1. No princípio criou Deus o homem para lhe comunicar os seus dons: escolheu os patriarcas para lhes dar a salvação; ia formando um povo, para ensinar os ignorantes a seguir a Deus; preparava os profetas, para habituar os homens a serem morada do seu Espírito e a viverem em comunhão com Deus. Ele, que não precisava de nada, concedia a comunhão com Ele aos que d’Ele precisavam; para os que Lhe eram agradáveis traçava, como um arquitecto, o edifício da salvação; aos que nada viam no Egipto servia Ele próprio de guia; aos que andavam errantes no deserto dava uma lei perfeita, aos que entravam na terra prometida oferecia uma digna herança; enfim, para os que voltavam para a casa do Pai, matava o vitelo mais gordo e vestia-os com a melhor túnica. Assim, de muitas maneiras ia sintonizando o género humano com a salvação futura (S. Ireneu).
2. Vinde, filhos, escutai-me e ensinar-vos-ei o temor do Senhor. Portanto, se o temor do Senhor é ensinado, deve-se aprender. Não nasce do terror, mas da instrução racional; não precede da perturbação da natureza, mas da observância dos mandamentos, das obras de uma vida inocente e do conhecimento da verdade. Para nós, o temor de Deus fundamenta-se no amor e atinge a sua plenitude no exercício da perfeita caridade. O nosso amor a Deus leva-nos a seguir os seus conselhos, a cumprir os seus mandamentos, a confiar nas suas promessas (S. Hilário).
3. Assim, por meio do Decálogo, Deus preparava o homem para a sua amizade e para a concórdia com o próximo. Era o homem que tirava proveito de tudo isto, uma vez que Deus não tinha nenhuma necessidade do homem. Tudo isto contribuía para a glória do homem, suprindo o que lhe faltava, isto é, a amizade de Deus. Mas isto nada acrescentava a Deus, porque Deus não precisava do amor do homem (S. Ireneu).
4. Nós morremos com Cristo, e trazemos no nosso corpo a morte de Cristo, para que também a vida de Cristo se manifeste em nós. Por isso, já não é a nossa vida que vivemos, mas a de Cristo: vida de inocência, vida de castidade, vida de sinceridade, vida de todas as virtudes.
5. Descansar em Deus e contemplar as suas delícias, é o grande banquete da alegria plena e da tranquilidade sem fim (Santo Ambrósio).
6. Qual é a água que Ele há-de dar, senão aquela de que está escrito: Em vós está a fonte da vida? E não podem passar sede os que se inebriam com a abundância da vossa casa (Santo Agostinho).
7. A grandeza do homem, a sua glória e a sua dignidade consistem em conhecer onde está a verdadeira grandeza e segui-la de todo o coração, em buscar com ardor a glória que vem da glória do Senhor. Portanto, quem se gloria no Senhor de modo perfeito e irrepreensível é aquele que não se exalta com a sua própria justiça, mas reconhece que não a tem e compreende que só na fé em Cristo está a sua justificação (S. Basílio Magno).
8. Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia; deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a prontidão que quiseres basta que te compadeças dos outros com generosidade e prontidão (S. Pedro Crisólogo).
9. Se tu me dizes: “Mostra-me o teu Deus” eu posso responder-te: “Mostra-me o homem que há em ti, e eu te mostrarei o meu Deus”. Mostra-me, portanto, como vêem os olhos da tua mente e como ouvem os ouvidos do teu coração. A alma do homem deve ser pura como um espelho resplandecente. Quando um espelho está baço, não pode o homem contemplar nele o seu rosto; do mesmo modo, quando há pecado no homem, não lhe é possível ver a Deus (S. Teófilo de Antioquia).
10. Só a oração vence a Deus. Por isso ela não tem outra finalidade senão tirar do caminho da morte as almas dos defuntos, robustecer os fracos, curar os enfermos, libertar os possessos, abrir as portas dos cárceres, desatar as cadeias dos inocentes. Ela perdoa os pecados, afasta as tentações, extingue as perseguições, conforta os pusilânimes, enche de alegria os generosos, encaminha os peregrinos, acalma as tempestades, detém os salteadores, alimenta os pobres, ensina os ricos, levanta os que caíram, sustenta os que vacilam, confirma os que estão de pé (Tertuliano).
11. O clamor de Cristo fica sufocado em nós, se a língua não proclama aquilo em que o coração acredita. Para que o seu clamor não fique sufocado em nós, é preciso que cada um, na medida das suas possibilidades, dê a conhecer aos outros o mistério da sua vida nova (S. Gregório Magno).
12. Visitemos a Cristo, alimentemos a Cristo, tratemos as feridas de Cristo, vistamos a Cristo, recebamos a Cristo, honremos a Cristo. (…) Mas uma vez que o Senhor do Universo prefere a misericórdia ao sacrifício, uma vez que a compaixão tem muito mais valor do que a gordura de milhares de cordeiros, ofereçamos a misericórdia e a compaixão na pessoa dos pobres que hoje na terra são humilhados, de modo que, ao sairmos deste mundo, sejamos recebidos nas moradas eternas pelo mesmo Cristo nosso Senhor (S. Gregório de Nazianzo).