. Tal transformação exige conversão pessoal e comunitária, e nos leva dirigir os olhos na mesma direcção do olhar do Senhor. São João Paulo II assim o dizia: «se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 49). Aprender a olhar para onde o Senhor olha, estar onde o Senhor quer que estejamos, converter o coração na Sua presença. Para isso nos ajudarão a oração e a penitência. Convido todo o Povo Santo fiel de Deus ao exercício penitencial da oração e do jejum, seguindo o mandato do Senhor[1], que desperte a nossa consciência, a nossa solidariedade e o compromisso com uma cultura do cuidado e o “nunca mais” a qualquer tipo e forma de abuso.

É impossível imaginar uma conversão do agir eclesial sem a participação activa de todos os membros do Povo de Deus. Além disso, toda vez que tentamos suplantar, silenciar, ignorar, reduzir em pequenas elites o povo de Deus, construímos comunidades, planos, ênfases teológicas, espiritualidades e estruturas sem raízes, sem memória, sem rostos, sem corpos, enfim, sem vidas[2]. Isto se manifesta claramente num modo anómalo de entender a autoridade na Igreja – tão comum em muitas comunidades onde ocorreram as condutas de abuso sexual, de poder e de consciência – como é o clericalismo, aquela «atitude que não só anula a personalidade dos cristãos, mas tende também a diminuir e a subestimar a graça baptismal que o Espírito Santo pôs no coração do nosso povo»[3]. O clericalismo, favorecido tanto pelos próprios sacerdotes como pelos leigos, gera uma ruptura no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que denunciamos hoje. Dizer não ao abuso, é dizer energicamente não a qualquer forma de clericalismo.

É sempre bom lembrar que o Senhor, «na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo» (Exort. ap. Gaudete et exultate, 6). Portanto, a única maneira de respondermos a esse mal que prejudicou tantas vidas é vivê-lo como uma tarefa que nos envolve e corresponde a todos como Povo de Deus. Essa consciência de nos sentirmos parte de um povo e de uma história comum nos permitirá reconhecer nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de se deixar renovar a partir de dentro. Tudo o que for feito para erradicar a cultura do abuso em nossas comunidades, sem a participação activa de todos os membros da Igreja, não será capaz de gerar as dinâmicas necessárias para uma transformação saudável e realista. A dimensão penitencial do jejum e da oração ajudar-nos-á, como Povo de Deus, a nos colocar diante do Senhor e de nossos irmãos feridos, como pecadores que imploram o perdão e a graça da vergonha e da conversão e, assim, podermos elaborar acções que criem dinâmicas em sintonia com o Evangelho. Porque «sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo actual» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 11).

É imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos, e inclusive por todos aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis. Peçamos perdão pelos pecados, nossos e dos outros. A consciência do pecado nos ajuda a reconhecer os erros, delitos e feridas geradas no passado e permite nos abrir e nos comprometer mais com o presente num caminho de conversão renovada.

Da mesma forma, a penitência e a oração nos ajudarão a sensibilizar os nossos olhos e os nossos corações para o sofrimento alheio e a superar o afã de domínio e controle que muitas vezes se torna a raiz desses males. Que o jejum e a oração despertem os nossos ouvidos para a dor silenciada em crianças, jovens e pessoas com necessidades especiais. Jejum que nos dá fome e sede de justiça e nos encoraja a caminhar na verdade, dando apoio a todas as medidas judiciais que sejam necessárias. Um jejum que nos sacuda e nos leve ao compromisso com a verdade e na caridade com todos os homens de boa vontade e com a sociedade em geral, para lutar contra qualquer tipo de abuso de poder, sexual e de consciência.

Desta forma, poderemos tornar transparente a vocação para a qual fomos chamados a ser «um sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Conc. Ecum. Vat. II, Lumen gentium, 1).

«Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele», disse-nos São Paulo. Através da atitude de oração e penitência, poderemos entrar em sintonia pessoal e comunitária com essa exortação, para que cresça em nós o dom da compaixão, justiça, prevenção e reparação. Maria soube estar ao pé da cruz de seu Filho. Não o fez de uma maneira qualquer, mas permaneceu firme de pé e ao seu lado. Com essa postura, Ela manifesta o seu modo de estar na vida. Quando experimentamos a desolação que nos produz essas chagas eclesiais, com Maria nos fará bem «insistir mais na oração» (cf. S. Inácio de Loiola, Exercícios Espirituais, 319), procurando crescer mais no amor e na fidelidade à Igreja. Ela, a primeira discípula, nos ensina a todos os discípulos como somos convidados a enfrentar o sofrimento do inocente, sem evasões ou pusilanimidade. Olhar para Maria é aprender a descobrir onde e como o discípulo de Cristo deve estar.

Que o Espírito Santo nos dê a graça da conversão e da unção interior para poder expressar, diante desses crimes de abuso, a nossa compunção e a nossa decisão de lutar com coragem.

Francisco

Cidade do Vaticano, 20 de Agosto de 2018

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Ao comungar recebemos a vida do próprio Senhor

Jesus apresenta-se como “o pão vivo que desceu do céu”, o pão que dá a vida eterna e acrescenta: “O pão que eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo”. Esta mensagem é decisiva, e de facto provoca a reacção daqueles que o escutavam, que começam a discutir entre si: “Como é que ele pode dar-nos a sua carne a comer?”. Quando o sinal do pão partilhado traz o seu significado verdadeiro, isto é o dom de si até ao sacrifício, emerge a incompreensão, emerge até mesmo a rejeição d’Aquele que pouco antes queriam carregá-Lo em triunfo quando queriam fazê-LO rei.

Apesar destas murmurações, Jesus continua: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós”. Aqui, junto à carne, aparece também o sangue. Carne e sangue, em linguagem bíblica, exprimem a humanidade concreta. As pessoas e os próprios discípulos, intuem que Jesus nos convida a entrar em comunhão com Ele, a “comer” o próprio Jesus, a sua humanidade, para compartilhar com Ele o dom da vida para o mundo. Diferente de triunfos e miragens de sucesso!

Este pão da vida, Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo, é-nos doado gratuitamente na mesa da Eucaristia. Ao redor do altar encontramos o que nos alimenta e nos sacia espiritualmente hoje e para a eternidade. Todas as vezes que participamos na Santa Missa, em certo sentido, antecipamos o céu na terra, porque do alimento eucarístico, do Corpo e do Sangue de Jesus, aprendemos o que é a vida eterna.

A Eucaristia plasma-nos porque não vivemos somente para nós mesmos, mas para o Senhor e para os irmãos. Quando vamos à comunhão recebemos a mesma vida de Deus e para ter essa vida é necessário nutrir-se do Evangelho e do amor dos irmãos. A felicidade e a eternidade da vida dependem da nossa capacidade de tornar fecundo o amor evangélico que recebemos na Eucaristia.

Também hoje Jesus repete a cada um de nós: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós”. Não se trata de um alimento material, mas de um pão vivo e vivificante, que comunica a própria vida de Deus. A incompreensão dos ouvintes perante estas palavras de Jesus também pode ocorrer hoje. Diante do convite de Jesus para nos nutrir com seu o Corpo e o seu Sangue, poderemos sentir a necessidade de discutir e resistir, como fizeram aqueles que o escutavam de quem o Evangelho de hoje nos fala. Isto acontece quando temos dificuldade em moldar a nossa existência na de Jesus, a agir de acordo com seus critérios e não de acordo com os critérios do mundo. Mas Ele nunca se cansa de nos convidar para o seu banquete para saciar-nos d’Ele, “pão vivo que desceu do céu”. 

Nutrindo-nos deste alimento podemos entrar em plena sintonia com Cristo, com os seus sentimentos, com os seus comportamentos. Isto é tão importante: ir à Missa e comunicar-se, porque receber a comunhão é receber este Cristo vivo, que nos transforma a partir de dentro e nos prepara para o céu.

Papa Francisco, Angelus (resumo), 19 de Agosto de 2018

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20º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 6, 51-58)

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei-de dar é minha carne, que Eu darei pela vida do mundo».

Os judeus discutiam entre si: «Como pode ele dar-nos a sua carne a comer?» E Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram: quem comer deste pão viverá eternamente».

Reflexão

Jesus é insistente: não pára de repetir que os seus discípulos devem comer a sua carne e beber o seu sangue! Ainda hoje, tal linguagem é chocante, inaceitável para a nossa razão e para a nossa sensibilidade.

Uma das palavras-chave do discurso de Jesus é “morar”: aqui e em tantas passagens do Evangelho. Morar com alguém é entrar na sua intimidade, para ficar juntos. É isso que Deus quer: “estar com” com os homens, “Emanuel”, para que nós estejamos também com Ele. Não podemos aceder ao sentido profundo das palavras de Jesus sobre a sua carne a comer e o seu sangue a beber se não nos colocarmos no registo do amor que exige a presença, o “estar com” dos dois seres que se amam. No amor, é tudo ou nada. O seu amor por nós é tal que Ele quer dar-Se na totalidade do seu ser e quer que esse dom dure sempre. Esta experiência já acontece humanamente: num momento de intensa comunhão com o ser amado, desejamos ardentemente que isso dure sempre. Ao escolher o meio do banquete eucarístico para colocar em nós a sua presença de Ressuscitado, Jesus quer enraizar-Se em nós e alimentar o gérmen da Vida eterna que será doravante a sua. Eis porque Ele pode afirmar: “quem comer deste pão viverá eternamente”. Participar na Eucaristia, comungar do corpo e do sangue de Jesus ressuscitado, é oferecer-Lhe o nosso “espaço humano” muito concreto, toda a nossa pessoa para que Ele venha habitar em nós. Então podemos, desde agora, ser um com Ele: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!”.

Palavra para o caminho

Para esta comida são convidados todos sem excepção, como diz São Francisco de Sales: “os perfeitos para não decair; os imperfeitos, para aspirar à perfeição; os fortes para não enfraquecerem; os fracos para se robustecerem; os doentes para se curarem; os sãos para não adoecerem”.

Sem dúvida, o sinal mais grave da crise da fé cristã entre nós é o abandono tão generalizado da Eucaristia dominical. Para quem ama Jesus é doloroso observar como a Eucaristia vai perdendo o seu poder de atracção. Porquê?

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Na Assunção de Maria, Deus mostra que quer salvar o homem inteiro, alma e corpo

A Assunção ao céu, em corpo e alma, é um privilégio divino concedido à Mãe de Deus pela sua particular união com Jesus. Trata-se de uma união corporal e espiritual, iniciada com a Anunciação e amadurecida durante toda a vida de Maria mediante a sua participação singular no mistério do seu Filho.

A existência de Nossa Senhora decorreu como a de uma mulher comum do seu tempo: rezava, ocupava-se da família e da casa, ia à sinagoga… Mas toda a actividade que diariamente fazia era realizada em união total com Jesus. No Calvário, esta união alcançou o ponto mais alto, no amor, na compaixão e no sofrimento do coração. Por isso Deus concedeu-lhe também uma participação plena na ressurreição de Jesus. O corpo da Mãe foi preservado da corrupção, como o corpo do Filho. A Igreja convida-nos a contemplar este mistério: ele mostra que Deus quer salvar o homem inteiro, alma e corpo.

A Assunção de Maria, criatura humana, dá-nos a confirmação do nosso destino glorioso. A ressurreição da carne é um elemento próprio da revelação cristã, eixo da nossa fé. A realidade maravilhosa da Assunção de Maria manifesta e confirma a unidade da pessoa humana e recorda-nos que somos chamados a servir e a glorificar Deus com todo o nosso ser, alma e corpo. O nosso destino, no dia da ressurreição, será semelhante ao da nossa Mãe celeste.

Papa Francisco, Angelus (resumo), 15 de Agosto de 2018

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Levanto os meus olhos para ti, Senhor

Quando reconheço ter pecado, tomo consciência e digo a mim mesmo: “é o normal, não sei fazer outra coisa!” Se não pequei, dou graças a Deus reconhecendo que provém d’Ele.» 

Frei Lourenço da Ressurreição (1614 – 1691)

Senhor, sou pobre e limitado em extremo, mas não me quero afligir com isso. Sei que me amas infinitamente tal como sou, com o meu carácter as minhas deficiências. Mais ainda, Tu, Senhor, sei que amas descer ao mais baixo, ao nada, para ter o “gosto” de derramar sobre esse nada o oceano da Tua misericórdia e amor. Tens as Tuas delícias em escutar deste pequenino um gemido de amor. E cumulas das Tuas graças esse pequenino que a Ti recorre com tanta confiança. Seja eu este pequenino e nunca me importarei da minha pequenez, porque em Ti terei encontrado todo o meu tesouro. Assim seja.

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Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

– Como ensina o Concílio Vaticano II, Maria Santíssima deve ser inserida sempre no mistério de Cristo e da Igreja. Nesta perspectiva, “do mesmo modo que a Mãe de Jesus, já glorificada no Céu de corpo e alma, é imagem e primícia da Igreja, que há-de atingir a sua perfeição no século futuro, assim também já agora na terra, enquanto não chega o dia do Senhor (cf. 2 Pd 3, 10), Ela brilha como sinal de esperança segura e de consolação aos olhos do Povo de Deus peregrino” (Constituição Lumen gentium, 68). Do Paraíso, Nossa Senhora continua a velar sempre, especialmente nas horas difíceis da prova, sobre os seus filhos, que o próprio Jesus lhe confiou antes de morrer na cruz (Bento XVI, Angelus, 15 de Agosto, 2008).

– Se a Assunção nos abre ao futuro luminoso que nos espera, convida-nos também vigorosamente a confiar-nos mais a Deus, a seguir a sua Palavra, a procurar e cumprir a sua vontade todos os dias: este é o caminho que nos torna «bem-aventurados» na nossa peregrinação terrena e nos abre as portas do Céu (Bento XVI, Angelus, 15 de Agosto, 2011).

Prefácio da Missa da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, e louvar-Vos, bendizer-Vos e glorificar-Vos na Assunção da Virgem Santa Maria. 

Hoje a Virgem Mãe de Deus foi elevada à glória do Céu. Ela é a aurora e a imagem da Igreja triunfante, ela é sinal de consolação e esperança para o vosso povo peregrino. Vós não quisestes que sofresse a corrupção do túmulo Aquela que gerou e deu à luz o Autor da vida, vosso Filho feito homem. Por isso, com os Anjos e os Santos, proclamamos a vossa glória, cantando com alegria: Santo, Santo, Santo…

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A caminho da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora – 2

– Esta solenidade fala do nosso futuro, diz-nos que também nós estaremos ao lado de Jesus na alegria de Deus e convida-nos a ter coragem, a acreditar que o poder da Ressurreição de Cristo pode agir também em nós, tornando-nos homens e mulheres que, todos os dias, procuram viver como ressuscitados, levando à obscuridade do mal que existe no mundo, a luz do bem (Bento XVI, Angelus, 15 de Agosto, 2011).

– O Paraíso é a verdadeira meta da nossa peregrinação terrena. Como seriam diferentes os nossos dias, se fossem animados por esta perspectiva! Assim foi para os santos. As suas existências testemunham que quando se vive com o coração constantemente orientado para o céu, as realidades terrenas são vividas no seu justo valor porque são iluminadas pela verdade eterna do amor divino (Bento XVI, Angelus, 15 de Agosto de 2006).

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A caminho da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora- 1

– Na hodierna solenidade da Assunção contemplamos o mistério da passagem de Maria deste mundo para o Paraíso: celebramos, poderíamos dizer, a sua “páscoa”. Como Cristo ressuscitou dos mortos com o seu corpo glorioso e subiu ao Céu, assim a Virgem Santa, a Ele plenamente associada, foi elevada à glória celeste com toda a sua pessoa… (Bento XVI, Angelus, 15 de Agosto de 2005).

– A festa da Assunção… constitui para todos os crentes uma ocasião útil para meditar acerca do sentido verdadeiro e sobre o valor da existência humana na perspectiva da eternidade. Queridos irmãos e irmãs, é o Céu a nossa habitação definitiva. Dali Maria encoraja-nos com o seu exemplo a aceitar a vontade de Deus, a não nos deixarmos seduzir pelas chamadas falazes de tudo o que é efémero e passageiro, a não ceder às tentações do egoísmo e do mal que apagam no coração a alegria da vida (Bento XVI, Angelus, 15 de Agosto de 2005).

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“É bom não fazer o mal, mas é mal não fazer o bem”

Mas não basta não fazer o mal para ser um bom cristão; é necessário aderir ao bem e fazer o bem. Muitas vezes acontece ouvir alguns que dizem: “Eu não faço mal a ninguém”. E acredita ser um santo. De acordo, mas tu fazes o bem? Quantas pessoas não fazem o mal, e nem mesmo o bem, e a sua vida decorre na indiferença, na apatia, na tibieza. Esta atitude é contrária ao Evangelho, e é também contrária ao vosso carácter, jovens, que por natureza sois dinâmicos, apaixonados e corajosos. Lembrai-vos disto: “É bom não fazer o mal, mas é mal não fazer o bem”. Isto dizia-o Santo Alberto Hurtado.

Hoje exorto-vos a ser protagonistas no bem. Protagonistas no bem. Não vos sintais bem quando não fazeis o mal; cada um é culpado pelo bem que poderia ter feito e não fez. Não basta não odiar, é preciso perdoar; não basta não ter rancor, é preciso orar pelos inimigos; não basta não ser causa de divisão, é preciso levar paz onde ela não existe; não basta não falar mal dos outros, é preciso interromper quando ouvimos falar mal de alguém: parar os mexericos: isto é fazer o bem. Se não nos opomos ao mal, nós o alimentamos de modo tácito. É necessário intervir onde o mal se espalha; porque o mal se espalha onde não há cristãos audazes ​​que se oponham com o bem, “caminhando na caridade”, segundo a advertência de São Paulo.

Papa Francisco, Angelus, 12 de Agosto de 2018

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Beato Isidoro Bakanja, “mártir do Escapulário” – 12 de Agosto

O branco não gostava dos cristãos. Não queria que eu trouxesse o hábito de Maria, o escapulário. Insultava-me quando rezava. (…) Não tem importância que eu morra. Se Deus quer que eu viva, viverei; se Deus quer que eu morra, morrerei. Para mim é igual. (…) Não guardo nenhum rancor contra o branco. Açoitou-me mas isso é um assunto seu. Se morrer, pedirei desde o Céu muito por ele.

Beato Isidoro Bakanja

Oração

Senhor nosso Deus, fonte e origem de toda a vida, que destes a força do vosso Espírito ao bem-aventurado jovem mártir Beato Isidoro Bakanja para que no martírio proclamasse o amor pelo Escapulário e a fidelidade do perdão, concedei-nos, por sua intercessão, viver sempre fiéis à vossa Igreja e descobrir em cada acontecimento da vida a força e a protecção de Maria nossa Mãe.

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