Libertos para sermos irmãos
Se Jesus de Nazaré pratica e, ao mesmo tempo, exige o desapego das riquezas, da ambição, dos afectos desordenados, dos preconceitos culturais e religiosos, fá-lo em nome de uma liberdade que se concretiza na comunhão com os irmãos e com Deus. Aqueles que se convertem ao Reino de Deus e obedecem à vontade divina, constituem uma família mais sólida do que a do parentesco fundada em laços de sangue: “Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Aqueles dentre eles que são chamados a deixar trabalho, a casa e a condição de vida comum, não vão acabar sozinhos, mas encontram uma família maior, a comunidade dos discípulos. Esta é a promessa de Jesus: “Quem tiver deixado a casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, os filhos ou campos por minha causa e por causa da Boa Nova, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, juntamente com perseguições e, no tempo futuro, a vida eterna “ (Mc 10, 29-30).
Nem entre os seguidores de Jesus faltam egoísmos e tensões; mas a lei que regula os relacionamentos é a da caridade. Quem decide seguir Jesus, sabe que deve comprometer-se seriamente num modo de vida que prevê serviço mútuo, correcção fraterna, perdão, reconciliação, atenção aos mais fracos.
Esta atitude deve valer em relação a todos, mesmo em relação aos estranhos. Isso mesmo no-lo ensina, com admirável eficácia a parábola do samaritano (cf. Lc 10, 30-37). É preciso carregar todas as pessoas que encontramos, para além de qualquer diferença racial, social e religiosa. É errado interrogar-nos sobre quem é o nosso próximo. Somos nós que nos devemos fazer próximos de quem quer que seja, mesmo de quem é estranho, até dos nossos inimigos. O modelo é o próprio amor de Deus: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36).
Jesus exemplifica o que quer dizer amar, nas palavras do juízo final: “Tive fome e deste-me de comer; tive sede e deste-me de beber; era peregrino e recolheste-me; estava nu e deste-me de vestir; adoeci e visitaste-me; estive na prisão e foste ter comigo” (Mt 25, 35-36). Amar significa, portanto, fazer o bem em concreto, com atenção e criatividade. A medida é o próprio Jesus: “Assim como eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros” (Jo 13, 34).