Alguns peregrinos que foram do Ocidente para a Terra Santa escolheram o Monte Carmelo e estabeleceram-se junto da fonte chamada de Elias. Nesse lugar permanece ainda viva a memória do profeta cheio de zelo pelo Senhor, cuja palavra arde como uma tocha; o profeta que está na presença de Deus, sempre disposto a servi-Lo e a cumprir a sua Palavra; o profeta que mostra ao povo o verdadeiro Senhor; o profeta que estimula os seus a decidir-se a orientar a sua existência unicamente para o Senhor; o profeta atento à voz de Deus e ao grito dos pobres, que sabe defender os direitos do Único e dos seus predilectos, os últimos.
A Bíblia conta de Elias as maiores maravilhas e faz os mais belos elogios: pela sua oração Deus enviou abundantemente a chuva depois de um longo e rigoroso período de seca. Fugindo do terrível rei Acab e escondido numa gruta, o Senhor ordenou a um corvo que durante muitos dias levasse pão a Elias. Na sua fuga ia o profeta esfomeado. Era o tempo da seca. Foi pois neste período que Elias abençoou uma viúva pedindo ao Senhor que, enquanto durasse a seca, não lhe faltasse nem a farinha nem o azeite para o seu sustento e do seu filho, em reconhecimento pela hospitalidade desta família pobre que socorreu o faminto profeta de Deus. E, mais tarde, tendo morrido o único filho desta viúva, Elias ressuscitou o menino. No monte Carmelo Elias fez descer fogo sobre o sacrifício, mostrando assim que o deus Baal e os seus profeta eram falsos. Novamente viu-se forçado a fugir de Acab e da sua mulher Jezabel. Faminto e desalentado no deserto a ponto de desejar morrer, Deus alimenta-o através de um anjo com pão e água, e encoraja-o a caminhar durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus, o Horeb. Uma vez aqui, Deus mostrou-se a Elias já não nos tradicionais sinais do Antigo Testamento, do fogo, do terramoto ou do forte vento, mas numa brisa suave. Esta nova experiência de Deus dá-lhe olhos novos, abre um novo horizonte e devolve a Elias a liberdade para a acção, a vitória sobre o medo, a vontade de continuar a lutar pela causa de Deus em defesa da vida do povo, e dá-lhe, ao mesmo tempo, a consciência clara de não ser o dono da luta nem o único a defender a causa de Deus.
Elias converteu-se assim, para os primeiros carmelitas e os irmãos que lhes sucederam, na primeira pessoa que tinha incarnado o ideal de vida que os tinha estimulado a deixar as suas casas. Sentiram-se, em certo sentido, filhos seus, herdeiros de uma riqueza espiritual que, por diferentes caminhos, tinha chegado até eles. Os carmelitas de então, como os de hoje, têm Elias como seu “Pai”, não no sentido histórico ou material, mas pelos valores que a sua figura exprime.