Perdão é per-dom, tem a ver com dar, de per-doar, doar para além da estrita justiça, tem a ver com o reconciliar ou restabelecer a relação. Per-doar é da minha parte e o outro pode não querer, mas é doar, apesar de tudo, uma nova oportunidade, um abrirmo-nos e oferecermo-nos para recomeçar uma relação. O perdão tem a ver com a relação, a reconquista da relação. Isto não se consegue de um dia para o outro, nem através de um contorcionismo de sentimentos, como se uma pessoa que me é antipática tivesse de começar a ser-me simpática… Significa começar a fazer a caminhada no sentido de reestabelecer relações perdidas, estragadas. Posso perdoar alguém que continua a ser-me antipático e vice-versa. Perdoar significa que me disponho a ter uma relação construtiva com esse alguém, a doar-lhe o meu coração e a minha abertura, a estabelecer a ponte. O perdão é isso. Não é um esquecer ou um abafar de sentimentos. Não é um mero desculpar. É uma ponte que se pode lançar até no silêncio.
Vasco P. Magalhães, SJ