A esperança

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Existe um modo simples de definir os cristãos: são homens e mulheres que têm esperança. Esta é a sua característica fundamental. Santo Agostinho já dizia que “esperar por Deus significa tê-lo” e o poeta Charles Péguy recordava-nos que a esperança é “a fé que Deus ama”. Os cristãos não pretendem conhecer o futuro do mundo melhor que os outros. Vivendo, dia-a-dia, a marcha do mundo, também nós nos debatemos entre a inquietude e a resignação. Somente Deus é a nossa esperança.

O Futuro final do mundo é Deus. Quer saibamos ou não, estamos colocados diante d’Ele. A história encaminha-se para o seu encontro. No final, todo o finito morre em Deus, e em Deus alcança a sua verdade última. Deus é o final misterioso do mundo: Deus encontrado para sempre é o “céu”; Deus perdido para sempre é o “inferno”; Deus como verdade última é o “juízo”. Isto que pode fazer alguns sorrirem é para aquele que crê a força mais real para manter a Esperança.

J. A. Pagola

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Comemoração dos fiéis defuntos. A vida eterna

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Depois da ressurreição dos mortos, o Credo proclama a fé na vida eterna ou na vida do mundo que há-de vir. “Nesta santa Igreja Católica, instruídos pelos ensinamentos e leis de salvação, alcançaremos o reino dos Céus e teremos como herança a vida eterna; e para a podermos alcançar do Senhor, estamos dispostos a tudo suportar neste mundo. Não é pouco o que esperamos; a finalidade da nossa luta é alcançar a vida eterna. Por isso, na profissão de fé aprendemos que depois do artigo: (Creio) na ressurreição da carne, isto é, dos mortos, devemos acreditar também na vida eterna, que é a esperança dos cristãos em todos os combates.

Por conseguinte, a vida verdadeira e autêntica é o Pai que, como uma fonte, derrama sobre nós todos os seus dons celestes, por intermédio do Filho, no Espírito Santo. É a sua bondade infinita que comunica aos homens os bens verdadeiros da vida eterna” (São Cirilo de Jerusalém).

Esta vida eterna é a continuidade e a expansão da nossa vida de união com Cristo a partir da terra (cf. Jo 17, 3) e na sua plenitude consiste em ver a Deus “tal como Ele é” (1Jo 3, 2), na plena participação da vida trinitária. É vida intensa, tal como é intensa a vida do próprio Deus, em que “Deus será tudo em todas as coisas” (1Cor 15, 28).

Nós possuímos desde já as primícias desta vida cuja plenitude está prometida para o lado de lá da morte, como canta um dos prefácios da missa de Domingo: “Durante a nossa vida terrena, sentimos cada dia os efeitos da vossa bondade e possuímos desde já o penhor da vida futura; tendo recebido as primícias do Espírito, pelo qual ressuscitaste Jesus Cristo de entre os mortos, vivemos na esperança da Páscoa eterna”.

Esta fé e esperança não deixa de ter consequências sobre a maneira de viver e de enfrentar a morte. A liturgia exprime-se assim a este propósito: “Para os que crêem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma; e desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna” (Prefácio da Missa dos Defuntos). Morrer cristãmente, para aquele que vê vir a morte, leva-o a abandonar-se confiadamente à misericórdia de Deus. A oração da Igreja encoraja-nos a que nos preparemos para a hora da nossa morte: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte”.

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Crer no céu

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Na festa cristã de Todos os Santos, quero dizer como entendo e trato de viver algumas características da minha fé na vida eterna. Quem conhece e segue Jesus Cristo compreender-me-á.

Crer no céu é, para mim, resistir a aceitar que a vida de todos e de cada um de nós é somente um pequeno parêntesis entre dois imensos vazios. Apoiando-me em Jesus, intuo, pressinto, desejo e creio que Deus está a conduzir para a sua verdadeira plenitude o desejo de vida, de justiça e de paz que se encerra na criação e no coração da humanidade.

Crer no céu é, para mim, rebelar-me com todas as minhas forças que ficará enterrada e esquecida para sempre essa imensa maioria de homens, mulheres e crianças que somente conheceram, nesta vida, a miséria, a fome, a humilhação e os sofrimentos. Confiando em Jesus, creio numa vida onde já não haverá pobreza nem dor, ninguém estará triste, ninguém terá de chorar. Finalmente, poderei ver aqueles que vêm em barcos chegar à sua verdadeira pátria.

Crer no céu é, para mim, aproximar-me com esperança de tantas pessoas sem saúde, enfermos crónicos, deficientes físicos e mentais, pessoas mergulhadas na depressão e angústia, cansadas de viver e de lutar. Seguindo Jesus, creio que, um dia, conhecerão o que é viver com paz e saúde total. Escutarão as palavras do Pai: “Entra para sempre na alegria do teu Senhor”.

Não me resigno a aceitar que Deus seja, para sempre, um “Deus oculto”, do qual não podemos conhecer jamais o seu olhar, a sua ternura e os seus abraços. Não posso aceitar a ideia de nunca me encontrar com Jesus. Não me resigno a que tantos esforços por um mundo mais humano e feliz se percam no vazio. Quero que um dia os últimos sejam os primeiros e que as prostitutas nos precedam. Quero conhecer os verdadeiros santos de todas as religiões e de todos os ateísmos, aqueles que viveram amando no anonimato, sem esperar nada.

Um dia poderemos escutar estas incríveis palavras que o Apocalipse põe na boca de Deus: «Para aquele que tem sede, eu darei de beber gratuitamente da fonte da vida». Grátis! Sem merecê-lo. Assim Deus saciará a sede de vida que há em nós.

J. A. Pagola

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Solenidade de Todos os Santos

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 5, 1-12)

Naquele tempo,ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

O santo: “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20)

Nas Audiências gerais destes últimos dois anos acompanharam-nos as figuras de tantos Santos e Santas: aprendemos a conhecê-los mais de perto e a compreender que toda a história da Igreja está marcada por estes homens e mulheres que com a sua fé, caridade, e com a sua vida foram faróis para tantas gerações, e são-no também para nós. Os Santos manifestam de diversas formas a presença poderosa e transformadora do Ressuscitado; deixaram que Cristo se apoderasse tão plenamente da sua vida que puderam afirmar com São Paulo: «já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20). Seguir o seu exemplo, recorrer à sua intercessão, entrar em comunhão com eles, «une-nos a Cristo, do qual, como da Fonte e da Cabeça, promana toda a graça e toda a vida do próprio Povo de Deus» (Con. Ec. Vat. II, Const. Dogm. Lumen gentium, 50). No final desta série de catequeses, gostaria então de oferecer alguns pensamentos sobre o que é a santidade.

Que significa ser santos? Quem é chamado a ser santo? Com frequência somos levados a pensar ainda que a santidade é uma meta reservada a poucos eleitos. São Paulo, ao contrário, fala do grande desígnio de Deus e afirma: «N’Ele – Cristo – (Deus) escolheu-nos antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados diante d’Ele na caridade» (Ef 1, 4). E fala de todos nós. No centro do desígnio divino está Cristo. No qual Deus mostra o seu Rosto: o Mistério escondido nos séculos revelou-se em plenitude no Verbo que se fez homem. E Paulo depois diz: «De facto, aprouve a Deus que n’Ele habite toda a plenitude» (Cl 1, 19). Em Cristo o Deus vivente tornou-se próximo, visível, audível, palpável para que todos possam beneficiar da sua plenitude de graça e de verdade (cf. Jo 1, 14-16). Por isso, toda a existência cristã conhece uma única lei suprema, aquela que São Paulo expressa numa fórmula que recorre em todos os seus escritos: em Cristo Jesus. A santidade, a plenitude da vida cristã não consiste em realizar empreendimentos extraordinários, mas em unir-se a Cristo, em viver os seus mistérios, em fazer nossas as suas atitudes, pensamentos e comportamentos. A medida da santidade é dada pela estatura que Cristo alcança em nós, desde quando, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida sobre a sua. É ser conformes com Jesus, como afirma são Paulo: «Aqueles que ele conheceu desde sempre, predestinou-os para serem conformes com a imagem do seu Filho» (Rm 8, 29). E Santo Agostinho exclama: «Será viva a minha vida toda repleta de Ti» (Confissões, 10, 28). O Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a Igreja, fala com clareza da chamada universal à santidade, afirmando que ninguém é excluído dela: «Nos vários géneros de vida e nas várias formas profissionais é praticada uma única santidade por todos os que são movidos pelo Espírito de Deus e… seguem Cristo pobre, humilde e carregando a cruz, para merecer ser partícipes da sua glória» (nº 41).

Bento XVI

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O amor de Deus torna-nos dignos

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A moral cristã afirma que eu sou amado antes mesmo de fazer algo, seja bom ou não. Não posso comprar o amor de Deus. Não o posso ganhar. Não posso dar nada em troca. Eu não tenho que acalmar Deus para que Ele me ame. Deus ama-me na vida, e continuará a amar-me ao longo da minha vida. Não posso afastar o seu amor de mim. Pode ser que não acredite nele, pode ser que eu o rejeite, mas Deus não anda longe. Deus “está sempre lá” (…).

Teresa conta que nos primeiros 18 anos da sua vida (no convento) da Encarnação estava perdida. Quando estava com as coisas de Deus, queria estar com as coisas do mundo. Ao contrário, quando estava com as coisas do mundo, queria estar com as coisas de Deus.

Por “mundo”, acredito que Teresa entendia que continuava metida nas noticias de Ávila através das conversas que mantinha no locutório e através de outros meios de comunicação. Por “coisas de Deus” queria dizer que trabalhava arduamente para que a considerassem no convento uma monja observante.

Um dia, quando estava diante de uma estátua de Cristo “muito chagado”, um “Ecce Homo”, que levaram para o convento, Teresa caiu de joelhos e disse que não se levantaria até que ficasse curada. O encontro com Cristo “muito chagado” curou-a. Pôs-se de pé, livre de indecisões e, pouco tempo depois, começou a planear a reforma do Carmelo.

Teresa não disse o que exactamente foi curado, mas podemos supor o que lhe aconteceu conhecendo as nossas próprias necessidades. Talvez a nossa pergunta mais profunda seja: Somos amados? Somos essencialmente bons? O que temos que realmente mereça a pena? Qual é o nosso valor? Teresa deu-se conta do que tinha vindo a pedir à sociedade, aos que viviam ao seu redor, e à própria vida religiosa: que a valorizassem e a reconhecessem. Estava a tentar ser reconhecida pela sociedade, que a considerassem uma boa religiosa. Procurou ser reconhecida desde fora.

Neste encontro com “Cristo chagado”, talvez se tenha dado conta de que as aquelas feridas eram por amor a ela. Não tinha que demonstrar aos que a rodeavam que era adorável e digna. Teresa percebeu que tinha um imenso valor e dignidade, simplesmente porque Deus a amava. A sua dignidade vinha de Deus que estava no centro da sua vida.

John Welch, O. Carm.

 

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A oração conduz à missão

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Precisamente porque é mãe de portas abertas, a Igreja sempre está em caminho para os homens para levar-lhes aquela «água viva» (cf. Jo 4,10) que rega o horto do seu coração sedento. A santa escritora e mestra de oração foi ao mesmo tempo fundadora e missionária pelos caminhos de Espanha. A sua experiência mística não a separou do mundo nem das preocupações das pessoas. Pelo contrário, deu-lhe novo impulso e coragem para a acção e para os deveres de cada dia, porque também «entre as panelas anda o Senhor» (Fundações 5,8). Ela viveu as dificuldades do seu tempo – tão complicado – sem ceder à tentação do lamento amargo, mas antes aceitando-as na fé como uma oportunidade para dar um passo mais no caminho. E é que, «para fazer Deus grandes mercês a quem de verdade o serve, sempre há tempo» (Fundações 4,6). Hoje Teresa diz-nos: Reza mais para compreender bem o que acontece à tua volta e assim actuar melhor. A oração vence o pessimismo e gera boas iniciativas (cf. Moradas VII, 4,6). Este é o realismo teresiano, que exige obras em vez de emoções, e amor em vez de sonhos, o realismo do amor humilde ante um ascetismo trabalhoso! Algumas vezes a Santa abrevia as suas saborosas cartas dizendo: «Estamos de caminho» (Carta 469,7.9), como expressão da urgência em continuar até ao fim com a tarefa começada. Quando arde o mundo, não se pode perder o tempo em negócios de pouca importância. Oxalá contagie a todos esta santa pressa para sair e percorrer os caminhos do nosso próprio tempo, com o Evangelho na mão e o Espírito no coração!

Papa Francisco

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Exercícios espirituais pregados ao papa e à cúria romana

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Sou o Papa Francisco e quero pedir-lhe um grande favor: pregar os Exercícios espirituais, a mim e à Cúria romana”. “Santo Padre, mas eu sou um pecador…”. “Nós também o somos, todos…”. “Deixe-me discernir durante alguns dias…”. “Muito bem, mas eu espero um sim…“. “Dentro de alguns dias responderei. Entretanto, reze por mim…”. Ouvir directamente a voz do Papa Francisco apanhou-me de surpresa na manhã de 2 de Dezembro de 2014. Pedi alguns dias para discernir: não se tratava de uma coisa fácil. Finalmente aceitei, ainda que a ideia me deixasse espantado. Não podia dizer não ao Papa. Para mim representava um grande desafio e também uma honra para a Ordem. Devia sintonizar com a linguagem e as perspectivas do Papa para o ajudar no seu estilo de guiar a Igreja (…).

Em princípio, como carmelita, pensei em apresentar o caminho espiritual segundo a perspectiva de Teresa de Ávila. Seria uma preciosa homenagem no centenário do seu nascimento. Ou, como alternativa, propor talvez uma leitura sapiencial do evangelho de Marcos, que conheço bem. Por fim optei por uma figura bíblica que encarnasse muitos dos problemas e das perspectivas do Papa Francisco.

Escolhi a figura bíblica do profeta Elias: ele não escreveu nada, falou pouco, mas as “cenas” da sua vida assemelham-se grandemente a muitos dos nossos problemas e situações. A solidão amarga, a procura do sentido da vida, o fundamentalismo fanático, o diálogo inter-religioso, o fracasso pessoal, a solidariedade, a instrumentalização ateia de Deus, a intercessão solidária, o sofrimento absurdo, a desconcertante experiência de Deus, etc. Inclusivamente o seu enquadramento geográfico, expressa algo de excepcional: ele está sempre em saída para as fronteiras (inclusivamente as afastadas, como Sarepta ou o Monte Carmelo) até que finalmente desaparece de forma imperceptível e no fogo, além Jordão. Pensei que este ícone bíblico ajudava mais o Papa e a sua estratégia eclesial (…). Segui o método da lectio divina, de que tenho bastante experiência, mas não com uma lectio contínua (…).

Para mim, esta foi uma experiência totalmente excepcional: pelo auditório, pela sua função eclesial, pela força que sentia em alguns momentos perante o dever de dizer a verdade acerca de algumas “enfermidades da Cúria” (…).

O Papa Francisco escreveu-me uma formosíssima carta de agradecimento, nada formal, em que elogiava e valorizava o método e o estilo das meditações. Já está publicado em italiano o livro com o texto das meditações com o título: Profeti del Dio vivente. In cammino con Elia: Ed. Messaggero/Lev, Padova/Vaticano 2015.

Bruno Secondin, O. Carm.

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Como era  Santa Teresa de Jesus?

Foi dito acerca de Teresa de Jesus que era bela, inteligente e santa, ainda que ela se descreva como “… enfim, mulher, e não boa, mas ruim” (V 18,4).

Era uma pessoa nobre, íntegra, que recusava toda a falsidade e hipocrisia: “Posso errar em tudo, mas não mentir, que, pela misericórdia de Deus, antes passaria mil mortes” (M 4 2, 7). Inclinada à amizade, extrovertida e graciosa na sua conversação, era delicada, generosa e sensível aos favores. Ela mesma afirma que “isto que tenho de ser agradecida, deve ser natural, que com uma sardinha que me dêem me subornarão” (Carta a Maria de São José, 1578). Dotada de um especial dom para atrair os melhores colaboradores, dizia dela o P. Graciano que era “tão aprazível e agradável, que a todos os que tratavam com ela, atraía atrás de si, e amavam-na e queriam”.

Era profundamente religiosa e, ao mesmo tempo, prática, enérgica, tenaz, trabalhadora e sacrificada. Dizia o bispo Mendoza que “se compromete de tal modo, que consegue o que começa”.

Foi amiga das letras e dos bons livros e buscava o conselho dos bons letrados. Era habilidosa nas tarefas caseiras, e até entre panelas capta também a presença de Deus. Foi uma mulher alegre; para ela “um santo triste é um triste santo”.

Foi uma pessoa de contrastes: contemplativa e activa, simples e sábia, enferma e forte, solitária e sempre acompanhada, perseguida e ditosa, pobre e esplêndida, pecadora e santa, e sobretudo muito humana. Quando passou pelo convento dos Anjos das franciscanas em Madrid, as monjas comentaram: “Bendito seja o Senhor, que nos deixou ver uma santa a quem todas podemos imitar, que dorme e fala como nós e anda sem cerimónias… e é grande a sua lhaneza!”.

Luis Javier Fernández Frontela, O. C. D. 

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Pensamentos de Santa Teresa de Jesus

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– Ó Senhor, experimento tanta alegria ao pensar que as minhas infidelidades fazem com que melhor se conheça a vossa misericórdia, que sinto suavizar-se a dor pelas graves ofensas que vos fiz.

– A oração é onde o Senhor ilumina para entender as verdades.

– Almejemos e pratiquemos a oração já não para desfrutar, mas para ter a força de servir ao Senhor.

– É um facto que, embora saibamos que estamos sempre na presença de Deus, muitas vezes negligenciamos em pensar nisso.

– Jamais creiais que adquiristes uma virtude, enquanto não a tiverdes provado com aquilo que lhe é contrário.

– No nosso próximo, procuremos ver tão somente as virtudes e as boas obras e cubramos os seus defeitos considerando os nossos pecados.

– Deus tem cuidado dos nossos interesses muito mais do que nós mesmos, sabendo o que convém a cada um.

– A coragem em sofrer muito ou sofrer pouco está sempre na proporção do amor.

– Ó Senhor! Como os cristãos pouco vos conhecem!

– Quem deveras ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo o bem favorece, todo o bem louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão verdades e coisa que seja digna de amar. Pensais que é possível, a quem mui deveras ama a Deus, amar vaidades, ou riquezas, ou coisas de deleites do mundo, ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não pretende outra coisa senão contentar ao Amado.

– Muitas vezes o Senhor permite uma queda a fim de manter a alma na mais profunda humildade. Se ela se arrepende e volta a Ele com sinceridade, mais progredirá, conforme sabemos de muitos santos.

– Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta.

– A outros santos parece ter dado o Senhor graça para socorrer numa determinada necessidade. Ao glorioso São José tenho experiência de que socorre em todas.

– A oração é um tratar de amizade, estando muitas vezes a sós com Quem sabemos que nos ama.

 

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29.º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (10, 35-45)

Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram-lhe: «Mestre, queremos que nos faças o que te pedimos.» Disse-lhes: «Que quereis que vos faça?» Eles disseram: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.» Jesus respondeu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o baptismo com que Eu sou baptizado?» Eles disseram: «Podemos, sim.» Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis baptizados com o baptismo com que Eu sou baptizado; mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não pertence a mim concedê-lo: é daqueles para quem está reservado.» Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.»

Reflexão

O mais importante na vida não é ter êxito e ser mais do que os outros. Verdadeiramente decisivo é ser autêntico e saber crescer como ser humano. Contudo, frequentemente, somos tentados a acreditar que para afirmar a nossa própria vida e assegurar a nossa pequena felicidade e liberdade, devemos necessariamente dominar os outros.

Insatisfeitos por não termos sempre o que queremos, temerosos de perder a felicidade, queremos impor-nos a tudo e a todos, procurando dominar a situação a partir de uma posição de superioridade e de poder sobre os outros. E assim, procuramos manipular de mil maneiras os que são mais débeis do que nós, esforçando-nos por mantê-los ao serviço das nossas expectativas e interesses. Basta observar com atenção as relações que se estabelecem entre chefes e subordinados, entre poderosos e economicamente débeis, entre professores e alunos, esposos e esposas. Dir-se-ia que não conseguimos ser algo se não for através do domínio e da opressão dos demais. Este caminho é próprio de neuróticos. Segundo Fritz Peris, “neurótico é todo o homem que utiliza o seu potencial para manipular os outros em vez de crescer ele mesmo”. Este desejo de ser grande dominando os outros, não provém da força que se possuiu mas mais precisamente da debilidade e do vazio pessoal.

O importante é darmo-nos conta de que existem outros caminhos orientadores da nossa vida e conseguirmos ser autenticamente grandes. Segundo Jesus, quem quiser ser grande, tem de renunciar ao desejo de poder sobre os outros e aprender com simplicidade a servir a partir de uma postura de amor fraterno.

Os que acertam a viver a partir da generosidade, o serviço e a solidariedade, são pessoas que irradiam uma autoridade única. Não necessitam de ameaçar, manipular, subornar, nem adular. São homens e mulheres que nos cativam pela sua generosidade e nobreza de vida. Nas suas vidas resplandece a grandeza do próprio Jesus que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em regate por todos” (Marcos 10, 45). A vida destas pessoas é grande porque sabem dá-la.

Palavra para o caminho

Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social. Na comunidade cristã há irmãos iguais. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu. O nosso exemplo é Jesus que viveu não “para ser servido, mas para servir”. Este é o melhor e o mais admirável resumo do que ele foi: pobre, despojado, feliz, apaixonado, ousado, próximo e dedicado.

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