Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra…
As poucas linhas do Evangelho deste 14º Domingo do Tempo Comum (Ano A), retiradas de Mateus 11,25-30, guardam o segredo mais inteiro de Jesus. Há quem considere estas breves linhas como o mais belo e importante dizer de Jesus nos Evangelhos Sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas) (A. M. Hunter). Na verdade, estas linhas guardam o segredo mais inteiro de Jesus, o seu tesouro mais profundo. Nos lábios de Jesus, chama-se «PAI» este lugar seguro e manso, doce e aprazível, que acolhe os pequeninos, os senta sobre os seus joelhos, lhes conta a sua história mais bela, e lhes afaga o rosto com ternura. Diz bem Santo Agostinho que «o peso de Cristo é tão leve que levanta, como o peso das asas para os passarinhos!».
«Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos». Sim, aos pequeninos, àqueles que nada podem fazer sozinhos, mas que sabem confiar, e sabem que podem confiar, e sabem em quem confiar. É sobre os pequeninos que recai toda a atenção de Jesus, que, de resto, voluntariamente se confunde com eles, pois diz: «Todas as vezes que fizestes isto (ou o deixastes de fazer) a “um destes meus irmãos, os mais pequeninos”, foi a Mim que o fizestes (ou o deixastes de fazer)» (Mateus 25,40 e 45).
Abre-se aqui um dos mais belos fios de ouro da espiritualidade cristã, habitualmente denominado por «infância espiritual», o «pequeno caminho», «o permanecer pequeno», «o estar nos braços de Jesus», que Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897) exalta na sua «História de uma alma», que tem a sua nascente mais funda naquela maravilha que é o Salmo 131.
Os pequeninos, que nada valem de per si, dependem dos seus pais ou de alguém que cuide deles com carinho. Se Jesus os traz desta maneira para a primeira página, temos então de perguntar: o que é que são então cristãos adultos, maduros na sua fé? Serão aqueles que sabem tudo, que estão seguros de si, que chegaram ao fim de um curso ou percurso, que têm um estatuto, um status, que têm um diploma na mão, que já não são dependentes porque já não precisam de ninguém que cuide deles? Seguramente não. Cristãos adultos na sua fé são aqueles que sabem que precisam de Deus a todo o momento, e que sabem debruçar-se sobre os pequeninos com amor. Cristãos adultos na fé não somos nós que pensamos que temos as chaves de tudo e de todos, que abrimos ou fechamos todas as portas, mas somos nós como filhos de Deus, a quem carinhosamente tratamos por PAI (ʼAbbaʼ), em quem depositamos toda a nossa confiança, somos nós como filhos e irmãos, carinhosamente atentos uns aos outros, até ao ponto sem retorno de já não sabermos viver senão repartindo o pão e o coração.
Nenhum arrogante raciocínio, nenhum orgulho, nenhuma escada por nós construída, conduz a Deus. Nenhuma arrogância conduz a Deus. Jesus diz: «Vinde a Mim» e «aprendei de Mim». Ele não ensina coisas. Ensina-se a si mesmo, dando-se a si mesmo. Aprendeu do Pai, que tudo lhe deu.
António Couto, texto resumido e adaptado
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