Na oração dominical do “Angelus”, o Santo Padre costuma fazer uma pequena meditação quase sempre a partir do Evangelho desse Domingo. Decidimos respigar e partilhar o que os Papas Bento XVI e Francisco disseram relativamente aos “Domingos da Quaresma – Ano B”.
– O Livro do Êxodo narra a experiência do povo de Israel que, tendo saído do Egipto, peregrinou no deserto do Sinai durante quarenta anos antes de chegar à terra prometida. Durante aquela longa viagem, os hebreus conheceram toda a força e insistência do tentador, que os impelia a perder a confiança no Senhor e voltar para trás; mas, ao mesmo tempo, graças à mediação de Moisés, aprenderam a ouvir a voz de Deus, que os chamava a tornarem-se o seu povo santo. Meditando sobre esta página bíblica, compreendemos que (…) só estando livre da escravidão da mentira e do pecado, a pessoa humana, graças à obediência da fé que a abre à verdade, encontra o sentido pleno da sua existência e alcança a paz, o amor e a alegria (Bento XVI, Angelus, 5 de Março de 2006).
– No deserto, lugar da provação, como mostra a experiência do povo de Israel, sobressai com profunda dramaticidade a realidade da kenosis, do esvaziamento de Cristo, que se despojou da forma de Deus (cf. Fl 2, 6-7). Ele, que não pecou e não pode pecar, submete-se à prova e por isso pode compadecer-se da nossa enfermidade (cf. Hb 4, 15) (Bento XVI, Angelus, 1 de Março de 2009).
– Jesus proclama que «se completou o tempo e o Reino de Deus está próximo» (Mc 1, 15), anuncia que nele acontece algo de novo: Deus dirige-se ao homem de modo inesperado, com uma proximidade singular, concreta, cheia de amor; Deus encarna-se e entra no mundo do homem para assumir sobre si o pecado, para vencer o mal e restituir o homem ao mundo de Deus. Mas este anúncio é acompanhado pelo pedido de corresponder a um dom muito grande. Com efeito, Jesus acrescenta: «Arrependei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15); é o convite a ter fé em Deus e a converter todos os dias a nossa vida à sua vontade, orientando para o bem todas as nossas obras e pensamentos. O tempo da Quaresma é o momento propício para renovar e tornar mais sólida a nossa relação com Deus, através da oração quotidiana, dos gestos de penitência e das obras de caridade fraterna (Bento XVI, Angelus, 26 de Fevereiro de 2012).
– A Igreja faz-nos recordar este mistério no início da Quaresma, porque ele nos dá a perspectiva e o sentido deste tempo, que é um tempo de combate – na Quaresma deve-se combater – um tempo de combate espiritual contra o espírito do mal (cf. Oração da colecta de Quarta-Feira de Cinzas). E ao atravessarmos o «deserto» quaresmal, nós mantemos o olhar dirigido para a Páscoa, que é a vitória definitiva de Jesus contra o Maligno, contra o pecado e a morte. (…) O deserto é o lugar onde se pode ouvir a voz de Deus e a voz do tentador (…). E como ouvimos a voz de Deus? Ouvimo-la na sua Palavra. Por isso é importante conhecer as Escrituras, porque de outro modo não sabemos responder às insídias do maligno (Papa Francisco, Angelus, 22 de Fevereiro de 2015).