A última ceia
Jesus sabe bem que caminha para a morte (cf. Mc 10, 32-34). Esta morte, ele não a suporta como uma fatalidade, mas aceita-a em plena liberdade e dá-lhe sentido: faz dela o dom da sua vida (cf. Jo 15, 13).
É no decurso da última ceia, partilhada com os discípulos, que Jesus revela o sentido da sua morte. Toma o pão e o vinho e diz: “isto é o meu corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de mim. (…) Este cálice é a nova aliança estabelecida no meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em memória de mim” (1Cor 11, 24-25). O corpo e o sangue significam a totalidade da pessoa, oferecida aos seus sob uma dupla forma. De um lado, a instituição da Eucaristia; do outro o seu corpo entregue e o seu sangue vertido sobre a cruz pelo perdão dos pecados. Ambos os dons estão ligados um ao outro de modo a fazerem um só. A Eucaristia exprime o sentido que Jesus quis dar à sua morte: ele dá a vida para que nós tenhamos a vida. Mas este dom da vida que Jesus realizou na cruz, este dom pleno do amor divino, é-nos efectivamente comunicado na Eucaristia. Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice (cf. 1Cor 11, 25), recebemos como alimento de vida aquele que realizou a sua Páscoa, aquele que foi “entregue pelas nossas faltas e que ressuscitou para nossa justificação” (Rom 4, 25). Pela celebração da Eucaristia o mistério da cruz e da ressurreição ficará perpetuamente presente e agindo na vida dos crentes. Na ceia, Jesus sela a identidade entre o seu ensinamento e a sua vida, identidade cuja manifestação suprema será a cruz.
Na última ceia Jesus lava os pés aos discípulos. Este gesto de humilde serviço é um anúncio profético do que Jesus vai fazer na cruz. Pelo baptismo da sua paixão e morte, ele vai prestar aos homens o serviço supremo de os lavar, de os purificar pelo seu sangue. Ao realizar este gesto Jesus dá-nos também um exemplo, a fim de que façamos, também nós, como ele fez pelos homens (cf. Jo 13, 15). Aqueles que recebem a Eucaristia são chamados ao amor e ao serviço fraterno, até dar a própria vida pelos irmãos.
Deus ter-nos-ia dado algo maior, se houvesse algo maior que Ele próprio (São João Maria Vianney).