O Evangelho do segundo Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar a transfiguração de Jesus. O episódio da transfiguração deve ser relacionado com o que acontecera seis dias antes, quando Jesus tinha revelado aos seus discípulos que em Jerusalém deveria sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, após três dias, ressuscitar.
Este anúncio deixou em crise Pedro e todo o grupo dos discípulos, visto que nas suas cabeças não cabia a ideia de que Jesus fosse rejeitado pelos chefes do povo e depois assassinado. De facto, eles esperavam um Messias poderoso, forte, dominador, mas, pelo contrário, Jesus apresenta-se como humilde, manso, servo de Deus, servo dos homens, que deverá dar a sua vida em sacrifício, passando pelo caminho da perseguição, do sofrimento e da morte.
Mas, como seguir um Mestre e Messias cuja vida terrena terminaria daquele modo? E a resposta chega justamente através da transfiguração que é uma aparição pascal antecipada. A transfiguração ajuda os discípulos, e também a nós, a entender que a paixão de Cristo é um mistério de sofrimento, mas é, sobretudo, um dom de amor, de amor infinito da parte de Jesus. O acontecimento da transfiguração de Jesus no alto monte faz-nos compreender melhor também a sua ressurreição.
Para entender o mistério da Cruz é necessário saber antecipadamente que Aquele que sofre e que é glorificado não é somente um homem, mas é o Filho de Deus, que com o seu amor fiel até à morte, salvou-nos. Deste modo, o Pai renova a sua declaração messiânica sobre o Filho, já feita nas margens do Jordão após o baptismo, e exorta: “Escutai-o!”. Os discípulos são chamados a seguir o Mestre com confiança e com esperança, apesar da sua morte.
A divindade de Jesus manifesta-se inclusivamente na cruz e no seu modo de morre. Tanto que o evangelista Marcos coloca na boca do centurião a profissão de fé: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!”. Esta revelação da divindade de Jesus aconteceu no monte, que na Bíblia é o lugar emblemático onde Deus se revela ao homem. É necessário, especialmente no tempo da Quaresma, subir com Jesus ao monte e permanecer com ele, prestar mais atenção à voz de Deus e deixar-se transformar pelo Espírito.
Papa Francisco, Resumo do Angelus, 25 de Fevereiro de 2018