3º Domingo do Advento – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 3, 10-18)

E as multidões perguntavam-lhe: «Que devemos, então, fazer?» Respondia-lhes: «Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo.» Vieram também alguns cobradores de impostos, para serem baptizados e disseram-lhe: «Mestre, que havemos de fazer?» Respondeu-lhes: «Nada exijais além do que vos foi estabelecido.» Por sua vez, os soldados perguntavam-lhe: «E nós, que devemos fazer?» Respondeu-lhes: «Não exerçais violência sobre ninguém, não denuncieis injustamente e contentai-vos com o vosso soldo.» Estando o povo na expectativa e pensando intimamente se ele não seria o Messias, João disse a todos: «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. Tem na mão a pá de joeirar, para limpar a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; mas queimará a palha num fogo inextinguível.» E, com estas e muitas outras exortações, anunciava a Boa-Nova ao povo.

Reflexão

Caminhamos rapidamente em direcção ao Natal. Os textos propostos para este 3º Domingo do Advento, Ano C, convidam-nos a alegrar-nos: “solta brados de alegria”, “exulta”, “rejubila”, “alegrai-vos sempre…”. O motivo explica-o João Baptista: “está a chegar quem é mais forte do que eu…”. No entanto, o mesmo João explicita as atitudes que devemos ter se quisermos experimentar esta alegria prometida: partilhar os bens que temos, não cometer injustiças e não oprimir ninguém. “O que temos de fazer?”. É a questão da conversão.

No Angelus pronunciado no dia 6 de Dezembro o Papa Francisco pode ajudar-nos a responder a esta pergunta: “E talvez nós nos perguntemos: «Por que nos devemos converter? A conversão diz respeito a quem de ateu se torna crente, de pecador se faz justo, mas nós não precisamos, nós já somos cristãos! Por conseguinte somos justos». E isto não é verdade. Pensando assim, damo-nos conta de que é precisamente desta presunção — que somos cristãos, todos bons, justos — que nos devemos converter: da suposição que, no fim de contas, está bem assim e não precisamos de conversão alguma. Mas procuremos questionar-nos: é deveras verdade que nas várias situações e circunstâncias da vida temos em nós os mesmos sentimentos de Jesus? É verdade que sentimos como Jesus sente? Por exemplo, quando sofremos alguma injustiça ou afronta, conseguimos reagir sem animosidade e perdoar de coração a quem nos pede desculpa? Quanto é difícil perdoar! Quanto é difícil! «Vais-me pagar!»: estas palavras vêm de dentro! Quando somos chamados a partilhar alegrias e sofrimentos, sabemos chorar sinceramente com quem chora e rejubilar com quem se alegra? Quando devemos expressar a nossa fé, sabemos fazê-lo com coragem e simplicidade, sem nos envergonharmos do Evangelho? E assim podemos fazer-nos muitas perguntas. Não estamos tranquilos, devemos converter-nos sempre, ter os sentimentos que Jesus tinha.

A voz do Baptista ainda brada nos actuais desertos da humanidade, que são — quais são os desertos de hoje? — as mentes fechadas e os corações empedernidos, e provoca-nos a questionar-nos se estamos efectivamente a percorrer o caminho justo, vivendo uma vida segundo o Evangelho. Hoje como naquela época, ele admoesta-nos com as palavras do profeta Isaías: «Preparai os caminhos do Senhor!» (v. 4). É um convite urgente a abrir o coração e a acolher a salvação que Deus nos oferece incessantemente, quase com teimosia, porque quer que todos sejamos livres da escravidão do pecado. (…) Ninguém pode dizer: «Eu sou santo, eu sou perfeito, eu já estou salvo»”.

Palavra para o caminho

E nós que devemos fazer?” (Lucas 3,10.12.14), perguntam as multidões, os publicanos, os soldados. Perguntamos nós também. Responde João Baptista: vós não vos canseis de dar, não roubeis, não pratiqueis a injustiça, não façais violência! Amai! Reparemos que todos os frutos de conversão que João Baptista menciona e reclama se referem sempre ao nosso comportamento para com o próximo. Fica claro que a conversão, isto é, o nosso voltar-se para Deus, passa sempre pelos nossos gestos para com o próximo, nomeadamente pela partilha para além do impensável.

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Não está em jogo pouco, mas TUDO

180801_1.tif. Vista noturna mostra lua cheia atr‡s do Cristo Redentor, um dos poucos monumentos do Rio de Janeiro que n‹o sofreram com os cortes de ilumina‹o pœblica em raz‹o do racionamento de energia elŽtrica; a prefeitura considera a est‡tua o simbolo da cidade.

Como seríamos felizes se pudéssemos encontrar o tesouro de que nos fala o Evangelho [Mt 13, 44];  tudo o resto nos pareceria nada. Como ele é infinito, quanto mais escavamos, mais riquezas encontramos. Ocupemo-nos sem cessar a procurá-lo, não nos cansemos até que o tenhamos encontrado.

Frei Lourenço da Ressurreição

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Abrir caminhos para Deus

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O apelo de João Baptista para despertar o povo e acender nele a fé em Deus salvador, concentra-se na afirmação: «Preparai o caminho do Senhor». Como abrir caminhos para Deus? Como abrir-lhe mais caminhos na nossa vida?

Busca pessoal. Para muitos, Deus está hoje como que oculto e encoberto por toda uma classe de preconceitos, dúvidas, más recordações de infância ou experiências religiosas negativas. Como descobri-lo? A primeira coisa é abrir o coração e buscar o Deus vivo que se nos revela em Jesus Cristo. Deus deixa-se encontrar pelos que o procuram.

Atenção interior. Para abrir um caminho a Deus é necessário descer ao fundo do nosso coração. Quem não busca Deus no seu interior é difícil que o encontre fora. Dentro de nós encontraremos medos, perguntas, desejos, vazio… Não importa. Deus está aí. Ele criou-nos com um coração que não descansará enquanto não estiver n’Ele.

Com um coração sincero. Não nos deve preocupar o pecado ou a mediocridade. O que mais nos aproxima do mistério de Deus é VIVER NA VERDADE, não nos enganarmos a nós mesmos, reconhecer os nossos erros. O encontro com Deus acontece quando nasce a partir de dentro esta oração: «Ó Deus, tende compaixão de mim, porque sou pecador». Este é o melhor caminho para recuperar a paz e a alegria interior.

Em atitude de confiança. É o medo que fecha a muitos o caminho para Deus. Muitos têm medo de se encontrar com Ele: só pensam no seu juízo e possíveis castigos. Acabam por não crer que Deus só é amor e que, mesmo quando julga o ser humano, o faz com amor infinito. Despertar a confiança total neste amor pode ser começar a viver de uma maneira nova e feliz com Deus.

Caminhos diferentes. Cada um há-de fazer o seu próprio caminho. Deus acompanha-nos a todos nós. Não abandona ninguém e, menos ainda, quando se encontra perdido. O importante é não perder o desejo humilde de Deus. Quem continua a confiar, quem de alguma maneira deseja crer já é «crente» perante esse Deus que conhece até ao fundo o coração de cada pessoa.

Adaptação de um texto de J. A. Pagola

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Solenidade da Imaculada Conceição

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 1,26-38)

Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela.

Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?»

O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

Reflexão

Alegra-te”. A primeira palavra da parte de Deus aos homens, quando o Salvador se aproxima do mundo, é um convite à alegria. É o que escuta Maria: alegra-te.

A alegria é um dom bonito, porém também muito vulnerável. Um dom que se deve saber cultivar com humildade e generosidade no fundo da alma. Hermann Hesse explica os rostos atormentados, nervosos e tristes de tantos homens, desta maneira muito simples:”É porque a felicidade somente pode senti-la a alma, não a razão, não o ventre, nem a cabeça, nem a bolsa”.

A alegria de Maria é a de uma mulher crente que se alegra em Deus salvador, que levanta os humilhados e dispersa os soberbos, que enche de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias (cf. Lc 1,46-55). Maria alegra-se em Deus, porque ele vem realizar a esperança dos abandonados. Somente pode ser feliz quem se esforça por fazer felizes os outros.

O Senhor está contigo”. Não estamos órfãos. Vivemos invocando, cada dia, um Deus Pai que nos acompanha, nos defende e busca sempre o bem de todo o ser humano. Jesus não nos abandonou. Com ele tudo é possível.

Não temas”. São muitos os medos que paralisam os seguidores de Jesus. Medo do mundo moderno e da secularização. Medo de um futuro incerto. Medo da nossa fraqueza. Medo da conversão ao Evangelho. O medo impede-nos de caminhar para o futuro com esperança. A força de Deus não se revela numa Igreja poderosa, mas humilde.

Darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus”. Também a nós, como a Maria, nos é confiada uma missão: não somos chamados a julgar o mundo, mas a semear esperança. A nossa tarefa não é apagar o pavio que se extingue, mas estimular a fé que, em muitos, quer brotar.

Podemos ser fermento de um mundo mais sadio e fraterno. Estamos em boas mãos. Deus não está em crise. Somos nós que temos de nos atrever a seguir Jesus com alegria e confiança!

Oração a Nossa Senhora da Conceição

Virgem Santíssima, que fostes concebida sem pecado original e por isto merecestes o título de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, e por terdes evitado todos os outros pecados, o Anjo Gabriel vos saudou com as belas palavras “Ave Maria, cheia de graça”, nós vos pedimos que nos alcanceis do vosso divino Filho o auxílio necessário para vencermos as tentações e evitarmos os pecados e, já que vos chamamos de Mãe, atendei-nos com carinho maternal para que possamos viver como dignos filhos vossos. Nossa Senhora da Conceição, rogai por nós. Amen.

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2º Domingo do Advento – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 3, 1-6)

No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilena, sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um baptismo de penitência para remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos. E toda a criatura verá a salvação de Deus.’»

Reflexão

Os primeiros cristãos viram na actuação de João Baptista o profeta que preparou, decisivamente, o caminho para Jesus. Lucas resumiu a sua mensagem com este grito tomado do profeta Isaías: “Preparai o caminho do Senhor”. Como escutar este grito na Igreja hoje? Como abrir caminhos para que os homens e as mulheres do nosso tempo possam encontrar-se com Jesus?

Primeiramente, tomando consciência de que necessitamos de um contacto muito mais  vivo com a sua pessoa. Não é possível seguir a um Jesus convertido numa sublime abstracção. Necessitamos de nos sintonizar vitalmente com ele, deixar-nos atrair pelo seu estilo de vida, contagiar-nos da sua paixão por Deus e pelo ser humano. No meio do “deserto espiritual” da sociedade moderna, temos de entender e configurar a comunidade cristã como um lugar onde se acolhe o Evangelho de Jesus.

Não podemos esquecer que nos evangelhos não aprendemos uma doutrina académica sobre Jesus, destinada, inevitavelmente, a envelhecer ao longo dos séculos. Aprendemos um estilo de viver realizável em todos os tempos e em todas as culturas: o estilo de viver de Jesus.

A experiência directa e imediata com o relato evangélico faz-nos nascer para uma fé nova, não por via de uma “doutrinação” ou de uma “aprendizagem teórica”, mas pelo contacto vital com Jesus. Ele ensina-nos a viver a fé, não por obrigação, mas por atracção. Faz-nos viver a vida cristã não como dever, mas como contágio. No contacto com o evangelho recuperamos a nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus. O segredo da “nova evangelização” consiste em nos colocarmos em contacto directo e imediato com Jesus. Sem ele não é possível produzir uma fé nova.

Preparai o caminho do Senhor”. As nossas vidas estão semeadas de obstáculos e resistências que impedem e dificultam a chegada de Deus aos nossos corações e às nossas comunidades cristãs e ao nosso mundo. Deus está sempre perto. Somos nós que devemos abrir caminhos para o acolher encarnado em Jesus: rectificar o que deformamos entre todos; endireitar caminhos tortos; enfrentar a verdade real das nossas vidas para assumir um dinamismo de conversão.

Palavra para o caminho

Ao fazer o elenco dos nomes grandes do mundo de então, não é pretensão do narrador fazer história. Antes, com a precisão do bisturi, quer dizer-nos que a Palavra de Deus passa ao lado dos senhores deste mundo, que decidem e planificam tudo, e vai cair sobre um pobre, João Baptista, que não habita em palácios, mas no deserto! O deserto é o território da verdade e onde se vive do essencial. Deus é livre.

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Rezar o terço com Santa Teresa de Jesus

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A Igreja e as diferentes Ordens e Congregações de espiritualidade carmelita e teresiana celebraram de 15 de Outubro de 2014 até 15 de Outubro de 2015 o V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus.

Este encontro aqui, na Capelinha das Aparições, é a expressão da nossa convicção nascida da fé de que somos guiados e animados por Maria no seguimento de Cristo. Constantemente lembramos o que ela disse em Caná: “Fazei tudo o que ele vos disser”: ela leva-nos a Jesus. E ouvimos também o que Jesus disse no Calvário, do alto da cruz: “Eis a tua Mãe!”: Jesus leva-nos a Maria. Uma vez que o Carmelita deve viver em “obséquio de Jesus Cristo”, ninguém viveu como Maria este ideal. Estar com Maria é estar sempre em boa companhia.

Nossa Senhora está presente nos momentos mais decisivos da vida de Santa Teresa de Jesus. Basta recordar o que ela disse quando perdeu a sua mãe, entre os treze e quatorze anos de idade, como indicação, de que ela foi uma autêntica filha de Maria, não só num momento, mas sempre: “Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui-me, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a ela, e, enfim, tornou-me a si”.

Em união com Santa Teresa de Jesus rezemos e meditemos os Mistérios gloriosos.

Mistérios gloriosos

1º Mistério: A ressurreição de Jesus. “Depois do sábado, ao raiar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. Então o anjo falou às mulheres: ‘Sei que procurais a Jesus que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou como havia dito!’ ” (Mt 28 1. 5a. 6b).

Reflexão: O coração é atraído para o tesouro que ama e não se detém mesmo perante os perigos e dificuldades, até que possua o que deseja. O alimento de Jesus era fazer a vontade do Pai. Na ressurreição de Jesus vemos que a vontade de Deus é sempre o nosso Bem e que desabrocha em vida plena e indestrutível.

Santa Teresa põe no centro da sua espiritualidade fazer a vontade de Deus. Diz ela: “A vontade de Deus há-de cumprir-se, quer queiramos quer não, e a Sua vontade há-de fazer-se no Céu e na terra. Este Rei não se dá, senão a quem de todo se dá a Ele (…). Já tenho provas e grande experiência do lucro que há em deixar a minha vontade na Vossa” (CP 32, 4).

É bom e necessário em todas as horas pôr os olhos em Cristo, livro vivo, em quem se aprendem as verdades: “Se estais alegres, vede-O ressuscitado pois a simples imaginação que Ele saiu do sepulcro vos alegrará. Com que esplendor, com que majestade, quão vitorioso, quão alegre!” (C 26, 4).

Prece: Peçamos a Maria e a Santa Teresa de Jesus, para que aspirando à vida, e vida em abundância, o nosso desejo e alegria seja sempre fazer a vontade de Deus.

2.º Mistério: A Ascensão de Jesus ao Céu. “Então, o Senhor Jesus, depois de ter falado [com os discípulos], foi recebido no Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 19-20).

Reflexão: Hoje parece estar obscurecida a ideia de fim, de finalidade. E, por isso, vive-se muito o imediato, no provisório, no descartável. Tem-se a tentação de chamar a atenção, seja da forma que for, através do impressionável. Talvez porque não se saiba para onde se vai, a ideia de caminho, peregrinação, conceitos muito importantes que nos podem ajudar e iluminar na compreensão da vida de Santa Teresa, não estejam muito enraízados entre nós.

Quem se entrega a Jesus, segundo a sua promessa, não se perde: “Quem me segue não anda nas trevas mas terá a luz da vida”. Desde que se determinou a dar-se totalmente a Cristo, Santa Teresa ficou unificada e caminhou serenamente na convicção de que viver é adentrar-se cada vez mais no mistério de Deus até o contemplar face a face no Céu. Por isso, na hora da sua morte disse estas palavras admiráveis: “Finalmente vamo-nos encontrar”.

Prece: Peçamos a Maria e a Santa Teresa de Jesus uma forma de vida inspirada na sabedoria do Evangelho para que em todas as horas possamos dizer e rezar: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta”.

3º Mistério: A descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora reunidos no Cenáculo. “Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: ‘a paz esteja convosco!’ Soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos” (Jo 20, 21.23).

Reflexão: O Espírito Santo é o Pedagogo que o Pai e o Filho nos concedem. Na antiga Grécia o pedagogo era o escravo, o criado, que levava a criança à escola, ao mestre, para que ela fizesse a sua aprendizagem e formação. O Espírito Santo, Deus-Amor, que procede do Pai e do Filho, é-nos concedido para que no Filho sejamos Filhos e possamos chamar a Deus de “Abba”. Teresa de Jesus quando se determinou dar-se toda a Cristo, tendo-o como único Senhor e Esposo, a sua vida foi outra, deu muito fruto que ainda hoje perdura pois como diz Jesus “Sem mim, nada podeis fazer” e “A glória de meu Pai é que deis muito fruto”.

Disse-me o Senhor: Faz o que está em teu poder e deixa-Me a Mim agir e não te inquietes com nada; goza do bem que te foi dado, que é muito grande: Meu Pai se deleita contigo e o Espírito Santo te ama” (CC 10).

Prece: Peçamos a Nossa Senhora e a Santa Teresa que nos ensinem a ser dóceis e a seguir as inspirações do Espírito Santo para que a qualidade do nosso viver seja palpável e contagiante: “Quem deveras ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo o bem favorece, todo o bem louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão verdades e coisa que seja digna de amar. Pensais que é possível, a quem mui deveras ama a Deus, amar vaidades, ou riquezas, ou coisas de deleites do mundo, ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não pretende outra coisa senão contentar ao Amado”.

4º Mistério: A Assunção de Nossa Senhora ao Céu. “Naquele tempo, enquanto Jesus falava à multidão, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e disse: ‘Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito!’ Mas Jesus respondeu: ‘Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática’ ” (Lc 11, 27-28).

Reflexão: A fé potenciando a razão abre e introduz o nosso ser em novos horizontes existenciais que “nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pela mente humana o que Deus tem preparado para os que O amam”. Na nossa caminhada acompanha-nos Maria, garantia segura da nossa Esperança, Estrela da nossa vida.

O grande bem que me parece a mim que há no Reino do Céu, juntamente com muitos outros, é o de já não se ter cuidado com coisa alguma da terra, mas um sossego e glória em si mesmos, um alegrar-se que se alegrem todos, uma paz perpétua, uma grande satisfação no íntimo de si mesmos, que lhes vem de ver que todos santificam e louvam ao Senhor, e bendizem o Seu nome e ninguém O ofende. Todos O amam e a própria alma não se ocupa com outra coisa senão amá-Lo, nem pode deixar de O amar, porque O conhece” (CP 30, 5).

Prece: Peçamos a Nossa Senhora e a Santa Teresa que despertem em nós grandes desejos para que a nossa vida no tempo seja já “a eternidade começada”, “o Céu na Terra”.

5º Mistério: A coroação de Nossa Senhora como Rainha do Céu e da Terra. “Maria exclamou: ‘de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações, porque o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas! Santo é o Seu nome!’ ”(Lc 46.48b-49).

Reflexão: Dizer Sim a Deus é Reinar. Quando Maria diz ao anjo: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, ela sabe, por experiência, que Deus é bom, verdadeiro, fiel, e que a sua misericórdia se estende de geração em geração. Maria no seu Sim ensina-nos, como sempre ela o fez, a afinar a nossa vida pela vida de Deus: o que tu queres, Senhor, eu quero!

Maria teve que caminhar pela fé. Imitando a sua fé, somos capazes de ver para além das coisas exteriores que nos rodeiam. Ela foi capaz de ver Deus no coração do universo, guiando todas as coisas e todas as pessoas para si mesmo, através de Jesus Cristo. Maria era uma contemplativa, o que não significa que passasse os seus dias de joelhos. Uma contemplativa é uma amiga amadurecida de Deus que busca a realidade com os olhos de Deus e que ama o que vê com o coração de Deus. Porque Reinar é Servir, ela é nossa Mãe e Rainha do Céu e da Terra.

Infelizmente São José está excessivamente na sombra, quase esquecido. Não, assim, com Santa Teresa: “É que não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos – no tempo em que tanto passou com o Menino Jesus – sem que se dê graças a São José pelo muito que então os ajudou”.

Prece: Peçamos a Nossa Senhora, a São José e a Santa Teresa para que saibamos fazer de toda a nossa existência uma Páscoa e uma Eucaristia, em que Jesus e Maria reinem nos nossos corações: “A quantos tudo abandonam por amor de Deus, Ele se entrega totalmente”.

E também Maria se dá totalmente: “Estando todas no coro em oração depois de Completas, vi Nossa Senhora, com grandíssima glória, revestida dum manto branco e, debaixo dele, parecia amparar-nos a todas. Entendi quão alto grau de glória daria o Senhor às desta casa” (V 36, 24).

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Fé é “apoiar-se em”

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Fé não significa acreditar ou não acreditar se Deus existe, embora a nossa cultura tenha muitas vezes relacionado fé com essa discussão teórica. Fé, crer, significa, à letra, “apoiar-se em”. Devemos perguntar: “Em quem me apoio, em quem faço fé? Qual é o meu fundamento? Em quem confio?” Ora só faz sentido “fazer fé” em quem nos ama, sem condições! Alguém que não engana e me dá força para o caminho! Ser crente cristão é estar convicto de que o caminho de Cristo é o mais humano, apoiado na certeza de um Deus que é Pai, e pedagogicamente me conduz à liberdade.

Vasco P. Magalhães, s.j.

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1º Domingo do Advento – Ano C

Sol e nuvens - paisagem

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 21, 25-28.34-36)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre os povos, aterrados com o bramido e a agitação do mar; os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai acontecer ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do Homem vir numa nuvem com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima.» «Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida, e que esse dia não caia sobre vós subitamente, como um laço; pois atingirá todos os que habitam a terra inteira. Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força para escapar a tudo o que vai acontecer e aparecerdes firmes diante do Filho do Homem.»

Reflexão

Jesus foi um criador incansável de esperança. Toda a sua existência consistiu em contagiar os outros com a esperança que ele mesmo vivia a partir do mais profundo de seu ser. Hoje escutamos o seu grito de alerta: “cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima. Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida”. Quando uma sociedade tem por objectivo, quase único da vida, a satisfação cega dos apetites e se fecha cada um no seu próprio prazer, ali morre a esperança. Aqueles que estão satisfeitos não buscam nada, realmente, novo!

Tudo muda quando, o mesmo Evangelho, é lido a partir do sofrimento. Quando a miséria é insuportável e o momento presente é vivido somente como sofrimento destruidor, é fácil sentir, exactamente, o contrário.”Graças a Deus que isto não durará para sempre”. Os últimos da Terra são quem melhor podem compreender a mensagem de Jesus: “Felizes os que choram, porque deles é o reino de Deus”. Estes homens e mulheres, cuja existência é de fome e miséria, estão à espera de  algo de novo e diferente que responda aos seus anseios mais profundos de vida e de paz.

Um dia “o sol, a lua e as estrelas tremerão”, isto é, tudo aquilo que cremos poder confiar para sempre se afundará. As nossas ideias de poder, segurança e progresso serão abaladas. Tudo aquilo que não conduz o ser humano à verdade, à justiça e à fraternidade entrará em colapso, e “na terra haverá angústia das pessoas”.

Porém, a mensagem de Jesus não é de desesperança para ninguém. No momento da verdade última, não desespereis, ficai despertos, colocai a vossa confiança em Deus.

Palavra para o caminho

Orando continuamente”, diz, a terminar, o Evangelho deste Primeiro Domingo do Advento. “Orar continuamente” significa não se deixar enterrar na lama dos caminhos banais e fúteis deste tempo, de qualquer tempo, e que o Evangelho mostra que a busca desenfreada do sucesso e das falsas soluções da devassidão, da embriaguez e das preocupações da vida é uma teia que nos enreda e não nos deixa ver bem. Andamos sempre tão atarefados com inúmeros afazeres, que ficamos com o “coração pesado” e insensível, incapaz de ver o Filho-do-Homem-que-vem, a qualquer hora, nos nossos irmãos mais pequeninos! Ora, o Advento é o Filho do Homem que vem, para que nós o acolhamos para mergulharmos no definitivo e libertar-nos do provisório.

 

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Encontro da Família Carmelita em Fátima

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Meditação dos mistérios gozosos

1º Mistério: A anunciação do anjo Gabriel a Nossa Senhora. O Anjo Gabriel disse a Maria: “Não temas, pois achaste graça diante de Deus (Lc 1, 30).

Comentando o acontecimento da Anunciação, diz São Bernardo: «Ouviste, ó Virgem, a voz do Anjo: Conceberás e darás à luz um filho. Ouviste-o dizer que não será por obra de varão, mas por obra do Espírito Santo. O Anjo aguarda a resposta (…). Todo o mundo, prostrado a teus pés, espera a tua resposta: da tua palavra depende a consolação dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua linhagem. Dá depressa, ó Virgem a tua resposta. Profere a tua palavra humana e concebe a divina. Porque demoras? Abre, ó Virgem santa, o coração à fé, os lábios ao consentimento, as entranhas ao Criador. Eis que o desejado de todas as nações está à tua porta e bate. Se te demoras e Ele passa adiante, terás então de recomeçar dolorosamente a procurar o amado da tua alma. Eis a serva do Senhor, disse a Virgem, faça-se em mim segundo a tua palavra».

2º Mistério: A Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel. Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, e saudou Isabel. Isabel, erguendo a voz exclamou; Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Feliz de ti que acreditaste. Maria disse então: A minha alma glorifica o Senhor (cf. Lc 1, 39-56).

Meditando sobre a visita de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel, a carmelita Beata Isabel da Trindade escreveu: «Quando leio no Evangelho «que Maria percorreu diligentemente as montanhas da Judeia» para ir cumprir o seu ofício de caridade, junto a sua prima Isabel, vejo-a passar tão bela, tão calma, tão majestosa, tão recolhida interiormente, com o Verbo de Deus.

Parece-me que a atitude da Virgem, durante os meses que decorreram entre a Anunciação e o Natal, é o modelo das almas interiores, dos seres que Deus escolheu para viverem de dentro, no fundo do abismo sem fundo. Com que paz, com que recolhimento, Maria se entregava e se prestava a todas as coisas! Como é que mesmo as mais banais eram por ela divinizadas? Porque, em tudo, a Virgem permanecia  a adoradora do dom de Deus! Isto porém, não impedia de se entregar ao que era exterior, sempre que se tratava de praticar a caridade».

3º Mistério: O nascimento de Jesus em Belém. O Anjo disse aos pastores: “Anuncio-vos uma grande alegria. Hoje, nasceu-vos em Belém um Salvador”. E os pastores “foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura (Lc 2, 10-11.16).

Acerca do mistério da Encarnação, São João da Cruz escreveu estas palavras luminosas: «Mas agora que está fundada a fé em Cristo e promulgada a lei evangélica, nesta era da graça, Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra única, e nada mais tem a revelar. O que antigamente Deus disse pelos profetas a nossos pais de muitos modos e de muitas maneiras, agora, por último, nestes dias, nos falou pelo Filho tudo de uma só vez. Deus ficou como mudo e não tem mais que falar, porque o que antes disse parcialmente pelos Profetas, revelou-O totalmente, dando-nos o Todo que é o seu Filho. E por isso, quem agora quisesse consultar Deus ou pedir-Lhe alguma visão ou revelação, não só cometeria um disparate, mas faria agravo a Deus, por não pôr os olhos totalmente em Cristo e buscar fora d’Ele outra realidade ou novidade.

Poderia Deus responder-lhe deste modo: Este é o meu Filho amado, no qual pus toda a minha complacência; escutai-O. Se já te falei todas as coisas na minha Palavra, que é o meu Filho – e não tenho outra – que mais te posso Eu responder agora ou revelar? Põe os olhos só n’Ele, porque n’Ele tudo disse e revelei, e acharás ainda mais do que pedes e desejas».

4º Mistério: A apresentação de Jesus no Templo. Segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram o Menino a Jerusalém para O apresentarem ao Senhor. Ora vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso. Tinha-lhe sido prometido que não morreria antes de ter visto o Messias. Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: “Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, porque meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo” (Lc 2, 22-26).

A festa da Apresentação é também a festa da Luz, porque Jesus é a “Luz para se revelar às nações”. A este propósito São Sofrónio faz o seguinte comentário: «Na verdade a luz veio ao mundo e, dispersando as trevas que o envolviam, encheu-o de esplendor; visitou-nos do alto o Sol nascente e derramou a sua luz sobre os que se encontravam nas trevas. Caminhemos empunhando as lâmpadas, acorramos trazendo as luzes, não só para indicar que a luz refulge já em nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos há-de vir.

Eis que veio a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Nenhum fique excluído deste esplendor, nenhum persista em continuar imerso na noite, mas avancemos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos juntos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara e eterna; associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de acção de graças ao Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor».

5º Mistério: O encontro de Jesus no Templo entre os doutores da Lei. Depois de José e Maria andarem três dias aflitos à procura de Jesus, encontraram-no no Templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas (Lc 2, 46).

No regresso a Nazaré, após um dia de viagem, Maria e José aperceberam-se de que Jesus «não fazia caminho com eles», e ficaram preocupados e foram procurá-lo. Sinal importante para nós: quando nos apercebermos de que Jesus não está a fazer caminho connosco, devemos ficar preocupados e ir à procura dele. Por outras palavras: não podemos perder Jesus. Podemos perder coisas e tralhas que atrapalham e sobrecarregam. Mas Jesus é a nossa vida, se o perdemos, perdemo-nos, e é Ele que todos nos pedem: «Nós queremos ver Jesus!» (João 12,21).

Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” (Lc 2, 49). Embora não compreendendo a resposta de Jesus, Maria guardava todas estas palavras e acontecimentos, compondo-os no seu coração. Expressão belíssima que mostra bem a altura do crente verdadeiro, que não tem de compreender tudo já, mas guarda e vai compondo palavras e acontecimentos divinos numa bela melodia. «Maria teve que caminhar pela fé. Imitando a sua fé, somos capazes de ver para além das coisas exteriores que nos rodeiam. Ela foi capaz de ver Deus no coração do universo, guiando todas as coisas e todas as pessoas para si mesmo, através de Jesus Cristo. Maria era uma contemplativa, o que não significa que ela passasse os seus dias de joelhos. Uma contemplativa é uma amiga amadurecida de Deus que busca a realidade com os olhos de Deus e que ama o que vê com o coração de Deus» (Joseph Chalmers).

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A alma da santidade

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Uma vida santa não é fruto principalmente do nosso esforço, das nossas acções, porque é Deus, o três vezes Santo (cf. Is 6, 3), que nos torna santos, é a acção do Espírito Santo que nos anima a partir de dentro, é a própria vida de Cristo Ressuscitado que nos é comunicada e que nos transforma. (…)

Qual é a alma da santidade? De novo o Concílio Vaticano II esclarece; diz-nos que a santidade cristã mais não é do que a caridade plenamente vivida: «”Deus é amor; quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4, 16). Ora, Deus difundiu abundantemente o seu amor nos nossos corações por meio do Espírito Santo, que nos foi doado (cf. Rm 5, 5); por isso o primeiro dom e o mais necessário é a caridade, com a qual amamos Deus acima de todas as coisas e ao próximo por amor a Ele. (…)

Eis por que Santo Agostinho, comentando o capítulo quarto da Primeira Carta de São João, pode afirmar uma coisa corajosa: «Dilige et fac quod vis», «Ama e faz o que queres». E prossegue: «Quando silencias, que seja por amor; quando falas, fala por amor; quando corriges, que seja por amor; quando perdoas, que seja por amor; haja em ti a raiz do amor, porque desta raiz só pode derivar o bem» (7, 8: pl 35). Quem é guiado pelo amor, quem vive a caridade plenamente é guiado por Deus, porque Deus é amor. Assim é válida esta grande palavra: «Dilige et fac quod vis», «Ama e faz o que queres». (…)

Gostaria de convidar todos a abrir-se à acção do Espírito Santo, que transforma a nossa vida, para sermos também nós como peças do grande mosaico de santidade que Deus vai criando na história, para que o rosto de Cristo resplandeça na plenitude do seu esplendor. Não tenhamos medo de tender para o alto, para as alturas de Deus; não tenhamos medo que Deus nos peça demasiado, mas deixemo-nos guiar em todas as acções quotidianas pela sua Palavra, mesmo se nos sentimos pobres, inadequados, pecadores: será Ele que nos transforma segundo o seu amor. Obrigado.

Bento XVI

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