O pecado original
No Antigo Testamento o texto sobre a queda de Adão não encontra eco senão no livro da Sabedoria: «Por inveja do diabo é que a morte entrou no mundo, e hão-de prová-la os que pertencem ao diabo» (Sab 2, 24). Em compensação, o pecado original ocupa um lugar capital no ensinamento de São Paulo «Por um só homem, Adão, o pecado entrou no mundo, e pelo pecado a morte» (Rm 5, 12). É assim que o apóstolo resume o conteúdo da narração do livro do Génesis. Pela sua transgressão – afirmará, por seu turno o Concílio de Trento – , Adão «perdeu a santidade e a justiça em que tinha sido constituído». A harmonia, na qual ele se encontrava com Deus, consigo mesmo e com o mundo, foi perdida, assim como o dom da imortalidade. A humanidade é afectada por este pecado de origem, que se situa na história, nas origens da história humana; cada um de nós é atingido e marcado por ele, pelo simples facto de pertencer à família humana. Pelo pecado original a natureza humana foi gravemente ferida, mas não totalmente corrompida. A imagem de Deus ficou embaciada – como aliás sempre acontece quando pecamos – mas não foi nem será nunca destruída.
Acerca do pecado original, diz Bento XVI que se deve compreender «que todos carregamos dentro de nós uma gota do veneno daquela forma de pensar que nos é ilustrada nas imagens do livro do Génesis. (…) O ser humano não confia em Deus. Seduzido pelas palavras da serpente, levanta a suspeita de que Deus é um adversário que (…) restringe a nossa liberdade e de que só seremos verdadeiramente humanos quando pusermos Deus de parte. (…) O ser humano não quer receber de Deus a existência e a plenitude da sua vida. (…) E, na medida em que o faz, confia na mentira em vez da verdade e precipita a sua vida no vazio, na morte».
O mais grave não é cometer crimes, é não fazer o bem que poderia ter sido feito. É o pecado de omissão, que é nada mais que o não-amor; mas ninguém se queixa dele (Léon Bloy).