Suportar com paciência as fraquezas do próximo

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A obra de misericórdia espiritual que nos ensina a suportar com paciência as fraquezas do próximo deve nos fazer reflectir sobre o facto de que, com grande facilidade, sabemos reconhecer as pessoas importunas muitas vezes próximas de nós, na família e no trabalho, mas não examinamos com igual facilidade a nossa consciência, perguntando-nos se também nós não seremos fastidiosos para os outros. De facto, Deus nos ensina a ser pacientes e misericordiosos, como Ele mesmo o foi com o povo hebreu que se lamentava contra Ele durante o Êxodo, ou como Jesus que, aos Apóstolos tentados pelo poder e pela inveja, procurava, com muita paciência, fazer-lhes enxergar aquilo que era o essencial na sua missão. Neste sentido, são importantes também outras duas obras de misericórdia: ensinar os ignorantes e corrigir os que erram. Num mundo marcado pela superficialidade, pela busca de satisfações imediatas e efémeras, é muito importante saber dar conselho, admoestar e ensinar. Contudo, isso é também um apelo à humildade, para que não caiamos no erro de apontar o cisco no olho do irmão, ignorando a trave que está no nosso.

Papa Francisco, Resumo da Audiência Geral de 16 de Novembro de 2016

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Ser canais do Amor de Deus

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Nisto, está o verdadeiro amor. É aquele amor transbordante para com Deus que, do nosso coração, se derrama sobre o próximo numa medida de fé e generosidade tal, que vemos em cada pessoa humana – quer tenha a nossa fé quer a não possua, quer pratique o bem quer ande enredada nas teias do pecado – em todas as pessoas vemos a face de Jesus Cristo e, em Cristo, amamo-las como irmãos nossos, filhos do mesmo Deus e Pai, que a todos criou e a todos chama a tomar parte na herança do Céu. Por isso, o nosso amor tem de se estender a todos.

Serva de Deus Irmã Lúcia de Jesus

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Comemoração de Todos os Defuntos da Ordem Carmelita – 15 de Novembro

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O amor a Cristo e a comum vocação ao serviço da Virgem Maria que unem todos os Carmelitas como irmãos, enquanto, vivem nesta terra, não terminam com a morte, mas levam-nos a interceder com amor de solicitude fraterna pelos Carmelitas que terminaram a sua carreira nesta vida e ainda esperam a gloriosa e imperturbável visão do Senhor Deus da glória.  

A oração comum de toda a Ordem implora ao Senhor a misericórdia para todos aqueles que nesta vida foram da família do Carmo, religiosos, religiosas, leigos no mundo, e todos quantos estiveram ligados à Ordem por laços de vocação, de amizade, benfeitores, ou simplesmente unidos pelo Escapulário. Rezamos para que por intercessão de Maria, sinal de esperança certa e de consolação segura, se associem nos Céus, à grande família carmelita dos santos e eleitos que já contempla Deus face a face. 

“Se não houvesse a referência ao Paraíso e à vida eterna, o cristianismo reduzir-se-ia a uma ética, a uma filosofia de vida. Ao contrário, a mensagem da fé cristã vem do céu, é revelada por Deus e vai além deste mundo. Acreditar na ressurreição é essencial, para que cada um dos nossos actos de amor cristão não seja efémero nem um fim em si mesmo, mas se torne uma semente destinada a desabrochar no jardim de Deus, e produzir frutos de vida eterna” (Papa Francisco).

“Para uma carmelita a morte não tem nada de espantoso. Vai viver a vida verdadeira. Vai cair nos braços de quem amou aqui na terra sobre todas as coisas. Vai submergir eternamente no amor” (Santa Teresa dos Andes).

Oração

Senhor, glória dos fiéis, concedei o descanso eterno aos nossos irmãos e irmãs defuntos, a quem nos une o mesmo Baptismo e a mesma vocação no Carmelo, para que, tendo seguido a Cristo e sua Mãe, possam contemplar-Vos para sempre como seu Criador e Salvador Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo

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Festa de Todos os Santos Carmelitas – 14 de Novembro

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Os Santos do Carmelo são uma grande multidão de irmãos que consagraram a sua vida a Deus, seguindo o caminho de Cristo, nos braços da Virgem Maria em oração constante e amor aos irmãos, a ponto de muitos terem bordado com o vermelho do seu sangue a branca capa do hábito da Mãe do Carmo, entregando a sua vida como mártires do Evangelho. 

Eremitas no Monte Carmelo, mendicantes na Idade Média, missionários e evangelizadores nas Descobertas, mestres e pregadores nas universidades, religiosas que enriqueceram o povo com a misteriosa fecundidade da sua vida contemplativa, apostólica e orante, leigos que nas suas vidas souberam incarnar com sabedoria a suavidade do espírito do Carmelo. Esta é a grande família do Carmo que, enquanto peregrina, se dedicou à oração constante e à caridade permanente, e, tendo terminado a sua prova, nos deixou o exemplo. Agora, os nossos irmãos, os santos do Carmo, chamam-nos enquanto cantam sem cessar ao Cordeiro Imaculado, vestidos de capas brancas. Contemplamos hoje esta multidão imensa de quantos Deus conduziu à Montanha Santa do Carmo para lhes fazer saborear, já nesta pátria passageira, as delícias da oração, o gozo da vida do Céu e os inumeráveis frutos da árvore da Vida. 

Que o exemplo de todos estes santos seja para nós um estímulo a vivermos inebriados pelo espírito do Carmo no seguimento de Cristo e na imitação da nossa Rainha, Mãe e Irmã, a Flor do Carmelo. Padroeira, Esperança e Estrela dos Carmelitas que já reinam no Céu e dos que ainda peregrinamos na terra.

“Por AMOR de Nosso Senhor lhes peço: lembrem-se quão depressa tudo se acaba, e da mercê que Nosso Senhor nos fez trazendo-nos a esta Ordem e das grandes penas que terá quem nela introduzir algum relaxamento. Mas que ponham sempre os olhos na Casta de onde vimos, naqueles Santos Profetas. Quantos SANTOS temos no Céu que trouxeram este hábito! Tenhamos a santa presunção, com a ajuda de DEUS, de ser como Eles. Pouco durará a batalha e o fim será eterno” (Santa Teresa de Jesus).

Oração

Nós vos pedimos, Senhor, que nos assistam com a sua protecção a Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo e todos os Santos da família do Carmo, para que, seguindo fielmente os seus exemplos sirvamos a vossa Igreja com a oração e com obras dignas de Vós. Por Cristo Nosso Senhor. Amen.

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33º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 21, 5-19)

Como alguns falassem do templo, dizendo que estava adornado de belas pedras e de ofertas votivas, respondeu: «Virá o dia em que, de tudo isto que estais a contemplar, não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.» Perguntaram-lhe, então: «Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?» Ele respondeu: «Tende cuidado em não vos deixardes enganar, pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo.’ Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis; é necessário que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim.»

Disse-lhes depois: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em vários lugares, fomes e epidemias; haverá fenómenos apavorantes e grandes sinais no céu.» «Mas, antes de tudo, vão deitar-vos as mãos e perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e metendo-vos nas prisões; hão-de conduzir-vos perante reis e governadores, por causa do meu nome. Assim, tereis ocasião de dar testemunho. Gravai, pois, no vosso coração, que não vos deveis preocupar com a vossa defesa, porque Eu próprio vos darei palavras de sabedoria, a que não poderão resistir ou contradizer os vossos adversários. Sereis entregues até pelos pais, irmãos, parentes e amigos. Hão-de causar a morte a alguns de vós e sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. Pela vossa constância é que sereis salvos.»

MENSAGEM

As profundas mudanças sócio-culturais que se estão a produzir nos nossos dias e a crise religiosa que sacode as raízes do cristianismo no ocidente, lança-nos mais do que nunca a procurar em Jesus a luz e a força que necessitamos para ler e viver estes tempos de forma lúcida e responsável.

Chamada ao realismo

Em nenhum momento Jesus promete aos Seus seguidores um caminho fácil de êxito e glória. Pelo contrário, dá-lhes a entender que a sua longa história estará cheia de dificuldades e lutas. É contrário ao espírito de Jesus cultivar o triunfalismo ou alimentar a nostalgia de grandezas. Este caminho que a nós nos parece estranhamente duro é o que está mais de acordo com uma Igreja fiel ao Seu Senhor.

Não à ingenuidade

Em momentos de crise, desnorte e confusão não é de estranhar que se escutem mensagens e revelações propondo caminhos novos de salvação. Estas são as indicações de Jesus. Em primeiro lugar, «que ninguém vos engane»: não cair na ingenuidade de dar crédito a mensagens alheias ao evangelho, nem fora nem dentro da Igreja. Portanto, «não sigais atrás deles». Não seguir a quem nos separa de Jesus Cristo, único fundamento e origem da nossa fé.

Centrar-nos no essencial

Cada geração cristã tem os seus próprios problemas, dificuldades e buscas. Não temos de perder a calma, mas assumir a nossa própria responsabilidade. Não nos é pedido nada que esteja acima das nossas forças. Contamos com a ajuda do próprio Jesus: «Eu vos darei palavras e sabedoria»… Inclusive num ambiente hostil de rejeição ou hostilidade, podemos praticar o evangelho e viver com sensatez cristã.

A hora do testemunho

Os tempos difíceis não hão de ser tempos para lamentos, nostalgia ou desalento. Não é a hora da resignação, passividade ou demissão. A ideia de Jesus é outra: em tempos difíceis «tereis ocasião de dar testemunho». É agora precisamente quando temos de reavivar entre nós a chamada para ser testemunhas humildes mas convincentes de Jesus, da sua mensagem e do seu projecto.

Paciência

Esta é a exortação de Jesus para momentos duros: «Com a vossa perseverança salvareis as vossas almas». O termo original pode ser traduzido indistintamente como «paciência» ou «perseverança». Entre os cristãos falamos pouco da paciência, mas temos necessidade dela mais do que nunca. É o momento de cultivar um estilo de vida cristã, paciente e tenaz, que nos ajude a responder a novas situações e desafios sem perder a paz nem a lucidez.

J. A. Pagola

Palavra para o caminho

S. Paulo, animando a comunidade cristã de Roma, exortava: “Sede pacientes na tribulação”. A paciência é a sabedoria dos tempos, é saber viver os tempos bons sem entrar em euforia e os maus sem desanimar, porque tudo tem o seu ritmo e o seu tempo. E tribulações, sofrimentos, sempre os teremos, de um modo ou de outro. A questão é como se vivem! (Vasco P. Magalhães, sj).

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O dom da Fortaleza

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O dom da Fortaleza faz-nos imensa falta para superar os medos, os cansaços, para saber viver com as próprias fragilidades sem desanimar e com as fragilidades do mundo sem violência nem cinismo. A fortaleza é um dom que permite perdoar e recomeçar sempre. Só os fracos se vingam e mentem. Os fortes estão bem com a verdade, mesmo que traga sofrimento.

Vasco P. Magalhães, sj

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Santa Isabel da Trindade – 8 de Novembro

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Isabel Catez nasceu, no campo militar de Avor, perto de Bourges, França. O seu pai era capitão do exército francês. Desde muito cedo que Isabel mostrou ser uma criança turbulenta, muito viva, faladora, precoce e de temperamento colérico. A sua mãe quando fala dela nalgumas cartas chama-a «autêntico diabinho». E a sua irmã não hesita em escrever que era «um verdadeiro diabo». Chega mesmo a dizer que era tão violenta que os familiares a ameaçaram enviar para uma casa de correcção. No entanto, a sua mãe, atenta, soube modelar a fúria de Isabel e fazer sobressair nela a ternura e docilidade. E de tal maneira a ternura ganhou terreno que o maior castigo de Isabel acontecia quando a sua mãe, à noite, se despedia dela sem lhe dar um beijo. Então, Isabel compreendia que não se tinha portado bem, e, meditando fazia exame de consciência e corrigia-se. Isabel era ainda uma criança quando a sua família se mudou para a cidade de Dijon. Aqui Isabel perdeu o pai tão querido que a morte lhe roubou. O dia da primeira comunhão, a 19 de Abril de 1891, foi «o grande dia» da vida de Isabel. Tinha então 10 anos, pois nascera no dia 18 de Julho de 1880. Estudou piano desde os 8 anos de idade no Conservatório, vindo a tornar-se uma «excelente pianista», segundo expressão do seu professor de música. Participou em concertos organizados, e, os jornais falaram do seu grande talento ainda mal a menina Catez chegava aos pedais do piano. Entre músicas e festivais, bailes, férias e diversões foram decorrendo os anos de Isabel.

Aos catorze anos sentiu-se irresistivelmente atraída por Jesus. Aos 18 a sua mãe pretendeu casá-la com um esplêndido noivo, mas Isabel respondeu: «o meu coração já não está livre, dei-o ao Rei dos reis, já dele não posso dispor». O desgosto da mãe foi grande. Mas foi mais amargo quando soube que Isabel queria entrar no Carmelo, que tantas vezes tinham visitado, pois ficava ali a dois passos. A mãe apenas consentiu a entrada da filha no Carmelo quando alcançou a maioridade, aos 21 anos. No dia 2 de Agosto de 1901, Isabel entra definitivamente nessa bela montanha do Carmo que pela sua solidão e beleza a atraiu irresistivelmente. A partir de então o seu nome será Irmã Isabel da Santíssima Trindade. «Gosto tanto do mistério da Santíssima Trindade! É um abismo no qual me perco. Deus em mim, eu n’Ele. É o grande sonho da minha vida. Para uma carmelita viver é estar em comunhão com Deus desde a manhã até à noite, e desde a noite até de manhã. Se Deus não enchesse as nossas celas e os nossos claustros, oh!, como tudo seria vazio! Mas é Ele que enche toda a nossa vida fazendo dela um céu antecipado». 

A irmã Isabel tomou o hábito a 8 de Dezembro de 1901. Iniciada a vida de noviciado a paz e a felicidade mudou-se em noite escura; foi o momento da purificação interior. Com a profissão religiosa, que fez a 11 de Janeiro de 1903, recuperou a paz e a serenidade interior. Depressa a Irmã Isabel descobriu a sua vocação. Lendo S. Paulo descobriu que ela devia ser o «louvor da glória de Deus». Esta ideia e esta vocação serão o rumo e o norte de Isabel da Santíssima Trindade: «louvor de glória» é uma alma que mora em Deus e O ama com amor puro, amante do silêncio qual lira mantida sob o toque misterioso do Espírito Santo, fazendo sair de si harmonias divinas.

«Louvor de glória» é uma alma que contempla a Deus em fé simples e permanece como um eco perene do eterno cântico celeste. O segredo da felicidade é não se preocupar consigo mesmo, é negar-se em todo o momento». 

Seguindo o Caminho que é Cristo, a Irmã Isabel entrou no mistério de Deus através de Maria a quem gosta de chamar a Porta do céu. Seguindo os nossos pais e mestres~, Teresa de Jesus e, sobretudo, João da Cruz, de quem constantemente fala nos seus escritos, Isabel mergulha no mistério das Três Pessoas Divinas, nesse Oceano sem fundo que é a Santíssima Trindade e que ela se sente envolvida por dentro e por fora. Tal como S. João da Cruz se sentiu fascinado pela formosura de Deus, também Isabel da Trindade se sente atraída pela beleza de Deus. Isabel gostava de ver o sol penetrar nos claustros e recordar aquela comparação de Santa Teresa que dizia que a alma é como um cristal que reflecte a Deus. A nossa irmã deixou-nos este testemunho: «cada dia na minha vida de esposa me parece mais belo, mais luminoso, mais envolto em paz e amor».

Mas foi a vivência total daquela frase de S. João da Cruz: «a alma perfeita e unida a Deus em tudo encontra alegria e motivo de deleite até naquilo que entristece os outros, e sobretudo alegra-se na cruz» que levou a Irmã Isabel a perder-se em Deus como uma gota de água no Oceano, segundo a sua própria expressão. Foi o perfeito louvor da glória de Deus, por isso, apenas com 26 anos se encontrava preparada para voar para a paz: «tudo é calma, tudo fica tranquilo e é tão bom, a paz do Senhor».

Nos finais de Março de 1906, a Irmã Isabel foi colocada na enfermaria. Sentia-se feliz por morrer carmelita e escreve esta frase que é uma cópia do verso de S. João da Cruz: «sem outro ofício senão o de amar, estou na enfermaria». As Irmãs rezavam pela sua cura e Isabel juntou o seu pedido às orações da comunidade, mas sentiu que Jesus lhe dizia que os ofícios da terra já não eram para ela. No dia 1 de Novembro comungou pela última vez e dois dias antes da sua morte disse ao seu médico: «é provável que dentro de dois dias esteja no seio da Santíssima Trindade. É a Virgem Maria, aquele ser tão luminoso, tão puro, com a pureza do mesmo Deus, quem me levará pela mão e me introduzirá no céu tão deslumbrante». Pouco antes da sua morte, Isabel disse às suas Irmãs esta frase tão bela e que ficou célebre: «Tudo passa! No entardecer da vida só o amor permanece». Frase que se parece com aquela outra de S. João da Cruz, também muito bela e conhecida: «à tarde serás examinado no amor». A sua última noite foi terrivelmente penosa, pois às suas horríveis dores juntou-se-lhe também a falta de ar, mas ao amanhecer Isabel sossegou, e inclinando a cabeça abriu os olhos, e exclamou: «vou para a Luz, para o Amor, para a Vida», e adormeceu para sempre. Era a madrugada do dia 9 de Novembro de 1906. 

Foi beatificada a 25 de Novembro de 1984 pelo Papa João Paulo II e canonizada a 16 de Outubro de 2016 pelo Papa Francisco.

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Os santos não cessam de nos proteger nem de rezar por nós

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Creio que os Bem-aventurados têm uma grande compaixão pelas nossas misérias, lembram-se de que enquanto eram frágeis e mortais como nós, cometeram as mesmas faltas, travaram os mesmos combates e a ternura fraternal torna-se ainda maior do que era na terra, por isso não cessam de nos proteger nem de rezar por nós.

Santa Teresa do Menino Jesus

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“Sede pacientes na tribulação” (Rm 12, 12)

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S. Paulo, animando a comunidade cristã de Roma, exortava: “Sede pacientes na tribulação”. A paciência é a sabedoria dos tempos, é saber viver os tempos bons sem entrar em euforia e os maus sem desanimar, porque tudo tem o seu ritmo e o seu tempo. E tribulações, sofrimentos, sempre os teremos, de um modo ou de outro. A questão é como se vivem!

Vasco P. Magalhães, sj

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São Nuno de Santa Maria (Nuno Álvares Pereira) – 6 de Novembro

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Unidos em oração, / comungamos na alegria / de evocar o nosso irmão, / Nuno de Santa Maria. / “Servir a Deus”, eis o lema, / que escolheu e praticou: / até à renúncia extrema / de tudo se despojou. / Não podia o mundo encher / coração tão dilatado: / carmelita há de morrer, / humilde e apagado. / Goza já da liberdade / própria dos filhos da luz: / reveste-o a caridade, / sua glória é a Cruz. / A vós, Deus trino e uno, / bendizemos e adoramos; / celebrando São Nuno, / vossa glória proclamamos.

Nuno Álvares Pereira foi herói e santo, quer enquanto esteve no mundo nos compromissos familiares e de serviço à Pátria, quer quando como Irmão Donato ingressou na Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo (Carmelitas), no Convento de Nossa Senhora do Vencimento ou do Carmo que ele mesmo mandara construir. Não há cisão na sua vida: Nuno é herói enquanto santo e é santo enquanto herói. Foi para o serviço de Deus que Nuno defendeu durante a maior parte da sua vida “a terra que o criara”. E foi ainda para o serviço de Deus que, no outono da vida, procurou a solidão conventual para viver só para Deus. Não têm razão os que separam em duas as etapas do percurso existencial do herói e santo português. Contudo, a dimensão heróica de Nuno Álvares Pereira é, muito provavelmente, a mais conhecida e espalhada. Isto está expresso em muitas pinturas, monumentos, praças e instituições onde a dimensão do guerreiro aparece como única expressão da sua personalidade, sendo ocultada qualquer referência à sua dimensão religiosa. Esquecida a sua santidade fica oculto o segredo de toda a sua vida e das opções que tomou.

Com duas citações, uma da Conferência Episcopal Portuguesa e outra do Papa Bento XVI, lançamos alguma luz sobre o herói e santo português, São Nuno de Santa Maria, neste dia, 6 de Novembro, em que o Carmelo e a Igreja o festejam.

“Nuno Álvares Pereira foi um homem de Estado, que soube colocar os superiores interesses da Nação acima das suas conveniências, pretensões ou carreira. Fez da sua vida uma missão, correndo os riscos para servir a Pátria e o povo. Em tempo de grave crise nacional, optou corajosamente por ser parte da solução e, numa entrega sem limites, enfrentou com esperança os enormes desafios sociais e políticos da Nação. Coroado de glória com as vitórias alcançadas, senhor de imensas terras, depojou-se dos seus bens e optou pela radicalidade do seguimento de Cristo, como simples irmão da Ordem dos Carmelitas. Não se valeu dos seus títulos de nobreza, prestígio e riqueza, para viver num clima de luxos e grandezas, mas optou por servir preferencialmente os pobres e necessitados do seu tempo”(Nota pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa por ocasião da canonização de Nuno Álvares Pereira (Fátima, 6 de Março de 2009).

Em 26 de Abril de 2009, dia da canonização de Nuno Álvares Pereira, o Papa Bento XVI na Missa solene celebrada na Praça de São Pedro, dizia na homilia: “Sabei que o Senhor me fez maravilhas. Ele me ouve, quando eu o chamo” (Sl 4, 4). Estas palavras do Salmo Responsorial exprimem o segredo da vida do bem-aventurado Nuno de Santa Maria, herói e santo de Portugal. Os setenta anos da sua vida situam-se na segunda metade do século XIV e primeira do século XV, que viram aquela nação consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos – não sem um desígnio particular de Deus – abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra. São Nuno sente-se instrumento deste desígnio superior e alistado na militia Christi, ou seja, no serviço de testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo. Características dele são uma intensa vida de oração e absoluta confiança no auxílio divino. Embora fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema que vem de Deus. São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à acção de Deus na sua vida, imitando Nossa Senhora, de Quem era devotíssimo e a Quem atribuía publicamente as suas vitórias. No ocaso da sua vida, retirou-se para o Convento do Carmo por ele mandado construir. Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélico, é possível actuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus” (Homilia de Bento XVI pronunciada na Missa da canonização de São Nuno de Santa Maria, em 26 de Abril de 2009, na Praça de São Pedro, Roma).

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