A Igreja e as diferentes Ordens e Congregações de espiritualidade carmelita e teresiana celebraram de 15 de Outubro de 2014 até 15 de Outubro de 2015 o V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus.
Este encontro aqui, na Capelinha das Aparições, é a expressão da nossa convicção nascida da fé de que somos guiados e animados por Maria no seguimento de Cristo. Constantemente lembramos o que ela disse em Caná: “Fazei tudo o que ele vos disser”: ela leva-nos a Jesus. E ouvimos também o que Jesus disse no Calvário, do alto da cruz: “Eis a tua Mãe!”: Jesus leva-nos a Maria. Uma vez que o Carmelita deve viver em “obséquio de Jesus Cristo”, ninguém viveu como Maria este ideal. Estar com Maria é estar sempre em boa companhia.
Nossa Senhora está presente nos momentos mais decisivos da vida de Santa Teresa de Jesus. Basta recordar o que ela disse quando perdeu a sua mãe, entre os treze e quatorze anos de idade, como indicação, de que ela foi uma autêntica filha de Maria, não só num momento, mas sempre: “Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui-me, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a ela, e, enfim, tornou-me a si”.
Em união com Santa Teresa de Jesus rezemos e meditemos os Mistérios gloriosos.
Mistérios gloriosos
1º Mistério: A ressurreição de Jesus. “Depois do sábado, ao raiar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. Então o anjo falou às mulheres: ‘Sei que procurais a Jesus que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou como havia dito!’ ” (Mt 28 1. 5a. 6b).
Reflexão: O coração é atraído para o tesouro que ama e não se detém mesmo perante os perigos e dificuldades, até que possua o que deseja. O alimento de Jesus era fazer a vontade do Pai. Na ressurreição de Jesus vemos que a vontade de Deus é sempre o nosso Bem e que desabrocha em vida plena e indestrutível.
Santa Teresa põe no centro da sua espiritualidade fazer a vontade de Deus. Diz ela: “A vontade de Deus há-de cumprir-se, quer queiramos quer não, e a Sua vontade há-de fazer-se no Céu e na terra. Este Rei não se dá, senão a quem de todo se dá a Ele (…). Já tenho provas e grande experiência do lucro que há em deixar a minha vontade na Vossa” (CP 32, 4).
É bom e necessário em todas as horas pôr os olhos em Cristo, livro vivo, em quem se aprendem as verdades: “Se estais alegres, vede-O ressuscitado pois a simples imaginação que Ele saiu do sepulcro vos alegrará. Com que esplendor, com que majestade, quão vitorioso, quão alegre!” (C 26, 4).
Prece: Peçamos a Maria e a Santa Teresa de Jesus, para que aspirando à vida, e vida em abundância, o nosso desejo e alegria seja sempre fazer a vontade de Deus.
2.º Mistério: A Ascensão de Jesus ao Céu. “Então, o Senhor Jesus, depois de ter falado [com os discípulos], foi recebido no Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 19-20).
Reflexão: Hoje parece estar obscurecida a ideia de fim, de finalidade. E, por isso, vive-se muito o imediato, no provisório, no descartável. Tem-se a tentação de chamar a atenção, seja da forma que for, através do impressionável. Talvez porque não se saiba para onde se vai, a ideia de caminho, peregrinação, conceitos muito importantes que nos podem ajudar e iluminar na compreensão da vida de Santa Teresa, não estejam muito enraízados entre nós.
Quem se entrega a Jesus, segundo a sua promessa, não se perde: “Quem me segue não anda nas trevas mas terá a luz da vida”. Desde que se determinou a dar-se totalmente a Cristo, Santa Teresa ficou unificada e caminhou serenamente na convicção de que viver é adentrar-se cada vez mais no mistério de Deus até o contemplar face a face no Céu. Por isso, na hora da sua morte disse estas palavras admiráveis: “Finalmente vamo-nos encontrar”.
Prece: Peçamos a Maria e a Santa Teresa de Jesus uma forma de vida inspirada na sabedoria do Evangelho para que em todas as horas possamos dizer e rezar: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta”.
3º Mistério: A descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora reunidos no Cenáculo. “Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: ‘a paz esteja convosco!’ Soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos” (Jo 20, 21.23).
Reflexão: O Espírito Santo é o Pedagogo que o Pai e o Filho nos concedem. Na antiga Grécia o pedagogo era o escravo, o criado, que levava a criança à escola, ao mestre, para que ela fizesse a sua aprendizagem e formação. O Espírito Santo, Deus-Amor, que procede do Pai e do Filho, é-nos concedido para que no Filho sejamos Filhos e possamos chamar a Deus de “Abba”. Teresa de Jesus quando se determinou dar-se toda a Cristo, tendo-o como único Senhor e Esposo, a sua vida foi outra, deu muito fruto que ainda hoje perdura pois como diz Jesus “Sem mim, nada podeis fazer” e “A glória de meu Pai é que deis muito fruto”.
“Disse-me o Senhor: Faz o que está em teu poder e deixa-Me a Mim agir e não te inquietes com nada; goza do bem que te foi dado, que é muito grande: Meu Pai se deleita contigo e o Espírito Santo te ama” (CC 10).
Prece: Peçamos a Nossa Senhora e a Santa Teresa que nos ensinem a ser dóceis e a seguir as inspirações do Espírito Santo para que a qualidade do nosso viver seja palpável e contagiante: “Quem deveras ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo o bem favorece, todo o bem louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão verdades e coisa que seja digna de amar. Pensais que é possível, a quem mui deveras ama a Deus, amar vaidades, ou riquezas, ou coisas de deleites do mundo, ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não pretende outra coisa senão contentar ao Amado”.
4º Mistério: A Assunção de Nossa Senhora ao Céu. “Naquele tempo, enquanto Jesus falava à multidão, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e disse: ‘Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito!’ Mas Jesus respondeu: ‘Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática’ ” (Lc 11, 27-28).
Reflexão: A fé potenciando a razão abre e introduz o nosso ser em novos horizontes existenciais que “nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pela mente humana o que Deus tem preparado para os que O amam”. Na nossa caminhada acompanha-nos Maria, garantia segura da nossa Esperança, Estrela da nossa vida.
“O grande bem que me parece a mim que há no Reino do Céu, juntamente com muitos outros, é o de já não se ter cuidado com coisa alguma da terra, mas um sossego e glória em si mesmos, um alegrar-se que se alegrem todos, uma paz perpétua, uma grande satisfação no íntimo de si mesmos, que lhes vem de ver que todos santificam e louvam ao Senhor, e bendizem o Seu nome e ninguém O ofende. Todos O amam e a própria alma não se ocupa com outra coisa senão amá-Lo, nem pode deixar de O amar, porque O conhece” (CP 30, 5).
Prece: Peçamos a Nossa Senhora e a Santa Teresa que despertem em nós grandes desejos para que a nossa vida no tempo seja já “a eternidade começada”, “o Céu na Terra”.
5º Mistério: A coroação de Nossa Senhora como Rainha do Céu e da Terra. “Maria exclamou: ‘de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações, porque o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas! Santo é o Seu nome!’ ”(Lc 46.48b-49).
Reflexão: Dizer Sim a Deus é Reinar. Quando Maria diz ao anjo: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, ela sabe, por experiência, que Deus é bom, verdadeiro, fiel, e que a sua misericórdia se estende de geração em geração. Maria no seu Sim ensina-nos, como sempre ela o fez, a afinar a nossa vida pela vida de Deus: o que tu queres, Senhor, eu quero!
Maria teve que caminhar pela fé. Imitando a sua fé, somos capazes de ver para além das coisas exteriores que nos rodeiam. Ela foi capaz de ver Deus no coração do universo, guiando todas as coisas e todas as pessoas para si mesmo, através de Jesus Cristo. Maria era uma contemplativa, o que não significa que passasse os seus dias de joelhos. Uma contemplativa é uma amiga amadurecida de Deus que busca a realidade com os olhos de Deus e que ama o que vê com o coração de Deus. Porque Reinar é Servir, ela é nossa Mãe e Rainha do Céu e da Terra.
Infelizmente São José está excessivamente na sombra, quase esquecido. Não, assim, com Santa Teresa: “É que não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos – no tempo em que tanto passou com o Menino Jesus – sem que se dê graças a São José pelo muito que então os ajudou”.
Prece: Peçamos a Nossa Senhora, a São José e a Santa Teresa para que saibamos fazer de toda a nossa existência uma Páscoa e uma Eucaristia, em que Jesus e Maria reinem nos nossos corações: “A quantos tudo abandonam por amor de Deus, Ele se entrega totalmente”.
E também Maria se dá totalmente: “Estando todas no coro em oração depois de Completas, vi Nossa Senhora, com grandíssima glória, revestida dum manto branco e, debaixo dele, parecia amparar-nos a todas. Entendi quão alto grau de glória daria o Senhor às desta casa” (V 36, 24).
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