Jesus narra precisamente a parábola do senhor da vinha que em diversas horas do dia chama trabalhadores para a sua vinha. E à tarde dá a todos o mesmo salário, uma moeda, suscitando o protesto daqueles da primeira hora. É claro que aquela moeda representa a vida eterna, dádiva que Deus reserva a todos. Aliás, precisamente aqueles que são considerados os “últimos”, se o aceitarem, serão os “primeiros”, enquanto os “primeiros” podem correr o risco de ser os “últimos”. Uma primeira mensagem desta parábola está no próprio facto de que o senhor não tolera, por assim dizer, o desemprego: quer que todos estejam ocupados na sua vinha. E na realidade ser chamado é já a primeira recompensa: poder trabalhar na vinha do Senhor, pôr-se ao seu serviço, colaborar para a sua obra, constitui por si mesmo um prémio inestimável, que recompensa todo o esforço. Mas só o compreende quem ama o Senhor e o seu Reino; pelo contrário, quem trabalha unicamente pelo salário nunca se dará conta do valor deste tesouro inestimável (…).
Quem narra a parábola é São Mateus, Apóstolo e Evangelista (…). Apraz-me sublinhar que Mateus, pessoalmente, viveu esta experiência (cf. Mt 9, 9). Com efeito, antes que Jesus o chamasse, ele desempenhava a profissão de publicano e por isso era considerado público pecador, excluído da “vinha do Senhor”. Mas tudo muda quando Jesus, passando ao lado da sua mesa de impostos, o fixa e diz: “Segue-me!”. Mateus levantou-se e seguiu-O. De cobrador de impostos tornou-se imediatamente discípulo de Cristo. De “último” passou a ser “primeiro”, graças à lógica de Deus que por nossa sorte! é diferente da lógica do mundo. “Os meus projectos não são os vossos projectos diz o Senhor através do profeta Isaías e os vossos caminhos não são os meus caminhos”
Papa Bento XVI, Angelus, 21 de Setembro de 2008