As tentações de Jesus no deserto
Depois do baptismo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto (cf. Lc 4, 1) onde foi tentado. Esta tentação tem uma relação directa com a missão que ele recebeu e que tinha sido revelada à beira do Jordão. Segundo Mateus e Lucas, Jesus passa no deserto quarenta dias, que simbolizam os quarenta anos que o povo de Israel passou no deserto do Sinai. A tríplice tentação de Jesus lembra as tentações do povo de Deus durante o Êxodo e à entrada da terra prometida. Recapitulando em si a história do povo eleito, Jesus faz suas as tentações que Israel conheceu e que são fundamentalmente as de qualquer homem. Obedecendo à vontade do Pai e apoiando-se na Escritura, Jesus resiste sem fraqueza e, pela força do Espírito Santo, vence Satanás.
A tentação de Jesus é por excelência aquela de que fala o livro do Génesis: “ser como deuses” (Gen 3, 5”; a tentação do orgulho radical que tem ciúmes de Deus, desejo de referir tudo a si mesmo, de não depender de Deus. Satanás, o tenebroso “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31), apresenta a Jesus uma estratégia triunfalista, um falso messianismo feito de milagres clamorosos, como transformar as pedras em pão, lançar-se do alto do Templo com a certeza de ser salvo, conquistar o domínio político de todas as nações. Jesus rejeita decididamente as tentações. Diz “não” à falsa prosperidade material, porque “nem só de pão vive o homem mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4). Diz “não” à ambígua popularidade obtida através do milagre espectacular, porque não se deve instrumentalizar Deus em função das nossas necessidades de segurança. Diz “não” à ambição do poder temporal, porque a verdadeira libertação do homem nasce do coração. A sua natureza de Filho de Deus manifesta-se não através da posse, na exibição de poder e domínio, mas no serviço humilde, no perdão, no amor, na entrega de si próprio na cruz.
A tentação foi real para Jesus. Ele “foi provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado” (Heb 4, 15). Mesmo mais tarde, irá experimentar a tentação da violência na hora da paixão e será desfiado a descer da cruz para exibir o seu poder.
Diariamente (…) o cristão tem de suportar um combate parecido ao que Cristo aguentou no deserto da Judeia, no qual foi tentado pelo diabo durante quarenta dias…Trata-se de um combate espiritual dirigido contra o pecado e, no fundo, contra Satanás. É um combate que implica toda a pessoa e exige uma constante e atenta vigilância (Bento XVI).