Ano da Fé – XXXVIII

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Os milagres de Jesus – II

Muitos dos nossos contemporâneos consideram que os milagres são incompatíveis com o conhecimento científico da natureza. No máximo estão dispostos a admitir alguns fenómenos excepcionais, como efeito de sugestão ou de outras forças psíquicas e físicas ainda desconhecidas.

Uma desconfiança tão radical não parece justificada. O mundo apresenta-se como um processo evolutivo, sempre aberto a muitas possibilidades, caracterizado pela continuidade e, ao mesmo tempo, pela novidade. Nesta perspectiva, é possível conhecer o milagre como superação criativa de uma dada situação, por virtude divina, valorizando as próprias causas naturais. Não se trata, portanto de uma subversão, mas de uma recomposição da ordem das coisas, quase que uma antecipação da realização definitiva. Quanto à sugestão, não é difícil apercebermo-nos de que se trata de uma explicação insustentável. Nenhuma confiança, por muito grande que seja, pode causar curas instantâneas de graves doenças orgânicas, como a lepra, o cancro ou fracturas ósseas. Sem contar que, por vezes, são curadas pessoas que não estão conscientes ou em estado de coma, são revitalizados mortos ou é transformada a natureza inanimada.

Os milagres ajudam a acreditar de modo racional. Isso mesmo sugeriu o próprio Jesus: “se não credes em Mim, crede nas minhas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em Mim e Eu n’Ele” (Jo 10, 38). Contudo, os milagres não bastam para produzir a fé. É a atracção interior do Pai que a suscita. Nem são só os milagres os eventos salvíficos principais. O verdadeiro pão não é o que foi multiplicado, mas o eucarístico; a verdadeira luz não é a que foi restituída ao cego de nascença, mas a fé baptismal. Os sacramentos prefigurados pelos milagres, são uma comunicação de salvação mais importante.

Um milagre não ocorre contra a Natureza, mas contra o nosso conhecimento da Natureza (Santo Agostinho).

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