Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 3, 10-18)
E as multidões perguntavam-lhe: «Que devemos, então, fazer?» Respondia-lhes: «Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo.» Vieram também alguns cobradores de impostos, para serem baptizados e disseram-lhe: «Mestre, que havemos de fazer?» Respondeu-lhes: «Nada exijais além do que vos foi estabelecido.» Por sua vez, os soldados perguntavam-lhe: «E nós, que devemos fazer?» Respondeu-lhes: «Não exerçais violência sobre ninguém, não denuncieis injustamente e contentai-vos com o vosso soldo.» Estando o povo na expectativa e pensando intimamente se ele não seria o Messias, João disse a todos: «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. Tem na mão a pá de joeirar, para limpar a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; mas queimará a palha num fogo inextinguível.» E, com estas e muitas outras exortações, anunciava a Boa-Nova ao povo.
Reflexão
Caminhamos rapidamente em direcção ao Natal. Os textos propostos para este 3º Domingo do Advento, Ano C, convidam-nos a alegrar-nos: “solta brados de alegria”, “exulta”, “rejubila”, “alegrai-vos sempre…”. O motivo explica-o João Baptista: “está a chegar quem é mais forte do que eu…”. No entanto, o mesmo João explicita as atitudes que devemos ter se quisermos experimentar esta alegria prometida: partilhar os bens que temos, não cometer injustiças e não oprimir ninguém. “O que temos de fazer?”. É a questão da conversão.
No Angelus pronunciado no dia 6 de Dezembro o Papa Francisco pode ajudar-nos a responder a esta pergunta: “E talvez nós nos perguntemos: «Por que nos devemos converter? A conversão diz respeito a quem de ateu se torna crente, de pecador se faz justo, mas nós não precisamos, nós já somos cristãos! Por conseguinte somos justos». E isto não é verdade. Pensando assim, damo-nos conta de que é precisamente desta presunção — que somos cristãos, todos bons, justos — que nos devemos converter: da suposição que, no fim de contas, está bem assim e não precisamos de conversão alguma. Mas procuremos questionar-nos: é deveras verdade que nas várias situações e circunstâncias da vida temos em nós os mesmos sentimentos de Jesus? É verdade que sentimos como Jesus sente? Por exemplo, quando sofremos alguma injustiça ou afronta, conseguimos reagir sem animosidade e perdoar de coração a quem nos pede desculpa? Quanto é difícil perdoar! Quanto é difícil! «Vais-me pagar!»: estas palavras vêm de dentro! Quando somos chamados a partilhar alegrias e sofrimentos, sabemos chorar sinceramente com quem chora e rejubilar com quem se alegra? Quando devemos expressar a nossa fé, sabemos fazê-lo com coragem e simplicidade, sem nos envergonharmos do Evangelho? E assim podemos fazer-nos muitas perguntas. Não estamos tranquilos, devemos converter-nos sempre, ter os sentimentos que Jesus tinha.
A voz do Baptista ainda brada nos actuais desertos da humanidade, que são — quais são os desertos de hoje? — as mentes fechadas e os corações empedernidos, e provoca-nos a questionar-nos se estamos efectivamente a percorrer o caminho justo, vivendo uma vida segundo o Evangelho. Hoje como naquela época, ele admoesta-nos com as palavras do profeta Isaías: «Preparai os caminhos do Senhor!» (v. 4). É um convite urgente a abrir o coração e a acolher a salvação que Deus nos oferece incessantemente, quase com teimosia, porque quer que todos sejamos livres da escravidão do pecado. (…) Ninguém pode dizer: «Eu sou santo, eu sou perfeito, eu já estou salvo»”.
Palavra para o caminho
“E nós que devemos fazer?” (Lucas 3,10.12.14), perguntam as multidões, os publicanos, os soldados. Perguntamos nós também. Responde João Baptista: vós não vos canseis de dar, não roubeis, não pratiqueis a injustiça, não façais violência! Amai! Reparemos que todos os frutos de conversão que João Baptista menciona e reclama se referem sempre ao nosso comportamento para com o próximo. Fica claro que a conversão, isto é, o nosso voltar-se para Deus, passa sempre pelos nossos gestos para com o próximo, nomeadamente pela partilha para além do impensável.