Encontro da Família Carmelita em Fátima

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Meditação dos mistérios gozosos

1º Mistério: A anunciação do anjo Gabriel a Nossa Senhora. O Anjo Gabriel disse a Maria: “Não temas, pois achaste graça diante de Deus (Lc 1, 30).

Comentando o acontecimento da Anunciação, diz São Bernardo: «Ouviste, ó Virgem, a voz do Anjo: Conceberás e darás à luz um filho. Ouviste-o dizer que não será por obra de varão, mas por obra do Espírito Santo. O Anjo aguarda a resposta (…). Todo o mundo, prostrado a teus pés, espera a tua resposta: da tua palavra depende a consolação dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua linhagem. Dá depressa, ó Virgem a tua resposta. Profere a tua palavra humana e concebe a divina. Porque demoras? Abre, ó Virgem santa, o coração à fé, os lábios ao consentimento, as entranhas ao Criador. Eis que o desejado de todas as nações está à tua porta e bate. Se te demoras e Ele passa adiante, terás então de recomeçar dolorosamente a procurar o amado da tua alma. Eis a serva do Senhor, disse a Virgem, faça-se em mim segundo a tua palavra».

2º Mistério: A Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel. Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, e saudou Isabel. Isabel, erguendo a voz exclamou; Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Feliz de ti que acreditaste. Maria disse então: A minha alma glorifica o Senhor (cf. Lc 1, 39-56).

Meditando sobre a visita de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel, a carmelita Beata Isabel da Trindade escreveu: «Quando leio no Evangelho «que Maria percorreu diligentemente as montanhas da Judeia» para ir cumprir o seu ofício de caridade, junto a sua prima Isabel, vejo-a passar tão bela, tão calma, tão majestosa, tão recolhida interiormente, com o Verbo de Deus.

Parece-me que a atitude da Virgem, durante os meses que decorreram entre a Anunciação e o Natal, é o modelo das almas interiores, dos seres que Deus escolheu para viverem de dentro, no fundo do abismo sem fundo. Com que paz, com que recolhimento, Maria se entregava e se prestava a todas as coisas! Como é que mesmo as mais banais eram por ela divinizadas? Porque, em tudo, a Virgem permanecia  a adoradora do dom de Deus! Isto porém, não impedia de se entregar ao que era exterior, sempre que se tratava de praticar a caridade».

3º Mistério: O nascimento de Jesus em Belém. O Anjo disse aos pastores: “Anuncio-vos uma grande alegria. Hoje, nasceu-vos em Belém um Salvador”. E os pastores “foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura (Lc 2, 10-11.16).

Acerca do mistério da Encarnação, São João da Cruz escreveu estas palavras luminosas: «Mas agora que está fundada a fé em Cristo e promulgada a lei evangélica, nesta era da graça, Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra única, e nada mais tem a revelar. O que antigamente Deus disse pelos profetas a nossos pais de muitos modos e de muitas maneiras, agora, por último, nestes dias, nos falou pelo Filho tudo de uma só vez. Deus ficou como mudo e não tem mais que falar, porque o que antes disse parcialmente pelos Profetas, revelou-O totalmente, dando-nos o Todo que é o seu Filho. E por isso, quem agora quisesse consultar Deus ou pedir-Lhe alguma visão ou revelação, não só cometeria um disparate, mas faria agravo a Deus, por não pôr os olhos totalmente em Cristo e buscar fora d’Ele outra realidade ou novidade.

Poderia Deus responder-lhe deste modo: Este é o meu Filho amado, no qual pus toda a minha complacência; escutai-O. Se já te falei todas as coisas na minha Palavra, que é o meu Filho – e não tenho outra – que mais te posso Eu responder agora ou revelar? Põe os olhos só n’Ele, porque n’Ele tudo disse e revelei, e acharás ainda mais do que pedes e desejas».

4º Mistério: A apresentação de Jesus no Templo. Segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram o Menino a Jerusalém para O apresentarem ao Senhor. Ora vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso. Tinha-lhe sido prometido que não morreria antes de ter visto o Messias. Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: “Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, porque meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo” (Lc 2, 22-26).

A festa da Apresentação é também a festa da Luz, porque Jesus é a “Luz para se revelar às nações”. A este propósito São Sofrónio faz o seguinte comentário: «Na verdade a luz veio ao mundo e, dispersando as trevas que o envolviam, encheu-o de esplendor; visitou-nos do alto o Sol nascente e derramou a sua luz sobre os que se encontravam nas trevas. Caminhemos empunhando as lâmpadas, acorramos trazendo as luzes, não só para indicar que a luz refulge já em nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos há-de vir.

Eis que veio a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Nenhum fique excluído deste esplendor, nenhum persista em continuar imerso na noite, mas avancemos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos juntos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara e eterna; associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de acção de graças ao Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor».

5º Mistério: O encontro de Jesus no Templo entre os doutores da Lei. Depois de José e Maria andarem três dias aflitos à procura de Jesus, encontraram-no no Templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas (Lc 2, 46).

No regresso a Nazaré, após um dia de viagem, Maria e José aperceberam-se de que Jesus «não fazia caminho com eles», e ficaram preocupados e foram procurá-lo. Sinal importante para nós: quando nos apercebermos de que Jesus não está a fazer caminho connosco, devemos ficar preocupados e ir à procura dele. Por outras palavras: não podemos perder Jesus. Podemos perder coisas e tralhas que atrapalham e sobrecarregam. Mas Jesus é a nossa vida, se o perdemos, perdemo-nos, e é Ele que todos nos pedem: «Nós queremos ver Jesus!» (João 12,21).

Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” (Lc 2, 49). Embora não compreendendo a resposta de Jesus, Maria guardava todas estas palavras e acontecimentos, compondo-os no seu coração. Expressão belíssima que mostra bem a altura do crente verdadeiro, que não tem de compreender tudo já, mas guarda e vai compondo palavras e acontecimentos divinos numa bela melodia. «Maria teve que caminhar pela fé. Imitando a sua fé, somos capazes de ver para além das coisas exteriores que nos rodeiam. Ela foi capaz de ver Deus no coração do universo, guiando todas as coisas e todas as pessoas para si mesmo, através de Jesus Cristo. Maria era uma contemplativa, o que não significa que ela passasse os seus dias de joelhos. Uma contemplativa é uma amiga amadurecida de Deus que busca a realidade com os olhos de Deus e que ama o que vê com o coração de Deus» (Joseph Chalmers).

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