Sobre a misericórdia

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O que é a misericórdia? É a manifestação do amor, compaixão e bondade de Deus para com o homem nos seus “tormentos e misérias” (Lm 3, 19) físicas, sociais, morais e espirituais, para o socorrer, salvar e recuperar: “O Senhor não rejeita ninguém para sempre. Embora castigue, tem compaixão, porque é grande o seu amor” (Lm 3, 31-32).

Os salmos estão cheios de súplicas de misericórdia e de louvor a Deus por socorrer os seus fiéis nas tribulações. Exemplo: “É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades. É Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e de ternura. (Sl 103, 3-4; cf 146, 7-9; 147, 3.6; 136). Como Deus é misericordioso para com os homens, assim estes são chamados a sê-lo para com os seus semelhantes.

A misericórdia na prática dos homens. O amor misericordioso manifesta-se na compaixão para com os outros, no cuidado das suas feridas e no dar a mão para a sua plena recuperação física, espiritual, moral e social. Isto traduz-se nas chamadas obras de misericórdia corporais e espirituais. O elenco é exemplificativo, devendo ser aumentado segundo os cuidados requeridos pelas carências das pessoas que se encontram.

As sete obras de misericórdia corporais: Dar de comer a quem tem fome. Dar de beber a quem tem sede. Vestir os nus. Dar pousada aos peregrinos. Visitar os enfermos. Visitar os presos. Enterrar os mortos.

As sete obras de misericórdia espirituais: Dar bons conselhos. Ensinar os ignorantes. Corrigir os que erram. Consolar os tristes. Perdoar as injúrias. Suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo. Rezar a Deus por vivos e defuntos.

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Onde encontras a tua felicidade?

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Senhor, Deus do meu coração, muitas vezes tenho vivido longe de Ti. Pensava procurar a felicidade e o meu coração andava cada dia mais vazio. Só Tu, Senhor, és capaz de encher a minha vida. Que nunca perca de vista o fim para que fui criado: a felicidade. E que procure esta felicidade onde ela se encontra: em Ti!

Santo Henrique de Ossó

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4º Domingo da Quaresma – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 15,1-3.11-32)

Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».

Reflexão

O Evangelho deste Domingo IV da Quaresma (Lucas 15,1-32) é uma janela sublime e sempre aberta com vista directa para o coração de Deus, exposto, narrado, contado por Jesus. Mas antes de Jesus começar a contar Deus, o narrador prepara cuidadosamente o cenário, dizendo-nos que os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar, em claro contraponto com os escribas e fariseus que estavam lá, não para o escutar, mas para criticar o facto de Jesus acolher os pecadores e comer com eles. Eles achavam que os pecadores eram merecedores de castigo severo e não de misericórdia, pois eram amplamente devedores a Deus, e não credores como os fariseus pensavam que eram. São visíveis, portanto, dois modos de ver, dois critérios: 1) o comportamento novo, misericordioso, inclusivo, por parte de Jesus, que acolhe e abraça os pecadores, até então marginalizados e hostilizados; 2) o comportamento impiedoso, rigorista e exclusivista para com os pecadores por parte da velha tradição religiosa dos escribas e fariseus.

O verdadeiro protagonista dessa parábola é o pai. Por duas vezes ele repete o mesmo grito de alegria: “Este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e o encontramos”. Este grito revela o que há no seu coração de pai.

Para este pai, não lhe interessa a sua honra, os seus interesses, nem o trabalho que lhe dão os seus filhos. Jamais emprega uma linguagem moral. Somente pensa na vida do filho: que não fique destruído, que não continue morto, que não viva perdido sem conhecer a alegria da vida.

O relato descreve com todos os detalhes o encontro surpreendente do pai com o filho que abandonou o lar. Estando, ainda, distante, o pai “viu-o” vir faminto e humilhado, e “comoveu-se” até às entranhas. Este olhar bom, cheio de bondade e de compaixão é o que nos salva. Somente Deus nos olha assim.

Finalmente, temos o filho mais velho. O filho mais velho volta do serviço do campo e encontra a casa em festa. Não entra. Quer saber de que se trata. Quando sabe do motivo da festa, fica com muita raiva e não quer entrar. Não gosta da festa e não entende a alegria do pai. Sinal de que não tinha intimidade com o pai, apesar de viver na mesma casa. Pois, se tivesse, teria notado a imensa tristeza do pai pela perda do filho mais novo e teria entendido a alegria dele pela volta do filho.

Da mesma maneira como o pai não deu atenção aos argumentos do filho mais novo, assim também não dá atenção aos argumentos do mais velho e diz-lhe: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu! Mas este teu irmão estava morto e tornou a viver. Estava perdido e foi reencontrado!” Será que o irmão mais velho tinha realmente consciência de estar sempre com o pai e de encontrar nesta presença a causa da sua alegria? A parábola não diz qual foi a resposta final do irmão mais velho. Isto fica por conta do próprio irmão mais velho que é cada um de nós!

Palavra para o caminho

O Evangelho de Lucas prima pela sua ênfase sobre a misericórdia de Deus. Se fosse para classificar numa só palavra o rosto de Deus em Lucas, poderíamos, sem hesitação, assinalar “misericórdia”. Talvez nenhum capítulo saliente esta convicção tanto como o capítulo 15. Jesus contou as parábolas deste capítulo porque os chefes religiosos o criticavam por se associar com gente de má fama!

É bom lembrar que os fariseus e doutores da Lei não eram pessoas más: eram pessoas dedicadas a Deus e à religião. Só que tinham uma visão distorcida: para eles, Deus é totalmente Santo, e por isso, rejeita os pecadores. Para Jesus, Deus é totalmente Santo, mas por isso corre atrás dos pecadores e acolhe-os. O problema de fundo é a visão de Deus, e Jesus dirige as três parábolas do capítulo 15 aos chefes religiosos, para contestar e corrigir a visão que têm de Deus.

Jesus quer também questionar-nos. Somos capazes de reconhecer a nossa própria fraqueza e miséria espiritual, como fez o “pródigo”? Somos capazes de correr ao encontro de um irmão perdido, como fez o pai? Ou somos como o irmão mais velho: “gente boa”, mas incapaz de ter um coração de misericórdia, de alegrar-se com a volta ao estado original do irmão perdido?

Este texto do evangelho e todo o capítulo 15 de Lucas são muito apropriados para a nossa reflexão neste “Ano da Misericórdia”. Uma parábola de consolo para todos, mas também de desafio. Podemos dizer que este capítulo 15 de Lucas é o coração do Evangelho. Pois Deus, o Deus de Jesus e o de Lucas, é o Deus que não se alegra com a perda de quem quer que seja, mas com a volta do pecador. É o Deus que encarnou em Jesus de Nazaré, para salvar quem estava perdido. É o Deus da misericórdia e do perdão. Como traduzimos esta visão de Deus nas nossas vidas?

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Via sacra com os santos carmelitas: 10ª-14ª

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10ª Estação: Jesus é despojado das suas vestes

Do Evangelho de S. Marcos (15, 24): Depois, crucificaram-no e repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para ver o que cabia a cada um.

Breve momento de silêncio.

A alma despojada de si mesma e revestida de Jesus Cristo não tem de temer nada do mundo exterior. Por isso, renuncio cada dia a mim mesma, a fim de que Cristo possa crescer em mim. (Santa Isabel da Trindade).

Breve momento de silêncio.

Senhor, muitas vezes senti-me despojado do que considerava valioso, indispensável para viver. Muitas experiências no mundo ajudaram-me a entender que no fim nada permanece, senão unicamente a tua presença, o teu amor fiel. Então pensei abandonar muitas coisas inúteis, inclusivamente muitas companhias que não me conduziam a ti. Aos poucos fui-me despojando e revesti-me do vestido mais formoso que és tu, ó Jesus.

11ª Estação: Jesus é cravado na cruz

Do Evangelho de S. Marcos (15, 25-27): Eram umas nove horas da manhã, quando o crucificaram. Na inscrição com a condenação, lia-se: «O rei dos judeus.» Com Ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita e o outro à sua esquerda.

Breve momento de silêncio.

Decidi permanecer em espírito aos pés da cruz para receber aí o orvalho divino, o sangue que caía no chão, sem que ninguém se apressasse a recolhê-lo. Então compreendi que devia derramá-lo sobre as almas. (Santa Teresinha do Menino Jesus).

Breve momento de silêncio.

Senhor, pela tua graça cheguei até aqui, até aos pés da tua cruz. Contemplo-te cravado no madeiro, cravado sobretudo à dor, ao amor, à vontade de nos salvar. Cada gota do teu sangue que cai é uma promessa de vida nova para cada um de nós, teus filhos, espalhados pelo mundo inteiro, ao longo da nossa pobre história humana. Como teu irmão, ó Jesus, desejo aprender em cada dia a recolher as gotas preciosas da tua palavra e quero entregá-la depois a quantos encontro no meu caminho, sem a guardar para mim.

12ª Estação: Jesus morre na cruz

Do Evangelho de S. Marcos (15, 33-34.37.39): Ao chegar o meio-dia, fez-se trevas por toda a terra, até às três da tarde. E às três da tarde, Jesus exclamou em alta voz: «Eloí, Eloí, lemá sabachtáni?», que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». (…) Mas Jesus, com um grito forte, expirou. (…) O centurião que estava em frente dele, ao vê-lo expirar daquela maneira, disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!».

Breve momento de silêncio.

A morte não pode resultar amarga para a alma que ama, já que nela encontra toda a doçura e o deleite do amor. A alma goza da morte como se estivesse a pensar no seu noivado ou no seu matrimónio, por isso deseja o dia e a hora da sua morte. (S. João da Cruz).

Breve momento de silêncio.

Senhor, a tua morte é para mim uma grande escola; nela posso aprender a amar, a viver de verdade; nela posso encontrar sentido para a minha vida. Diante de ti, Crucificado, descubro que o amor e a dor são uma mesma coisa e que por isso a morte foi anulada, e a partir de agora jamais poderá triunfar. Junto a ti, toda a pequena morte, converte-se em doce experiência de vida, porque agora sei que na dor posso encontrar o amor. Obrigado, Senhor Jesus.

13ª Estação: Jesus é descido da cruz

Do Evangelho de S. Marcos (15, 42-43.46): Ao cair da tarde, visto ser a Preparação, isto é, véspera do sábado, José de Arimateia, respeitável membro do Conselho, que também esperava o Reino de Deus, foi corajosamente procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus.(…) Depois de comprar um lençol, desceu o corpo da cruz e envolveu-o nele. Em seguida, depositou-o num sepulcro cavado na rocha e rolou uma pedra sobre a entrada do sepulcro.

Breve momento de silêncio.

Seguindo os teus caminhos não poderás chegar aonde desejas, nem sequer através da mais alta contemplação, mas somente através de uma grande humildade e de uma total disponibilidade do coração. (Santa Teresinha do Menino Jesus).

Breve momento de silêncio.

Senhor, eu sei que não tenho nada de grande, vistoso e importante para te oferecer. Não tenho nada, unicamente o meu coração. Depois deste longo caminho seguindo os teus passos na prova e na dor da cruz, somente desejo entregar-te o meu coração, o meu amor, a minha vida. Entrego-me ao teu abraço sabendo que me acolhes tal como sou.

14ª Estação: o corpo de jesus é colocado no túmulo

Do Evangelho de S. Marcos (15, 46-47): José de Arimateia, depois de comprar um lençol, desceu o corpo da cruz e envolveu-o nele. Em seguida, depositou-o num sepulcro cavado na rocha e rolou uma pedra sobre a entrada do sepulcro. Maria de Magdala e Maria, mãe de José, observavam onde o depositaram.

Breve momento de silêncio.

Parece-me que o bom Deus lhe pede um abandono e confiança sem limites nas horas dolorosas em que sente esses terríveis vazios. Pense que, nessa altura, Ele está a escavar na sua alma maiores capacidades para O receber, de algum modo infinitas como Ele mesmo. Tente, então, pela vontade, ficar inteiramente feliz, mesmo sob a mão que a crucifica; dir-lhe-ei até que encare cada sofrimento, cada provação “como uma prova de amor”, que lhe vem directamente da parte do bom Deus, para se unir a Ele. (Santa Isabel da Trindade).

Breve momento de silêncio.

Senhor, o último passo é uma descida profunda, é entrar na obscuridade do túmulo. Ao chegar ao cimo eu esperava ver uma luz mais clara, receber os benéficos raios do sol. No entanto, ainda não é o tempo. Quero permanecer contigo, baixar também até à solidão tenebrosa do túmulo. Não tenho medo, pois creio que o teu amor é mais forte; sei que ressuscitarás e também me farás viver

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Via sacra com os santos carmelitas: 5ª-9ª

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5ª Estação: O cireneu ajuda Jesus a levar a cruz

Do Evangelho de S. Marcos (15, 21-22): Para lhe levar a cruz, requisitaram um homem que passava por ali ao regressar dos campos, um tal Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo. E conduziram-no ao lugar do Gólgota, que quer dizer “lugar do Crânio”.

Breve momento de silêncio.

Cada um tem a cruz que deve levar, ainda que cada cruz seja diferente das outras. Quem quiser conquistar a liberdade de espírito e não sentir-se continuamente atribulado, deve começar por não espantar-se da cruz. Então verá como o Senhor o ajuda a levá-la (S. João da Cruz).

Breve momento de silêncio.

Senhor, tenho medo. Desejaria fugir perante qualquer dor ou provação. Sobretudo, espanta-me e bloqueia-me a solidão. Cada vez que aparece na minha vida a sombra da cruz, custa-me continuar a esperar. Sinto-me cansado, ó Jesus. Não obstante, desejo aproximar-me do teu coração. Estendo a minha mão e tomo a tua; ofereço-te a pouca força que tenho, o nada que sou. Somente contigo poderei levar também a cruz.

6ª Estação: A Verónica enxuga o rosto de Jesus

Do livro do Profeta Isaías (53, 2-3): O servo cresceu diante do Senhor como um rebento, como raiz em terra árida, sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente, desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado.

Breve momento de silêncio.

Ao longo do caminho da cruz Jesus não está só. Hoje, como então, estão não só os adversários como também as pessoas que o ajudam. Representando a quantos o amam e desejam ajudá-lo está a Verónica. (Santa Teresa Benedita da Cruz).

Breve momento de silêncio.

Senhor, tenho um desejo no coração: ser teu amigo, caminhar contigo, compartilhar a vida contigo. Sei que estás a sofrer ao percorrer o caminho da dor. Vejo muitas pessoas à tua volta. Também eu te procuro, aproximo-me o mais que posso. Quero amar-te; já nada mais me importa. Junto à Verónica procuro o teu rosto, pois tu és a minha Luz.

7ª Estação: Jesus cai pela segunda vez

Do Livro das Lamentações (3, 1-2.9.16): Eu sou o homem que conheceu a miséria, sob a vara da sua ira. Conduziu-me e fez-me caminhar nas trevas e não na luz. Bloqueou-me o caminho com pedras, fez-me seguir por estrada errada. Quebrou-me os dentes com uma pedra, e mergulhou-me na cinza.

Breve momento de silêncio.

Quando caminhas na noite escura e no vazio da pobreza espiritual, pensas que te falta tudo e todos – inclusivamente Deus -. Contudo não te falta nada (S. João da Cruz).

Breve momento de silêncio.

Faltas-me, Senhor! Como podes dizer que estás perto de mim, que compartilhas tudo comigo? Sinto a solidão, a dor, a angústia. Também tu caíste sob o peso de um infinito sofrimento. Como poderei encontrar-te de novo, meu Pastor? Eu, ovelha tresmalhada, tenho necessidade de ti. Levanta-te, aparece de novo, ó bom Pastor! Então seguir-te-ei todos os dias da minha vida.

8ª Estação: Jesus consola as filhas de Jerusalém

Do Evangelho de S. Lucas (23, 28-31): Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; pois dias virão em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram’. Hão-de, então, dizer aos montes: ‘Caí sobre nós!’. E às colinas: ‘Cobri-nos!’. Porque se tratam assim a árvore verde, o que não acontecerá à seca?».

Breve momento de silêncio.

Ó Jesus, deixa que eu chore por mim mesmo, pois não sou senão uma árvore seca que só serve para ser lançada ao fogo. Porém tu dás nova vida à árvore seca enxertando-a na árvore da cruz (Beato Tito Brandsma).

Breve momento de silêncio.

Tu, Senhor, és o meu Fogo. Como árvore pobre e sem vida, só desejo lançar-me nos teus braços. Recebe-me, rogo-te. Não importa que isto signifique que terei de me abraçar à cruz da tua dor. Só contigo posso novamente ser feliz. As nossas lágrimas unir-se-ão num canto de alegria.

9ª Estação: Jesus cai pela terceira vez

Do Livro de Isaías (53, 6-7): Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele todos os nossos crimes. Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador.

Breve momento de silêncio.

Ainda que caias cem vezes, levanta-te cada vez mais com maior presteza, demonstrando assim o teu amor por Ele (Santa Teresinha do Menino Jesus).

Breve momento de silêncio.

Senhor, tenho vergonha de mim mesmo; caio e volto a cair, perco-me, afasto-me, encerro-me. Quando estou assim, no chão e sem forças, entendo que a única coisa que há que fazer, o único passo a dar, é voltar a entrar em mim mesmo, como o filho pródigo, e ali, no fundo da alma, voltar a descobrir o teu amor por mim. Agarrado a ele poderei ressurgir, movido somente por uma infinita confiança na tua ternura de Amigo, ó meu Salvador.

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Via sacra com os santos carmelitas: 1ª-3ª

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Amen.

Admonição inicial: Estamos reunidos em nome do Senhor. Ele está aqui connosco, como prometeu. Vamos percorrer na fé o trajecto que Jesus fez desde o Pretório de Pôncio Pilatos até ao cimo do Calvário, onde Ele deu a vida pela salvação do mundo. Connosco está também a Virgem Santa Maria. Ela esteve no cimo do Gólgota. Mulher da dor, Mãe de misericórdia, Ela inclina-Se sobre os seus filhos, para ver os seus sofrimentos, para levar conforto e reavivar a esperança.

1ª Estação: Jesus é condenado à morte

Do Evangelho de S. Marcos (15,14-15): Pilatos insistiu: «Que fez Ele de mal?». Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-o!». Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado.

Breve momento de silêncio.

Quando a alma chega a não prestar atenção aos louvores, cada vez menos presta atenção às críticas. A crítica fortalece a alma, a qual vai adquirindo um particular e terno amor cada vez maior para com os seus perseguidores (Santa Teresa de Ávila).

Breve momento de silêncio.

Senhor, a minha alma está diante de ti. Tu conheces-me profundamente, sabes tudo sobre mim, lês o mais profundo da minha intimidade. Tu recolhes cada lágrima e respondes aos meus sorrisos. Na minha vida não há nenhum espaço ou tempo que tu não visites com o teu amor e com a tua amizade. Dou-te graças por tudo isto, meu Deus. O meu caminho nesta vida está já decidido: quero estar contigo em cada momento, na alegria e no cansaço, na paz e na incompreensão, na companhia e na solidão. A tua presença, ó Jesus, fortalece a minha alma, mesmo na debilidade.

2ª Estação: Jesus carrega com a cruz

Do Evangelho de S. Marcos (15, 20): Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto de púrpura e revestiram-no das suas vestes. Depois levaram-No dali, para o crucificarem.

Breve momento de silêncio.

Jesus prodigaliza as suas cruzes como o sinal mais seguro da sua ternura, porque deseja fazer-te semelhante a Ele. Porquê ter medo de não ser capaz de levar a cruz sem desfalecer? (Santa Teresinha do Menino Jesus).

Breve momento de silêncio.

Senhor, muitas vezes na minha vida experimentei a tua ternura, sobretudo nos momentos de dor, quando não encontrei palavras para pronunciar, quando me era impossível orar, quando sozinho se fazia presente a noite… Tu estavas a meu lado, talvez no silêncio, com um toque apenas perceptível. Ó Jesus, muitas vezes te vi assim e pude olhar-te nos olhos. Quando voltava para a luz, quando as lágrimas tinham secado, sentia-me um pouco mais igual a ti.

3ª Estação: Jesus cai pela primeira vez sob o peso da cruz

Do livro do Profeta Isaías (53, 4-6): Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele todos os nossos crimes.

Breve momento de silêncio.

A coragem em sofrer muito ou sofrer pouco está sempre na proporção do amor (Santa Teresa de Jesus).

Breve momento de silêncio.

Senhor, sei que não te conheço como deveria nem como desejaria. Sei que me falta muito caminho por andar indo atrás de ti, seguindo as tuas pisadas à sombra da cruz. Do que unicamente posso presumir é das minhas debilidades e dos meus erros. Humanamente falando, ó Jesus, sou pouca coisa, mas tendo-te a ti no coração e na vida, sinto-me rico e feliz. Não quero esconder-me de ti; abro as minhas mãos e o meu coração para que possas entrar na minha pobreza com a verdadeira riqueza, que é a tua Cruz. Sim, meu Salvador, este é o sinal do Amor.

4ª Estação: Jesus encontra sua Mãe

Do Evangelho de S. Lucas (2, 34-35.51): Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações». Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.

Breve momento de silêncio.

Na Sagrada Escritura encontramos poucas palavras da Virgem, mas são como grãos de ouro puro: se os fundirmos com o fogo de uma amorosa contemplação, serão suficientes para irradiar sobre toda a nossa vida o esplendor luminoso das virtudes de Maria (Santa Teresa Benedita da Cruz).

Breve momento de silêncio.

Senhor, neste momento eu também quero permanecer em silêncio, para captar o intercâmbio de amor infinito que te une à tua Mãe e a tua Mãe a ti. Ó Jesus, levanto os olhos e vejo-te, continuo a olhar o teu rosto, teus olhos de Filho, que reflectem a figura da tua Mãe. Tu não falas, mas ofereces a tua Presença: entregas-te a ti mesmo e entregas a tua Mãe. Eu a recebo como minha Senhora, como minha Mãe dulcíssima.

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Frases sobre a Quaresma

CF 00

* A Quaresma é tempo de limpar e enfeitar a casa por dentro. Convém que vivamos sempre de modo sábio e santo, dirigindo a nossa vontade e as nossas acções para aquilo que sabemos agradar a Deus (São Leão Magno).

A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza (Papa Francisco).

* Sede sóbrios e estai vigilantes. O vosso adversário, o demónio, anda à vossa volta, como leão que ruge, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé (1 Pe 5, 8-9a).

* Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo (Papa Bento XVI).

* A oração é a água viva que murmura dentro de nós e diz: vem para o Pai (Santo Inácio de Antioquia).

* A Quaresma proporciona a arma prática e eficaz do jejum e da esmola para lutar contra o desmedido apego ao dinheiro (São João Paulo II).

* O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas baptismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos «da água e do Espírito Santo…» (Bento XVI).

* Ora, nós sabemos que Jesus veio trazer a salvação integral. É precisamente a esta salvação integral que a Quaresma nos quer guiar, tendo em vista a vitória de Cristo sobre todo o mal que oprime o homem (Bento XVI).

* A Quaresma é período de penitência, de conversão, de mudança do coração (metanóia), que se inspira em diversos motivos, mas sobretudo nasce da meditação da Paixão e da Morte de Jesus Cristo (São João Paulo II).

* Os tempos e os dias de penitência no decorrer do Ano Litúrgico (tempo da Quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja (O Catecismo §.143.

 

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3º Domingo da Quaresma – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 13, 1-9)

Nessa ocasião, apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. Respondeu-lhes: «Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente. E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.» Disse-lhes, também, a seguinte parábola: «Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar frutos, mas não os encontrou. Disse ao encarregado da vinha: ‘Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não o encontro. Corta-a; para que está ela a ocupar a terra?’ Mas ele respondeu: ‘Senhor, deixa-a mais este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.’»

Reflexão

Jesus é realista. Ele sabe bem que a acção de Deus em nós é incompleta se não nos convertermos. Por isso, esforça-se para despertar nas pessoas a mudança: “Convertei-vos e acreditai na Boa Nova”. São muitos aqueles que acorrem até ele para o escutar, porém, acabam por não se abrirem à Boa Nova do Reino de Deus. Jesus não desiste apesar das dificuldades e resistências de toda a espécie. É urgente mudar antes que seja tarde!

No Evangelho deste Domingo III da Quaresma (Lucas 13,1-9), Jesus serve-se de tudo (crónica e  parábola) para gravar em nós a necessidade urgente da conversão. A crónica refere a brutalidade de Pilatos que massacrou um grupo de Galileus e a queda da torre de Siloé que matou 18 pessoas. Pois bem, Jesus não se insurge contra o poder romano nem invoca o fatalismo, mas também não desperta sentimentalismos fáceis e de ocasião, nem tão-pouco se refugia em esquemas feitos: pecaram e por isso foram castigados. Jesus não fica a olhar para trás, não é reactivo, mas proactivo, olha e dirige o nosso olhar para diante. Vira a inteira crónica para nós e diz que, face à precariedade da vida, só nos resta converter-nos! Lição oportuna para nós, que perdemos ainda muito tempo a comentar as notícias, sempre trágicas, dos jornais. De forma diferente, da crónica Jesus retira sabiamente a conversão, grande tema quaresmal, que nos acompanha desde Quarta-Feira de Cinzas.

Depois pega na parábola da figueira, talvez com muitas folhas, mas sem figos. E põe em cena aquele belo acerto de contas entre o dono do pomar (o Pai) e o cultivador (Jesus, o Filho). Os “três anos” apontam para o ministério de Jesus. Aqueles “três anos” de cuidados parece que não foram suficientes para levar aquela figueira, que somos nós, a dar frutos. É-nos dado “ainda mais um ano” de graça para frutificar. Não, não é a paciência de Deus que a parábola acentua, mas a urgência da nossa conversão. A parábola constitui, portanto, um fortíssimo apelo à conversão.

Palavra para o caminho

A proposta principal que Jesus apresenta no Evangelho deste Domingo chama-se “conversão” (“metanoia”). Não se trata de penitência externa, ou de um simples arrependimento dos pecados; trata-se de um convite à mudança radical, à reformulação total da vida, da mentalidade, das atitudes, de forma que Deus e os seus valores passem a estar em primeiro lugar. Essa transformação da nossa existência não pode ser adiada indefinidamente. Está em jogo a nossa felicidade, a vida em plenitude… Porquê adiar a sua concretização?

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Nunca, nunca, nunca desesperes

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Confia em Deus sem limites. Não obstante as tuas grandes misérias e infidelidades, confia; e depois de teres caído, confia: nunca, nunca, nunca desesperes! A Sua misericórdia é um mar, em relação ao qual as tuas culpas, mesmo as enormes, não podem deixar de se afogar neste mar e desaparecer. Recorda sempre isto.

Beata Maria Cândida da Eucaristia

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Coloca tudo nas mãos de Deus

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Quando chega a noite e a revisão do dia nos mostra que muitas das nossa obras foram fragmentárias e outras, que nos tínhamos proposto, ficaram sem se fazer, desperta em nós uma espécie de vergonha e arrependimento, nesse momento havemos de tomar as coisas tal como são, temos de pô-las nas mãos de Deus e abandoná-las a Ele. Desta maneira pode-se descansar n’Ele para, depois de verdadeiramente recuperados, começar o novo dia como se fosse uma nova vida.

Santa Teresa Benedicta da Cruz

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