Domingo de Ramos – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 22,14-23,56) 

Dada a extensão do evangelho do Domingo de Ramos, Ano C, apenas fazemos a citação bíblica (Lc 22,14-23,56) para que quem desejar encontrá-lo e lê-lo, possa fazê-lo.

Reflexão

Quase não há comunidade cristã em Portugal que não comemore hoje, com muita alegria, a entrada de Jesus em Jerusalém. Porém, para não reduzirmos o Domingo de Ramos a mero folclore, é importante ter presente o que significava para Jesus este acontecimento e também para o evangelista.

Diz o profeta Zacarias: “Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém!Eis que o teu rei vem a ti; Ele é justo e vitorioso; vem, humilde, montado num jumento, sobre um jumentinho, filho de uma jumenta. Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro e do rio às extremidades da terra” (Zc 9, 9-10). Este era um trecho muito importante na espiritualidade dos “pobres de Javé”, que esperavam a chegada do Messias libertador. Nesta esperança situam-se Maria e José e os discípulos de Jesus. Foi dentro desta espiritualidade que Jesus foi criado.

Zacarias traçava as características do messias: seria um rei, “justo e pobre”, não de guerra, mas de paz! Viria estabelecer uma sociedade diferente da sociedade opressora do tempo de Zacarias (e de Jesus, e de nós) – onde os poderosos e violentos oprimiam os pobres e pacíficos! Naquele tempo um rei jamais entraria numa cidade montado num jumento – o animal do pobre camponês – mas num cavalo branco de raça! Jesus, fazendo a sua entrada assim em Jerusalém, faz uma releitura da profecia de Zacarias, e identificou-se com o rei pobre, da paz, da esperança dos pobres e desprezados!

Se não tivermos isto presente perdemos totalmente o sentido da entrada de Jesus em Jerusalém, correndo o risco de celebrar a entrada de Jesus em Jerusalém como se fosse a entrada de um governante do Império romano – ou dos impérios dos nossos tempos – com pompa, imponência, e demonstração de poder e força.

O evangelho da Eucaristia deste Domingo (Lc 22,14-23,56) apresenta já a condenação e morte de Jesus. A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos. Para concretizar este projecto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham o coração mais disponível para acolher o Reino.

O projecto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com as autoridades políticas e religiosas que não estavam dispostas a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-n’O, condenaram-n’O e pregaram-n’O na cruz onde morreu.

A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do Reino. A morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.

Palavra para o caminho

Ao contemplar o crucificado, diferentemente dos que escarneciam e diziam a Jesus para descer da cruz, nós dizemos: “Jesus, não desças da cruz”. Em quem poderiam esperar tantos torturados injustamente? Onde poderiam colocar a sua esperança tantas mulheres humilhadas, violentadas e sem defesa alguma? A que se agarrariam os doentes crónicos e os moribundos? Quem poderia oferecer consolo a tantas vítimas das guerras, terrorismos, fomes e misérias? Não, não desças da cruz pois se não te virmos “crucificado”, junto de nós, ver-nos-emos ainda mais “perdidos”. Quem nos poderia entender?

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