Santa Maria Madalena de’ Pazzi e a Eucaristia

Desde muito pequena, Madalena sentiu uma irresistível atração pela Eucaristia (I, 76), a qual recebeu a primeira vez aos 10 anos, no dia 25 de março de 1576, festa da Encarnação do Senhor, tendo pouco depois, a 19 de abril, Quinta-feira santa, feito voto a Deus de perpétua virgindade, acabando por ingressar para sempre aos 16 anos, a 27 de novembro de 1582, no Carmelo de Santa Maria dos Anjos – o primeiro Carmelo feminino do mundo –, que escolhera porque nele se comungava todos os dias (I, 85).

A partir de então a Eucaristia marcará toda a sua existência, sendo dela que partem ou a ela que conduzem quase todas as suas experiências místicas. A Eucaristia é a Páscoa que o Senhor desejou ardentemente comer com os seus e em que, num excesso louco de amor, num ato incompreensível de misericórdia e de bondade infinitas (I,226ss; II, 402), se deixou a si mesmo, esquecendo-se de si (VII, 243), para se dar a si mesmo e se unir connosco “com o mesmo amor com que encarnou, assumindo a nossa humanidade” (II, 222s). Ela é “a janela do céu”, “a mesa celeste”, “o maná escondido”, que desce diariamente para alimentar o povo de Deus no deserto desta vida (I, 186), maná “que contém em si todos os sabores” (IV, 249) e dá a beber sem medida o fogo do amor divino (II, 302), o Espírito Santo, que renova em nós todo o mistério da salvação.

Por isso diz: “Quando fordes comungar, pensai que esta é a maior e mais digna ação que se pode fazer: receber em vós o Senhor Deus” (VII, 240). Não se pode “encontrar meio mais eficaz para aperfeiçoar a alma do que aproximar-se desta mesa divina, graças à qual, se dela vos soubésseis servir bem, ficaríeis cheias do amor de Deus, porque uma só comunhão é capaz de fazer santa uma alma” (ib., 241). Para isso, após comungar, há, que se esquecer de si mesmo e de tudo o resto, para se perder em Deus, apercebendo-se que “tendes dentro de vós toda a Santíssima Trindade” (ib.) e “imaginando que então só se encontram Deus e vós neste mundo”, aproveitando bem esse “tempo que é o mais precioso e oportuno para se relacionar com Deus, escutar a sua voz e aprender dele a servi-lo segundo a sua vontade, dando glória à Santíssima Trindade e tornando-se útil a todo o mundo”, dando muitos frutos de caridade (ib., 243s).

Pedro Bravo, O. Carm.

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A Providência de Deus

Digo-te isto para que tu também te abandones à Sua Providência. Que bem cuidado está o que se fia em Deus! 

Na oração ocupa-te em adquirir esta confiança pois tens necessidade disso. Essa confiança supõe a fé na Sua Providência e a providência é o cuidado e a solicitude paternal que Deus tem connosco. Deixemos que Deus cuide de nós, que nos governe, que nos guie, e esta confiança nos protegerá contra as horríveis inquietações, ânsias e temores que nos assaltam, procedentes das nossas próprias ilusões. 

Oferece-te a Nossa Senhora na oração, coloca-te sob a Sua protecção e confia n’Ela. Confiemos em Deus e na Sua Mãe, confiemos-Lhe as nossas coisas e não seremos defraudados nem confundidos nas nossas esperanças. 

Beato Francisco Palau

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“Vós sois o sal da terra… vós sois a luz do mundo”

Talvez, uma das tarefas mais urgentes da Igreja de hoje seja conseguir que a fé chegue aos homens como «boa notícia». Com frequência, entendemos a evangelização como uma tarefa quase exclusivamente DOUTRINAL. Evangelizar seria levar a doutrina de Jesus Cristo àqueles que ainda não a conhecem ou a conhecem insuficientemente. Então, preocupamo-nos em assegurar o ensinamento religioso e a propagação do Cristianismo frente a outras ideologias e correntes de opinião. Procuramos homens e mulheres bem formados, que conheçam perfeitamente a mensagem cristã e a transmitam de maneira correcta. Tratamos de melhorar as nossas técnicas e organização pastoral. Naturalmente, tudo isto é muito importante, pois a evangelização implica o anúncio da mensagem de Jesus Cristo. Porém, isso não é a única coisa nem a mais decisiva.

Evangelizar não significa somente anunciar verbalmente uma doutrina, mas tornar presente na vida de um povo a força evangelizadora, libertadora e salvadora que se encerra no acontecimento e na pessoa de Jesus Cristo.

Entendida assim a evangelização, o mais importante não é contar com meios poderosos e eficazes de propaganda religiosa, mas saber actuar com o estilo libertador de Jesus e pôr uma energia salvadora entre os homens.

O mais decisivo não é ter homens e mulheres bem formados doutrinalmente, mas poder oferecer testemunhos vivos do Evangelho. Pessoas de fé em cuja vida se possa ver a força humanizadora e salvadora que encerra o Evangelho quando é acolhido com convicção e de maneira responsável.

Nós, os cristãos, temos confundido demasiado levianamente a evangelização com o facto de querer que se aceite socialmente o «nosso cristianismo».

Por isso, as palavras de Jesus que nos urgem ser «sal da terra» e «luz do mundo» obrigam-nos a fazer perguntas muito sérias: Nós que cremos, somos uma «boa notícia» para alguém? Aquilo que se vive nas nossas comunidades cristãs, o que se observa entre os fiéis, é uma «boa notícia» para as pessoas de hoje? Para quem? Os cristãos põem na actual sociedade algo que dê sabor à vida, algo que purifique, cure e liberte os homens da decomposição espiritual, da violência enraizada no nosso povo, do egoísmo brutal e ausência de solidariedade? Vivemos algo que possa iluminar as pessoas nestes tempos de incerteza e oferecer uma esperança e um horizonte novos a quem busca salvação?

A. J. Pagola

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5º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 5, 13-16)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.»

Mensagem

Jesus dá a conhecer com duas imagens audazes e surpreendentes o que pensa e espera dos seus seguidores. «Vós sois o sal da terra». As pessoas simples da Galileia captam espontaneamente a linguagem de Jesus. Todo o mundo sabe que o sal serve, sobretudo, para dar sabor à comida e para preservar os alimentos da corrupção. Do mesmo modo, os discípulos de Jesus hão-de contribuir para que as pessoas saboreiem a vida sem cair na corrupção.

«Vós sois a luz do mundo». Sem a luz do sol, o mundo fica nas trevas: já não nos podemos orientar nem desfrutar da vida no meio da obscuridade. Os discípulos de Jesus podem trazer a luz que necessitamos para nos orientarmos, aprofundar o sentido último da existência e caminhar com esperança.

Se permanece isolado num recipiente, o sal não serve para nada. Só quando entra em contacto com os alimentos e se dissolve na comida pode dar sabor ao que comemos. O mesmo sucede com a luz. Se permanece encerrada e oculta, não pode iluminar ninguém. Só quando está no meio das trevas pode iluminar e orientar. Uma Igreja isolada do mundo não pode ser nem sal nem luz.

“Como é bonita esta missão de levar a luz ao mundo! É uma missão nossa. É bela! É também muito bom conservar a luz que recebemos de Jesus, guardá-la e preservá-la. O cristão deveria ser uma pessoa luminosa, que dá luz, que dá sempre luz! Uma luz que não é sua, mas é a prenda de Deus, é a prenda de Jesus. E nós levamos esta luz. Se o cristão apagar esta luz, a sua vida não terá sentido: é cristão só de nome, que não leva a luz, uma vida sem sentido” (Papa Francisco).

Palavra para o caminho

Jesus diz aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo» (Mt 5, 13.14). Isto faz-nos admirar um pouco, se pensarmos em quem Jesus tinha perante si quando proferiu estas palavras. Quem eram os discípulos? Eram pescadores, pessoas simples… Mas Jesus fita-os com os olhos de Deus, e a sua afirmação compreende-se precisamente como consequência das Bem-Aventuranças. Ele quer dizer: se fordes pobres de espírito, se fordes mansos, se fordes puros de coração, se fordes misericordiosos… sereis o sal da terra e a luz do mundo!

 “Os discípulos do Senhor são chamados a dar novo “sabor” ao mundo, e a preservá-lo da corrupção, com a sabedoria de Deus, que resplandece plenamente sobre o rosto do Filho, porque Ele é a “luz verdadeira que ilumina cada homem” (Jo 1, 9)” (Bento XVI).

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Festa da Apresentação do Senhor – 2 de Fevereiro

A Igreja celebra no dia 2 de Fevereiro, quarenta dias depois do Natal, a Festa da Apresentação do Senhor, que as Igrejas do Oriente conhecem por Festa do Encontro e dos Encontros: Encontro de Deus com o seu Povo agradecido, mas também de Maria, de José e de Jesus com Simeão e Ana. Também connosco.

Quarenta dias depois do seu nascimento, sujeito à Lei (Gálatas 4,4), Jesus, como filho varão primogénito, é apresentado a Deus, a quem, sempre segundo a Lei de Deus, pertence. De facto, o Livro do Êxodo prescreve que todo o filho primogénito, macho, quer dos homens quer dos animais, é pertença de Deus (Êxodo 13,11-13), bem como os primeiros frutos dos campos (Deuteronómio 26,1-10).

É assim que, para cumprir a Lei de Deus, quarenta dias depois do seu nascimento, Jesus é levado pela primeira vez ao Templo, onde, também pela primeira vez, se deixa ver como a Luz do mundo e a nossa esperança.

Compõe a cena um velhinho chamado Simeão, nome que significa «Escutador» e que o Evangelho apresenta como um homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel. Ora, esse velhinho que vivia à espera e à escuta, com premurosa atenção e coração vigilante, veio ao Templo sob o impulso do Espírito. Fica aqui declarada a qualidade da energia e da alegria que move o velho e querido Simeão: não é movido a carvão, nem a água, nem a vento, nem a petróleo e seus derivados, nem a eletricidade, nem a energia nuclear. Simeão é movido pelo Espírito Santo. Maneira novíssima de viver, que põe travão na nossa impetuosidade, na nossa vontade de aparecer e de fazer, nos nossos protagonismos e vontade de poder. Falamos quase sempre antes do tempo, e não chegamos a dar lugar à suave voz do Espírito. Na verdade, adverte-nos Jesus: «Não sois vós que falais, mas o Espírito Santo» (Marcos 13,11; cf. Mateus 10,20; Lucas 12,12). Portanto, é urgente esperar! Regressemos, pois, à beleza de Simeão. Ao ver aquele Menino, recebeu-o carinhosamente nos braços. Por isso, os Padres gregos dão a Simeão o título belo de Theodóchos [= «recebedor de Deus»]. É então que Simeão entoa o canto feliz do entardecer da sua vida, um dos mais belos cantos que a Bíblia registra: «Agora, Senhor, podes deixar o teu servo partir em paz, porque os meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos, Luz que vem iluminar as nações e glória do teu povo, Israel!» (Lucas 2,29-32).

E, na circunstância, também uma velhinha chegou carregada de Graça e de Esperança. Chamava-se Ana, que significa «Graça». É dita «Profetisa», isto é, que anda, também ela, sintonizada com a Palavra de Deus escutada, vivida e anunciada. Diz ainda o texto que era filha de Fanuel, nome que significa «Rosto de Deus», e que era da tribo de Aser, que quer dizer «Felicidade». Tanta intimidade com Deus! Também esta velhinha, serena e feliz, com 84 anos, teve a Graça de ver aquele Menino. E diz bem o texto do Evangelho que Ana «falava daquele Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém» (Lucas 2,38).

Esta é a Festa da Alegria e da Esperança. É a Festa da Luz. Simeão e Ana viram a Luz e exultaram de Alegria. Hoje somos nós que nos chamamos Simeão e Ana. Somos nós que recebemos esta Luz nos braços, e que ficamos a fazer parte da família da Felicidade e a viver pertinho de Deus, Rosto a Rosto com Deus, Escutadores atentos do bater do coração de Deus, movidos pelo Espírito de Deus, Recebedores de Deus, Anunciadores de Deus.

António Couto (texto resumido e adaptado)

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Somos sempre acolhidos

Não é para o primeiro lugar, mas para o último que eu corro. Em vez de avançar como o fariseu, repito, cheia de confiança, a oração do publicano. Imito, sobretudo, a conduta da Madalena; a sua surpreendente, ou melhor, a sua amorosa audácia, que encanta o Coração de Jesus, seduz o meu. Sim, estou certa de que mesmo que tivesse na minha consciência todos os pecados que se possam cometer, eu iria com o coração despedaçado de arrependimento lançar-me nos braços de Jesus, pois sei quanto ama o filho pródigo que para Ele volta.

Santa Teresinha do Menino Jesus

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Oração pelo Capítulo 2017 da Ordem do Carmo em Portugal

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O Comissariado Geral da Ordem do Carmo em Portugal vai realizar o seu Capítulo trienal electivo, de 18-20 de Abril do corrente ano. Apresentamos esta oração, composta pela Comissão Preparatória do Capítulo para que, unidos em oração, a Família Carmelita esteja atenta e seja dócil às inspirações do Espírito Santo e, à imitação de Maria, o Comissariado da Ordem do Carmo em Portugal, no seu todo e em cada um dos seus membros, se sinta Livre na Alegria para dizer: “Faça-se, Senhor, a tua vontade”.

Oração pelo Capítulo

Senhor nosso Deus, que nos chamas a viver na fidelidade no Carmelo, concede ao nosso Comissariado, que reunido em Capítulo, alcance a graça de uma vida de oração, fraternidade e serviço, testemunhada na alegria de uma vida contemplativa, para que, possamos inspirar a outros a caminharem connosco.

Que à imitação de Maria, Cristo possa fazer-se mais presente na nossa vida e no mundo inteiro. Que a Senhora de Fátima, na celebração do centenário das aparições, interceda por nós, tornando-nos novos servos do Seu Filho, no nosso Comissariado, e em toda a Ordem. Ámen.

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Santa Maria Madalena de’ Pazzi e a Palavra de Deus

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Quando aos 14 anos de idade S. Maria Madalena quis enriquecer o seu método de oração, que lhe fora ensinado aos 9 anos pelo Padre jesuíta André Rossi – pôr-se de joelhos, invocar o Espírito Santo, fazer o exame de consciência e rezar a confissão, para em seguida meditar sobre a paixão de Cristo, deixando ela “que fosse Deus a agir, dando-lhe, por sua misericórdia, o que Lhe agradava” (I, 73) –, passou também a meditar o Evangelho dos domingos e principais festas litúrgicas da Igreja, que preparava com a ajuda dalgum dos excelentes comentários que então circulavam em italiano, e meditava recorrendo a um método original. Na véspera do domingo anterior, pegava no Evangelho do domingo seguinte e dividia-o em sete partes, meditando, depois, cada uma delas num dia da semana, dividindo, por sua vez, cada uma dessas porções em três pontos, segundo o estilo inaciano, para depois o meditar, palavra após palavra, numa oração que se podia estender por diversas horas.

Nessa oração procurava apropriar-se sapiencialmente do texto bíblico, considerando cada uma das suas palavras, repetindo-a e ruminando-a, para o saborear “com pureza de coração, vazia de si mesma e do seu amor próprio” (VII, 309), de modo a dele se imbuir, com fé, esperança, amor e afeto, abrindo-se a todo o mistério da salvação e à revelação dos segredos divinos, “pois o poder de Deus (o Evangelho: Rm 1,16) é como uma pinha, repleta de pinhões, que é preciso lançar no fogo do amor divino, para poder partir a casca com a faca da Palavra de Deus, de modo a dela retirar o seu fruto tão suave e nutritivo” (III, 179s), o amor de Deus, que nos é comunicado pelo Espírito Santo, “refrigério, deleite e alimento das nossas almas”, a quem pede: “Vem e tira de mim tudo o que é meu e infunde em mim só o que é teu” (VI, 194), para só dele viver, a Ele se unindo e nele se transformando por amor.

Sem o saber, ela aprendeu a fazer uma autêntica lectio divina, que informará toda a sua vida carmelita e experiência mística, levando-a a apropriar-se de tal modo da Sagrada Escritura que será capaz de repetir de cor extensos textos da Vulgata em latim durante os êxtases em que falava. Assim a Palavra encarnava nela, fazendo dela uma profeta, como indica a Regra carmelita: “A espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, habite com abundância na vossa boca e nos vossos corações. E tudo o que tiverdes de fazer, seja feito na Palavra do Senhor”. Por isso, pede ao Espírito Santo: “Venha aquele que, descendo, fez encarnar em Maria o Verbo e faça em nós pela graça o que nela fez pela graça e pela natureza” (VI, 194). Ao invés de S. Teresa de Ávila, teve a sorte de ter sempre acesso à Sagrada Escritura, que então circulava livremente, primeiro em vernáculo, depois em latim; e quando, à imagem do que acontecera em Espanha, em 1559, também quiseram impedir a sua leitura aos não-clérigo em Itália, escreve ao Papa Sisto V a pedir-lhe que, “não seja avaro e não deixe, por misericórdia, nem queira que fechem a fonte da piedade do Verbo humanado, isto é, o Santíssimo Sacramento e a sua Palavra”, para que estes possam ser dados “aos seus súbditos e ministros e estes também os possam dispensar com liberalidade aos outros”, pois deles é que deve partir a reforma da Igreja (VII, 64).

Pedro Bravo, O. Carm.

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4º Domingo do Tempo Comum – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 5,1-12)

Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

Mensagem

Jesus diz: Bem-aventurados os pobres de espírito, bem-aventurados os aflitos, os mansos, quem tem fome e sede de justiça, os misericordiosos, bem-aventurados os puros de coração, os pacificadores, os que sofrem perseguição por causa da justiça (cf. Mt 5, 3-10). Na realidade, o Bem-Aventurado por excelência é somente Ele, Jesus.

Com efeito, Ele é o verdadeiro pobre de espírito, o aflito, o manso, aquele que tem fome e sede de justiça, o misericordioso, o puro de coração, o pacificador; Ele sofre perseguição por causa da justiça. As Bem-Aventuranças revelam-nos a fisionomia espiritual de Jesus. Na medida em que aceitamos a sua proposta e nos colocamos no seu seguimento, cada qual nas suas próprias circunstâncias, também nós podemos participar das Bem-Aventuranças (Bento XVI).

Chama a atenção o facto de que a primeira e a última bem-aventurança estão com o verbo no presente: o Reino já é dos pobres em espírito e dos perseguidos por causa da justiça. Na verdade, trata-se das mesmas pessoas, pois os que buscam a justiça são “pobres em espírito”. Eles já vivem na dependência total de Deus, pois só com Ele esses valores podem vigorar. Mas quem luta pela justiça será perseguido e quem não se empenha nessa luta jamais poderá ser “pobre em espírito”.

As outras bem-aventuranças traçam as características de quem é pobre em espírito. É aflito, por causa das injustiças e do sofrimento dos outros. É manso, não no sentido de passivo, mas porque não é movido pelo ódio e violência. Tem fome da Justiça do Reino, não a dos homens, que tantas vezes não passa de uma legitimação oficial da exploração e do privilégio. Tem coração compassivo, como o próprio Pai do Céu, e é “puro de coração”, sem ídolos e falsos valores. Promove a paz, não “a paz que o mundo dá” (Jo 14, 27), mas o “shalom, a paz que nasce do projecto de Deus, quando existe a justiça do Reino.

Palavra para o caminho

São Basílio diz que «não se deve ter ao rico por ditoso só pelas suas riquezas; nem ao poderoso pela sua autoridade e dignidade; nem ao forte pela saúde de seu corpo… Todas essas coisas são instrumentos da virtude para os que as usam rectamente, mas elas, em si mesmas não contêm a felicidade».

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Confiar em Deus, Ele sabe o que é melhor para nós

A Bíblia apresenta-nos Judite como a grande heroína de Israel que encorajou os chefes e o povo de Betúlia a esperarem, incondicionalmente, no Senhor e assim libertou a cidade da morte a que estava votada pelo general Holofernes. Em consequência do cerco, a cidade já estava sem pão nem água; a situação era tão dramática que o povo pediu aos responsáveis para declararem a rendição ao invasor. Diante de tanto desespero, os chefes do povo propõem-lhe esperar ainda cinco dias, a ver se Deus os socorre. É aqui que entra Judite: «Agora, colocais o Senhor todo-poderoso à prova! Mesmo que Ele não queira enviar-nos auxílio durante estes cinco dias, tem poder para nos proteger dos nossos inimigos, em qualquer outro momento que seja do seu agrado. Esperemos pela sua libertação!» Com a força dum profeta, aquela mulher convida a sua gente a manter viva a esperança no Senhor. E aquela esperança foi premiada: Deus salvou Betúlia pela mão de Judite. Com ela, aprendamos a não pôr condições a Deus. Confiar n’Ele significa entrar nos seus desígnios sem nada pretender, aceitando inclusivamente que a sua salvação e o seu auxílio nos cheguem de modo diverso das nossas expectativas. Nós pedimos ao Senhor vida, saúde, amizade, felicidade… E é justo que o façamos; mas na certeza que Deus sabe tirar vida até da morte, que se pode sentir paz mesmo na doença, serenidade mesmo na solidão e felicidade mesmo no pranto. Não podemos ensinar a Deus aquilo que Ele deve fazer, nem aquilo de que temos necessidade. Ele sabe isso melhor do que nós; devemos confiar, porque os seus caminhos e os seus pensamentos são diferentes dos nossos. Por isso, confiemo-nos ao Pai do Céu, como fez Jesus na agonia do Getsémani: «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice; contudo não se faça a minha vontade, mas a tua».

Papa Francisco, Resumo da Audiência Geral de 25 de Janeiro de 2017

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