O que fizeste hoje de bom por alguém?

Há muita gente que se acha boa pensando: “Mas que mal é que eu faço, se não mato, nem roubo, nem minto?” E com isso pensa ter direito à tranquilidade de consciência. Ora há muitos pecados de omissão! Que fiz eu hoje de bom, de gratuito, por alguém? Aliás, a melhor maneira de evitar o mal é fazer o bem.

Vasco P. Magalhães, sj

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13º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Segue-me” (Lc 9, 59)

Seguir Jesus é o coração da vida cristã. Jesus procura seguidores comprometidos, que o sigam sem reservas, renunciando a falsas seguranças. Vejamos três propostas de seguimento que o Evangelho deste 13º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos apresenta.

Primeira. Alguém disse: “Seguir-te-ei aonde quer que vás”. O discípulo que quer seguir Jesus deve imprimir na mente e no coração o seguinte: Jesus não tem nada, nem sequer uma pedra para reclinar a cabeça. As raposas e os pássaros levam-lhe vantagem pois têm tocas e ninhos. Eis a pobreza absoluta de Jesus! Efectivamente, Jesus deixou a casa paterna e renunciou a toda e qualquer segurança para anunciar o Reino de Deus às ovelhas perdidas do seu povo. Deste modo, Jesus indica-nos a nós, seus discípulos, e à sua Igreja, que a nossa missão é a de levar o Evangelho pelos caminhos do mundo e não ficar sedentarizados e instalados no comodismo.

Segunda. Jesus diz a alguém: “Segue-me!”. A pessoa convidada está disposta a seguir Jesus mas somente pede isto: “Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai”. Trata-se de um pedido legítimo, fundado no mandamento de honrar pai e mãe. A resposta de Jesus é dura: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; tu vai a anunciar o Reino de Deus”. Com estas palavras, propositadamente provocatórias, Jesus quer afirmar o primado do seguimento e do anúncio do Reino de Deus, mesmo sobre as realidades mais importantes, como a família. A urgência de comunicar o Evangelho, que rompe a cadeia da morte e inaugura a vida eterna, não admite atrasos, mas requer prontidão e total disponibilidade.

Terceira. “Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família”. Novamente a resposta de Jesus é dura e radical: “Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus”. Não é possível seguir Jesus olhando para trás. Trabalhar no projecto do Pai requer dedicação total, confiança no futuro de Deus e audácia para caminhar atrás dos passos de Jesus.

Logo no início do Evangelho faz-se referência à rejeição de Jesus por parte dos habitantes de uma aldeia da Samaria, tal como já tinha acontecido no início da sua vida pública, na sinagoga de Nazaré. Que fique bem gravado e clarificado: “Se me perseguiram a mim, perseguir-vos-ão também a vós” (João 15,20).

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Solenidade do Sagrado Coração de Jesus – 28 de Junho

Pode dizer-se que a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus tem as suas raízes, nos tempos modernos, em Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), que, em tempos duros marcados pelo jansenismo, que apresentava um Deus frio e distante, que infundia temor, ousou proclamar a misericórdia do Coração de Jesus, onde os pecadores podiam encontrar o seu abrigo seguro. Foi-lhe confiada por Jesus a mensagem sobre a devoção das primeiras sextas-feiras. Abandona-te, como criança nos braços da mamã, à divina vontade de Deus e, de olhos fechados a quanto te rodeia, repousa no Coração Adorável de Jesus… cala, escuta e espera!!!” (Beata Elias de S. Clemente).

“Desde que me foi dado compreender o amor do Coração de Jesus confesso que Ele afastou todo o temor do meu coração. A recordação das minhas faltas humilha-me e leva-me a jamais a apoiar-me na minha força, que só é debilidade. Ainda mais: esta recordação fala-me da misericórdia e do amor. Quando alguém atira as suas faltas com filial confiança para o braseiro devorador do amor, como não poderiam ser consumidas sem remissão?” (Santa Teresinha do Menino Jesus).

Pensamentos de Santa Margarida Maria Alacoque sobre o Sagrado Coração de Jesus

– Nunca desconfieis da misericórdia do Sagrado Coração, que é infinitamente maior que todas as nossas misérias.

– O Sagrado Coração quer reinar no coração do mundo inteiro porque todos lhe foram dados por herança.

– O maior testemunho de amor que podemos dar ao Sagrado Coração e a melhor reparação que lhe podemos oferecer é unirmo-nos a Ele, muitas vezes, pela comunhão sacramental e desejarmos ardentemente essa união pela comunhão espiritual.

– Todos podemos ser apóstolos do Sagrado Coração, porque temos corpos capazes de sofrer e trabalhar, e corações para amar e orar.

Preces

Oremos, irmãos, a Jesus Cristo, descanso das almas, e peçamos-Lhe: Rei de bondade, tende compaixão de nós.

– Jesus Cristo, trespassado pela lança, que do vosso Coração aberto, ao brotar sangue e água, fizestes nascer a Igreja, vossa Esposa, tornai-a santa e imaculada. Rei de bondade, tende compaixão de nós.

– Jesus Cristo, nossa paz e reconciliação, que, morrendo na cruz, vencestes o ódio para fazer de todos nós um homem novo, abri-nos o caminho para o Pai. Rei de bondade, tende compaixão de nós.

– Jesus Cristo, nossa vida e ressurreição, conforto e descanso dos corações atribulados, atraí a Vós os pecadores. Rei de bondade, tende compaixão de nós.

– Jesus Cristo, obediente até à morte na cruz por causa da vossa infinita caridade para connosco, ressuscitai todos os que adormeceram na vossa paz. Rei de bondade, tende compaixão de nós.

Pai nosso

Oração

Sagrado Coração de Jesus, fazei o nosso coração semelhante ao vosso, neste dia belo e luminoso em que consagramos ao vosso Coração para sempre aberto a Igreja inteira e o mundo inteiro, sobretudo os que se afastaram de Ti, os doentes e desanimados, as famílias desavindas, as crianças abandonadas, os marginalizados e descartados, os que fogem de situações de guerra ou de miséria, e os que andam à procura de um abrigo, de uma mão carinhosa e de um coração aberto e acolhedor.

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Educar para as virtudes

Temos de educar para as virtudes e elas são muitas. A pessoa sem fortaleza está vencida à partida. A pessoa sem temperança é escravizada, vai atrás de tudo, não tem liberdade interior nem consciência crítica. Uma pessoa sem sentido de justiça ou se torna uma realidade amorfa ou muito facilmente salta para a violência. E a prudência que é discernimento? Sem ela não sabemos encontrar o sentido e a medida das coisas, vê-las em profundidade, e andamos perdidos e desorientados.

Vasco P. Magalhães, sj

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São João Baptista – 24 de Junho

Solenidade do nascimento de São João Baptista

João Baptista é o único santo, com a Virgem Maria, de quem a Liturgia celebra o nascimento para a terra. Isso deve-se certamente, à missão única, que, na História da Salvação, foi confiada a este homem, santificado, no seio de sua mãe, pela presença do Salvador, que mais tarde, dele fará um belo elogio (Lc. 7, 28). Anel de ligação entre a Antiga e a Nova Aliança, João foi acima de tudo, o enviado de Deus, uma testemunha fiel da Luz, aquele que anunciou Cristo e o apresentou ao mundo. Profeta por excelência, a ponto de não ser senão uma «Voz» de Deus, ele é o Precursor imediato de Cristo: vai à Sua frente, apontando, com a sua palavra e com o exemplo da sua vida, as condições necessários para se conseguir a Salvação.

Prefácio da missa da solenidade do nascimento de São João Baptista

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação  dar-Vos graças, sempre e em toda a parte,  por Cristo nosso Senhor.  Ao celebrarmos hoje a glória do Precursor, São João Baptista, proclamado o maior entre os filhos dos homens, anunciamos as vossas maravilhas:  antes de nascer, ele exultou de alegria, sentindo a presença do Salvador;  quando veio ao mundo, muitos se alegraram pelo seu nascimento; foi ele, entre todos os Profetas,  que mostrou o Cordeiro que tira o pecado do mundo; nas águas do Jordão, ele baptizou o autor do Baptismo e desde então a água viva tem poder de santificar os crentes; por fim deu o mais belo testemunho de Cristo, derramando por Ele o seu sangue. 

Por isso, com os Anjos e os Santos no Céu, proclamamos na terra a vossa glória, cantando numa só voz: Santo, Santo, Santo…

Preces

Invoquemos a Cristo, que enviou João Baptista, o Precursor, à sua frente, a preparar os seus caminhos, e digamos confiadamente: Cristo, Sol nascente, iluminai os nossos caminhos.

Vós fizestes João Baptista exultar de alegria no seio de Isabel, sua mãe: fazei que nos alegremos sempre com a vossa vinda a este mundo. Cristo, Sol nascente, iluminai os nossos caminhos.

Pela boca e pela vida de João Baptista, Vós nos indicastes o caminho da penitência: convertei os nossos corações aos mandamentos do vosso reino. Cristo, Sol nascente, iluminai os nossos caminhos.

Vós quisestes ser anunciado pela boca dos homens: enviai a todo o mundo mensageiros do vosso Evangelho. Cristo, Sol nascente, iluminai os nossos caminhos.

Vós quisestes ser baptizado por João Baptista no rio Jordão, para que se cumprisse toda a justiça: fazei que trabalhemos sempre pela justiça do vosso reino. Cristo, Sol nascente, iluminai os nossos caminhos.

Pai nosso

Oração 

Senhor, que enviastes São João Baptista a preparar o vosso povo para a vinda do Messias, concedei à vossa família o dom da alegria espiritual e guiai o coração dos fiéis no caminho da salvação e da paz. Por Nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amen.

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12º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» (Lc 9, 18)

O Evangelho do 12º Domingo do Tempo Comum (Ano C), começa por nos apresentar Jesus a rezar sozinho, o que acontece imensas vezes no Evangelho de Lucas, que é, por isso, também chamado «Evangelho da oração». Informa-nos o narrador, que os seus discípulos estavam com Ele. Estar com Ele é o «lugar feliz» do discípulo de todos os tempos.

Também ficamos a saber, pela informação dos discípulos de então, que as multidões dizem Jesus com o passado, alinhando-o com as figuras do passado (João Baptista, Elias, um antigo profeta redivivo), não contendo, portanto, nada de substancialmente novo. Em contraponto com as multidões, Pedro avança um dizer novo, diz que Jesus é o Cristo de Deus, sem, todavia, com este dizer, renovar a sua vida, sem fixar n’Ele os olhos e o coração.

É Jesus, e só podia ser Jesus, que se auto-apresenta aos seus discípulos de ontem e de hoje, como tendo de sofrer, ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. Aí está o transpassado, desfigurado, transfigurado, fonte única de água viva para nós, fonte da nossa vida. Dizemos, na verdade, muitas coisas. Mas é necessário ouvir Jesus dizer. Porque só Ele se diz e nos diz.

«Dizia Ele a todos: “Se alguém quer vir atrás de mim, diga não a si mesmo, e tome a sua cruz todos os dias, e siga-me”» (Lucas 9,23). O dizer de Jesus, o seu ensinamento novo, não é para elites, para alguns iluminados. É para todos. Entenda-se que a escola de Jesus está aberta a todos, ricos e pobres, maus e bons, especialistas e ignorantes. Ainda bem, portanto, que Jesus diz para todos, e todos devemos estar sentados e atentos na sua escola. A vida cristã, que consiste em seguir Jesus, é coisa quotidiana, de todos os dias. Lucas é mesmo o único Evangelista que regista a necessidade de tomar a cruz todos os dias. Não é só para alguns dias de festa. Não pode ter pausas.

Dizer não a si mesmo é pensar ao contrário do que estamos habituados a fazer. Pensamos sempre primeiro em nós, em salvar-nos a nós mesmos. E para nos salvarmos a nós mesmos, pensamos nós, temos de nos antecipar aos outros, ser mais espertos do que os outros, passar à frente dos outros. Exactamente o contrário de Jesus, que não quis salvar-se a si mesmo. Quis salvar-nos a nós, pôr-se ao nosso serviço, fazer-se fonte de água viva para nós. Todavia, se se tivesse salvo a si mesmo, não nos salvava a nós! Estamos, portanto, perante a lógica nova do «quem perde, ganha», que é o jogo novo do cristianismo.

Não se pode ser cristão, discípulo de Jesus, seguir Jesus, dizer Jesus, sem dar a vida. O discípulo de Jesus, à maneira de Jesus, tem de pôr em jogo a própria vida. Tudo, e não apenas o supérfluo. O dom de si mesmo transforma a vida para sempre.

António Couto (resumo)

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A Eucaristia faz amadurecer o nosso estilo de vida cristã

Todas as vezes que participamos na Santa Missa e nos alimentamos do Corpo de Cristo, a presença de Jesus e do Espírito Santo age em nós , plasma o nosso coração, comunica-nos atitudes interiores que se traduzem em comportamentos segundo o Evangelho. Antes de tudo a docilidade à Palavra de Deus, depois a fraternidade entre nós, a coragem do testemunho cristão, a fantasia da caridade, a capacidade de dar esperança aos desencorajados, de acolher os excluídos. Deste modo a Eucaristia faz amadurecer o nosso estilo de vida cristã. A caridade de Cristo, acolhida com o coração aberto, muda-nos, transforma-nos, torna-nos capazes de amar não segundo a medida humana, sempre limitada, mas segundo a medida de Deus. E qual é a medida de Deus? Sem medida! A medida de Deus é sem medida. Tudo! Tudo! Não se pode medir o amor de Deus: é sem medida! 

Papa Francisco, Angelus, 22 de Junho de 2014

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Na Eucaristia Cristo transforma-nos em si

Portanto, enquanto o alimento corporal é assimilado pelo nosso organismo e contribui para o seu sustento, no caso da Eucaristia trata-se de um Pão diferente: não somos nós que o assimilamos, mas é ele que nos assimila a si, de tal modo que nos tornamos conformes com Jesus Cristo, membros do seu corpo, um só com Ele. Esta passagem é decisiva. Com efeito, precisamente porque é Cristo que, na comunhão eucarística, nos transforma em si, neste encontro a nossa individualidade é aberta, libertada do seu egocentrismo e inserida na Pessoa de Jesus, que por sua vez está imersa na comunhão trinitária. Assim a Eucaristia, enquanto nos une a Cristo, abre-nos também aos outros, tornando-nos membros uns dos outros: já não estamos divididos, mas somos um só nele. A comunhão eucarística une-me à pessoa que está ao meu lado e com a qual, talvez, eu nem sequer tenho um bom relacionamento, mas também aos irmãos distantes, em todas as regiões do mundo.

Bento XVI, Homilia, 7 de Junho de 2012

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Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Se olharmos ao nosso redor, damo-nos conta de que existem muitas ofertas de alimento que não derivam do Senhor e que aparentemente satisfazem em maior medida. Alguns nutrem-se de dinheiro, outros de sucesso e de vaidade, outros ainda de poder e de orgulho. Mas o único alimento que nos nutre verdadeiramente e que nos sacia é aquele que o Senhor nos concede! O alimento que o Senhor nos oferece é diferente dos demais, e talvez não nos pareça tão saboroso como determinadas comidas que o mundo nos oferece. Então, sonhamos outras refeições, como os hebreus no deserto, que tinham saudades da carne e das cebolas que comiam quando estavam no Egipto, esquecendo-se contudo que comiam aqueles pratos na mesa da escravidão. Naqueles momentos de tentação, eles recuperavam a memória, mas uma memória doentia, uma memória selectiva. Uma memória escrava, não livre.

Hoje, cada um de nós pode perguntar-se: e eu? Onde quero comer? De que mesa me desejo alimentar? Na mesa do Senhor? Ou então sonho em comer alimentos saborosos, mas na escravidão?

Papa Francisco, Homilia, 19 de Junho de 2014

ORAÇÃO  

Senhor Jesus Cristo, que neste admirável sacramento nos deixastes o memorial da vossa paixão, concedei-nos a graça de venerar de tal modo os mistérios do vosso Corpo e Sangue que sintamos continuamente os frutos da vossa redenção. Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo. Amen.

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Resumo da mensagem final da reunião dos Conselhos Gerais O. Carm. e O.C.D.

Somos missão porque somos o amor de Deus comunicado”

De três em três anos, os dois Conselhos Gerais dos frades O. Carm. e O.C.D. reunimo-nos para reflectir sobre diversos temas relacionados com o nosso carisma e missão na Igreja. Este ano, juntámo-nos em Gort Muire, a casa provincial da Província irlandesa dos Carmelitas (O. Carm.), localizada em Dublin, Irlanda, para reflectir sobre o tema “Baptizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”.

Neste contexto, reflectimos sobre um texto do discurso do Papa Francisco contido em “Baptizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”. O Papa Francisco recorda-nos que a missão está enraízada no baptismo e é um chamamento dirigido a todo o baptizado. O discurso do Papa Francisco transforma a nossa compreensão da missão. Tendemos a entender a missão principalmente como pregar, construir escolas, hospitais, serviços sociais e desenvolver actividades caritativas. Se bem que estas iniciativas e actividades missionárias são importantes, o Papa Francisco convida-nos a ver a missão desde uma perspectiva mais profunda e mais ampla: “SOMOS missão porque somos o amor de Deus comunicado, somos santidade de Deus criada à sua própria imagem”.

A missão não é principalmente o que fazemos mas o que somos. Essencialmente é uma questão de ser mais do que fazer. Flui do nosso encontro pessoal com Jesus Cristo, que nos chama a estar com ele e a acompanhá-lo na sua missão no mundo. Somente a partir desta nossa intimidade com Jesus Cristo, descobrindo que nos ama incondicionalmente, poderemos crescer numa conversão contínua e ser missão no nosso mundo. Visto desta maneira, o nosso chamamento a ser missão acontece onde vivemos, quando damos testemunho de amor, na nossa comunidade, família paróquia e entre os vizinhos. É um chamamento a crescer na santidade expressa através de acções amorosas da vida quotidiana.

Neste sentido, recordamos dois santos missionários carmelitas: Santa Teresa do Menino Jesus e o Beato Tito Brandsma. Ambos dão testemunho do que significa ser missão no contexto da sua vida e do seu tempo.

Apesar de Santa Teresa do Menino Jesus nunca ter saído do recinto do seu Carmelo, foi proclamada padroeira universal das missões juntamente com São Francisco Xavier em 14 de Dezembro de 1927. Santa Teresa tinha um coração missionário. Nos seus “Manuscritos autobiográficos” diz-nos que teria gostado “ser missionária não só por alguns anos mas desde o princípio da criação até à consumação dos tempos”.

Limitada pelas paredes do Carmelo, viveu o seu zelo missionário no mosteiro. Descobriu a sua vocação de ser “amor no coração da Igreja”; quer dizer, fazer do amor de Jesus Cristo o centro da sua vida e expressar o seu amor por ele concretamente nas pequenas acções da vida diária e em todas as suas relações. Ela acreditava que o amor é eterno; que transcende os limites físicos, o espaço e o tempo, e tem um poder transformador para curar e converter os corações. Estava convencida de que quanto mais amor haja no coração da Igreja, mais amor haverá em todos os membros da Igreja e no mundo. A prática do amor produz frutos para toda a Igreja e para o mundo. Neste sentido, todos os baptizados são chamados a ser “amor no coração da Igreja” e fazer do amor a força motivadora das nossas vidas. Desta maneira convertemo-nos em missão na Igreja e no nosso mundo.

O Beato Tito Brandsma, que morreu no campo de concentração de Dachau em 1942, também tinha um coração missionário. Desde jovem frade ainda em período de formação, Tito desejou ser enviado como missionário para anunciar o Evangelho a todos os povos. Contudo, a falta de saúde impediu-o de realizar o seu sonho. Deus enviou Tito a um território de missão que ele próprio nunca teria escolhido: os campos de concentração nazis. Em 1942 foi deportado para o campo de concentração de Dachau. Ali converteu-se em missionário através da sua oração, da sua confiança em Deus no meio do terrível sofrimento, ao consolar as aflições dos seus companheiros de prisão e ao negar-se a odiar os nazis. Tito acreditava que “a oração não é um oásis no deserto da vida; é toda a vida”. Esta bela afirmação revela a fonte da sua fortaleza para levar a cabo as suas actividades apostólicas, para dar testemunho da Verdade e para suportar com paciência a pobreza, o sofrimento e a brutalidade dos campos de concentração e para perdoar aos seus inimigos. Num discurso pronunciado em 1941, Tito disse: “A nossa vocação e a nossa felicidade consiste em fazer felizes os outros”. Talvez estas palavras, assim como as palavras de Jesus que significaram tanto para o Beato Tito, “a paz vos deixo, a minha paz vos dou”, resumem o seu espírito missionário e o que significa ser missão na Igreja e no mundo.

Ser missionários no nosso tempo implica fazer a nós próprios a seguinte pergunta: “Como podemos, como carmelitas, responder aos desafios que o nosso mundo e as nossas Igrejas enfrentam neste século XXI?”. Devemos esforçar-nos por ser: a) homens e mulheres autênticos de oração; b) viver uma vida comunitária evangélica, abertos ao diálogo e construindo relações nos lugares onde vivemos e servimos; c) que os nossos ministérios sejam proféticos. Reconhecemos que está a surgir uma nova realidade na Igreja: sinodal, dialógica, colaborativa, inclusiva e responsável. Isto requer discernimento, formação e conversão contínua.

Nós carmelitas SOMOS missão. Damo-nos conta, mais uma vez, das riquezas da nossa herança carmelita e, a partir da fonte do nosso carisma, desejamos responder às necessidades e desafios presentes no nosso mundo e na nossa Igreja.

Como sempre, confiamos na intercessão e na presença de Maria, Rainha e Formosura do Carmelo, cujo coração missionário a impulsionou depois da Anunciação a levar à sua prima Isabel a alegria da salvação de Deus em Jesus Cristo. Oramos para que nos acompanhe nos nossos esforços para ser missão na nossa Igreja e no nosso mundo.

Dublin (Irlanda), 31 de Maio de 2019

Conselhos Gerais O. Carm. e O.C.D.

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