Libertos da angústia
O Reino de Deus liberta do medo de ser posto de lado pela sociedade e até do temor de perder a vida. Quando ouve dizer que Herodes Antipas quer matá-lo, tal como já fez com João Baptista, Jesus não altera o caminho: “Ide dizer a essa raposa: agora estou a expulsar demónios e a realizar curas hoje e amanhã; ao terceiro dia atinjo o meu termo; mas hoje, amanhã e depois devo seguir o meu caminho” (Lc 13, 32-33).
Os discípulos são chamados a dar provas da mesma coragem. Não têm medo de ser anti-conformistas e diferentes dos outros, de ser insultados e perseguidos. Não se deixam seduzir pelo caminho largo, onde caminha a maioria, ou por falsos mestres, que difundem doutrinas na moda. Renunciam à idolatria do seu eu, põem de lado os medos e os interesses imediatos, dão a vida e aceitam a cruz.
Quem tem Deus por Pai jamais pode sentir-se só. O sofrimento, mesmo o humanamente mais inquietante e difícil de aceitar, adquire um elevado valor e uma misteriosa fecundidade. Jesus afirma-o por meio de duas imagens delicadas e sugestivas: o grão de trigo cai à terra e morre, mas renasce multiplicado; a mulher no momento do parto, geme e grita, mas depois esquece completamente a dor por causa da alegria de ter um filho. Quem adere a Cristo com fé viva e firme, já não está sujeito à obsessão da ansiedade de encontrar seguranças e prazeres, para se sentir vivo. Está disponível para o serviço dos outros, experimenta pessoalmente que o Filho de Deus veio para libertar “aqueles que pelo temor da morte, estavam toda a vida sujeitos à escravidão” (Heb 2, 15).