Felicidade e facilidade

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Não se pode confundir felicidade com facilidade. A felicidade não cai do céu, é luta e dá trabalho. É Graça, também! A felicidade cristã tem três “efes”: fé, fidelidade e fecundidade! Fé, que é confiança em Deus. Fidelidade que é nunca desistir de alcançar o que se propôs. Fecundidade que significa abertura ao que Deus nos pede, capacidade de gerar futuro. Se alguma destas coisas não existe, não podemos encontrar a felicidade. Feliz equivale a ser pessoa de fé, confiante, fiel aos seus propósitos, fecunda, aberta aos outros e à vida.

Vasco P. Magalhães, sj

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A nossa Pátria está nos Céus (Fl 3, 20)

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Sou como um peixinho fora de água: ele abre e fecha a boca, não tem outro alívio. E eu sou assim. Não tenho outro alívio nesta terra senão suspirar pela Pátria [o Céu]. Ai de mim! Quando virá aquele dia? Aqui [nesta terra] tudo passa como um relâmpago, como as flores do campo. Quando verei o que não tem fim?

Santa Maria de Jesus Crucificado

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30º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 18, 9-14)

Disse também a seguinte parábola, a respeito de alguns que confiavam muito em si mesmos, tendo-se por justos e desprezando os demais: «Dois homens subiram ao templo para orar: um era fariseu e o outro, cobrador de impostos. O fariseu, de pé, fazia interiormente esta oração: ‘Ó Deus, dou-te graças por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos, adúlteros; nem como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo.’ O cobrador de impostos, mantendo-se à distância, nem sequer ousava levantar os olhos ao céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador.’ Digo-vos: Este voltou justificado para sua casa, e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.»

Comentário

Estamos no 30º Domingo do Tempo Comum. Aí está no Evangelho de hoje (Lucas 18,9-14), mais uma parábola de Jesus dirigida direitinha ao nosso orgulhoso coração. Trata-se da famosa parábola do fariseu e do publicano, que sobem ao Templo para rezar. O narrador fornece-nos, a abrir e a fechar a parábola, a respectiva chave de interpretação. Abre assim: «Contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os demais» (Lucas 18,9). E a fechar: «Todo aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado» (Lucas 18,14b). A intenção de Jesus não é, portanto, mostrar-nos a radiografia religiosa de duas figuras públicas e emblemáticas do seu tempo: um fariseu e um publicano. A intenção de Jesus é que a parábola nos atinja a nós, e dissolva o orgulho e a arrogância que nos habitam e orientam a nossa vida, quer na nossa relação com Deus, quer na nossa relação com o próximo.

Vem primeiro a radiografia do fariseu. Entenda-se sempre, não de um homem da classe dos fariseus do tempo de Jesus, mas do farisaísmo que há em nós. O que a radiografia nos mostra é, então, um fariseu cheio de si, afogado em si, auto-suficiente. É assim que vive e reza o fariseu que há em nós. A balança do deve e haver com Deus, pensa o fariseu e pensamos nós muitas vezes, está claramente desiquilibrada a seu e a nosso favor. Julga o fariseu, portanto, e julgamos muitas vezes nós também com ele, que temos muito crédito acumulado face a Deus. E, por isso, até nos damos ao luxo de dar graças a Deus por não sermos como os outros, que vemos como ladrões, injustos e adúlteros, nem como este reles publicano (Lucas 18,11), estes, sim, cheios de dívidas para com Deus.

Ao fundo, sempre ao fundo, da cena, vislumbra-se um verdadeiro e assumido pecador. Sim, é um publicano, um colector de dinheiro público, é um traidor à pátria, um vendido aos invasores romanos, um ladrão. Mas tem ainda coração. Por isso, bate com a mão no peito, e pede a Deus a esmola do perdão, rezando assim: «ó Deus, sê-me propício, a mim, que sou pecador» É assim que reza o publicano que há em nós. Conclui Jesus de forma solene: «Eu vos digo: “este desceu justificado para sua casa; o outro não”» (Lucas 18,14a). Este justificado, diz-nos que esta justificação é obra de Deus, não nossa. Na verdade, justificar significa transformar um pecador em justo. Então, justificar é perdoar. E, neste profundo sentido bíblico, justificar e perdoar são acções que só Deus pode fazer («quem pode perdoar os pecados senão Deus somente?») (Lucas 5,21), dado que, transformar um pecador em justo é igual a Criar ou Recriar um homem novo. E da acção de Criar também só Deus é sujeito em toda a Escritura.

Palavra para o caminho

Deus tem uma fragilidade: a debilidade pelos humildes. Diante de um coração humilde, Deus abre totalmente o seu Coração. É esta humildade que a Virgem Maria exprime no cântico do Magnificat: «Olhou para a humildade da sua serva […]. A sua misericórdia estende-se, de geração em geração, sobre os que o temem» (Lc 1, 48.50) (Papa Francisco).

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Eis a tua Mãe

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A arma mais forte que Jesus nos deu a partir da árvore da Cruz é Maria. Amemos esta doce Mãe e filialmente recorramos a Ela para vencer todas as batalhas. 

Santa Teresa Margarida de Redi

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A missão de Santa Isabel da Trindade na eternidade

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As últimas palavras de Santa Isabel da Trindade foram estas: «Vou para a Luz, o Amor, a Vida». «Parece-me que, no Céu, a minha missão será a de atrair as almas ajudando-as a saírem de si mesmas para aderirem a Deus, por um movimento muito simples e todo feito de amor» (Carta 335).

Santa Isabel da Trindade

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Santa Isabel da Trindade

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Aos catorze anos sentiu-se irresistivelmente atraída por Jesus. Aos 18 a sua mãe pretendeu casá-la com um esplêndido noivo, mas Isabel respondeu: «o meu coração já não está livre, dei-o ao Rei dos reis, já dele não posso dispor». O desgosto da mãe foi grande. Mas foi mais amargo quando soube que Isabel queria entrar no Carmelo, que tantas vezes tinham visitado, pois ficava ali a dois passos. A mãe apenas consentiu a entrada da filha no Carmelo quando alcançou a maioridade, aos 21 anos. No dia 2 de Agosto de 1901, Isabel entra definitivamente nessa bela montanha do Carmo que pela sua solidão e beleza a atraiu irresistivelmente. A partir de então o seu nome será Irmã Isabel da Santíssima Trindade. «Gosto tanto do mistério da Santíssima Trindade! É um abismo no qual me perco. Deus em mim, eu n’Ele. É o grande sonho da minha vida. Para uma carmelita viver é estar em comunhão com Deus desde a manhã até à noite, e desde a noite até de manhã. Se Deus não enchesse as nossas celas e os nossos claustros, oh!, como tudo seria vazio! Mas é Ele que enche toda a nossa vida fazendo dela um céu antecipado». 

Seguindo o Caminho que é Cristo, a Irmã Isabel entrou no mistério de Deus através de Maria a quem gosta de chamar a Porta do céu. Seguindo os nossos pais e mestres, Teresa de Jesus e, sobretudo, João da Cruz, de quem constantemente fala nos seus escritos, Isabel mergulha no mistério das Três Pessoas Divinas, nesse Oceano sem fundo que é a Santíssima Trindade e que ela se sente envolvida por dentro e por fora. Tal como S. João da Cruz se sentiu fascinado pela formosura de Deus, também Isabel da Trindade se sente atraída pela beleza de Deus. Isabel gostava de ver o sol penetrar nos claustros e recordar aquela comparação de Santa Teresa que dizia que a alma é como um cristal que reflecte a Deus. A nossa irmã deixou-nos este testemunho: «cada dia na minha vida de esposa me parece mais belo, mais luminoso, mais envolto em paz e amor».
Mas foi a vivência total daquela frase de S. João da Cruz: «a alma perfeita e unida a Deus em tudo encontra alegria e motivo de deleite até naquilo que entristece os outros, e sobretudo alegra-se na cruz» que levou a Irmã Isabel a perder-se em Deus como uma gota de água no Oceano, segundo a sua própria expressão. Foi o perfeito louvor da glória de Deus, por isso, apenas com 26 anos se encontrava preparada para voar para a paz: «tudo é calma, tudo fica tranquilo e é tão bom, a paz do Senhor».
Nos finais de Março de 1906, a Irmã Isabel foi colocada na enfermaria. Sentia-se feliz por morrer carmelita e escreve esta frase que é uma cópia do verso de S. João da Cruz: «sem outro ofício senão o de amar, estou na enfermaria». As Irmãs rezavam pela sua cura e Isabel juntou o seu pedido às orações da comunidade, mas sentiu que Jesus lhe dizia que os ofícios da terra já não eram para ela. No dia 1 de Novembro comungou pela última vez e dois dias antes da sua morte disse ao seu médico: «é provável que dentro de dois dias esteja no seio da Santíssima Trindade. É a Virgem Maria, aquele ser tão luminoso, tão puro, com a pureza do mesmo Deus, quem me levará pela mão e me introduzirá no céu tão deslumbrante». Pouco antes da sua morte, Isabel disse às suas Irmãs esta frase tão bela e que ficou célebre: «Tudo passa! No entardecer da vida só o amor permanece». Frase que se parece com aquela outra de S. João da Cruz, também muito bela e conhecida: «à tarde serás examinado no amor». A sua última noite foi terrivelmente penosa, pois às suas horríveis dores juntou-se-lhe também a falta de ar, mas ao amanhecer Isabel sossegou, e inclinando a cabeça abriu os olhos, e exclamou: «vou para a Luz, para o Amor, para a Vida», e adormeceu para sempre. Era a madrugada do dia 9 de Novembro de 1906. 

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29º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 18, 1-8)

Depois, disse-lhes uma parábola sobre a obrigação de orar sempre, sem desfalecer: «Em certa cidade, havia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Naquela cidade vivia também uma viúva que ia ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário.’ Durante muito tempo, o juiz recusou-se a atendê-la; mas, um dia, disse consigo: ‘Embora eu não tema a Deus nem respeite os homens, contudo, já que esta viúva me incomoda, vou fazer-lhe justiça, para que me deixe de vez e não volte a importunar-me.’» E o Senhor continuou: «Reparai no que diz este juiz iníquo. E Deus não fará justiça aos seus eleitos, que a Ele clamam dia e noite, e há-de fazê-los esperar? Eu vos digo que lhes vai fazer justiça prontamente. Mas, quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?»

Mensagem

“Caminhos Carmelitas” é uma página nascida e mantida no seio da Família Carmelita. Por isso, não podemos começar sem anunciar com alegria um grande acontecimento: neste Domingo, em Roma, o Papa Francisco proclama Santa a Carmelita Beata Isabel da Trindade. Na manhã da sua morte exclamou: Vou para a Luz, para o Amor, para a Vida. Santa Isabel da Trindade, rogai por nós!

Fixando-nos no Evangelho deste Domingo, a parábola da viúva e do juiz sem escrúpulos é, segundo Lucas, um apelo para orar sem desanimar, mas é também um convite para confiar que Deus fará justiça a quem lhe grita dia e noite.

Na tradição bíblica a viúva é símbolo por excelência da pessoa que vive só e desamparada. Esta mulher não tem marido nem filhos que a defendam. Não conta com apoios nem recomendações. Só tem adversários que abusam dela, e um juiz sem religião nem consciência a quem não importa o sofrimento de ninguém.

O que pede a mulher não é um capricho. Só reclama justiça. Este é o seu protesto repetido com firmeza ante o juiz: «Faz-me justiça». Um grito que está na linha do que dizia Jesus aos seus: “Buscai o reino de Deus e a sua justiça”.

É certo que Deus tem a última palavra e fará justiça a quem lhe grita dia e noite. Esta é a esperança que acendeu em nós Cristo, ressuscitado pelo Pai de uma morte injusta. Mas, enquanto não chega essa hora, o clamor de quem vive gritando sem que ninguém escute o seu grito, não cessa.

Para uma grande maioria da humanidade a vida é uma interminável noite de espera. O cristianismo proclama a vitória do Amor de Deus encarnado em Jesus crucificado. Entretanto, milhões de seres humanos só experimentam a dureza dos irmãos e irmãs e o silêncio de Deus.

A parábola da viúva e do juiz sem escrúpulos faz-nos um desafio: “Cristo disse: «Quem não é por mim, é contra mim!». E isto é muito sério: quem não se põe do lado da justiça e da verdade, não pense que fica de fora a abster-se, porque mesmo a sua passividade ou inércia já é um mal e um problema para os outros. Não podemos ser neutrais. Se não estamos do lado do bem, é porque estamos do lado do mal (Vasco Magalhães, sj).

Palavra para o caminho

A oração é a força que nos sustenta nas grandes tempestades da vida e impede que fracassemos (Santa Isabel da Trindade).

Almejemos e pratiquemos a oração já não para desfrutar, mas para ter a força de servir o Senhor (Santa Teresa de Jesus).

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Canonização da Beata Isabel da Trindade – 16 de Outubro de 2016

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Flashes duma Santa jovem: Isabel da Trindade

«A propósito da canonização de Isabel da Trindade ocorreu-me trazer a estas páginas do Mensageiro alguns lampejos da vida desta Santa, que morreu aos 26 anos.»

Nasceu bela e muito viva. No acampamento militar de Avor, perto de Bourges, nasceu, a 18 de Julho de 1880. Era filha do capitão Francisco José Catez e de Maria Rolland, uma mulher afável e de fé profunda. Na noite da espera do nascimento houve temor e angústia, porque a vida daquela que estava para nascer parecia seriamente ameaçada. O capitão Catez dirige-se ao capelão e pede-lhe que interceda a Deus pela vida da filha que está para nascer. Quando a Missa está para terminar, a pequena Maria Isabel, bela e muito viva, viu a luz deste mundo. Foi baptizada quatro dias depois na festa de Santa Maria Madalena.

«Um diabinho». Caracterizava-a um temperamento forte, impulsivo, colérico: «Ainda nem sequer fala, mas já quer impor a sua vontade» (dizia a mãe). A sua irmã (Margarida), recordando os primeiros anos de Isabel, diz que por vezes chegava a ser um «pequeno diabrete».

A morte do pai. Nos começos do ano de 1887 a família Catez traslada-se para Dijon. A 2 de Outubro de 1887 assiste à morte do seu pai, do qual conservará sempre viva recordação: «Não hão-de apagar da memória/ recordação de um pai amado/ que por Jesus foi chamado,/ bem jovem, p’ra eterna glória» (P 37).

A primeira comunhão. A 18 de Abril de 1891 recebe pela primeira vez a comunhão em Saint-Michel: «Nesse dia, Jesus fez de mim a Sua morada e Deus apoderou-se do meu coração». A mudança efectuada na sua vida foi total. Na tarde desse belíssimo dia, na visita efectuada ao Carmelo, ficou a saber que o seu nome significava Casa de Deus. O itinerário da iniciação cristã ficou completo com o sacramento da Confirmação, recebido em Notre-Dame, a 8 de Junho de 1891.

A música e o piano. A partir dos 8 anos estuda no Conservatório e todos os dias passa horas em casa ao piano. Aos 13 anos obtém o primeiro prémio de Solfejo superior no Conservatório de Dijon (18 de Julho de 1893) e o primeiro prémio de Piano (25 de Julho)… Uma das suas grandes amigas (Françoise de Sourdon) diz de Isabel: «Os seus olhos negros brilhavam…, tocava maravilhosamente o piano, com um sentimento excepcional. Um dia, em que tocava a Balada em Si menor de Chopin, meu pai, que era um grande músico, disse ao ouvi-la: Esta menina faz-nos chorar!».

Bailes, convívios, jogar ténis. Nas suas cartas fala de música, de bailes, do convívio com outras jovens; declara o seu entusiasmo perante a beleza da natureza, as montanhas e o mar; exprime a alegria de encontrar as amigas, de jogar ténis e críquete. Os seus ares encantadores davam a volta à cabeça de muitos rapazes, mas ela respondia: «O meu coração já não está livre, dei-o ao Rei dos reis, já não posso dispor dele». Tinham razão os rapazes psicólogos quando diziam entre eles: «Esta não é para nós, vede o seu olhar…».

Como se vê a si mesma. «Sou morena e bastante alta para a minha idade. Tenho olhos negros brilhantes, as minhas sobrancelhas espessas dão-me um ar severo». «Sou alegre e, devo confessá-lo, um pouco incauta. Tenho bom coração. De natureza coquette. É necessário ser-se um pouco, diz-se. Não sou preguiçosa, pois sei que o trabalho dá felicidade. Sem ser um modelo de paciência, sei geralmente conter-me» (Ds 16).

A decisão dos 14 anos. «Ia fazer catorze anos, quando um dia, durante uma acção de graças, me senti irresistivelmente inspirada a escolher Jesus como único esposo e imediatamente a Ele me liguei por um voto de virgindade» (S 23). A sua paixão é Jesus: «Gostaria tanto, ó meu Mestre, de viver contigo no silêncio. Mas o que acima de tudo amo é fazer a tua vontade… Ofereço-te a cela do meu coração, que seja a tua pequena Betânia; vem aqui repousar» (NI 5).

Entrada no Carmelo. No dia 2 de Agosto, com 21 anos, entra no Carmelo de Dijon convicta de que «as grades não podem separar os corações que se amam em Deus» (cf. Cartas 71 e 74). Antes de deixar a sua casa, ajoelha-se diante do retrato do pai e pede-lhe a última bênção. Depois da missa das 8 horas, a mãe levou-a à porta da clausura. No Carmelo recebe o nome de Maria Isabel da Trindade: «Parece que este nome significa uma vocação especial… Amo tanto este mistério trinitário…» (Carta 55).

A doença e a morte. Depois de tomar o hábito a 8 de Dezembro de 1901 e professar a 11 de Janeiro de 1903, sentiu na quaresma de 1905 os primeiros sintomas da síndroma de Addison que a levaria à morte, acontecida por volta das 6h da manhã do dia 9 de Novembro de 1906. As suas últimas palavras foram estas: «Vou para a Luz, o Amor, a Vida». Foi beatificada a 25 de Novembro de 1984 pelo Papa João Paulo II e canonizada a 16 de Outubro de 2016 pelo Papa Francisco.
E o que faz ela agora? No dia 28 de Outubro de 1906 escreveu (Carta 335): «Parece-me que, no Céu, a minha missão será a de atrair as almas ajudando-as a saírem de si mesmas para aderirem a Deus, por um movimento muito simples e todo feito de amor». Atraí-me para Deus, santa Isabel da Trindade! Amén.

P. Agostinho Leal, ocd , Mensageiro do Menino Jesus de Praga, nº 202

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Santa Teresa de Jesus – 15 de Outubro

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O Carmelo celebra em 15 de Outubro a Festa de Santa Teresa de Jesus ou de Ávila como é também conhecida. Apresentamos, em traços muito breves, o «bilhete de identidade» desta Santa Carmelita.

Teresa de Ahumada e Cepeda nasceu em Ávila, Espanha, a 28 de Março de 1515. Era a filha mais nova de 9 irmãos e 3 irmãs. Foram seus pais Alonso de Cepeda, descendente de judeus conversos, e Beatriz de Ahumada, de família nobre, ambos «pais virtuosos e tementes a Deus» (Vida 1,1), que a educaram na piedade e nos afazeres da casa. Aos 14 anos, Teresa perde a sua mãe. A experiência prematura de orfandade levou-a até aos pés da Virgem Maria, e pede-lhe que seja sua Mãe (Vida 1,7).

Aos 16 anos, após um período de vaidade e instabilidade, próprios da fase juvenil, é internada por seu pai durante um ano e meio no convento das Irmãs Agostinhas de Nossa Senhora das Graças, na cidade de Ávila. A amizade com uma santa religiosa infundiu-lhe o desejo de abraçar a Vida Consagrada. Aos 20 anos, contra a vontade de seu pai, ingressa no Carmelo da Encarnação. Fez a sua profissão a 3 de Novembro de 1537.

Pouco tempo depois, devido a uma doença misteriosa, vê-se obrigada a abandonar o Convento. Neste período de repouso, em casa de uns familiares, entra em contacto com os livros espirituais da sua época. Deixa-se cativar pelo Terceiro Abecedário de Francisco de Osuna que a inicia na prática da oração mental (Vida 4,6). Durante o Verão de 1539, a doença agrava-se e, durante três dias, fica como morta. Só a tenacidade de seu pai impede que a enterrem (Vida 5,9). Recuperou mas esta crise deixou marcas. Regressou, meia paralisada, ao seu Convento de Ávila (Vida 6,1-2). Atribuiu o seu completo restabelecimento a uma intervenção especial de São José (Vida 6,6-8), de quem se tornou muito devota. No entanto, a falta de saúde marcará toda a sua vida.

Reformadora do Carmelo

Deus, querendo unir Teresa mais a Si como sua esposa, purificou-a durante 18 anos com toda a espécie de provas: doenças, securas, dúvidas de fé… Um dia, quando decorria o ano de 1554, com 39 anos, diante de uma imagem de Cristo muito chagado e atado à coluna, o coração grande e terno de Teresa perturbou-se e, desfeita em lágrimas, entregou-se verdadeira e incondicionalmente à vontade de Deus. Comprometeu-se a fazer sempre o mais perfeito, rompendo com todos os laços que a prendiam às criaturas. A partir deste momento, como que morre Teresa de Cepeda e nasce Teresa de Jesus; é «outra vida» a que agora inicia. Ao ler, por esta altura, as Confissões de Santo Agostinho sente-se confirmada na mudança de rumo (Vida 9,8-9). Como fruto de uma intensa evolução espiritual, Teresa, com um punhado de amigas íntimas, decide-se a abraçar uma vida carmelita mais perfeita (Vida 32,9-10), voltando à observância da Regra Primitiva da Ordem. Funda, a 24 de Agosto de 1562, o Convento de S. José, em Ávila, enfrentando muitas oposições, chegando mesmo a pensar que tudo estava perdido (Vida 36). Mas depois de meses de luta, Teresa prossegue com a reforma da sua Ordem.

Poucos anos depois, o Senhor revela-lhe outra missão: fundar mais conventos segundo um novo estilo de vida: um pequeno grupo de Irmãs, não mais que 21, que recordasse o grupo dos apóstolos, onde a relação com Jesus pela oração fosse um exercício contínuo, onde se cultivasse a amizade entre as Irmãs e que todas colocassem as grandes preocupações da Igreja e do Mundo nas suas preces e orações. Mas Teresa ainda deseja ir mais longe e estende a Reforma das Irmãs também aos Frades, tal como veio a acontecer, depois de conhecer S. João da Cruz, em 1567, em Medina del Campo, cativando-o para a sua obra. O primeiro Convento de Frades Descalços é fundado em Duruelo, a 28 de Novembro de 1568, marcado por uma vida orante, fraterna e apostólica.

Amiga de Cristo, mulher de oração e escritora

A relação mais viva com Cristo deu-se através da leitura e meditação do Evangelho e das Vidas de Cristo. O Evangelho era o seu livro preferido. Teresa, depois de 1554, centrou-se sempre mais em Cristo, cultivando as virtudes humanas e cristãs, tais como a verdade, a humildade, o amor, a afabilidade, a determinação, os grandes desejos, como condição fundamental para crescer na oração e contemplação. À medida que o tempo passa, Teresa sente-se mais submergida em Cristo, ao ponto de exclamar como São Paulo: «Já não sou eu que vivo, mas sois Vós, Criador meu, que viveis em mim» (Vida 6,9).

Professou sempre uma terna devoção a Jesus Menino. A Paixão e Morte do Senhor foram sempre a sua meditação favorita. Teresa contemplava todo o mistério de Cristo à luz da Ressurreição, sobre a qual tem uma rica e abundante doutrina. Juntamente com o seu vivo amor a Jesus, a Santíssima Virgem e São José foram os modelos e intercessores mais marcantes na sua vida.

A oração, concebida «como trato de amizade com Quem sabemos que nos ama» (Vida 8,5), ocupa um lugar central na sua experiência espiritual e na sua doutrina. Teresa legou à Igreja, com os seus escritos, um método completo de oração mental e vocal, estudando todas as etapas que deve percorrer a pessoa para chegar à contemplação, isto é, aos últimos graus da oração, à união de amor com Deus, que ela também chama de matrimónio espiritual.

Teresa de Ávila escreveu muito, não por vontade própria mas por ordem dos seus confessores e superiores. Os seus escritos têm como tema central a sua experiência de Deus. Deixou-nos uma ampla doutrina e conselhos para a vida espiritual. As principais obras, carregadas de humanismo e vivacidade, são: Livro da Vida, Caminho de PerfeiçãoCastelo Interior ou As MoradasFundações, Cartas, Poesias e outros escritos menores.

Morreu a 4 de Outubro de 1582, num dos seus carmelos, em Alba de Tormes, a caminho de Ávila, deixando fundados, à sua morte, 17 carmelos por toda a Espanha. Contava a idade de 67 anos, 6 meses e 7 dias. Teresa de Jesus amou tanto a Igreja, ao ponto de se dispor a morrer por ela. As suas últimas palavras, no seu leito de morte, foram exactamente: «Morro filha da Igreja» e «Chegou a hora, Esposo meu, de nos encontrarmos». Paulo VI, a 27 de Setembro de 1970, proclamou-a Doutora da Igreja Universal.

«Santa Teresa de Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Na nossa sociedade, muitas vezes desprovida de valores espirituais, Santa Teresa ensina-nos a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua acção; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe no nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente» (Bento XVI).

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