Ano da Fé – XXV

 TentacaoJesus

As tentações de Jesus no deserto

Depois do baptismo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto (cf. Lc 4, 1) onde foi tentado. Esta tentação tem uma relação directa com a missão que ele recebeu e que tinha sido revelada à beira do Jordão. Segundo Mateus e Lucas, Jesus passa no deserto quarenta dias, que simbolizam os quarenta anos que o povo de Israel passou no deserto do Sinai. A tríplice tentação de Jesus lembra as tentações do povo de Deus durante o Êxodo e à entrada da terra prometida. Recapitulando em si a história do povo eleito, Jesus faz suas as tentações que Israel conheceu e que são fundamentalmente as de qualquer homem. Obedecendo à vontade do Pai e apoiando-se na Escritura, Jesus resiste sem fraqueza e, pela força do Espírito Santo, vence Satanás.

A tentação de Jesus é por excelência aquela de que fala o livro do Génesis: “ser como deuses” (Gen 3, 5”; a tentação do orgulho radical que tem ciúmes de Deus, desejo de referir tudo a si mesmo, de não depender de Deus. Satanás, o tenebroso “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31), apresenta a Jesus uma estratégia triunfalista, um falso messianismo feito de milagres clamorosos, como transformar as pedras em pão, lançar-se do alto do Templo com a certeza de ser salvo, conquistar o domínio político de todas as nações. Jesus rejeita decididamente as tentações. Diz “não” à falsa prosperidade material, porque “nem só de pão vive o homem mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4). Diz “não” à ambígua popularidade obtida através do milagre espectacular, porque não se deve instrumentalizar Deus em função das nossas necessidades de segurança. Diz “não” à ambição do poder temporal, porque a verdadeira libertação do homem nasce do coração. A sua natureza de Filho de Deus manifesta-se não através da posse, na exibição de poder e domínio, mas no serviço humilde, no perdão, no amor, na entrega de si próprio na cruz.

A tentação foi real para Jesus. Ele “foi provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado” (Heb 4, 15). Mesmo mais tarde, irá experimentar a tentação da violência na hora da paixão e será desfiado a descer da cruz para exibir o seu poder.

Diariamente (…) o cristão tem de suportar um combate parecido ao que Cristo aguentou no deserto da Judeia, no qual foi tentado pelo diabo durante quarenta dias…Trata-se de um combate espiritual dirigido contra o pecado e, no fundo, contra Satanás. É um combate que implica toda a pessoa e exige uma constante e atenta vigilância (Bento XVI).

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