4º Domingo do Advento – Ano C

The-Visitation

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 1, 39-45)

Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»

Reflexão

O Evangelho de hoje fala da visita de Maria a sua prima Isabel. Elas conheciam-se visto serem primas. Neste encontro, quer uma quer outra, descobrem um mistério que ainda não conheciam e que as enche de grande alegria. Quantas vezes nos acontece na nossa vida encontrarmos pessoas que conhecemos, mas que nos surpreendem de novo pela sabedoria que possuem e pelo testemunho de fé que nos dão?! É assim que Deus se revela e nos faz conhecer o mistério da sua presença na nossa vida.

Lucas não fala muito de Maria mas o que diz é de grande profundidade e importância. Apresenta Maria como modelo das comunidades cristãs. A chave para olhar deste modo Maria é a Palavra de Jesus a respeito da sua mãe: “Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 28). No modo como Maria se comporta com a Palavra de Deus, Lucas vê a atitude mais correcta por parte da comunidade para se relacionar com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, interiorizá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, ainda que muitas vezes não seja compreendida e faça sofrer. Esta é a visão de fundo dos capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas, que falam de Maria, a Mãe de Jesus. Ou seja, quando Lucas fala de Maria, pensa nas comunidades cristãs do seu tempo que viviam dispersas nas cidades do império romano. Maria é o modelo da comunidade fiel. E, fiel a esta tradição bíblica, o último capítulo da Lumen Gentium do Vaticano II, que fala da Igreja, representa Maria como modelo da Igreja.

Palavra para o caminho

Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor”. É a mensagem de Lucas às comunidades: acreditar na Palavra de Deus, que tem a força de realizar o que nos diz. É a Palavra criadora. Gera vida nova no seio de uma virgem, no seio de todo aquele que a acolhe com fé. O elogio que Isabel faz a Maria é completado com o elogio que Jesus faz a sua mãe: “Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 28).

Feliz de ti que acreditaste”. Apesar das incoerências e infidelidades das nossas vidas medíocres, bem-aventurado, também hoje, aquele que crê desde o fundo de seu coração.

Abrir

Orar é abrir a porta

prayer-and-meditation

A oração tem como primeiro efeito criar em mim as condições de abertura a Deus, de comunhão com Ele, de Lhe abrir a porta. Pedir é dispor-me a receber, não é estar a avisar Deus do que me falta, é abrir o coração para o que Ele sabe que eu necessito e tem para me dar. É um acto de humildade de quem se reconhece carente de amor e graça.

Vasco P. Magalhães, sj

Abrir

A missão nasce da paixão

handholding

Portanto cada um de nós está chamado a fazer conhecer Jesus a quantos ainda o não conhecem. Mas isto não significa fazer proselitismo. Não, significa abrir uma porta. «Ai de mim se não anunciar o Evangelho!» (1 Cor 9, 16), declarava São Paulo. Se o Senhor Jesus mudou a nossa vida, e no-la muda todas as vezes que estamos diante d’Ele, como não sentir a paixão de o dar a conhecer a quantos encontramos no trabalho, na escola, no nosso prédio, no hospital, nos lugares de encontro? Se olharmos à nossa volta, encontramos pessoas que estariam dispostas a começar ou a recomeçar um caminho de fé, se encontrassem cristãos apaixonados por Jesus. Não deveríamos e não poderíamos ser nós aqueles cristãos? Faço-vos esta pergunta: «Mas eu estou deveras apaixonado por Jesus? Estou convicto de que Jesus me oferece e me concede a salvação?». E, se estou apaixonado, devo dá-lo a conhecer.

Papa Francisco

Abrir

3º Domingo do Advento – Ano C

San_Giovanni_Battista

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 3, 10-18)

E as multidões perguntavam-lhe: «Que devemos, então, fazer?» Respondia-lhes: «Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo.» Vieram também alguns cobradores de impostos, para serem baptizados e disseram-lhe: «Mestre, que havemos de fazer?» Respondeu-lhes: «Nada exijais além do que vos foi estabelecido.» Por sua vez, os soldados perguntavam-lhe: «E nós, que devemos fazer?» Respondeu-lhes: «Não exerçais violência sobre ninguém, não denuncieis injustamente e contentai-vos com o vosso soldo.» Estando o povo na expectativa e pensando intimamente se ele não seria o Messias, João disse a todos: «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. Tem na mão a pá de joeirar, para limpar a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; mas queimará a palha num fogo inextinguível.» E, com estas e muitas outras exortações, anunciava a Boa-Nova ao povo.

Reflexão

Caminhamos rapidamente em direcção ao Natal. Os textos propostos para este 3º Domingo do Advento, Ano C, convidam-nos a alegrar-nos: “solta brados de alegria”, “exulta”, “rejubila”, “alegrai-vos sempre…”. O motivo explica-o João Baptista: “está a chegar quem é mais forte do que eu…”. No entanto, o mesmo João explicita as atitudes que devemos ter se quisermos experimentar esta alegria prometida: partilhar os bens que temos, não cometer injustiças e não oprimir ninguém. “O que temos de fazer?”. É a questão da conversão.

No Angelus pronunciado no dia 6 de Dezembro o Papa Francisco pode ajudar-nos a responder a esta pergunta: “E talvez nós nos perguntemos: «Por que nos devemos converter? A conversão diz respeito a quem de ateu se torna crente, de pecador se faz justo, mas nós não precisamos, nós já somos cristãos! Por conseguinte somos justos». E isto não é verdade. Pensando assim, damo-nos conta de que é precisamente desta presunção — que somos cristãos, todos bons, justos — que nos devemos converter: da suposição que, no fim de contas, está bem assim e não precisamos de conversão alguma. Mas procuremos questionar-nos: é deveras verdade que nas várias situações e circunstâncias da vida temos em nós os mesmos sentimentos de Jesus? É verdade que sentimos como Jesus sente? Por exemplo, quando sofremos alguma injustiça ou afronta, conseguimos reagir sem animosidade e perdoar de coração a quem nos pede desculpa? Quanto é difícil perdoar! Quanto é difícil! «Vais-me pagar!»: estas palavras vêm de dentro! Quando somos chamados a partilhar alegrias e sofrimentos, sabemos chorar sinceramente com quem chora e rejubilar com quem se alegra? Quando devemos expressar a nossa fé, sabemos fazê-lo com coragem e simplicidade, sem nos envergonharmos do Evangelho? E assim podemos fazer-nos muitas perguntas. Não estamos tranquilos, devemos converter-nos sempre, ter os sentimentos que Jesus tinha.

A voz do Baptista ainda brada nos actuais desertos da humanidade, que são — quais são os desertos de hoje? — as mentes fechadas e os corações empedernidos, e provoca-nos a questionar-nos se estamos efectivamente a percorrer o caminho justo, vivendo uma vida segundo o Evangelho. Hoje como naquela época, ele admoesta-nos com as palavras do profeta Isaías: «Preparai os caminhos do Senhor!» (v. 4). É um convite urgente a abrir o coração e a acolher a salvação que Deus nos oferece incessantemente, quase com teimosia, porque quer que todos sejamos livres da escravidão do pecado. (…) Ninguém pode dizer: «Eu sou santo, eu sou perfeito, eu já estou salvo»”.

Palavra para o caminho

E nós que devemos fazer?” (Lucas 3,10.12.14), perguntam as multidões, os publicanos, os soldados. Perguntamos nós também. Responde João Baptista: vós não vos canseis de dar, não roubeis, não pratiqueis a injustiça, não façais violência! Amai! Reparemos que todos os frutos de conversão que João Baptista menciona e reclama se referem sempre ao nosso comportamento para com o próximo. Fica claro que a conversão, isto é, o nosso voltar-se para Deus, passa sempre pelos nossos gestos para com o próximo, nomeadamente pela partilha para além do impensável.

Abrir

Não está em jogo pouco, mas TUDO

180801_1.tif. Vista noturna mostra lua cheia atr‡s do Cristo Redentor, um dos poucos monumentos do Rio de Janeiro que n‹o sofreram com os cortes de ilumina‹o pœblica em raz‹o do racionamento de energia elŽtrica; a prefeitura considera a est‡tua o simbolo da cidade.

Como seríamos felizes se pudéssemos encontrar o tesouro de que nos fala o Evangelho [Mt 13, 44];  tudo o resto nos pareceria nada. Como ele é infinito, quanto mais escavamos, mais riquezas encontramos. Ocupemo-nos sem cessar a procurá-lo, não nos cansemos até que o tenhamos encontrado.

Frei Lourenço da Ressurreição

Abrir

Abrir caminhos para Deus

y1pu6LraIv10-jyzr_BNn3m1TSQ1pqA7P1-w23G23rSvK0zUBCsVF8vHduYAdwe2NsxLBLP4ec-cDM

O apelo de João Baptista para despertar o povo e acender nele a fé em Deus salvador, concentra-se na afirmação: «Preparai o caminho do Senhor». Como abrir caminhos para Deus? Como abrir-lhe mais caminhos na nossa vida?

Busca pessoal. Para muitos, Deus está hoje como que oculto e encoberto por toda uma classe de preconceitos, dúvidas, más recordações de infância ou experiências religiosas negativas. Como descobri-lo? A primeira coisa é abrir o coração e buscar o Deus vivo que se nos revela em Jesus Cristo. Deus deixa-se encontrar pelos que o procuram.

Atenção interior. Para abrir um caminho a Deus é necessário descer ao fundo do nosso coração. Quem não busca Deus no seu interior é difícil que o encontre fora. Dentro de nós encontraremos medos, perguntas, desejos, vazio… Não importa. Deus está aí. Ele criou-nos com um coração que não descansará enquanto não estiver n’Ele.

Com um coração sincero. Não nos deve preocupar o pecado ou a mediocridade. O que mais nos aproxima do mistério de Deus é VIVER NA VERDADE, não nos enganarmos a nós mesmos, reconhecer os nossos erros. O encontro com Deus acontece quando nasce a partir de dentro esta oração: «Ó Deus, tende compaixão de mim, porque sou pecador». Este é o melhor caminho para recuperar a paz e a alegria interior.

Em atitude de confiança. É o medo que fecha a muitos o caminho para Deus. Muitos têm medo de se encontrar com Ele: só pensam no seu juízo e possíveis castigos. Acabam por não crer que Deus só é amor e que, mesmo quando julga o ser humano, o faz com amor infinito. Despertar a confiança total neste amor pode ser começar a viver de uma maneira nova e feliz com Deus.

Caminhos diferentes. Cada um há-de fazer o seu próprio caminho. Deus acompanha-nos a todos nós. Não abandona ninguém e, menos ainda, quando se encontra perdido. O importante é não perder o desejo humilde de Deus. Quem continua a confiar, quem de alguma maneira deseja crer já é «crente» perante esse Deus que conhece até ao fundo o coração de cada pessoa.

Adaptação de um texto de J. A. Pagola

Abrir

Solenidade da Imaculada Conceição

Mengs_ViergeImmaculee-conception--1728_1779--copie-1

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 1,26-38)

Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela.

Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?»

O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

Reflexão

Alegra-te”. A primeira palavra da parte de Deus aos homens, quando o Salvador se aproxima do mundo, é um convite à alegria. É o que escuta Maria: alegra-te.

A alegria é um dom bonito, porém também muito vulnerável. Um dom que se deve saber cultivar com humildade e generosidade no fundo da alma. Hermann Hesse explica os rostos atormentados, nervosos e tristes de tantos homens, desta maneira muito simples:”É porque a felicidade somente pode senti-la a alma, não a razão, não o ventre, nem a cabeça, nem a bolsa”.

A alegria de Maria é a de uma mulher crente que se alegra em Deus salvador, que levanta os humilhados e dispersa os soberbos, que enche de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias (cf. Lc 1,46-55). Maria alegra-se em Deus, porque ele vem realizar a esperança dos abandonados. Somente pode ser feliz quem se esforça por fazer felizes os outros.

O Senhor está contigo”. Não estamos órfãos. Vivemos invocando, cada dia, um Deus Pai que nos acompanha, nos defende e busca sempre o bem de todo o ser humano. Jesus não nos abandonou. Com ele tudo é possível.

Não temas”. São muitos os medos que paralisam os seguidores de Jesus. Medo do mundo moderno e da secularização. Medo de um futuro incerto. Medo da nossa fraqueza. Medo da conversão ao Evangelho. O medo impede-nos de caminhar para o futuro com esperança. A força de Deus não se revela numa Igreja poderosa, mas humilde.

Darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus”. Também a nós, como a Maria, nos é confiada uma missão: não somos chamados a julgar o mundo, mas a semear esperança. A nossa tarefa não é apagar o pavio que se extingue, mas estimular a fé que, em muitos, quer brotar.

Podemos ser fermento de um mundo mais sadio e fraterno. Estamos em boas mãos. Deus não está em crise. Somos nós que temos de nos atrever a seguir Jesus com alegria e confiança!

Oração a Nossa Senhora da Conceição

Virgem Santíssima, que fostes concebida sem pecado original e por isto merecestes o título de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, e por terdes evitado todos os outros pecados, o Anjo Gabriel vos saudou com as belas palavras “Ave Maria, cheia de graça”, nós vos pedimos que nos alcanceis do vosso divino Filho o auxílio necessário para vencermos as tentações e evitarmos os pecados e, já que vos chamamos de Mãe, atendei-nos com carinho maternal para que possamos viver como dignos filhos vossos. Nossa Senhora da Conceição, rogai por nós. Amen.

Abrir

2º Domingo do Advento – Ano C

Slide11

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 3, 1-6)

No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilena, sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um baptismo de penitência para remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos. E toda a criatura verá a salvação de Deus.’»

Reflexão

Os primeiros cristãos viram na actuação de João Baptista o profeta que preparou, decisivamente, o caminho para Jesus. Lucas resumiu a sua mensagem com este grito tomado do profeta Isaías: “Preparai o caminho do Senhor”. Como escutar este grito na Igreja hoje? Como abrir caminhos para que os homens e as mulheres do nosso tempo possam encontrar-se com Jesus?

Primeiramente, tomando consciência de que necessitamos de um contacto muito mais  vivo com a sua pessoa. Não é possível seguir a um Jesus convertido numa sublime abstracção. Necessitamos de nos sintonizar vitalmente com ele, deixar-nos atrair pelo seu estilo de vida, contagiar-nos da sua paixão por Deus e pelo ser humano. No meio do “deserto espiritual” da sociedade moderna, temos de entender e configurar a comunidade cristã como um lugar onde se acolhe o Evangelho de Jesus.

Não podemos esquecer que nos evangelhos não aprendemos uma doutrina académica sobre Jesus, destinada, inevitavelmente, a envelhecer ao longo dos séculos. Aprendemos um estilo de viver realizável em todos os tempos e em todas as culturas: o estilo de viver de Jesus.

A experiência directa e imediata com o relato evangélico faz-nos nascer para uma fé nova, não por via de uma “doutrinação” ou de uma “aprendizagem teórica”, mas pelo contacto vital com Jesus. Ele ensina-nos a viver a fé, não por obrigação, mas por atracção. Faz-nos viver a vida cristã não como dever, mas como contágio. No contacto com o evangelho recuperamos a nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus. O segredo da “nova evangelização” consiste em nos colocarmos em contacto directo e imediato com Jesus. Sem ele não é possível produzir uma fé nova.

Preparai o caminho do Senhor”. As nossas vidas estão semeadas de obstáculos e resistências que impedem e dificultam a chegada de Deus aos nossos corações e às nossas comunidades cristãs e ao nosso mundo. Deus está sempre perto. Somos nós que devemos abrir caminhos para o acolher encarnado em Jesus: rectificar o que deformamos entre todos; endireitar caminhos tortos; enfrentar a verdade real das nossas vidas para assumir um dinamismo de conversão.

Palavra para o caminho

Ao fazer o elenco dos nomes grandes do mundo de então, não é pretensão do narrador fazer história. Antes, com a precisão do bisturi, quer dizer-nos que a Palavra de Deus passa ao lado dos senhores deste mundo, que decidem e planificam tudo, e vai cair sobre um pobre, João Baptista, que não habita em palácios, mas no deserto! O deserto é o território da verdade e onde se vive do essencial. Deus é livre.

Abrir

Rezar o terço com Santa Teresa de Jesus

Imagem-original-de-Nossa-Senhora-de-Fatima-de-Portugal-2

A Igreja e as diferentes Ordens e Congregações de espiritualidade carmelita e teresiana celebraram de 15 de Outubro de 2014 até 15 de Outubro de 2015 o V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Jesus.

Este encontro aqui, na Capelinha das Aparições, é a expressão da nossa convicção nascida da fé de que somos guiados e animados por Maria no seguimento de Cristo. Constantemente lembramos o que ela disse em Caná: “Fazei tudo o que ele vos disser”: ela leva-nos a Jesus. E ouvimos também o que Jesus disse no Calvário, do alto da cruz: “Eis a tua Mãe!”: Jesus leva-nos a Maria. Uma vez que o Carmelita deve viver em “obséquio de Jesus Cristo”, ninguém viveu como Maria este ideal. Estar com Maria é estar sempre em boa companhia.

Nossa Senhora está presente nos momentos mais decisivos da vida de Santa Teresa de Jesus. Basta recordar o que ela disse quando perdeu a sua mãe, entre os treze e quatorze anos de idade, como indicação, de que ela foi uma autêntica filha de Maria, não só num momento, mas sempre: “Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui-me, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a ela, e, enfim, tornou-me a si”.

Em união com Santa Teresa de Jesus rezemos e meditemos os Mistérios gloriosos.

Mistérios gloriosos

1º Mistério: A ressurreição de Jesus. “Depois do sábado, ao raiar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. Então o anjo falou às mulheres: ‘Sei que procurais a Jesus que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou como havia dito!’ ” (Mt 28 1. 5a. 6b).

Reflexão: O coração é atraído para o tesouro que ama e não se detém mesmo perante os perigos e dificuldades, até que possua o que deseja. O alimento de Jesus era fazer a vontade do Pai. Na ressurreição de Jesus vemos que a vontade de Deus é sempre o nosso Bem e que desabrocha em vida plena e indestrutível.

Santa Teresa põe no centro da sua espiritualidade fazer a vontade de Deus. Diz ela: “A vontade de Deus há-de cumprir-se, quer queiramos quer não, e a Sua vontade há-de fazer-se no Céu e na terra. Este Rei não se dá, senão a quem de todo se dá a Ele (…). Já tenho provas e grande experiência do lucro que há em deixar a minha vontade na Vossa” (CP 32, 4).

É bom e necessário em todas as horas pôr os olhos em Cristo, livro vivo, em quem se aprendem as verdades: “Se estais alegres, vede-O ressuscitado pois a simples imaginação que Ele saiu do sepulcro vos alegrará. Com que esplendor, com que majestade, quão vitorioso, quão alegre!” (C 26, 4).

Prece: Peçamos a Maria e a Santa Teresa de Jesus, para que aspirando à vida, e vida em abundância, o nosso desejo e alegria seja sempre fazer a vontade de Deus.

2.º Mistério: A Ascensão de Jesus ao Céu. “Então, o Senhor Jesus, depois de ter falado [com os discípulos], foi recebido no Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 19-20).

Reflexão: Hoje parece estar obscurecida a ideia de fim, de finalidade. E, por isso, vive-se muito o imediato, no provisório, no descartável. Tem-se a tentação de chamar a atenção, seja da forma que for, através do impressionável. Talvez porque não se saiba para onde se vai, a ideia de caminho, peregrinação, conceitos muito importantes que nos podem ajudar e iluminar na compreensão da vida de Santa Teresa, não estejam muito enraízados entre nós.

Quem se entrega a Jesus, segundo a sua promessa, não se perde: “Quem me segue não anda nas trevas mas terá a luz da vida”. Desde que se determinou a dar-se totalmente a Cristo, Santa Teresa ficou unificada e caminhou serenamente na convicção de que viver é adentrar-se cada vez mais no mistério de Deus até o contemplar face a face no Céu. Por isso, na hora da sua morte disse estas palavras admiráveis: “Finalmente vamo-nos encontrar”.

Prece: Peçamos a Maria e a Santa Teresa de Jesus uma forma de vida inspirada na sabedoria do Evangelho para que em todas as horas possamos dizer e rezar: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta”.

3º Mistério: A descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora reunidos no Cenáculo. “Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: ‘a paz esteja convosco!’ Soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos” (Jo 20, 21.23).

Reflexão: O Espírito Santo é o Pedagogo que o Pai e o Filho nos concedem. Na antiga Grécia o pedagogo era o escravo, o criado, que levava a criança à escola, ao mestre, para que ela fizesse a sua aprendizagem e formação. O Espírito Santo, Deus-Amor, que procede do Pai e do Filho, é-nos concedido para que no Filho sejamos Filhos e possamos chamar a Deus de “Abba”. Teresa de Jesus quando se determinou dar-se toda a Cristo, tendo-o como único Senhor e Esposo, a sua vida foi outra, deu muito fruto que ainda hoje perdura pois como diz Jesus “Sem mim, nada podeis fazer” e “A glória de meu Pai é que deis muito fruto”.

Disse-me o Senhor: Faz o que está em teu poder e deixa-Me a Mim agir e não te inquietes com nada; goza do bem que te foi dado, que é muito grande: Meu Pai se deleita contigo e o Espírito Santo te ama” (CC 10).

Prece: Peçamos a Nossa Senhora e a Santa Teresa que nos ensinem a ser dóceis e a seguir as inspirações do Espírito Santo para que a qualidade do nosso viver seja palpável e contagiante: “Quem deveras ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo o bem favorece, todo o bem louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão verdades e coisa que seja digna de amar. Pensais que é possível, a quem mui deveras ama a Deus, amar vaidades, ou riquezas, ou coisas de deleites do mundo, ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não pretende outra coisa senão contentar ao Amado”.

4º Mistério: A Assunção de Nossa Senhora ao Céu. “Naquele tempo, enquanto Jesus falava à multidão, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e disse: ‘Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito!’ Mas Jesus respondeu: ‘Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática’ ” (Lc 11, 27-28).

Reflexão: A fé potenciando a razão abre e introduz o nosso ser em novos horizontes existenciais que “nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pela mente humana o que Deus tem preparado para os que O amam”. Na nossa caminhada acompanha-nos Maria, garantia segura da nossa Esperança, Estrela da nossa vida.

O grande bem que me parece a mim que há no Reino do Céu, juntamente com muitos outros, é o de já não se ter cuidado com coisa alguma da terra, mas um sossego e glória em si mesmos, um alegrar-se que se alegrem todos, uma paz perpétua, uma grande satisfação no íntimo de si mesmos, que lhes vem de ver que todos santificam e louvam ao Senhor, e bendizem o Seu nome e ninguém O ofende. Todos O amam e a própria alma não se ocupa com outra coisa senão amá-Lo, nem pode deixar de O amar, porque O conhece” (CP 30, 5).

Prece: Peçamos a Nossa Senhora e a Santa Teresa que despertem em nós grandes desejos para que a nossa vida no tempo seja já “a eternidade começada”, “o Céu na Terra”.

5º Mistério: A coroação de Nossa Senhora como Rainha do Céu e da Terra. “Maria exclamou: ‘de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações, porque o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas! Santo é o Seu nome!’ ”(Lc 46.48b-49).

Reflexão: Dizer Sim a Deus é Reinar. Quando Maria diz ao anjo: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, ela sabe, por experiência, que Deus é bom, verdadeiro, fiel, e que a sua misericórdia se estende de geração em geração. Maria no seu Sim ensina-nos, como sempre ela o fez, a afinar a nossa vida pela vida de Deus: o que tu queres, Senhor, eu quero!

Maria teve que caminhar pela fé. Imitando a sua fé, somos capazes de ver para além das coisas exteriores que nos rodeiam. Ela foi capaz de ver Deus no coração do universo, guiando todas as coisas e todas as pessoas para si mesmo, através de Jesus Cristo. Maria era uma contemplativa, o que não significa que passasse os seus dias de joelhos. Uma contemplativa é uma amiga amadurecida de Deus que busca a realidade com os olhos de Deus e que ama o que vê com o coração de Deus. Porque Reinar é Servir, ela é nossa Mãe e Rainha do Céu e da Terra.

Infelizmente São José está excessivamente na sombra, quase esquecido. Não, assim, com Santa Teresa: “É que não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos – no tempo em que tanto passou com o Menino Jesus – sem que se dê graças a São José pelo muito que então os ajudou”.

Prece: Peçamos a Nossa Senhora, a São José e a Santa Teresa para que saibamos fazer de toda a nossa existência uma Páscoa e uma Eucaristia, em que Jesus e Maria reinem nos nossos corações: “A quantos tudo abandonam por amor de Deus, Ele se entrega totalmente”.

E também Maria se dá totalmente: “Estando todas no coro em oração depois de Completas, vi Nossa Senhora, com grandíssima glória, revestida dum manto branco e, debaixo dele, parecia amparar-nos a todas. Entendi quão alto grau de glória daria o Senhor às desta casa” (V 36, 24).

Abrir

Fé é “apoiar-se em”

happy-poor-people

Fé não significa acreditar ou não acreditar se Deus existe, embora a nossa cultura tenha muitas vezes relacionado fé com essa discussão teórica. Fé, crer, significa, à letra, “apoiar-se em”. Devemos perguntar: “Em quem me apoio, em quem faço fé? Qual é o meu fundamento? Em quem confio?” Ora só faz sentido “fazer fé” em quem nos ama, sem condições! Alguém que não engana e me dá força para o caminho! Ser crente cristão é estar convicto de que o caminho de Cristo é o mais humano, apoiado na certeza de um Deus que é Pai, e pedagogicamente me conduz à liberdade.

Vasco P. Magalhães, s.j.

Abrir