Reino de amor, de justiça e de paz

«Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus, mas o meu reino não é deste mundo». Jesus quer deixar claro que acima do poder político existe um outro muito maior, que não é alcançado por meios humanos. Ele veio à terra para exercer este poder, que é o amor, dando testemunho da verdade.

Trata-se da verdade divina que, em última análise, é a mensagem essencial do Evangelho: «Deus é amor» (1Jo 4, 8) e quer estabelecer no mundo o seu reino de amor, de justiça e de paz. E este é o reino do qual Jesus é o rei, e que se estende até ao fim dos tempos.

Papa Francisco, Angelus, 25 de Novembro de 2018

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Fidelidade não é estagnação

A fidelidade não é a pessoa manter-se sempre onde está. Pode ser que, por fidelidade ao bem maior e à minha consciência e até ao bem do outro, eu deva tomar uma opção de mudança para ser fiel. Para ser fiel à vontade de Deus, ao bem maior, à minha consciência, não devo continuar, se calhar, uma situação estragada. Fidelidade pode consistir assim numa mudança bem feita. Mas a mudança até pode ser na mesma relação ou na mesma situação, que tem que ser vivida de outro modo para ser fiel. Fidelidade não é estar preso ao passado, é nunca desistir do objectivo com que me comprometi. E recomeçar cada dia.

Vasco P. Magalhães, sj

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Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 18, 33b-37) 

Naquele tempo, disse Pilatos a Jesus: «Tu és o Rei dos Judeus?». Jesus respondeu-lhe: «É por ti que o dizes, ou foram outros que to disseram de Mim?». Disse-Lhe Pilatos: «Porventura eu sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?». Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui». Disse-Lhe Pilatos: «Então, Tu és Rei?». Jesus respondeu-lhe: «É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz». 

«O meu reino não é deste mundo»

Neste último Domingo do ano litúrgico celebramos a Solenidade de Cristo Rei do Universo. O Evangelho de hoje repropõe-nos uma parte do dramático interrogatório ao qual Pôncio Pilatos submeteu Jesus, quando lhe foi entregue com a acusa de ter usurpado o título de “rei dos Judeus”.

Às perguntas do governador romano, Jesus respondeu afirmando que era rei, mas não deste mundo (cf. Jo 18, 36). Ele não veio para dominar sobre os povos e territórios, mas para libertar os homens da escravidão do pecado e reconciliá-los com Deus. E acrescentou: “Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz” (Jo 8, 37).

Mas qual é a “verdade” que Cristo veio testemunhar no mundo? Toda a sua existência revela que Deus é amor: portanto, é esta a verdade da qual Ele deu testemunho pleno com o sacrifício da sua própria vida no Calvário. A Cruz é o “trono” do qual manifestou a sublime realeza de Deus-Amor: oferecendo-se em expiação pelos pecados do mundo, Ele derrotou o domínio do “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31) e instaurou definitivamente o Reino de Deus. Reino que se manifestará em plenitude no fim dos tempos, quando todos os inimigos, e por fim a morte, tiverem sido submetidos (cf. 1 Cor 15, 25-26). Então o Filho entregará o Reino ao Pai e finalmente Deus será “tudo em todos” (1 Cor 15, 28). O caminho para chegar a esta meta é longo e não admite atalhos: de facto, é necessário que cada pessoa acolha livremente a verdade do amor de Deus. Ele é Amor e Verdade, e quer o amor quer a verdade nunca se impõem: batem à porta do coração e da mente e, onde podem entrar, trazem paz e alegria. (Bento XVI).

Palavra para o caminho

Mas em que consiste o “poder” de Jesus Cristo Rei? Não é o dos reis e dos grandes deste mundo; é o poder divino de dar a vida eterna, de libertar do mal, de derrotar o domínio da morte. É o poder do Amor, que do mal sabe obter o bem, enternecer um coração endurecido, levar paz ao conflito mais áspero,  acender  a  esperança  na  escuridão mais  cerrada (Bento XVI).

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N’Ele nos movemos, existimos e somos

Deus está em mim e eu n’Ele. Não tenho outra coisa a fazer senão amá-l’O e deixar-me amar a cada instante, em tudo: levantar-me no amor, mover-me no amor, adormecer no amor, com a alma na Sua alma, o coração no Seu coração, os olhos nos Seus olhos, a fim de que, por meio deste contacto, Ele me purifique, me liberte da minha miséria.

Santa Isabel da Trindade

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A hora da passagem deste mundo para o Pai

Morrer, na realidade, faz parte do viver, e isto não só no fim, mas, considerando bem, em cada momento. Mas, apesar de todas as distracções a perda de uma pessoa querida leva-nos a redescobrir o “problema”, fazendo-nos sentir a morte como uma presença radicalmente hostil e contrária à nossa vocação natural para a vida e para a felicidade.

Jesus revolucionou o sentido da morte. Fê-lo com o seu ensinamento, mas sobretudo enfrentando Ele próprio a morte. “Ao morrer, destruiu a morte”, repete a Liturgia no tempo pascal. “Com um Espírito que não podia morrer escreve um Padre da Igreja Cristo matou a morte que matava o homem” (Melitone di Sardi, Sulla Pasqua, 66). O Filho de Deus quis desta forma, partilhar até ao fim a nossa condição humana, para a reabrir à esperança. Em última análise, Ele nasceu para poder morrer, e assim, nos libertar da escravidão da morte. Diz a Carta aos Hebreus: experimentou “a morte em favor de todos” (Hb 2, 9). Desde então, a morte já não é a mesma: foi privada, por assim dizer, do seu “veneno”. O amor de Deus, actuante em Jesus, deu de facto um sentido novo a toda a existência do homem, e assim transformou também o morrer. Se em Cristo a vida humana é “passagem deste mundo para o Pai” (Jo 13, 1), a hora da morte é o momento no qual isto se realiza de maneira concreta e definitiva. Quem se compromete a viver como Ele, é libertado pelo receio da morte, que já não mostra o escárnio de uma inimiga mas, como escreve São Francisco no Cântico das criaturas, o rosto amigo de uma “irmã”, pela qual se pode também bendizer ao Senhor:”Louvado sejas, ó meu Senhor, pela nossa irmã morte corporal”.

Não devemos recear a morte corporal, recorda-nos a fé, quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor. E com São Paulo sabemos, mesmo separados do corpo, somos com Cristo, cujo corpo ressuscitado, que recebemos na Eucaristia, é a nossa habitação eterna e indiscutível. A verdadeira morte, que é preciso temer, é a da alma, que o Apocalipse chama “segunda morte” (cf. Ap 20, 14-15; 21, 8). De facto, quem morre em pecado mortal, sem arrependimento, fechado na recusa orgulhosa do amor de Deus, auto-exclui-se do reino da vida.

Bento XVI

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Corpo Místico

O que é o “Corpo Místico”? Uma das coisas bonitas do cristianismo é entender que todos, com aqueles que já morreram também, fazemos um só corpo. Quando um membro melhora, melhora o corpo todo. E todos podemos ser canal de bens de uns para os outros, sendo Deus a cabeça. É por isso que vale a pena rezar, como quem liga vasos comunicantes para fazer Deus chegar onde é preciso força vital.

Vasco P. Magalhães, sj

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Angelus:”Só levaremos connosco o que doarmos”

No trecho do Evangelho deste Domingo (cf. Mc 13, 24-32), o Senhor quer instruir os seus discípulos sobre os acontecimentos futuros. Em primeiro lugar, não é um discurso sobre o fim do mundo mas, ao contrário, o convite a viver bem o presente, a estarmos vigilantes e sempre prontos para quando formos chamados a prestar contas da nossa vida. Jesus diz: «Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol ficará escuro, a lua não refletirá o seu esplendor; cairão os astros do céu» (vv. 24-25). Estas palavras fazem-nos pensar na primeira página do Livro do Génesis, a narração da criação: o sol, a lua, os astros, que desde os primórdios do tempo brilham na sua ordem e transmitem luz, sinal de vida, aqui são descritos na sua decadência, enquanto precipitam na escuridão e no caos, sinal do fim. Pelo contrário, a luz que há de resplandecer naquele último dia será única e nova: será a do Senhor Jesus, que virá na glória com todos os santos. Naquele encontro veremos finalmente o seu Rosto na plena luz da Trindade; um Rosto resplandecente de amor, diante do qual também cada ser humano aparecerá na verdade total.

A história da humanidade, assim como a de cada um de nós, não pode ser entendida como uma simples sucessão de palavras e de acontecimentos sem sentido. Também não pode ser interpretada à luz de uma visão fatalista, como se tudo já estivesse preestabelecido, segundo um destino que subtrai todo o espaço de liberdade, impedindo que se façam escolhas que sejam fruto de uma verdadeira decisão. Pelo contrário, no Evangelho de hoje, Jesus diz que a história dos povos e dos indivíduos tem um fim e uma meta a alcançar: o encontro definitivo com o Senhor. Não conhecemos o tempo nem as modalidades como isto acontecerá; o Senhor reiterou que «ninguém o sabe, nem os anjos do céu, nem sequer o Filho» (v. 32); tudo está conservado no segredo do mistério do Pai. Todavia, conhecemos um princípio fundamental, com o qual nos devemos confrontar: «O céu e a terra passarão — diz Jesus — mas as minhas palavras não passarão» (v. 31). Eis o verdadeiro ponto crucial. Naquele dia, cada um de nós deverá compreender se a Palavra do Filho de Deus iluminou a própria existência pessoal, ou se lhe virou as costas, preferindo confiar nas próprias palavras. Será mais do que nunca o momento no qual abandonar-nos definitivamente ao amor do Pai e confiar-nos à sua misericórdia.

Ninguém pode evitar este momento, nenhum de nós! Já não servirá a astúcia, que muitas vezes inserimos nos nossos comportamentos, para acreditar a imagem que queremos oferecer; do mesmo modo, já não poderá ser usado o poder do dinheiro e dos meios económicos, com os quais pretendemos, com presunção, comprar tudo e todos. Só disporemos daquilo que realizamos nesta vida, acreditando na sua Palavra: o tudo e o nado daquilo que vivemos ou que deixamos de fazer. Só levaremos connosco o que doarmos.

Papa Francisco, Angelus, 18 de Novembro de 2018

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33º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 13, 24-32)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu. Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai».

Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece… só o Pai”

O fim da vida, do mundo, das coisas assusta-nos. A consciência de finitude, de perdas sucessivas, da morte como fim, mas também de uma esperança ainda, é descrita de forma poética num belíssimo conto de Sophia de Mello Breyner Andresen que tem por título “A viagem”. O mundo não é eterno. Esta vida terminará. Mas não caminhamos para o caos nem para o vazio. A esperança da mulher que chama no meio da noite já recebeu resposta. Jesus diz-nos que tudo está nas mãos de Deus, e que o Filho do Homem virá com o mundo novo pela mão. Porque tem de ser tão dolorosa a existência humana para tantos, porque custa tanto o despojamento de tudo o que amamos, porque é preciso tanto sofrimento são algumas das perguntas que levo para Lhe fazer!

A insistência de Jesus nos evangelhos para que os discípulos “não tenham medo” parece contrastar com as imagens dos discursos sobre o fim dos tempos. Não faz previsões de profeta alucinado nem apelos ao medo ou ao desespero. Fala de transformação, do mundo novo e pleno, já não dominado pelo mal nem por luzeiros inconstantes, mas onde brilha a luz eterna que Ele é. Convida à confiança e à esperança, a estar atento e a vigiar, não por medo, mas para estar pronto para o encontro, vivendo já o dinamismo da eternidade que é o amor. Diz que tudo passará, mas as suas palavras não passarão.

A esperança da vida eterna não desvaloriza esta vida, mas potencia-a. Compromete as forças de todos para o bem, para o desenvolvimento da dignidade humana, e começa, já e aqui, o mundo novo e belo recriado pelo amor em abundância. Não está sempre a acontecer o fim do “mundo que morre” e o nascimento “daquele que é para sempre” quando amamos incondicionalmente? Jesus fala da figueira, a última árvore a encher-se de folhas, anunciando a primavera, a renovação da natureza que conduzirá o tempo ao verão, a estação dos frutos e da luz abundante. Precisamos de uma renovada atenção aos sinais dos tempos: os da desgraça que se manifesta de formas novas e tão antigas, e reclamam um renovado anúncio do Evangelho, e os da graça, que trabalha por dentro dos corações e das vontades de todos os construtores da justiça e da paz.

Não saber o dia nem a hora convida a dar valor ao tempo. A viver em atitude de primavera, alimentando os pequenos sinais da vida que serão frutos. Caminhamos para Deus, e Ele vem ao nosso encontro. Será um encontro de amor e não de temor. Ainda que vacilem as pernas e o coração pareça rebentar de tão grande surpresa, lembro as palavras de S. João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados pelo Amor!”

P. Vítor Gonçalves

Palavra para o caminho

Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta (Santa Teresa de Jesus).

Tomai, Senhor, e recebei, toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade; tudo o que tenho e possuo, vós mo destes, a vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de tudo, segundo a vossa vontade. Dai-me o vosso amor e a vossa graça, que esta me basta (Santo Inácio de Loiola).

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Tomai, Senhor, e recebei

Tomai, Senhor, e recebei, toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade; tudo o que tenho e possuo, vós mo destes, a vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de tudo, segundo a vossa vontade. Dai-me o vosso amor e a vossa graça, que esta me basta.

Santo Inácio de Loiola

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