A cruz de Jesus
A cruz era o pior instrumento de tortura inventado pelo império romano para abafar qualquer rebelião contra o poder da autoridade imperial. Visava desumanizar as pessoas a ponto de destruir nelas qualquer auto-estima ou sentimento de humanidade, e matava-as através de uma agonia cruel e prolongada. Para um crucificado não havia sepultura. Ele ficava pendurado na cruz até o corpo apodrecer ou ser comido pelos bichos.
Em Jesus, a consciência da sua dignidade humana foi mais forte do que a desumanidade do poder romano. Em vez de odiar e vingar, Jesus perdoava e rezava: “Pai, perdoai, eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). O amor ao Pai e aos irmãos levou-o a perdoar aos seus próprios torturadores e assassinos. Com este gesto incrível de perdão, Jesus mostrou que um grande amor é capaz de vencer o ódio que mata.
Esta resistência humana e humanizadora de Jesus destruiu na raiz o instrumento do ódio. Em Jesus, a força desumanizadora da cruz, esse terrível instrumento de tortura do império, foi esvaziada. A cruz de Jesus tornou-se o símbolo da vitória do amor sobre o ódio, da vida sobre a morte. O amor levou Jesus ao dom total de si mesmo e, assim, tornou-se fonte de esperança para todo ser humano.
Situando o terceiro dia no conjunto da novena
Neste terceiro dia da novena, a ênfase cai na pessoa de Jesus que carrega a sua cruz até ao Calvário. Para que possamos segui-lo, devemos também nós carregar a nossa cruz. Ele disse: “Toma a tua cruz, e segue-me!” (Mc 8,34). Jesus não pede para carregarmos a cruz dos outros, nem para carregar a cruz que ele carregou, mas pede que cada um carregue a sua própria cruz, não de qualquer jeito, mas sim “atrás de Jesus e por amor a ele e ao evangelho” (Mc 8,35). Isto é, eu devo carregar-me a mim mesmo com as minhas limitações, defeitos e pecados; devo procurar ser eu mesmo sem pretensão nem arrogância, e colocar-me ao serviço, atrás de Jesus, da maneira que Jesus carregou a sua cruz. Foi assim que ele realizou a sua missão: “Eu não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45).
O compromisso que se pede consiste em não buscar saídas individuais para problemas colectivos. A cruz de Jesus pede que coloquemos o bem comum acima do bem pessoal ou familiar (de sangue, classe, cultura e demais extensões do meu “eu”). Este é o resumo de toda a Bíblia: “Tudo o que desejardes que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles. Pois nisto consistem a Lei e os Profetas.” (Mt 7,12).
O objectivo a ser alcançado no terceiro dia da novena
– Criar em nós uma atitude de doação: colocar o bem dos outros acima do próprio bem-estar individual.
– Aprender a viver melhor a fé na ressurreição que acontece quando em mim o amor vence o ódio; quando a esperança derruba em mim o desespero; quando a atitude de serviço leva vantagem sobre o egoísmo.
Atitude orante a ser cultivada no terceiro dia da novena
O noivo, mesmo estando sozinho, pensa sempre na noiva e, por amor a ela, suporta qualquer problema. É bom exercitar-nos a pensar sempre em Deus, que revelou o seu amor por nós nas atitudes que Jesus tomava para com as pessoas. Por amor a ele, devemos aprender a carregar a nossa cruz atrás de Jesus. Para poder realizar este exercício é útil levar na memória a lembrança de algum gesto amoroso de Jesus, narrado nos evangelhos.
Padroeiro: Beato Tito Brandsma, mártir Carmelita
Nasceu na cidade de Bolsward, na Frísia (Holanda) em 1881. Entrou na Ordem do Carmo e foi ordenado sacerdote em 1905. Estudou em Roma, onde conseguiu o grau de doutor em filosofia, na Universidade Gregoriana. Voltando para a Holanda viveu grande parte da sua vida em Nimega, cidade universitária, e exerceu uma intensa actividade como sacerdote, professor universitário e jornalista. Dedicou-se ao estudo do movimento místico nos Países Baixos, sobretudo dos místicos e místicas da Idade Média.
Nos anos trinta, quando começou o movimento nazista na Alemanha, Tito tomava posição através dos seus inúmeros artigos nos jornais e nas revistas. Depois do início da guerra em Maio de 1940, opôs-se à ocupação nazista da Holanda e, baseando-se no Evangelho, combateu tenazmente a ideologia nazista, protestou contra a perseguição dos judeus e defendeu a liberdade da educação e da imprensa católicas.
Por estas suas actividades, Frei Tito foi preso. Passou por várias prisões. Foi um longo calvário. Foi morto no campo de concentração de Dachau em 1942. Até ao último suspiro, Tito não se cansava de levar a paz e o conforto aos companheiros da prisão.
Como Jesus, Frei Tito foi condenado por ter defendido a justiça, a liberdade e a fraternidade diante das aberrações do sistema político-social, imposto ao povo holandês pelo nazismo.