Admirável foi este santo varão pelas muitas e especiais virtudes que cultivou. Na castidade foi sempre tão firme que jamais em prejuízo desta virtude se lhe conheceu o mais leve defeito. Na oração foi tão incessante que admirava aos mesmos que faziam por nela seus imitadores. Faltava com o descanso ao corpo para se aproveitar da maior parte da noite orando mental e vocalmente. Depois de ser religioso, estreitou mais o trato e familiaridade com o Senhor, porque então vivia no retiro conveniente para poder sem estorvo empregar todas as potências da alma no Divino Objecto que contemplava. Na presença da soberana imagem da Virgem Maria Senhora Nossa, com o título da Assunção, derramava copiosas lágrimas: e com elas, melhor do que com as vozes, Lhe expunha as suas súplicas, nas ocasiões que para si ou para os seus patrocinadores Lhe pedia favores. Exemplaríssima foi a humildade com que serviu a Deus em toda a vida. Nunca no seu espírito teve lugar a soberba: antes, quanto lhe foi possível, trabalhou por desterrá-la dos ânimos dos que lhe seguiam as ordens e o exemplo. Aos sacerdotes fazia tão profunda veneração que passava a ser obediência. Com o hábito religioso adquiriu o Irmão Nuno muitos hábitos de mortificação. Depois de religioso foi o servo de Deus mais admirável nos exercícios da caridade. Não se contentava com distribuir as esmolas pelo seu pagador, como no século fazia; mas pelas próprias mãos na portaria deste convento, remediava a cada um conforme as suas necessidades. Não menos caritativo era para com o seu próximo nas ocasiões que se ofereciam de lhe acudir nas enfermidades. Assistia aos pobres nas doenças, não só com os alimentos necessários, mas com os regalos administrados por suas próprias mãos. Velava noites inteiras por não faltar com a assistência aos que nas doenças perigavam. Entrando enfim na última agonia, rogou que, para consolação do seu espírito, lhe lessem a Paixão de Cristo escrita pelo Evangelista S. João; logo que chegou à cláusula do Evangelho onde o mesmo Cristo, falando com Sua Mãe Santíssima a respeito do amado discípulo, lhe diz: Eis aqui o vosso filho, deu ele o último suspiro e entregou sua ditosa alma ao mesmo Senhor que o criara.
Crónica dos Carmelitas da antiga e regular observância nos Reinos de Portugal, escrita pelo Cronista geral da Ordem