A moral cristã afirma que eu sou amado antes mesmo de fazer algo, seja bom ou não. Não posso comprar o amor de Deus. Não o posso ganhar. Não posso dar nada em troca. Eu não tenho que acalmar Deus para que Ele me ame. Deus ama-me na vida, e continuará a amar-me ao longo da minha vida. Não posso afastar o seu amor de mim. Pode ser que não acredite nele, pode ser que eu o rejeite, mas Deus não anda longe. Deus “está sempre lá” (…).
Teresa conta que nos primeiros 18 anos da sua vida (no convento) da Encarnação estava perdida. Quando estava com as coisas de Deus, queria estar com as coisas do mundo. Ao contrário, quando estava com as coisas do mundo, queria estar com as coisas de Deus.
Por “mundo”, acredito que Teresa entendia que continuava metida nas noticias de Ávila através das conversas que mantinha no locutório e através de outros meios de comunicação. Por “coisas de Deus” queria dizer que trabalhava arduamente para que a considerassem no convento uma monja observante.
Um dia, quando estava diante de uma estátua de Cristo “muito chagado”, um “Ecce Homo”, que levaram para o convento, Teresa caiu de joelhos e disse que não se levantaria até que ficasse curada. O encontro com Cristo “muito chagado” curou-a. Pôs-se de pé, livre de indecisões e, pouco tempo depois, começou a planear a reforma do Carmelo.
Teresa não disse o que exactamente foi curado, mas podemos supor o que lhe aconteceu conhecendo as nossas próprias necessidades. Talvez a nossa pergunta mais profunda seja: Somos amados? Somos essencialmente bons? O que temos que realmente mereça a pena? Qual é o nosso valor? Teresa deu-se conta do que tinha vindo a pedir à sociedade, aos que viviam ao seu redor, e à própria vida religiosa: que a valorizassem e a reconhecessem. Estava a tentar ser reconhecida pela sociedade, que a considerassem uma boa religiosa. Procurou ser reconhecida desde fora.
Neste encontro com “Cristo chagado”, talvez se tenha dado conta de que as aquelas feridas eram por amor a ela. Não tinha que demonstrar aos que a rodeavam que era adorável e digna. Teresa percebeu que tinha um imenso valor e dignidade, simplesmente porque Deus a amava. A sua dignidade vinha de Deus que estava no centro da sua vida.
John Welch, O. Carm.