Beato Isidoro Bakanja, “mártir do Escapulário” – 12 de Agosto

O branco não gostava dos cristãos. Não queria que eu trouxesse o hábito de Maria, o escapulário. Insultava-me quando rezava. (…) Não tem importância que eu morra. Se Deus quer que eu viva, viverei; se Deus quer que eu morra, morrerei. Para mim é igual. (…) Não guardo nenhum rancor contra o branco. Açoitou-me mas isso é um assunto seu. Se morrer, pedirei desde o Céu muito por ele.

Beato Isidoro Bakanja

Oração

Senhor nosso Deus, fonte e origem de toda a vida, que destes a força do vosso Espírito ao bem-aventurado jovem mártir Beato Isidoro Bakanja para que no martírio proclamasse o amor pelo Escapulário e a fidelidade do perdão, concedei-nos, por sua intercessão, viver sempre fiéis à vossa Igreja e descobrir em cada acontecimento da vida a força e a protecção de Maria nossa Mãe.

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19º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 6, 41-51)

Naquele tempo os judeus puseram-se a murmurar contra Jesus, por Ele ter dito: ‘Eu sou o pão que desceu do Céu’; e diziam: «Não é Ele Jesus, o filho de José, de quem nós conhecemos o pai e a mãe? Como se atreve a dizer agora: ‘Eu desci do Céu’?»

Jesus disse-lhes, em resposta: «Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair; e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia. Está escrito nos profetas: E todos serão ensinados por Deus. Todo aquele que escutou o ensinamento que vem do Pai e o entendeu vem a mim. Não é que alguém tenha visto o Pai, a não ser aquele que tem a sua origem em Deus: esse é que viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Os vossos pais comeram o maná no deserto, mas morreram. Este é o pão que desce do Céu; se alguém comer dele, não morrerá. Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, pela vida do mundo.»

Reflexão

A leitura do capítulo 6 do Evangelho de João, que nos acompanha nestes Domingos na Liturgia, levou-nos a meditar sobre a multiplicação milagrosa, em que cinco pães de cevada e dois peixes foram suficientes para dar de comer a uma multidão de cinco mil homens, e sobre o convite que Jesus dirige a quantos tinha saciado, a esforçarem-se em busca de um alimento que permanece para a vida eterna. Ele quer ajudá-los a compreender o significado profundo do prodígio que realizou: saciando de modo milagroso a sua fome física, prepara-os para aceitar o anúncio segundo o qual Ele é o pão que desceu do céu, que sacia de modo definitivo.

Verificamos no texto que nos ocupa neste 19º Domingo (João 6,41-51) o crescimento da hostilidade e da agressividade contra Jesus, aqui traduzida pela presença do verbo “murmurar”, que lembra o comportamento dos Israelitas no deserto. A murmuração é uma espécie de rebelião interior, assente na insatisfação, desconfiança, inveja, ciúme e azedume contra as pessoas e contra Deus, neste caso, contra Jesus.

E qual é a razão desta murmuração contra Jesus? Radica no facto de estes judeus conhecerem bem o “histórico” de Jesus, o seu pai e a sua mãe, as suas raízes humanas bem humildes, e de não poderem conciliar estes dados com a sua origem divina. Os judeus dizem conhecer o pai de Jesus. Mas Jesus responde, apelando ao fim da murmuração, e apontando o seu verdadeiro Pai, que os judeus não conhecem: “Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair”. Mas este “Vir a Mim” é obra, não dos homens, mas de Deus: “Todos serão ensinados por Deus” (cf. Is 54,13), e conclui: “Todo aquele que escutou o ensinamento que vem do Pai e o entendeu vem a Mim”. Jesus aponta o verdadeiro Pai, o único que nos leva a Jesus, o pão vivo descido do céu.

Duvidar da divindade de Jesus, como fazem os judeus na leitura do Evangelho hodierno, significa opor-se à obra de Deus… Eles não vão além das suas origens terrestres, e por isso rejeitam acolhê-lo como a Palavra de Deus que se fez carne. Santo Agostinho comenta: «Estavam distantes daquele pão celeste, e eram incapazes de sentir fome dele. A boca do seu coração estava enferma… Com efeito, este pão exige a fome interior do homem»” (Bento XVI).

Palavra para o caminho

Não acreditamos para podermos fazer coisas, acreditamos para termos a Deus como alimento. Tudo o resto vem por arrasto. Deus não envia Jesus para que nos venha matar momentaneamente a fome, mas para ser alimento duradouro. Jesus é o único que nos pode falar do Pai, o único que priva com Ele, o único que nos pode revelar os segredos de Deus, o único que os conhece.

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Oração a Nossa Senhora do Carmo

Senhora do Carmo, glória e esplendor do Carmelo, enche com a tua presença o caminho da nossa vida. A tua beleza, espelho da Beleza divina, irradie no mundo mansidão, paz e harmonia. A tua ternura, reflexo da Misericórdia divina, nos ajude a amar a Deus e aos irmãos com coração puro e recta consciência. A tua sabedoria, dom do Espírito Santo, nos eduque na escuta orante da Palavra e a vivê-la segundo os seus desígnios. A tua proximidade, sinal das promessas divinas, nos ensine a solidariedade e a caridade para com os pobres. Com o teu exemplo, ampara-nos, ó Maria, nossa Mãe e nossa Irmã.

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Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) – 9 de Agosto

O amor de Cristo foi o fogo que incendiou a vida de Teresa Benedita da Cruz. Antes ainda de se dar conta, ela foi completamente arrebatada por ele. No início, o seu ideal foi a liberdade. Durante muito tempo, Edith Stein viveu a experiência da busca. A sua mente não se cansou de investigar e o seu coração de esperar. Percorreu o árduo caminho da filosofia com ardor apaixonado e no fim foi premiada: conquistou a verdade; antes, foi por ela conquistada. De facto, descobriu que a verdade tinha um nome: Jesus Cristo, e a partir daquele momento o Verbo encarnado foi tudo para ela. Olhando como Carmelita para este período da sua vida, escreveu a uma Beneditina: «Quem procura a verdade, consciente ou inconscientemente, procura a Deus»…

Santa Teresa Benedita da Cruz conseguiu compreender que o amor de Cristo e a liberdade do homem se entretecem, porque o amor e a verdade têm uma relação intrínseca. A busca da verdade e a sua tradução no amor não lhe pareciam ser contrastantes entre si; pelo contrário, compreendeu que estas têm uma relação directa. No nosso tempo, a verdade é com frequência interpretada como a opinião da maioria. Além disso, é difundida a convicção de que se deve usar a verdade também contra o amor, ou vice-versa. Todavia, a verdade e o amor têm necessidade uma do outro. A Irmã Teresa Benedita é testemunha disto. «Mártir por amor», ela deu a vida pelos seus amigos e no amor não se fez superar por ninguém. Ao mesmo tempo, procurou com todo o seu ser a verdade, da qual escrevia: «Nenhuma obra espiritual vem ao mundo sem grandes sofrimentos. Ela desafia sempre o homem inteiro». A Irmã Teresa Benedita da Cruz diz a todos nós: Não aceiteis como verdade nada que seja isento de amor. E não aceiteis como amor nada que seja isento de verdade!…

Enfim, a nova Santa ensina-nos que o amor a Cristo passa através da dor. Quem ama verdadeiramente, não se detém diante da perspectiva do sofrimento: aceita a comunhão na dor com a pessoa amada… Pouco a pouco, o mistério da Cruz impregnou toda a sua vida, até a impelir rumo à oferta suprema… Muitos dos nossos contemporâneos quereriam fazer com que a Cruz se calasse. Mas nada é mais eloquente que a Cruz que se quer silenciar!

João Paulo II, Excerto da Homilia da Canonização de Edith Stein, 11 de Outubro, 1998

Oração

Senhor, Deus dos nossos pais, que conduzistes a mártir Teresa Benedita ao conhecimento do vosso Filho crucificado e à sua imitação até à morte, concedei, pela sua intercessão, que todos os homens conheçam o Salvador, Jesus Cristo, e por Ele cheguem à perpétua visão do vosso rosto. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

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Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein). Pensamentos

– Quanto mais escuridão se faz ao nosso redor, mais devemos abrir o coração à luz que vem do alto.

– A essência mais íntima do amor é a doação. Deus, que é amor, dá-se à criatura que Ele mesmo criou por amor.

– No meu caminho o decisivo de forma consciente foi o acontecido em mim: topar com a imagem concreta da autêntica vida cristã em testemunhos eloquentes como: Agostinho, Francisco, Teresa… É um mundo infinito que se abre como algo absolutamente novo, se em vez de vivermos para fora começamos a viver para dentro.

– O amor de Cristo não conhece limites, não acaba nunca, não retrocede ante a fealdade ou a imundície. […] Cristo veio para resgatar a humanidade e restitui-la ao Pai.

– Se se aprende da Santíssima Virgem a depender e a servir só a Deus com um coração puro e desprendido, então poder-se-á cantar com toda a alma o seu hino de alegria: “A minha alma proclama a grandeza de Deus e o meu Espírito se alegra com Deus meu Salvador”.

– O teu Salvador está na Cruz diante de ti com o Coração aberto. Ele derramou o sangue do Seu Coração para ganhar o teu. […] Então o teu coração tem que estar livre de todo o desejo terreno: Jesus, o Crucificado, será o único objecto dos teus anelos, dos teus desejos, dos teus pensamentos.

– A religião não é algo para viver a um canto tranquilo e durante umas horas de festa, ela deve ser raiz e fundamento de toda a vida.

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“Quem vem a Mim nunca mais terá fome e quem crê em Mim nunca mais terá sede”

O Senhor convida-nos a não esquecer que, se é verdade que é necessário preocupar-nos com o pão, contudo mais importante ainda é cultivar a relação com Ele, reforçar a nossa fé n’Ele que é o pão da vida, que veio para saciar a nossa fome de verdade, a nossa fome de justiça e a nossa fome de amor.

Jesus veio… abrir a nossa existência a um horizonte mais amplo em relação às preocupações quotidianas do alimentar-se, do vestir-se, da carreira e assim por diante. Ele, verdadeiro “pão da vida”, quer saciar não apenas os corpos, mas também as almas, dando o alimento espiritual que pode satisfazer a fome mais profunda.

Papa Francisco, Angelus, 5 de Agosto de 2018

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18º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 6, 24-35)

Naquele tempo, quando a multidão viu que nem Jesus nem os seus discípulos estavam à beira do lago, subiram todos para os barcos e foi para Cafarnaum à procura de Jesus. Ao encontrá-lo no outro lado do lago, perguntaram-lhe: «Rabi, quando chegaste cá?» Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-me, não por terdes visto sinais miraculosos, mas porque comestes dos pães e vos saciastes. Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará; pois a este é que Deus, o Pai, confirma com o seu selo.» Disseram-lhe, então: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» Jesus respondeu-lhes: «A obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou.» Eles replicaram: «Que sinal realizas Tu, então, para nós vermos e crermos em ti? Que obra realizas Tu? Os nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está escrito: Ele deu-lhes a comer o pão vindo do Céu.» E Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu, mas é o meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do Céu, pois o pão de Deus é aquele que desce do Céu e dá a vida ao mundo.» Disseram-lhe então: «Senhor, dá-nos sempre desse pão!» Respondeu-lhes Jesus: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não mais terá fome e quem crê em mim jamais terá sede».

Reflexão

Depois da partilha dos pães a multidão foi atrás de Jesus. Tinha visto o sinal, comeu com fartura e queria mais. Não se preocupou em procurar o apelo de Deus que havia em tudo isso. O povo viu o sinal, mas não o entendeu como um sinal de algo mais alto ou mais profundo. Parou na superfície, isto é, na abundância de comida. Buscou pão e vida, mas só para o corpo. Para o povo, Jesus fez o que Moisés tinha feito no passado: proporcionou abundante alimento para todos. A multidão ao ir atrás de Jesus queria que o passado se repetisse. Mas Jesus pede que o povo dê um passo para a frente. Além do trabalho pelo pão que perece, deve trabalhar também pelo alimento não perecível. Este novo alimento é que traz a vida que dura para sempre: “Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna“.

O povo pergunta: “O que devemos fazer para realizar este trabalho (obra) de Deus?”. Jesus responde: “Acreditar naquele que Deus enviou!” Isto é, crer em Jesus! O povo reage: “Então, dá-nos um sinal para sabermos que és o enviado de Deus! Os nossos pais comeram o maná que foi dado por Moisés!” Para eles, Moisés é o grande líder do passado em quem acreditam. Se Jesus quer que o povo acredite nele, deve fazer um sinal maior do que o de Moisés. Jesus responde que o pão dado por Moisés não era o pão verdadeiro, pois não garantiu a vida para ninguém. Todos morreram! O pão verdadeiro de Deus é aquele que vence a morte e traz vida! Jesus tenta ajudar o povo a libertar-se dos esquemas do passado. Para ele, a fidelidade ao passado não significa fechar-se nas coisas de antigamente e recusar a renovação. Fidelidade ao passado é aceitar o novo que chega como fruto da semente plantada no passado.

O povo pede: “Senhor, dá-nos sempre desse pão!”. Pensavam que Jesus estivesse a falar de um pão especial. Então Jesus responde claramente: “Eu sou o pão da vida!”. “Moisés tinha dado a Israel o maná, o pão descido do céu com que o próprio Deus alimentara o seu povo. Jesus não concede algo, doa-se a si mesmo: Ele é o «pão verdadeiro, descido do céu», Ele, a Palavra viva do Pai; e é no encontro com Ele que acolhemos o Deus vivo” (Bento XVI).

Palavra para o caminho

Alimentar-nos daquele «Pão da vida» significa entrar em sintonia com o Coração de Cristo, assimilar as suas escolhas, os seus pensamentos e os seus comportamentos… (Papa Francisco).

O que é triste é que nós não recorremos a este alimento divino (a Eucaristia) para atravessar o deserto desta vida (São João Maria Vianney).

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Bodas de Ouro Sacerdotais de D. António Vitalino Dantas, O. Carm. (1968-2018)

D. António Vitalino Fernandes Dantas, Bispo Emérito de Beja, Carmelita da Ordem do Carmo em Portugal, celebra 50 anos de Ordenação Sacerdotal na Basílica de Nossa Senhora do Sameiro (Sameiro – Braga), no dia 3 de Agosto, local onde foi Ordenado há 50 anos atrás (3 de Agosto de 1968).

O programa “Ecclesia” apresentou uma entrevista feita a D. António Vitalino Fernandes Dantas. Apresentamos o vídeo onde pode segui-la.

Caminhos Carmelitas felicita D. António Vitalino por esta efeméride e com este “post” associa-se a ele na acção de graças a Deus pelas suas Bodas de Ouro Sacerdotais e pelo seu ministério.

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«Não terás outros deuses diante da minha face» (Êx 20, 3)

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Ouvimos o primeiro mandamento do Decálogo: «Não terás outros deuses diante da minha face» (Êx 20, 3). É bom refletir sobre o tema da idolatria, que é de grande alcance e actualidade. A ordem proíbe que se façam ídolos ou imagens de qualquer tipo de realidade: com efeito, tudo pode ser usado como ídolo. Referimo-nos a uma tendência humana, que não poupa nem crentes nem ateus. Por exemplo, nós cristãos podemos interrogar-nos: qual é verdadeiramente o meu Deus? É o Amor Uno e Trino ou então a minha imagem, o meu sucesso pessoal, talvez dentro da Igreja? «A idolatria não diz respeito apenas aos falsos cultos do paganismo. Continua a ser uma tentação constante para a fé. Ela consiste em divinizar o que não é Deus» (Catecismo da Igreja Católica, n. 2113).

O que é um “deus” no plano existencial? É aquilo que está no cerne da própria vida e do qual depende o que fazemos e pensamos. Podemos crescer numa família cristã de nome, mas na realidade centrada em pontos de referência alheios ao Evangelho. O ser humano não vive sem se centrar em algo. Eis, então, que o mundo oferece o “supermarket” dos ídolos, que podem ser objectos, imagens, ideias, papéis.

Por exemplo, inclusive a oração. Devemos rezar a Deus, nosso Pai. Recordo que certa vez fui a uma paróquia na diocese de Buenos Aires para celebrar uma Missa e depois devia fazer as crismas noutra paróquia, a 1 km de distância. Fui a pé e atravessei um bonito parque. Mas naquele parque havia mais de 50 mesinhas, cada uma com duas cadeiras e as pessoas sentadas uma em frente da outra. O que faziam? Jogo de cartas. Iam ali “para rezar” ao ídolo. Em vez de rezar a Deus, que é providência do futuro, iam ali porque liam as cartas para ler o futuro. Esta é uma idolatria dos nossos tempos. Pergunto-vos: quantos de vós fostes, para que vos lessem as cartas a fim de ver o futuro? Quantos de vós, por exemplo, fostes para que vos lessem as mãos a fim de ler o futuro, em vez de rezar ao Senhor? Esta é a diferença: o Senhor está vivo; os outros são ídolos, idolatrias que não servem.

Como se desenvolve uma idolatria? O mandamento descreve algumas fases: «Não farás para ti escultura, nem figura alguma […] / Não te prostrarás diante delas / e não lhes prestarás culto» (Êx 20, 4-5). A palavra “ídolo” em grego deriva do verbo “ver”. O ídolo é uma “visão” que tende a tornar-se uma fixação, uma obsessão. Na realidade, o ídolo é uma projecção de nós mesmos nos objectos ou nos projectos. Por exemplo, é desta dinâmica que se serve a publicidade: não vejo o objecto em si, mas concebo aquele automóvel, aquele smartphone, aquele papel — ou outras coisas — como um meio para me realizar e responder às minhas necessidades essenciais. E procuro isto, falo disso, penso naquilo; a ideia de possuir tal objecto ou de realizar aquele projecto, alcançar essa posição, parece uma via maravilhosa para a felicidade, uma torre para chegar ao céu (cf. Gn 11, 1-9), e tudo se torna funcional para esta meta.

Então, entramos na segunda da fase: «Não te prostrarás diante delas». Os ídolos exigem um culto, rituais; a eles as pessoas prostram-se e sacrificam tudo. Faziam-se sacrifícios humanos aos ídolos na antiguidade, mas também hoje: pela carreira sacrificam-se os filhos, descuidando-os ou simplesmente deixando de os gerar; a beleza exige sacrifícios humanos. Quantas horas diante do espelho! Certas pessoas, determinadas mulheres, quanto gastam para se pintar! Também esta é uma idolatria. Não é negativo pintar-se, mas de modo normal, não para se tornar uma deusa. A beleza exige sacrifícios humanos. A fama requer a imolação de si mesmo, da própria inocência e autenticidade. Os ídolos pedem sangue. O dinheiro rouba a vida e o prazer leva à solidão. As estruturas económicas sacrificam vidas humanas para obter maiores lucros. Pensemos em tantas pessoas desempregadas. Porquê? Porque às vezes acontece que os empresários daquela empresa, dessa firma, decidiram despedir as pessoas, para ganhar mais dinheiro. O ídolo do dinheiro. Vive-se na hipocrisia, fazendo e dizendo o que os outros esperam, porque é o deus da própria afirmação que o impõe. E arruínam-se vidas, destroem-se famílias e abandonam-se jovens nas mãos de modelos arrasadores, contanto que aumente o lucro. Também a droga é um ídolo. Quantos jovens estragam a saúde, até a vida, adorando este ídolo da droga.

Aqui chegamos à terceira e mais trágica fase: «…e não lhes prestarás culto», diz. Os ídolos escravizam. Prometem a felicidade, mas não a dão; e passamos a viver por aquela coisa, por essa visão, arrebatados num vórtice autodestruidor, à espera de um resultado que nunca chega.

Caros irmãos e irmãs, os ídolos prometem a vida, mas na realidade tiram-na. O Deus verdadeiro não pede a vida, mas doa-a, concede-a. O Deus verdadeiro não oferece uma projecção do nosso sucesso, mas ensina a amar. O Deus verdadeiro não pede filhos, mas dá o seu Filho por nós. Os ídolos projectam hipóteses futuras e fazem desprezar o presente; o Deus verdadeiro ensina a viver na realidade de cada dia, no concreto, não com ilusões sobre o porvir: hoje, amanhã e depois de amanhã, a caminho do futuro. A concretude do Deus verdadeiro contra a liquidez dos ídolos. Hoje convido-vos a pensar: quantos ídolos tenho, ou qual é o meu ídolo preferido? Pois reconhecer as próprias idolatrias é um início da graça, e põe no caminho do amor. Com efeito, o amor é incompatível com a idolatria: se algo se torna absoluto e intocável, então é mais importante que um cônjuge, um filho ou uma amizade. O apego a um objecto ou a uma ideia torna-nos cegos ao amor. E assim, para ir atrás dos ídolos, de um ídolo, podemos chegar a renegar o pai, a mãe, os filhos, a esposa, o esposo, a família… as coisas mais queridas. O apego a um objecto ou a uma ideia torna-nos cegos ao amor. Levai isto no coração: os ídolos roubam-nos o amor, os ídolos tornam-nos cegos ao amor, e para amar autenticamente é preciso libertar-se de todos os ídolos. Qual é o meu ídolo? Elimina-o e lança-o da janela!

 Papa Francisco, Audiência Geral, 1 de Agosto de 2018

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Santo Inácio de Loiola – 31 de Julho

Iñigo López de Loyola nasceu em Loyola a 23 de Outubro de 1491. Cresceu ao serviço do contador-mor do Rei Católico e depois do vice-rei de Navarra. Esse ambiente e uma promissora carreira fizeram dele um cortesão mundano, sonhador de grandes feitos cavaleirescos. A sua vida é a história de um homem determinado na busca de honra e glória, que, com fracassos, derrotas e feridas, se foi pouco a pouco abrindo a Deus.

A grande mudança da sua vida iniciou-se quando ficou gravemente ferido ao defender Pamplona numa batalha. Forçado à imobilidade, e não tendo livros de cavalaria para se entreter na leitura durante o período de convalesça, restou-lhe resignar-se a ler «A Vida de Cristo» e «A Vida dos Santos». Confrontado com as acções dos Santos, pensou: «se São Francisco e São Domingos o fizeram, porque não hei-de fazê-lo também eu?». A alegria que ficava depois destes pensamentos trazia-lhe uma paz bem mais profunda do que os sonhos com aventuras cavaleirescas.

Foi tomando notas do que se passava dentro de si, do modo como Deus lhe falava e aprendeu a deixar-se guiar pelo Espírito Santo. Já não procurava a sua própria glória, mas conservava o seu carácter determinado, agora orientado para encontrar a vontade de Deus e pô-la em prática. Movia-o a preocupação com os mais pobres e o desejo de servir a Igreja e de transformar o mundo para a maior glória de Deus.

O grande desejo de se identificar com Jesus levou-o à Terra Santa onde percorreu com enorme devoção os passos do Senhor da sua vida. Não podendo permanecer ali o tempo que desejava, regressou à Europa percebendo que para levar Deus aos outros precisava de estudar. Como estudante passou por Barcelona, Alcalá e Paris.

Quando estudava em Paris, conhece alguns dos companheiros com que mais tarde fundará a Companhia de Jesus. Entre eles destacam-se: Pedro Fabro, Francisco Xavier e Simão Rodrigues (o primeiro jesuíta português). Juntos formavam um grupo de «amigos no Senhor» que pretendia servir a Deus vivendo na Terra Santa. Ao verificarem que esta sua intenção não se poderia concretizar, decidem oferecer-se ao Papa para que este os enviasse aonde fossem mais necessários. A 27 de Setembro de 1540, o Papa Paulo III aprovou a Companhia de Jesus.

Eleito o 1º Geral da Companhia de Jesus Inácio empenhou-se na sua organização e no desenvolvimento das Constituições da nova Ordem religiosa.

Morreu em Roma a 31 de julho 1546. Foi beatificado por Paulo V a 3 de Dezembro de 1609 e canonizado a 12 de Março de 1622 por Gregório XV.

Partindo da sua experiência espiritual, foi redigindo ao longo dos anos um pequeno livro: os Exercícios Espirituais (EE). Este livro assume-se como um guia em que se propõe um mês de retiro dividido em quatro etapas designadas semanas. Nesse livro se reflecte o modo como Inácio entende a relação do ser humano com Deus e com toda a criação. Os EE têm ajudado milhares de pessoas a conhecer e a viver a vontade de Deus para as suas vidas.

Província Portuguesa da Companhia de Jesus

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