Excerto da Carta no V Centenário de Santa Teresa de Jesus

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Santa Teresa é antes de tudo mestre de oração. Na sua experiência, foi central a descoberta da humanidade de Cristo. Levada pelo desejo de partilhar essa experiência pessoal com os outros, escreve sobre ela dum modo vital e simples, ao alcance de todos, pois consiste simplesmente num “tratar de amizade com quem sabemos que nos ama” (V 8, 5). Muitas vezes a própria narrativa se converte em oração, como se quisesse introduzir o leitor no seu diálogo íntimo com Cristo. A de Teresa não foi uma oração restrita a um espaço ou momento do dia; surgia espontânea nas mais diversas ocasiões: “Triste coisa seria que só pelos cantos, se pudesse fazer oração” (F 5, 16). Estava convencida do valor da oração contínua, mesmo que nem sempre fosse perfeita. A Santa pede-nos que sejamos perseverantes, fiéis, mesmo nos momentos de aridez, das dificuldades pessoais ou das necessidades urgentes que nos reclamam. (…)

A partir do seu encontro com Jesus Cristo, Teresa viveu “uma nova vida”; tornou-se numa comunicadora incansável do Evangelho (cf. V 33, 1). Desejosa de servir a Igreja e perante os graves problemas do seu tempo, não se limitou a ser expectadora da realidade que a rodeava. Da sua condição de mulher e com as suas limitações de saúde, “determinei-me – diz ela – fazer este pouquito que está na minha mão: seguir os conselhos evangélicos com toda a perfeição que eu pudesse e procurar que estas poucas que aqui estão fizessem o mesmo” (C 1, 2). Por isso iniciou a reforma teresiana, em que pedia às suas irmãs que não gastassem o tempo tratando “com Deus negócios de pouca importância” quando o “mundo está ardendo”. (…)

Santa Teresa era consciente de que nem a oração nem a missão se podiam manter sem uma autêntica vida comunitária. Por isso, o alicerce dos seus mosteiros foi a vida fraterna: “nesta casa… todas tem que ser amigas, todas se hão-de querer, todas se hão-de ajudar” (C 4, 7). E teve o cuidado de avisar as suas religiosas sobre o perigo que corriam de puxar a atenção sobre si próprias na vida fraterna, que consiste “tudo, ou em grande parte, em perder o cuidado de nós mesmos e das nossas comodidades” (C 12, 2) e de pôr tudo o que somos ao serviço dos outros.

Papa Francisco

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